Eu, Meu Noivo & Seu Crush — Thalico escrita por Helly Nivoeh


Capítulo 26
Dica: Não morra; Mas, se isso acontecer, fuja dos amigos


Notas iniciais do capítulo

Olá pessoinhas lindas!
Não me batam por ter sumido!
Eu estava sem computador e queria terminar de responder os reviews... (O que eu só não consegui porque adoeci. Espero terminar até o próximo).
Esse capítulo é dedicado à pessoinhas lindas e maravilhosas que me enxeram de felicidade ao recomendar EMN&SC:
Mimi Jackson Valdez, que já havia se tornando uma stalker/leitora especial que me deu muito apoio para sair do hiatus!
E a Dama do Poente que me dá forças desde 2012 e é sempre meu refugio. Ela merece muito o título de Embaixadora do Team Pipopinha e nunca consigo agradecer o suficiente o quanto ela me ajuda!
Esse capítulo é especial para vocês meninas, feito com todo o meu amor ♥
Ademais, Boa leitura



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Narração: Nico di Angelo

Vocês devem estar pensando que depois eu morri e voltei a vida — não muito normal, diga-se de passagem — meus amigos pegaram leve comigo, certo? Errado. Assim que vi Will Solace e Jason Grace se aproximarem enquanto eu saia da floresta acompanhado de Thalia Grace, confesso que quase sucumbi aos meus instintos de sobrevivência não muito heróicos e me escondi atrás da minha futura noiva.

— Me dê um motivo para não matar você! — Will ordenou antes que eu tivesse a chance de pensar em um plano de fuga, os olhos azuis faiscando. Era interessante como ele parecia reservar o lado mau humorado exclusivamente à minha pessoa, bem como era completamente imune ao meu olhar mortal que fazia até mesmo Jason estremecer. Bom, pelo menos, fazia. Não havia muitos motivos para que eu agisse assim com ele recentemente.

— Will! — Tentei sorrir amavelmente, ciente que meus amigos provavelmente me matariam antes do almoço.

— O que eu disse sobre poderes?! — O Solace continuou a esbravejar, as mãos cerradas em punho. Ok, Thalia não me mandou de volta para o Hades, mas agora o Filho de Apolo seguiria o exemplo de seu pai e me mataria com certeza.

— Me salva! — Supliquei para Thalia, que apenas cruzou os braços em uma pose durona. Será que isso intimidaria Will? Bom, eu definitivamente tenho medo dela. De qualquer forma, em um gesto não muito corajoso, puxei a garota pra minha frente, escondendo-me melhor atrás dela.

— Sério isso?! — A Grace questionou e, como a boa futura noiva que meu pai me arranjou, apertou minhas mãos em seus braços, tentando se livrar de mim.

— Jason, me salva! — Supliquei, ainda tentando usar Thalia como escudo humano quando eles estavam há pouquíssimos metros de nós.

— Detesto dizer isso, mas eu concordo com Will! — O Grace retrucou, parando há dois passos de mim com Will ao seu lado. — Você está louco?! Saiu correndo da enfermaria como se tivesse visto assombração!

— Eu tinha que fazer algo! — Me defendi, ainda com medo dos meus amigos. — E Will já tinha me dado alta, não fiz nada de errado!

— Alexia me contou que você viajou nas sombras! — O Solace apontou e tive muita vontade de matar sua irmã. — E ainda levou Thalia com você!

— E ele quase desmaiou na floresta. — Thalia cantarolou, fazendo Will olhar ainda mais irritado pra mim.

— De que lado você está?! — Questionei, soltando-a por fim para me por ao lado dela, olhando-a acusadoramente.

— Você ameaçou me beijar. — A garota lembrou, os olhos azuis faiscando. — Acha mesmo que vou deixar barato?!

— Eu já pedi desculpas!

— O que vocês estavam fazendo na floresta? — Jason perguntou, apertando os olhos. Tudo bem que eu ia contar para ele sobre tudo, mas Will definitivamente não podia saber de nada disso.

