Eu, Meu Noivo & Seu Crush — Thalico escrita por Helly Nivoeh


Capítulo 30
Saudades da época que eu tinha privacidade


Notas iniciais do capítulo

OLHA SÓ QUEM RESOLVEU APARECER o/
Desculpa gente, eu ando bem na bad e tudo o que eu escrevo fica ruim e/ou vai pra tragédia. As crises de ansiedade estão muito frequentes, hoje mesmo não estou tão bem como gostaria, mas estou lutando e dando o meu melhor.
Aproveitei que hoje é feriado na minha cidade pra colocar em dia. Prometo tentar não demorar tanto, ok?!
Espero que gostem!
Boa leitura!



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Narração: Nico Di Angelo

 

Meu primeiro beijo foi eletrizante, literalmente. Mal meus lábios selaram os de Thalia e senti seu pulso contra meu peito, meu coração acelerado a ponto que eu conseguia o ouvir bater, e logo as descargas elétricas atingiam meu corpo. O choque saiu da mão de Thalia, forte o suficiente para me jogar contra uma árvore.

— Eu vou te matar, Nico! — Thalia gritou, mas eu mal conseguia registrar o que estava acontecendo. Meu peito queimava e era difícil de respirar, minha visão estava desfocada e não tenho certeza se não desmaiei.

— Thalia! — Jason exclamou, mas o ruído de passos apressados deixou claro que a garota havia fugido. Meu amigo se abaixou na minha frente, colocando a mão sobre meu pescoço, provavelmente verificando minha pulsação, minha visão estava embaçada o suficiente pra ele não ser nada mais que um borrão loiro.

— Ai... — Gemi, sentindo meu corpo dolorido pelo choque e pelo impacto contra a árvore.

— Você está bem?! — Jason questionou, me fazendo balançar a cabeça que sim.

— Acho que sim. — Murmurei com gosto de cobre na boca. — Não foi tão forte o choque, Thalia vai me deixar vivo o suficiente pra me matar lentamente.

— Não é pra menos, ne? Acho que até eu te bateria no lugar dela.

— Isso é uma indireta pra mim não te beijar? — Tentei sorrir, tentando aliviar o clima.

Jason suspirou, sentando-se ao meu lado para encostar as costas na mesma árvore. Ele ficou em silêncio tempo suficiente para minha visão voltar ao normal e eu me perguntar se ele estaria chateado comigo.

— Você está... bravo? — Sussurrei olhando o céu e me xingando por ter conseguido estragar uma das amizades mais importantes pra mim.

— Hum...? — O Grace murmurou, me fazendo encará-lo. Ele também parecia ter o olhar perdido ao encarar as árvores do bosque, os lábios crispados mostrando que estava com a cabeça em outro lugar.

— Você está bravo comigo? — Perguntei novamente, atraindo sua atenção.

— Bravo? — Jason franziu a testa em uma careta. — Por que eu estaria bravo com você?

— Por eu ter beijado sua irmã.

— Não, não mesmo. — Ele parecia surpreso com a possibilidade, balançando a cabeça vezes o suficiente para os óculos deslizarem por seu nariz. — Só estou surpreso. Você é a última pessoa que eu imaginei numa situação assim.

— Assim como? — Ergui a sobrancelha, sorrindo sarcástico. — Beijando uma garota?!

— Beijando qualquer um! Você é todo anti-pessoas!

— Você faz com que eu pareça um emo. — Resmunguei, revirando os olhos novamente.

— E não é?!

— Cale a boca, Grace. — Retruquei, ignorando o sorrisinho irritante do meu amigo, que empurrou o ombro contra o meu. — Eu acabei de dar meu primeiro beijo e não só levei um fora, como um choque também. Vindo de Thalia, eu preferia um tapa! Então seja solidário.

Jason apenas riu e fixei meus olhos no céu, me perguntando se haveria alguma possibilidade de Thalia aceitar meu plano suicida novamente. Mais provável que ela me mandasse de volta pro Hades, dessa vez com um aviso de “sem devolução”.

