Eu, Meu Noivo & Seu Crush — Thalico escrita por Helly Nivoeh


Capítulo 29
O Rei dos Mortos se importa


Notas iniciais do capítulo

Oi pessoas!
Sim, eu sei que eu sumi, mas sabe quando você está naquela fase “tudo o que eu escrevo odeio”? Eu estou nela e esse é um ponto da fanfiction que não dá pra fazer as coisas mais ou menos, quero algo de qualidade. Mas, também não vou ficar parada esperando a inspiração voltar, né? Por isso estou postando.
Esse capítulo acontece ao mesmo tempo que o anterior, quando Héstia tá falando com o Nico e nenhum deus pode vê-los por causa da magia dela. Ele também é um prêmio do game poser que eu estava preparando, eu não consigo me lembrar de quem pediu porque perdi minha planilha com os prêmios e vencedores. Peço que a pessoa que pediu entre em contato comigo novamente, bem como todos que ganharam o game poser.
Enfim, boa leitura!



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Narração: Hades

— Nenhum sinal dele ainda? — A voz de Perséfone me fez perder toda a concentração. Não que fosse grande coisa, já estava ali há quase uma hora e tudo o que eu havia conseguido era apenas frustração por tanto tempo gastando meus poderes e não tendo resultado nenhum.

— Nada. — Deixei meus braços caírem sobre a mesa pesada à minha frente, sem me importar com a quantidade de papéis sobre reencarnações organizados ali que, em hipótese alguma, deveriam ser embaralhados. — Nico parece ter o dom de se esconder nas sombras.

— De quem será que ele puxou?! — Minha esposa retrucou e, mesmo sem olhá-la, sabia que havia um sorriso irônico e divertido em seus lábios. Com a intimidade conquistada em séculos, senti sua presença atrás da cadeira que estava sentado e logo suas mãos estavam pelo meu pescoço, infiltrando-se na camisa para alcançar meus ombros em uma massagem.

— Estou preocupado — Confessei, fechando os olhos e deixando-me relaxar com os carinhos dela. — , tem mais de hora que não consigo rastrear Nico e depois do que Zeus fez...

— Se acalme, querido. — Perséfone ordenou e, apesar do tom leve, aquilo era uma ordem clara e persuasiva. — Você não pode vigiar Nico o tempo todo. Ele é um adolescente, precisa de privacidade.

— Essas crianças de hoje em dia querem privacidade para tudo!

— Não fale como um velho rancoroso, querido. Ou aparecerá rugas e logo mamãe estará aqui recomendando mil cereais que fazem milagres!

Di imortales, não! — Reclamei, com medo da minha sogra surgir com mais uma bandeja cheia de ceivada. — Tudo o que eu menos preciso hoje é de Deméter e seus cereais!

Perséfone riu do meu desespero e aquilo fez com que eu me acalmasse, a tranquilidade que ela passava apenas com sua presença sempre me fazia ter certeza que haveria soluções para os meus problemas enquanto ela estivesse ali. Minha esposa deixou um beijo sobre minha cabeça, seus braços em volta dos meus ombros em um abraço terno e eu não precisava olhá-la para saber que estava concentrada, os pensamentos perdidos na vida do meu filho, ainda que não se dessem muito bem.

— Acha que Zeus está escondendo ele?

— Eu não sei. — Suspirei, apertando seus braços em volta de mim. — Não faz muito o gênero do meu irmão, ele prefere agir na frente de uma plateia pra depois distorcer cada ato, se colocando como vítima ou benfeitor.

— Como ele ter trago minha mãe e Hera pra assistir enquanto você decidia se deixava Nico fugir ou não. — Perséfone concordou.

— Ainda não sei se foi o certo. — Confessei. — Hazel já é meu pecado, ela não deveria estar viva. E agora Nico... Zeus tem muito com o que me atacar.

— Mas Zeus também sabe que não pode fazer nada contra Hazel, não sem despertar a ira dos sete, nós ainda estamos em débito com eles...

— Mais um motivo para o ódio de Zeus...

— E quanto a Nico, todos precisamos dele vivo pra esse casamento acontecer. — Perséfone continuou, ignorando minhas palavras. — Os outros deuses se envolveram, afeiçoaram-se à ele. Nico está seguro, pelo menos por enquanto.