— Nico estava implorando minha ajuda já que metade do Acampamento quer matar ele. — Thalia justificou dando de ombros, mentindo tão bem que até eu quase acreditei. — Mais que a metade, na verdade.

— Espera, o que? Por que todo mundo quer me matar?

— Lembra que todos acham que você se fingiu de morto? — Will apontou de braços cruzados. — Deu um susto em todo mundo.

— E ferrou o jogo. — Jason completou.— Todos nós que estávamos “envolvidos” fomos punidos, ficamos em última colocação. Abaixo até de Atena, que já estava impedido de jogar. Então, não reclame quando tiver que limpar os estábulos.

— Ah, eu morro e ainda sou punido por isso?! — Questionei, fazendo um bico. — Obrigado, deuses!

Principalmente tio Zeus e Apolo!

— Ainda não reclame, a lista de punições está bem longa! — Will retrucou, revirando os olhos azuis.

— E você precisa falar com Hazel, Reyna e Percy. — Jason recomendou. — Pediram pra você mandar uma mensagem de íris assim que acordasse.

— Ele vai fazer isso. — Will sorriu perigosamente, se aproximando de mim. Me enfiei atrás de Thalia novamente, mas o filho de Apolo foi mais rápido e me puxou pela camiseta. — Depois de um check up completo e uma boa refeição!

Meu melhor amigos saiu me puxando, fazendo com que eu tropeçasse nos meus pés e nas raízes das árvores enquanto ainda saíamos da floresta.

— Está me machucando! — Reclamei, sentindo o ar faltar conforme era enforcado com o puxar da camiseta.

— Eu quero te machucar muito, Nico di Angelo! — O filho de Apolo entoou. — Não reclame!

— Will, querido, — Thalia cantarolou, nos seguindo calmamente ao lado do seu irmão. Ao ver seu sorriso tão doce, percebi que eu estava com problemas. — não é uma boa ideia puxar pela camiseta. Pode desfiar ou acabar enforcando Nico. Quando essa pestinha que chamo de Jason aprontava, eu sempre puxava pela orelha. É mil vezes melhor.

— Muito obrigado pela ajuda, Thalia! — Will agradeceu e antes que eu pudesse me esquivar, meu amigo me puxava pela orelha em direção ao refeitório. E, cara, aquilo doia.

— Sério que você me puxava pela orelha? — Ouvi a voz de Jason atrás de mim, dirigindo-se à irmã.

— Não me culpe, você era terrível. — Thalia respondeu, feliz demais pro meu gosto. — Você parecia achar que eu era um biscoito gigante, tem sorte que eu só devolvi a mordida algumas vezes.

Por onde andavamos as pessoas nos encaravam, algumas do chalé sete bem raivosas, mas não havia como passar despercebido com Will quase arrancando minha orelha fora. Já estava chegando à enfermaria quando uma garota apareceu na minha frente, pisoteando a grama com força ao me olhar ameaçadoramente. Ótimo, Valentina Diaz acabou de entrar na lista “Garotas que odeiam Nico di Angelo”.

Imbecile! — Minha conterrânea gritou e seus olhos coloridos pareciam tão expressivos que Will me soltou e deu um passo para trás. — Você quer me matar de susto?!

Antes que eu pudesse reagir, o corpo da garota se chocou contra o meu, quase me fazendo cair. Seus braços apertaram meu pescoço enquanto eu não sabia o que fazer ao ouvir tantos xingamentos em italiano da filha de Afrodite.

— Não faça isso novamente! — Valentina mandou, se afastando subitamente de mim. Seus olhos estavam um pouco marejados e havia um bico em seus lábios. — Existem pessoas que se preocupam com você, sabia?!

— Desculpe, Vale. — Sorri amarelo, passando os dedos na minha cabeça, um pouco envergonhado. — Vou tentar… hum… não morrer de novo.

Imbecile. — Resmungou novamente, cruzando os braços. — Eu devia bater em você!

— Todos concordamos com isso, Valentina. — Will interveio, colocando a mão no meu ombro. — Tenho certeza que você pode ajudar Jason com a melhor forma de nos vingarmos enquanto faço um check-up em Nico, pode ser?