— Nico? — O Filho de Júpiter chamou, me tirando dos meus pensamentos sobre possíveis torturas que sua irmã poderia vir a me aplicar. Tenho certeza que Ártemis deve ministrar um curso sobre como torturar pobres homens para todas as suas caçadoras semanalmente. — Por que Hades você beijou ela mesmo?!

Jason quase gritou, me fazendo suspirar. Tenho certeza que você deve estar pensando que foi porque eu estou caindo de amores por ela, certo? Que estou perdidamente apaixonado e blá-blá-blá? Ou, ainda, que talvez tenham me drogado novamente. Mas, não. Apenas não foi por nenhum desses motivos. Nada romântico. Nada sentimental. E não, não estou sendo sarcástico nem nada disso. Desculpe.

— Porque uma hora ou outra isso ia acontecer. — Respondi, por fim, evitando olhar para meu amigo. — Quer dizer, nós vamos ter que fingir todo esse namoro e depois casamento… A gente ia acabar tendo que se beijar.

— Só por isso?! — Jason continuou incredulo. Não sei se mencionei, mas ele é um tanto quanto curioso e adora compartilhar informações, principalmente com Piper. Não, eu não estou chamando ele de fofoqueiro. E sim, agora estou sendo sarcástico.

— Não. — Confessei, sabendo que ele acabaria me arrancando a resposta mesmo. — Não sei direito, Jason, foi só... coisa de momento.

— Nico, eu te conheço. — Ele retrucou e revirei os olhos. Quando me tornei tão previsível? Saudades de quando era incompreendido!

— Tudo bem. — Resmunguei, abaixando meu tom. — Talvez tenha tido curiosidade também.

— Curiosidade?! — O tom do Grace saiu mais alto e incrédulo, enquanto ele se virava para mim e gesticulava freneticamente. Acho que ele estava pirando. — Deixa eu ver se eu entendi: você beijou minha irmã, uma donzela de Ártemis, por curiosidade?!

Assenti com a cabeça, temeroso, deslizando o mais imperceptível possível para o lado oposto de Jason, enquanto ele continuava a gritar.

— Você, que não gosta de garotas, beijou minha irmã, Thalia, uma donzela de Ártemis, por curiosidade?! Você, Nico di Angelo, que odeia contato humano beijou a minha irmã por puramente curiosidade?!

— Já chega, Jason! — Resmunguei, tampando sua boca enquanto ele continuava a tentar falar “você beijou minha irmã e blá-blá-blá”. — Sim, Jason, todo mundo já entendeu que eu beijei sua irmã e sim, foi só por curiosidade. Eu nunca tinha beijado ninguém! Você não tinha curiosidade antes de beijar Piper?  Não queria saber como era? Por que as pessoas gostam tanto disso?!

Ele começou a resmungar, mas como eram perguntas retóricas, continue a amordaçá-lo com minha mão, até que ele a lambesse nojentamente. Com uma careta, soltei-o, limpando a baba na sua camisa.  

— Você tem um ponto. — Concordou sorrindo, ignorando meus xingamentos por ter babado em minha mão. — E como é que foi?! Foi bom?! Você gostou?! Vai beijar ela de novo?!

— Calma aí, louco dos ships. — Resmunguei, já imaginando ele se juntar à Will pra torcer por essa loucura. — Você viu como foi: um desastre! Ou quer replay do choque?!

— E as sensações? — Jason ignorou meu mau humor, continuando a me bombardear de perguntas. — O coração disparou?! Você gostou?

— Foi apenas um selinho, Jason! Pelos deuses! Estou me sentindo na Oprah! Não podemos mudar de assunto?!

— Não! — O Grace retrucou fazendo um bico. — Nós nunca falamos disso! É algo importante entre amigos!

— Como nunca falamos?! — Revidei exasperado, quase gritando. — Se eu tiver que ouvir mais uma vez que seu primeiro beijo com Piper foi mágico e blá-blá-blá eu vou vomitar!

— Você fala como uma criança. — Jason revirou os olhos, ainda com um bico.

— Você pode ter toda esse jeito de príncipe encantado com cabelo loiro perfeito e olhos azuis, mas é a princesa da relação! — Impliquei rindo da expressão ofendida do filho de Júpiter.

— Muito engraçado!