— Mas com esse sumiço repentino...

— Esse sumiço repentino significa que mais alguém está se envolvendo. — Minha esposa me cortou, soltando-me para ficar a minha frente, a cintura encostada contra a mesa. — Você mesmo disse que esse não é o modus operandi de Zeus: mesmo quando Apolo matou Nico todos pudemos ver. Se ele está na presença de algum deus, não acho que tenha a ver com meu pai. Pode ser um aliado, não perca as esperanças.

Assenti e fechei os olhos novamente, tentando pensar em que mais teria poder suficiente pra conseguir esconder meu filho. Um dos olimpianos, provavelmente, ou talvez Héstia.

Senti novamente as mãos de Perséfone me tocarem nos ombros, dessa vez de frente, me fazendo abrir os olhos. Ela sorria de uma forma doce ao morder o lábio inferior, mas seus olhos coloridos tinham um brilho malicioso, os tons mais vivos que o normal depois dos meses que havia passado no Olimpo.

— O que exatamente você está fazendo aqui? — Questionei, erguendo a sobrancelha. Estávamos no final da primavera, faltava ainda dolorosos meses pro outono chegar e minha esposa poder voltar pra casa no Mundo Inferior, ela deveria estar junto aos Olimpianos naquele momento, e não no meu escritório, colocando minhas mãos na sua cintura enquanto se sentava no meu colo.

— Não fale assim, — Ela soltou um muxoxo, inclinando-se para beijar meu pescoço. — parece que não gosta da minha presença, que não quer que eu fique.

— Sabe que não é nada disso, Minha Rainha. — Retruquei, puxando-a mais para mim, seu perfume de flores me deixando atordoado, como se fossem afrodisíacas, o que eu não duvidaria. — Adoro sua companhia.

Perséfone riu quando ofeguei ao sentir seus dentes repuxarem minha orelha, tão doce quanto perversa, um vício e um pecado que eu sucumbia há séculos.

— Minha mãe me confiou sua pulseira favorita quando viemos para a conversa com Nico. — Minha esposa sussurrou, passando o dedo por meus cabelos, seus olhos fixos nos meus. — Acho que devo ter deixado cair, sabe como sou desastrada...

“Sorrir como o diabo”, a expressão ironicamente se encaixava muito em Perséfone, como naquele momento. Suas palavras transmitiam inocência e uma pontada de arrependimento, mas o sorriso em seus lábios a denunciava perfeitamente, como aquilo não passava de uma desculpa esfarrapada para me visitar, como aquilo não passava de uma mentira. Sorrindo sem acreditar na maliciosidade presente na mente da Deusa da Primavera, ainda que os séculos tivessem me provado como aquilo era possível diversas vezes, sucumbi ao desejo de tomar seus lábios nos meus, revindicando algo que eu já tinha há séculos, mas nunca me cansaria.

 

(…)

 

— Francamente, minha filha. — Deméter ralhou, franzindo o nariz irritada para Perséfone que parecia imaculadamente inocente. — Não sei como não perde essa cabeça! Como pode ser tão descuidada?

— Perdoe-me, mamãe. — A Deusa da Primavera suspirou cabisbaixa. — Prometo que não a desapontarei novamente.

— Você me diz a mesma coisa há milênios, criança! Ainda bem que nunca jura pelo Estige ou teríamos sérios problemas!

— Deméter, dê um tempo! — Intervi, já perdendo a paciência. — É apenas uma pulseira, não é seu símbolo de poder, certo?! Parece Zeus quando perdeu o raio!

— Ah, aí você está exagerando! — Minha sogra opinou, agitando as mãos nervosa. — Ninguém é tão dramático quanto Zeus!

— Por favor, sem discussão! — Perséfone suplicou. — Vamos continuar procurando, mamãe. Tem que estar aqui em algum lugar!

— Já estou cansada de procurar! Revirei esse palácio inteiro, só falta ter sido engolida por aquele cão sarnento!

— Não fale assim do Cérbero!  — Reclamei, tendo um sorriso irônico. — Com três cabeças, ele late menos que você!

— Eu não disse qual cão, Hades! Até diria pra abrir a boca, mas vai que pego raiva!

— Di imortales! — Perséfone interveio novamente, pondo-se entre nós. — Se for pra continuar nessa briga sem sentido, vamos embora, mamãe!