— Desde que eu seja a primeira a bater!

— Hey! — Reclamei, mas não tive muita força pra completar. Eu ainda estava tonto devido a viagem nas sombras e minha visão começava a escurecer. Will pareceu perceber, pois passou o braço por minha cintura e me deixei apoiar nele.

— Melhor começar o check-up dentro chalé, Will. — Valentina cantarolou, me fazendo franzir a testa.

— Como assim? — Perguntei, mas Will não me respondeu, puxando-me em direção a enfermaria. — Solace? — Chamei, olhando em seu rosto e percebendo que o tom dele estava um pouco mais vermelho que o normal.

— Cale a boca e ande, Di Angelo. — Will resmungou. — É melhor estar saudável quando vir o que te espera.

 

(...)

 

— Então, — Will começou, o estetoscópio contra meu peito nu enquanto terminava seu diagnóstico que não daria em nada. — vai me contar o que está acontecendo entre você e Thalia? Eu não engoli aquela desculpa na floresta.

Apertei meus lábios, tentado a abaixar a cabeça e negar qualquer envolvimento com a Grace. Mas não poderia fazer isto, não quando a pedi em casamento há menos de vinte minutos. Eu não podia dizer a verdade, mas também não queria mentir na cara dura.

— Nada demais… — Resmunguei, sentindo cócegas quando o Solace dava batidas leves no meu peito.

— Nada demais?! — Will retrucou rindo, afastando o estetoscópio para me encarar. Havia um tom de chacota em sua voz, o que o tornava menos abatido do que estava. — Você tentou beijar ela! E disse que ela te odeia quando estava delirando. E agora na floresta, vocês dois fugindo juntinhos… Ah, e devo mencionar de vocês lutando juntos com as gêmeas? Ou contra a hidra?

— Cale a boca, Solace. — Mandei, sentindo minhas bochechas queimarem. Eu queria dizer “nada a ver”, mas… Como eu faria isso e surgiria noivo de Thalia na mesma semana?! Aliás, por que todo mundo consegue fazer tudo que nos envolve soar tão romântico?

— Sexta você era todo: “eu odeio Thalia, somos inimigos mortais, eu não confio nela, ela é o lado negro da força e bla-bla-blá”. — O filho de Apolo me remedou, rolando os olhos e me fazendo suspirar.

— Eu nunca disse que odeio a Thalia. — Me defendi. Era a segunda vez que me culpavam de tal coisa, o que era bem injusto. — Ou que somos inimigos. Eu disse que não confio nela e não sei se isso mudou nos últimos dias. Ela é uma caçadora, Will. — Falei pausadamente, suspirando de novo. — Eu não confio nas caçadoras.

— Então, se ela não fosse caçadora… Você daria uma chance pra ela?

— É engraçado, — comentei, uma lembrança antiga surgindo na minha mente. — uma das primeiras perguntas que eu fiz a Percy foi se ele brigava muito com Thalia, por ela ser filha de Zeus.

— E agora vocês são primos. — Will riu, divertindo-se.

— Como uma piada bem irônica das parcas. E tá que eu já briguei com Thalia esses dias, mas ela até que é legal. Se ela não fosse uma caçadora, acho que podiamos ser amigos, como eu e Jason.

Tsc, Tsc. Seus pais devem sentir vergonha disso. — Will brincou e revirei os olhos, pensando em como nossos pais queriam justamente que fossemos mais próximos. — Mas não foi nesse sentido que perguntei se daria uma chance à Thalia.

— Você é irritante assim como todo mundo ou só comigo?

— Só por pessoas que quase me matam de susto tentando se matar. Então, sim, só com você.

Revirei os olhos novamente observando Will voltar ao seus exames de analisar as batidas do meu coração, ou seja lá o que fosse isso.

— Ela é bonita. — Will continuou a implicar, me fazendo suspirar em reprovação. Bom, mesmo que eu não gostasse de garotas, tinha que concordar com esse ponto. Os cabelos negros, a estrutura esbelta e intimidante combinada com os raios de seus olhos azuis tornavam-a, no mínimo, bonita. — Não acha?