— Aposto que você quem chama pra discutir a relação e Piper que tem as mãos bobas!

— Cale a boca, Di Angelo. — Jason bateu de novo o ombro contra o meu, me fazendo gargalhar.

— Quando você quer invadir minha privacidade pode, não é?!

— Não é invadir a privacidade! Só estamos conversando! Conversas normais entre dois amigos.

— Converse sobre relacionamentos com Percy. — Retruquei, sabendo que eu e Jason tínhamos muito mais afinidade do que nosso outro primo.— Ele tem mais experiência!

— É diferente.

— Por que eu sou seu irmãozinho? — Impliquei, apertando a bochecha dele.

— Você sempre vai me lembrar disso, não é?!

— Você sabe que sim! — Foi a minha vez de bater meu ombro contra o dele, brincando. — Então, como seu irmãozinho, vai me responder se Piper anda ultrapassando o sinal vermelho?

— Isso é invadir privacidade!

— Não, invadir privacidade seria invadir seu chalé quando vocês estivessem ali, o que nós dois sabemos que eu nunca faria. Só estou fazendo uma pergunta simples.

— Você sabe que eu e Piper ainda não avançamos. — Jason revirou os olhos com um suspiro. — Sabe que vou te contar quando acontecer.

— Eu sei — É claro que eu sabia, Jason Grace é o menino mais puritano e de ouro do mundo! —, mas é bom saber que pelo menos algum assunto ainda te deixa constrangido.

— E você? Vai me contar?

— Óbvio. Você praticamente me fez jurar pelo Rio Estige! Mas é claro que não vai ser tão cedo. Acho difícil me envolver com um cara enquanto estiver casado com uma garota. — Repliquei com um sorriso sarcástico, observando o óbvio.

— Algum cara em especial em vista? — Jason tentou soar casualmente, mas havia uma leve tensão nos seus ombros que fingi não reparar. — Quer dizer, você tem uma queda por alguém ou…

— Não, não. — Neguei, balançando a cabeça. — Depois de Percy? Quero o Cupido bem longe, por favor!

— Tem certeza?

— Que quero o Cupido distante? — Franzi a testa, não entendendo onde ele queria chegar. — Jason, você viu ele também!

— Não, não isso. De você não estar interessado em ninguém.

— Por que esse interrogatório?! — Perguntei um pouco exasperado, não entendendo de onde estava vindo tudo aquilo.

— E já vai pra defensiva... — Meu amigo suspirou, me fazendo ficar mais irritado.

— O que?!

Antes que eu pudesse esclarecer de onde Jason estava tirando aquilo, uma voz muito conhecida por mim veio da floresta, fazendo um arrepio subir pela minha espinha.

— Nico! — Will gritou, aparecendo entre as árvores, arfando ao cair de joelhos  na minha frente e colocar a mão quente em meu rosto, aferindo minha temperatura. — Você está bem?! Thalia disse que está machucado!

— Uma pequena discussão de relação, Will. — Jason, como o péssimo amigo que estava se provando, riu. —  Nada demais.

— Cale a boca, Jason. — Mandei, não querendo que Will soubesse do beijo.

— O que aconteceu? — O filho de Apolo estreitou os olhos e afastou as mãos de mim, percebendo que algo estava errado, mas, fisicamente, eu estava bem.

— Eu e Thalia discutimos. — Expliquei, tentando não revelar demais para Will surtar e nem mentir. — Não foi nada demais, só alguns poderes saíram do controle.

— Um pouco eletrizante. — Jason opinou, brincando.

— Ela te deu um choque?! — Will gritou exasperado, arregalando os olhos azuis. — Eu não acredito nisso! Primeiro você se envolveu com uma caçadora, depois ela tenta te matar?!

— Will, ele bateu a cabeça. — Jason se intrometeu, o tom desta vez sério e calmo, o mesmo que costumava usar quando se dirigia à Legião. Se Jason havia parado de implicá-lo, é porque o filho de Apolo parecia à beira da sanidade. — É melhor irmos para a enfermaria e deixar as perguntas pra depois. Ele pode ter tido uma concussão.