— Não se preocupe, Deméter. — Retruquei com um sorriso sarcástico. — Se eu encontrar faço questão de te mandar enrolado numa píton! Só não vai matá-la com seu veneno!

— Hades, não fale assim da mamãe!

— Você vai sentir meu veneno quando eu me transformar numa naja e arrancar sua cabeça fora! Metade dos meus problemas serão resolvidos!

— A outra metade é como se livrar das rugas?!

— Olha só quem fala, bafo de cadáver!

— Chega! — Perséfone exclamou antes que eu retrucasse, fazendo uma flor surgir na minha boca, um dos seus métodos favoritos pra me fazer calar a boca, mas o que eu mais odeio. Eu simplesmente odeio o gosto horrível de seiva. — Vocês dois parecem crianças!

— Ele quem começou! — Deméter retrucou e apenas lhe lancei um olhar irritado, cuspindo a tulipa da minha boca. Pelo menos não foi um cacto desta vez, aquilo foi dolorido.

— Não importa quem começou! E eu vou transformar cada um em uma madressilva se não pararem de brigar!

— Falando em madressilva, — Interrompi, ainda sentindo o gosto de clorofila. — vocês olharam o jardim?

— Óbvio! — Deméter retrucou ácida. — Não somos tontas!

— Acho que vale a pena olhar de novo, mamãe. — Minha esposa persuadiu a mãe em um tom doce. — Quero checar minha última criação antes de ir. Podemos?

Por um lado eu queria que Deméter negasse, ninguém merecia sua companhia. Mas, pelo outro, quanto mais elas demorassem a ir para o Olimpo, mais tempo eu teria com Perséfone e apenas a chance de contemplar seu doce sorriso apaziguador fazia valer a pena o sofrimento.

Assim, não me importei com as alfinetadas da minha sogra quando verificamos o jardim novamente e sequer me surpreendi ao encontrar a pulseira de ouro imperial entre os mais novos protótipos de Perséfone: as flores pipopinhas.

— Podemos ir agora?! — Deméter exclamou irritada, colocando o bracelete no braço e me fazendo questionar porquê tanto escândalo para nada.

— Dê-me um minuto, mamãe. — Perséfone pediu em um charme semelhante ao de Afrodite. — Prometo que não demorarei.

Deméter apenas revirou os olhos irritada: — Aproveite os mortos, Hades.

Com um sorriso irônico, minha sogra sumiu em névoa, retornando ao Olimpo e tendo a descendência de deixar eu me despedir dignamente de minha esposa.

— Não seja tão rude com ela. — Minha Rainha do Mundo Inferior pediu, aproximando-se o suficiente para colocar ambas as mãos no meu rosto. — Mamãe sabe que isso não passou de um truque, no fundo ela nos compreende um pouco.

— Realmente queria acreditar que isso é verdade. — Repliquei bufando, mas Perséfone apenas sorriu e beijou meus lábios suavemente. — Tenho que ir... — Suspirou, sua testa colada a minha, um afago suave na minha bochecha. — Mas tentarei descobrir sobre Nico no Olimpo, talvez encontre quem está bloqueando nossa visão sobre ele.

— Obrigado. — Sorri, um tanto quanto constrangido. Por mais que Maria Di Angelo e outras mulheres incríveis tenham despertado minha atenção, jamais deixei de amar Perséfone ou me sentir constrangido com minhas traições. — Sei que não é fácil pra você...

— Não. — Minha esposa me repreendeu, colocando o dedo sobre meus lábios. — Não vamos discutir de novo. Eu farei isso porque ele é importante pra você. E você é importante pra mim. Estamos combinados?

Assenti suspirando de olhos fechados. Seus lábios pressionaram os meus novamente, mas já podia sentir seu corpo perder a consistência, se tornando nada mais que névoa.

— Cuide bem das minhas plantinhas... — Sussurrou, já desaparecendo.

— Elas não estão vivas. — Retruquei, sabendo que ela não me ouviria. — Como tudo aqui.

Já podia sentir a falta do seu calor, do seu cheiro, das suas cores... O tempo sem Perséfone sempre parecia uma eternidade, ainda que seis meses não fosse muita coisa para nós, imortais. Contudo, quando esses seis meses significam você viver apenas metade do seu tempo com quem você ama, esse tempo é dolorosamente longo.