— Você acha? — Retruquei, mais para me livrar da pergunta.

— Acho. E você?

— Acho que você está demorando demais só ouvindo meu coração.

— Não é minha culpa. — Will retrucou rindo e se afastando. — É tão sombrio e dramático que consigo ouvir toda a discografia da Lana del Rey nele.

— Sério, Will?— Ergui a sobrancelha.

— Adoro quando me chama de Will.

— Uma pena que isso não vai se repetir, Solace. — Retruquei, um sorriso teimoso no canto dos meus lábios.

— Juro que eu não sei o que faço com você. — Will resmungou também sorrindo, afastando o estetoscópio de mim, mas seus olhos azuis permaneceram no meu peito nu. Abaixei o olhar e analisei minha mais nova cicatriz, um corte horizontal pequeno, cinzento sobre meu coração. — Vai me contar o que aconteceu?

A voz de Will não era mais que um sussurro, me fazendo suspirar. Continuei de cabeça abaixada, sabendo que não aguentaria me manter calado sobre todos os meus problemas se o encarasse, não conseguiria esconder os segredos se seus olhos azuis me percrustassem. Era vergonhoso como eu havia me tornado tão dependente de Will. Como, depois de tanto tempo me virando sozinho, eu precisava de um amigo para enfrentar meus problemas.

Entretanto, eu não poderia envolver Will nisto tudo. Não Will Solace com seu tolo coração tolo e bondoso, que acreditava que todos tinham salvação. Não Will Solace com seu sorriso apaziguador que tinha total fé nos olimpianos, que o mundo podia melhorar. Eu não poderia condená-lo à tudo isto.

— Eu não posso, não agora. — Sussurrei, olhando para meus dedos que giravam o anel de caveira, um gesto nervoso que nunca desfiz. — E, pra ser sincero, até eu estou confuso com isso tudo. Mas, se eu sobreviver, quando tudo se resolver, eu te vou explicar. Eu prometo.

Meu coração acelerou conforme o silêncio de Will prevalecia, me fazendo engolir em seco. Depois do que pareceu uma eternidade, seus dedos alcançaram os meus, impedindo que eu terminasse de girar o anel. Sua mão apertou a minha em um afago, até que ele me puxasse levemente, me fazendo descer da maca.

Quase que inconscientemente o envolvi com meus braços, retribuindo o abraço confortável. Recostei meu queixo no seu ombro, sentindo o cheiro de limpeza e me permiti fechar os olhos, absorvendo a sensação de segurança. Os dedos de Will afagaram meus cabelos e o apertei, respirando fundo.

— Will, — Murmurei, quebrando minha promessa de não chamá-lo assim. — Eu sinto muito.

Não sabia exatamente pelo o que:  se era por morrer, por preocupá-lo ou não poder lhe explicar. Mas eu precisava dizer aquilo, precisava deixar claro que nada disso foi escolha minha.

— Você me assustou. — Sua voz não era mais que um sussurro doce, mas um tom rouco, quebrado. — Achei que tinha te perdido para sempre.
— Eu… Fiquei com medo de nunca mais te ver.

— Ei, não fique assim, Garoto das Sombras. — Will riu docemente, seus dedos afagando meus cabelos. Ele não tinha o dom de cantar, não como seus irmão, mas eu gostava do seu timbre, principalmente quando ria, me lembrava raios de sol em tempo de chuva, que aquece suavemente em meio ao vento. Sem queimar, apenas acolhendo. — Você já tentou se livrar de mim tantas vezes, achei que tivesse aprendido que não é tão fácil.

Acabei rindo, o apertando mais. Will afastou o rosto do meu lentamente, a mão passando dos meus cabelos por meu queixo. Por um momento, seus olhos ficaram fixos nos meus e eu pude sentir sua respiração com cheiro de camomila, seu chá favorito.

— Nico... — O Solace sussurrou e, por algum motivo, engoli em seco, sentindo meu coração acelerar.

— Will... — Arfei, sentindo meu peito queimar, como se o ar me faltasse.

Minha visão começou a se distorce, me fazendo piscar lentamente. Quando abri os olhos, eu não estava mais no Acampamento Meio-Sangue.