A palavra concussão pareceu despertar o lado médico e racional de Will, que me fitou preocupadamente antes de assentir, erguendo-se:

— Certo. Você consegue se levantar sozinho?

Assenti com um pouco de dificuldade, mas conseguindo cumprir minha palavra, ainda que tenha ficado um pouco zonzo.

— O que está sentindo? — A voz de Will era calma ao segurar meu braço e passá-lo por cima dos seus ombros decidindo que eu não era capaz de ir sozinho. Como ele já estava irritado, decidi não reclamar e me deixei ser segurado em parte, enquanto saiamos do bosque.

— Só um pouco de dor no corpo, nada demais.

— Deuses! —  Wil exclamou irritado. — Não sei se mato você ou Thalia por tudo isso!

— Não acha que já temos problemas demais pra você também querer nos matar? — Questionei com um sorriso sarcástico, mas, quando Will parou e me encarou com a expressão fechada, sabia que ele estava preste a começar um de seus discursos. — Tudo bem, estou calado!

Nós continuamos nosso caminho pela floresta em um silêncio pesado, quando a trilha se tornou estreita, ele soltou meu corpo e permitiu que eu andasse sozinho, dessa vez eu já estava conseguindo me locomover sem tropeçar em todas as raízes no chão. Quando saímos do bosque, percebi que já era tarde e o toque de recolher já havia passado, o que significava que, se fossemos pegos, iríamos virar comida de harpias.

— Não diz que passar a noite na enfermaria de novo! — Reclamei quando me virei pra ir na direção ao meu chalé e Will segurou meu braço.

— Deveria! — O filho de Apolo retrucou. — Mas Lou Ellen e Cecil brigaram de novo, ela estava me ajudando a limpar quando aquele pilantrinha jogou uma bomba de fedor. Ainda bem que não tínhamos ninguém em estado grave! Mas o cheiro só vai sair amanhã.

— Então posso dormir no meu chalé?! — Perguntei um pouco mais contente, não que eu não gostasse da enfermaria, mas estava precisando ficar um pouco sozinho sem alguém com raiva de mim ao meu lado.

— Não temos escolha. — Will suspirou pesadamente e eu quase me senti mal.

— Conseguiu fazer Quiron deixar? — Jason questionou para o Solace, me fazendo erguer a sobrancelha sobre o que ele queria dizer com aquilo.

— Deixar o que? — Questionei, sendo ignorado por Will, que balançou a cabeça em negativa:

— Não. Mas Alexia vai me dar cobertura. Só temos que ser rápidos.

— O que está acontecendo? — Perguntei novamente, começando a ficar nervoso.

— Eu não vou te deixar dormir sozinho naquele chalé. — Will enfim se dirigiu à mim, fazendo-me quase gritar:

— Mas você disse que eu posso ficar lá!

— E vai, eu vou ficar com você. — O filho de Apolo cruzou os braços, uma expressão clara de “sem discussão”, a qual decidi ignorar, afinal, como assim ele quer invadir meu chalé e dormir lá?! Não sabe que isso pode dar uma confusão terrível?! Essa era uma das regras que todos, ou quase todos, respeitavam.

— O que?! — Praticamente gritei. — Isso é contra as regras! Quíron vai matar a gente!

— Você, Nico Di Angelo, quer falar sobre quebrar regras?! — Will ergueu a sobrancelha, um sorriso de sarcástico nos lábios. — Depois de mil viagens nas sombras, voltar dos mortos e se envolver com uma caçadora de Ártemis?! A Tenente dela?!

— E o vencedor desse round é: Will Solace! — Jason brincou, tentando aliviar o clima.

— Eu não estou envolvido com Thalia. Não assim! — “Não ainda”, pensei. E, depois de ter beijado ela, pelo jeito, nunca ficaria também. — E eu não preciso de uma babá, Solace.

— Não sou sua, babá, Di Angelo. Eu tenho mais o que fazer, acredite. Mas, eu gosto de cuidar dos meus pacientes, por mais insanos e suicidas que sejam.

— Nesse ponto eu concordo com Will, Nico. — Jason interferiu sério, a ponto de seus olhos brilharem. — É melhor você ficar sob observação. Hazel teve consequências quando voltou a vida, não sabemos se o mesmo pode acontecer com você.