Tentei me consolar com a ideia de que logo ela estaria de volta, observando sua última criação. Os protótipos das flores inspiradas em “Pipopinha” eram misturas de diversas pedras preciosas que ainda não se encaixavam. A tentativa que mais se aproximou do padrão de beleza de Perséfone era uma com formato de flor de lótus, talvez uma referência sobre o passado de Nico, onde cada camada de pétalas era de uma pedra diferente. As mais próximas do centro eram de água-marinha, depois safiras, topázio, lápis-lazúli e ônix, como se fosse um degradê de azul e preto. O caule era de diamante, talvez para passar a ideia da pureza, mas o centro não combinava, independente se fossem diamantes, rubis ou ametistas.

A flor, por mais que tivesse cores bonitas, não combinava, parecia fria e morta, algo sem cheiro, sem calor, sem identidade... E eu temia que isso refletisse o futuro do meu filho.

Parte de mim, uma parte que eu tentava sanar a qualquer custo, tinha medo da revolta de Nico, do ódio pelo o que estava sendo obrigado a fazer: se casar com uma garota. Era fácil ver que não gostava daquilo, principalmente ao levar em conta que ele não conseguir enxergar que não é tão simples descobrir sua sexualidade, a vida não é definida com “gostar de homens” e “gostar de mulheres”. Eu torcia para Nico se encaixar no grupo que gosta dos dois e as imagens que as parcas me deram mostravam justamente isso, vários futuros possíveis em que Nico era feliz ao lado de Thalia Grace.

Essas imagens... Imagens que apareciam nos meus sonhos e em visões que mostravam o possível futuro de Nico, como meu embaixador oficial. Imagens que mostrava Thalia em um vestido branco perolado sorrindo para meu filho enquanto trocavam alianças e juramentos de fidelidade. Imagens em que Nico ria e apertava a esposa em seus braços, por vezes acompanhados de crianças tão parecidas com eles que era tolice pensar que não compartilhavam DNA. Imagens que me fizeram dizer sim à proposta de Zeus, a proposta de um acordo de paz selado com o casamento dos nossos filhos.

Era nessas imagens que eu buscava refúgio quando via a raiva de Nico, seu sofrimento ao ter o destino decretado. O que as parcas me permitiam saber sobre seu futuro é que Thalia era sua melhor chance. Como meu filho, o futuro de Nico continuava sempre tendendo para o sofrimento, para a dor. Eu precisava que ele fosse uma exceção, precisava que ele fosse feliz.

Fechei meus olhos e me concentrei novamente, revivendo um sonho que tive na noite anterior, a visão de um possível futuro dado-me pelas parcas depois de passar horas procurando uma forma de anular meu contrato com Zeus e livrar meu filho do casamento. Contudo, o sonho parecia uma forma das parcas mostrarem que queriam que o casamento acontecesse também.

No sonho, Nico estava mais velho, mas sua idade pouco me importava. Na sua frente havia uma criança, uma menina pequena sentada no sofá, com cabelos negros e olhos azuis, parecendo triste. Nico estava ajoelhado no chão para ficar na mesma altura que a criança, seu semblante era sério, mas havia um tom suave e amoroso enquanto falava, repreendendo a menina que, sem sombra de dúvidas, era sua filha:

...Eu sei que eu e sua mãe podemos brigar de vez em quando, e sei que isso assusta você.” Meu filho falava ao olhar a criança, o tom calmo ao afagar a perna dela, enrolada no sofá. “Ou nós podemos ficar um pouco emburrados, um pouco estranhos um com outro. Mas isso é por pouco tempo, meu amor. Eu amo sua mãe muito e muito, assim como eu amo você. Sua mãe é a melhor coisa que aconteceu na minha vida. E, graças à ela, eu tenho você, mio tesoro¹, que eu amo do mesmo tanto. Vocês duas são as melhores coisas que aconteceram na minha vida e isso nunca vai mudar.

Ainda que não me restasse dúvidas que a mãe da menina era Thalia, a imagem de minha possível futura nora surgiu. Suavemente ela se aproximou de Nico, repousando a mão no ombro dele, concordando com suas palavras. Apesar de sua expressão denunciar preocupação, havia um sorriso doce ao olhar para a família, observando meu filho atentamente.