(...)

A construção em mármore branco imponente me era familiar, tal como as colunas que sustentavam os arcos. O céu estava límpido, de um azul intenso com nuvens que pareciam algodão e eu ainda podia sentir o cheiro da primavera tão vívida ali.

Eu já estive ali outras vezes, a última há três anos. Sabia que se virasse para o lado encontraria Jason, tenso ao observar o peristilo, nervoso com a missão a qual havíamos sido enviados para recuperar o cetro de Diocleciano. Era uma lembrança não muito antiga, mas vívida, um flash resultante da minha morte e volta à vida, tal como havia acontecido com Hazel. Eu estava revivendo a pior batalha da minha vida: a discussão com o Eros.

Respirei fundo e olhei para a direita, a espera de encontrar meu amigo, mas quem estava ao meu lado era uma mulher, que se inclinava em minha direção com um sorriso acolhedor.

Prendi a respiração ao reconhecer os cabelos escuros e espessos tão semelhantes aos meus, a pele azeitona mais escura e bronzeada que a minha. Usava um chapéu elegante com um tule fino e negro lhe cobrindo parte do rosto, o que combinava ao vestido em tons escuros, mas não lhe escondia os traços fortes da feição. Seu sorriso acolhedor era o mesmo que o de Bianca, mas seus olhos, o formato e o negro quase se juntando as pupilas eram iguais aos que eu encarava no espelho. Não era Jason, era minha mãe.

— É lindo, não é, bambino? — Ela entoou, batendo o dedo na ponta do meu nariz. Falava em italiano, nossa língua nativa, mas seu sotaque era encantador e real, algo que fazia as palavras doces soarem mais fortes e envolventes. — Me espere aqui, vou comprar um sorvete com sua irmã.

Queria segurá-la e pedir que não se afastasse, mas já era tarde. Com um sorriso, minha mãe se afastou, caminhando até uma menina que dançava entre as colunas, o vestido branco a tornando angelical. Com um susto, percebi se tratar de Bianca, não mais do que uma criança com seus sete, oito anos, que brincava pelo pátio da residência de Diocleciano.

Minha mãe mal se afastava e eu me via correr, contemplando as colunas altas, imaginando mil aventuras mirabolantes, correndo cada vez mais rápido, um riso infantil preenchendo o ar, até que eu tropeçasse e me visse indo em direção ao chão.

Meus olhos lacrimejaram conforme eu sentia a ardência nas minhas mãos e no meu joelho. Evitando o choro e me sentando, capturei com os olhos a imagem do que havia me feito tropeçar. Mãos gorduchas capturaram o objeto, admirando o arco-íris de rosa e azul, semi transparentes, parecendo ser um quebra cabeça de cristais em formato de um coração rechonchudo.

Parecia um cubo mágico feito de safiras e ametistas, muito mais complexo e difícil de montar. Franzi a testa, movendo as peças, percebendo que tomaram uma coloração mais escura, até chegar ao negro, se encaixadas incorretamente.

Aquilo era interessante, complicado e divertido, algo que eu precisava solucionar, mesmo que começasse a manchar o quebra-cabeça com sangue derramado dos arranhões nas minhas mãos.

— Nico! — Ouvi um grito desesperado atrás de mim, me fazendo olhar para trás e deixar o objeto cair ao encontrar o olhar assustado da minha mãe que corria na minha direção, segurando Bianca pela mão e alguns sorvetes. — Você está bem?

Ela se ajoelhou na minha frente, analisando se eu tinha algum outro machucado sem ser o corte nas mãos. Protestei, tentando achar meu novo brinquedo no chão, mas ele parecia ter sumido da mesma forma que apareceu. Fiz um bico, triste, desistindo de procurar.

Minha mãe sorriu e me deu um beijo na bochecha, antes de me oferecer o sorvete, o que me fez rir. Bianca me puxou pela mão, mesmo que os cortes ainda ardessem, e logo corríamos em direção ao palácio.