Pensei sobre o flash da minha infância, quando revivi o momento em que achei a carta de Eros e em como aquela visão havia mexido comigo, me deixando com uma grande saudade da minha mãe.. Hazel me contou que suas visões sumiram quando ela as compartilhou com Frank e Leo.

Talvez fosse bom fazer o mesmo, compartilhar com Jason e Will os momentos do meu passado que resolvessem me visitar, eu confiava neles. Mas, havia coisas que eu não estava preparado para eles veerm, eles saberem, como o assassinato de Bryce Lawrence ou o terror que era o Tártaro. Eu não queria reviver aquilo. Só a lembrança era suficiente para um calafrio passar por meu corpo, reviver em minha mente tudo aquilo poderia me deixar ainda pior. Só de pensar na possibilidade meu corpo tremeu, algo que não passou despercebido por Will, que apoiou a mão em meu ombro, confortando-me.

— Tudo bem? — Questionou, me fazendo assentir em seco.

— Sim. — Suspirei, apertando os lábios. — E, ok, podemos dormir no meu chalé.

— Vou com vocês — Jason avisou, seu tom baixo ao olhar para o chalé de Zeus. —, se é pra levar bronca, que a responsabilidade seja de todos.

— Acho melhor não, Jason. — Opinei, questionando-me se o real motivo era preocupação comigo ou porque ele não queria ter que lidar com a irmã. — Dê uma olhada em Thalia… Diga à ela que sinto muito.

— Tem certeza? — O Grace questionou receoso, ele parecia quase pedir pra ir com a gente, mas somente assenti:

— Vamos logo. Não quero virar comida de harpia.

 

(...)

 

— Pode me emprestar um short?

A voz de Will quase me fez pular de susto. Mal havíamos entrado no meu chalé quando o calafrio percorreu meu corpo, como se fosse um aviso de que eu não deveria estar ali, que havia algo de errado naquele lugar. Ele parecia quase idêntico, mas uma das beliches, a minha, estava sem a parte de cima e encostada na parede marcada com uma coloração rosa claro, onde meu sangue havia manchado. Além do mais, havia o cheiro de morte no ar, que fazia meu estômago revirar, lembrando-me que quase fizeram minha autópsia ali.

— Nico? — O Solace me chamou novamente, um sorriso zombeteiro. — Dormir de jeans faz mal a circulação e eu não quero dormir só de cueca ao seu lado. Pode me arranjar um short?

Senti meu rosto esquentar e me virei de uma vez, inevitavelmente a imagem de Will só de cueca surgindo na minha mente enquanto eu ia até o armário a procura de algo para lhe emprestar. No final, encontrei meu único short de dormir limpo, um pano cinza que eu mal lembrava da existência.

— Aqui. — Lhe entreguei a peça, percebendo que Will já desabotoava a bermuda jeans, me fazendo ficar mais vermelho. — Vai trocar de roupa aqui?!

— A menos que você tenha um banheiro escondido. — Revidou enquanto eu virava de costas para lhe dar privacidade. — Não estou a fim de ser encontrado semi-nu amanhã comido por Harpias! Vai ser difícil explicar que era tudo por razões médicas não é?

Não respondi, pensando em que tipo de boatos acabariam surgindo se algo assim acontecesse. Deuses, se soubessem que Will vai dormir aqui! Não quero nem imaginar as fofocas, mentiras e confusões que iriam surgir com isso!

— Qual o problema, Nico? — Will questionou, puxando minha atenção de volta. —Não é a primeira vez que me vê de cueca, Nós compartilhamos o banheiro, lembra?

— Na-nada. — Murmurei, engolindo em seco ainda de costas. — Só, ande logo, Solace.

— E você? Vai dormir de jeans?! Eu te vi de cueca antes de ontem, Di Angelo, não seja dramático. Ah, espere, você já é naturalmente dramático!

— Você está me chamando de dramático, Solace?!

Revirei os olhos irritado, pegando uma calça fina preta do armário e vestindo o mais rápido possível, tentando ignorar a presença de Will. Por fim, quando me virei, ele estava arrastando a minha cama em direção a que estava em paralelo, juntando as duas.