Você é minha prinpessa², não é?” Nico continuou e, ao ver a menina assentir com a cabeça, lançou um sorriso para Thalia, que aumentou o seu. “E sua mãe a minha mais linda rainha. Vocês são minha família e nada no mundo vai fazer eu parar de amar vocês.

O sonho acabava ali, mas não minhas dúvidas quanto a veracidade das palavras de Nico. O olhar que lançava à Thalia Grace parecia carregado de sentimentos e real, mas parte de mim ainda tinha medo. E se eu estivesse dando ao meu filho a condenação de um casamento falso que só o machucaria?

Apertei meus olhos e respirei fundo, tentando me assegurar que tudo daria certo. Desmanchei-me em sombras e vaguei pelos meus domínios, seguindo por um caminho que normalmente evitava, mas, ultimamente, estava fazendo mais visitas do que seria saudável. A ala era um pouco mais alegre que o resto do mundo inferior, haviam flores de rubis e ouro por todo o corredor, os esqueletos que ali vigiavam foram escolhidos à dedo para proteger, ainda que até o momento tenha sido inútil, cada um dos fantasmas que ali habitavam.

Tornei-me sólido novamente, parei em frente à uma porta branca e dourada e bati suavemente, até que uma voz feminina me permitisse entrar. Quando abri a porta, Bianca estava enrolada sobre a cama e se curvou em reverência, antes de ser pôr em pé, nervosa:

— Aconteceu algo com Nico? Ele está bem?

Neguei, sentando-me um tanto cansado na cama. Parecia inútil dar uma cama à um fantasma, mas era como se tornasse minha filha mais real, coisas que pareciam fazê-la escapar da realidade que estava morta já há anos.

— Ele está bem. — Confirmei enquanto Bianca se enrolava na cama, um pouco mais aliviada com a segurança do irmão. — Ele tem muitos amigos cuidando dele.

— Eu fico feliz por ele. — Minha filha sorriu, abraçando as pernas. — É bom saber que não está sozinho.

— Sim...

Murmurei, olhando ao redor do quarto pouco decorado. Era sempre estranho quando eu me reunia com um filho, quase sempre acompanhado por um silêncio incômodo, estando ele vivo ou morto. Mas não havia muito o que fazer: se ele estava vivo, quanto mais tempo ao meu lado, mais chance de um futuro doloroso e amaldiçoado. Se ele estava morto não havia muitos assuntos, afinal, o que você conversa com um filho que fica a maior parte do tempo em um quarto em que absolutamente nada acontece?!

— Hum... — Pigarreei. — E você? Como você está?

— Bom... Eu estou morta... Mas, é. E o senhor?

— Eu sou imortal, então...

Silêncio, de novo. Bianca se remexeu inquieta na cama, nem a morte a livrando da hiperatividade. Olhou nervosa para a cama e por fim se voltou novamente para mim.

— Pai... — Chamou, a voz trêmula e insegura. — Sobre Nico... Os espíritos estão murmurando... Eles dizem que... Que ele morreu.

Malditos espíritos. Criaturas que gostam de fofocar mais do que senhorinhas em quermesses. Essas criaturas espalham todo o tipo de rumores e sempre me arranjam problemas, sendo estes verdadeiros ou não. Desta vez não seria diferente.

— Ele está vivo. — Assegurei, omitindo o fato de que ele realmente morreu, mas voltou a vida. — E, no que depender de mim, ele continuará assim.

— Eu... Eu espero. — Bianca suspirou e eu sabia que havia parte dela que ainda se sentia responsável pelo futuro do irmão, pelo rancor que ele às vezes parecia voltar a criar. — Aquilo que o senhor disse... Sobre ele e Thalia... Isso vai mesmo acontecer?

— É o que as parcas me mostram. — Confirmei.

— Mas, eu não entendo. Nico... Ele não gosta de meninas... Não assim...

— As pessoas mudam, Bianca.

— Eu sei. Só estou preocupada. O senhor pode me assegurar que acredita nisso? Que Nico pode ser feliz com Thalia?