— O que você está fazendo?!

— Já disse: estado de observação. — Explicou, se jogando na cama, o tórax nu e bronzeado contrastando com os lençóis negros. — Eu não quero dormir ao lado de uma parede cheia de sangue e o tanto de alvejante que jogaram ali não vai te fazer bem. Agora, sem discussão: para a cama!

— E se eu não quiser? — Retruquei, cruzando os braços sobre minha camiseta preta.

— Então ficaremos acordados e você vai me explicar toda essa confusão com Thalia! — Will sorriu como um gato, sabendo que tinha vencido.

— Tudo, mas eu durmo no canto!

— Não esqueça de apagar a luz!

Ele me deu espaço pra deitar ao seu lado em meio a escuridão. Era estranho ter meu amigo ali, deitado ao meu lado no escuro, o calor do seu corpo parecendo emanar pelo quarto, tornando-o quente demais para conseguir me embrulhar. É, Will era quente.

O silêncio parecia incomodo enquanto eu tentava ignorar sua presença, meu corpo virado para a parede e uma sensação ruim enquanto pensava em tudo o que havia acontecido naquele dia. Os tapas, a conversa com Héstia, o beijo com Thalia... E agora Will deitado ao meu lado. Aquilo era estranho.

— Nico? — A voz de Will soou e fechei os olhos com força, meu corpo tenso ao fingir dormir. Ele bufou e tocou meu ombro. — Você finge muito mal. Não se preocupe, eu não vou te interrogar. Pode virar para mim?

Lentamente o obedeci, meu estômago afundando quando percebi quão próximo ele estava de mim, próximo o suficiente para que eu conseguisse sentir sua respiração e ver a silhueta do seu rosto no escuro. Seus dedos tocaram minha bochecha em um afago e Will suspirou pesadamente, antes de enfim se pronunciar.

— Eu só quero que você tome cuidado, está bem? — Sussurrou, ainda com a mão tocando meu rosto. — Não só porque Thalia é uma donzela, mas...

Ele fez uma pausa longa, tempo suficiente para que eu deduzisse que ele estava pensando em desistir de falar.

— Mas? — Questionei, também sussurrando.

— Thalia Grace é o tipo de garota que destrói corações. Eu não suportaria que você fosse quebrado.

— Eu já fui quebrado, Will. Muitas vezes.

— Eu sei, eu vi o que isso fez com você. E vejo o quanto você está lutando para se construir. Por isso tenho tanto medo de você se machucar. Sabe que eu me importo, não é?!

Assenti e Will suspirou novamente, seus dedos deslizaram mais uma vez por minha bochecha antes dele os tirar, me deixando com a ausência do seu calor. Novamente houve o silêncio, mas, desta vez, nenhum de nós si virou de costas, ficamos apenas calados olhando um para o outro no escuro.

Apertei meus lábios quando uma pergunta surgiu em minha mente, mas minha curiosidade foi mais forte:

— Will, você já se apaixonou? — Sussurrei tão baixo que minha voz parecia trêmula. — Quer dizer, já teve uma queda por alguém?

Ele ficou em silêncio por tempo suficiente pra que eu achasse que ele havia dormido, mas quando se moveu, percebi que só estava pensando.

— Sim.

Senti um arrepio por meu corpo, como um pressentimento ruim, mas, antes que eu pudesse raciocinar ou perguntar quem era, Will me cortou:

— Mas isso não é história para agora, Menino da Sombras. Você deve descansar, lembra? Ordens médicas.

Antes que eu pudesse reclamar, Will virou de costas, deixando claro que a conversa havia encerrado. Pelo menos, por ora.

 





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Notas finais do capítulo

Vocês acham que os acontecimentos dessa noite acabaram? Spoiler: Não mesmo.
Mas cortei o capítulo pra não ficar tão grande.
Eu sei que todo mundo esperava Jason dando uma de irmão da Thalia, do Will descobrindo do beijo e tudo mais... Mas não encaixa na visão que eu tenho dos relacionamento entre as personagens.
Enfim, eu adoraria ouvir a opinião de vocês, é bem importante.