— Nem mesmo nós deuses temos certeza do futuro. — Suspirei, pensando em uma das primeiras conversas com minha família, quando ela me perguntou do futuro de Nico e lhe contei que as parcas o mostravam com a filha de Zeus. — Mas Thalia está no acampamento agora, eles estão convivendo. Se o que as parcas me mostram estiver certo, se eles realmente vão se apaixonar, se casar e formar uma família, isso já está começando.

— Espero que esteja certo.

Bianca ficou em silêncio novamente e não sabia mais o que dizer. Por fim ficamos sem falar nada por alguns minutos, olhando pras paredes, apenas o som da minha respiração pesada. Houve uma batida na porta e logo um servo se aproximava, informando que mais um esqueleto havia explodido na sala de jantar. Era minha deixa. Me pus de pé e murmurei um preciso ir para minha filha enrolada na cama, o olhar em qualquer coisa que não fosse eu.

Pensei em Nico, em como havia se abaixado para olhar nos olhos da filha, tanta ternura e amor demonstrados mesmo em uma repreensão... Eu nunca tive e nunca teria tamanha intimidade com nenhum filho meu, era meu preço por ser um deus. Parte de mim estava com inveja do futuro de Nico.

— Bianca? — Chamei e por fim ela me encarou, um tanto quanto temerosa. Tentei não me magoar por minha própria filha me temer, mas parte de nós, deuses, é dolorosamente sensível à rejeição. — Você tem certeza que quer esperar? Sabe que pode renascer quando quiser.

Ela sorriu e afastou os fios de cabelo que caiam nos olhos, parecendo serena ao me encarar, confiante.

— Eu vou esperar. Se o que me disse de Thalia e Nico acontecer, é nessa família que quero renascer. Na minha nova vida, quero estar junto do meu irmão, mesmo que ele não saiba disso.

Sorri e assenti, saindo do quarto fechando a porta. Enquanto dava meia dúzia de instruções para lidar com o problema esqueleto-explosão a qualquer servo, meus pensamentos continuavam na persistência de Bianca de renascer como filha de Nico. Acho que era sua forma de ficar bem consigo mesma ao lhe assegurar companhia, bem como seria uma forma de Nico retribuir todo o amor e cuidado que Bianca teve com ele depois da morte de Maria.

Bianca soube quando as portas da morte foram abertas, ela sabia do plano de Nico e que poderia revivê-la. Mas decidiu esperar, decidiu fazer da forma certa e deixar a sua chance de nova vida à Hazel. Isso era uma responsabilidade à mais para mim: Não só a felicidade de Nico dependia deste casamento, como a de Bianca também.

Suspirei mais uma vez e fechei meus olhos ao me recostar no meu trono, procurando por sinais de Nico, tentando ver o que ele estava fazendo. Já estava predizendo um ponto cego novamente quando minha visão de clareou, a imagem das árvores do Acampamento Meio-Sangue surgindo. Ainda que fosse noite, pude ver as silhuetas de três pessoas conversando e não demorei a identificar Nico e os dois filhos de Zeus. Suspirei aliviado por ver que meu filho estava bem, mas a tranquilidade não durou enquanto eu via ele se aproximar de Thalia e roubar-lhe um beijo.

E não é que Pipopinha está acontecendo?!

 


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Notas finais do capítulo

¹Mio tesoro: meu tesouro, apelido comum na Itália.
²principessa: princesa em italiano.
*Sei que vocês esperavam a reação ao beijo, mas ainda não está bom e é um capítulo que terei que escrever junto ao depois dele, porque acontecem ao mesmo tempo... Peço perdão pela demora e espero que tenham gostado.
*Pessoinhas que já ganharam game poser e ainda não receberam o prêmio, entre em contato comigo por favor!
*Vou continuar o game poser, mas só haverá premio de mais de três pessoas participarem, ok?
Pergunta: Qual era o maior sonho de Bianca Di Angelo?
*Que tal interagirmos mais? Queria saber de onde vocês são. Eu goiana, mas moro pertinho do DF.
*O que acharam dessa história de Bianca se tornar filha do Nico *cof, cof Layla*?
*Obrigada por lerem!
*Vocês já leram Simplesmente? É um possível spinoff de EMNSC e foi atualizada recentemente!
*Viram que a capa mudou? Essa foi feita pela incrível MaryDiÂngelo e a cada mês mudarei, colocando as capas feitas por vocês que tenho guardadinhas aqui!