Minha mãe gritou para que a esperássemos, fazendo Bia olhar irritada para ela, pedindo que andasse logo. Fiquei rindo, deliciando-me com o sorvete e observando um papelzinho que voava em minha direção. Soltei a mão de minha irmã, ansioso para capturar o que o vento me trazia e logo minhas mãos gorduchinhas capturavam um papel pequeno, duro e retangular.

Meus olhos perscrutam o desenho ali exposto em tinta vermelha, branca e negra, observando os contornos que formavam a figura de um anjo. As escritas pareciam ser em inglês, o que eu não entendia muito bem na época, me fazendo virar a carta.

No verso, sobre um símbolo que agora me é conhecido, havia uma escrita em letras garrafais douradas. Me concentrei o suficiente para superar a dislexia e ler pausadamente, como a criança que estava aprendendo a ler, cada uma das sílabas.

— Mi… Mito… — Gaguejei, apertando os olhos, meu timbre o de uma criança. — Mito…

— O que é isso, querido? — A voz da minha mãe soou ao meu lado, me fazendo encará-la e entregar a carta.

— Eu achei. — Expliquei e ela sorriu. — Tá escrito Mito-alguma coisa.

— Mitomagia, bambino. — Ela explicou, sorrindo e me devolvendo a carta. — Deve ser um jogo. É sobre mitologia grega, pelo o que vejo. Acho que seria bom você conhecer, pode te deixar mais perto do seu pai.

Eu sorri, vendo-a apontar para o nome sobre a figura do anjo, indicando o nome do deus.

— Eros, o deus do amor. — Minha mãe continuou a explicar, lendo a descrição abaixo da imagem. — “Essa carta faz um aliado do seu inimigo se apaixonar perdidamente por você. Use-a para tomar um aliado para si.” Parece uma boa carta de armadilha, não?

— Mamãe, vamos! — Bianca pediu.

— Venha querido — Minha mãe sorriu, devolvendo-me a carta e beijando minha testa. —, mais tarde procuramos mais cartas para você, sim?

Sorri e tudo se dissolveu.

 

(...)

 

— Nico! — Escutei a voz de Will e percebi que ele me chacoalhava. — Nico!

— Estou bem. — Murmurei, atordoado. Meu estômago estava embrulhado e a lembrança havia mexido comigo, com meus sentimentos. Praticamente rever minha mãe assim, uma lembrança tão clara como eu jamais tive, havia mexido comigo.

— Não! Não está! O que aconteceu?

Suspirei pesadamente, pensando em revelar à Will. Ele é um dos poucos que sabia sobre Hazel, ela havia tomado a decisão de lhe contar há algum tempo, confiando mais rápido do que eu esperava em Will.

— Foi apenas uma lembrança, — Comecei, sentindo meu estômago embrulhado. — uma lembrança muito vívida. Isso acontecia com Hazel quando ela voltou. Acho que está acontecendo comigo também.

— Que lembrança? — Will perguntou calmamente depois de alguns segundos em silêncio me analisando. Sua expressão era leve, mas ao morder o lábio inferior percebi como ele estava nervoso.

— Da minha mãe. — Respondi, engolindo em seco. — Foi real, muito real.

—Era uma lembrança ruim? — O Solace continuou cuidadoso, tocando uma mecha do meu cabelo para tirar do rosto.

— Não. — Neguei com a cabeça, sentindo minha garganta arranhar. Meus olhos estavam lacrimejando conforme eu olhava para Will, parte de mim querendo voltar ao transe. — Ela estava cuidando de mim. Eu sinto falta dela.

Uma única lágrima me fugiu, o que me fez apertar os lábios frustrados. Eu não tinha reais lembranças da minha mãe, não lembranças claras. O rio Lete havia roubado isso de mim, mas a sensação de vazio, da saudade de algo que me é importante continuava no meu peito, querendo desabrochar em soluços.

— Eu imagino. — Will falou calmamente, afagando meus cabelos. — Quer me contar a lembrança?

— Agora não... — Murmurei, engolindo em seco. Se eu falasse, não conseguiria segurar o choro; Além do mais, aquele quebra cabeça, a carta de Eros, tudo isto no palácio de Diocleciano… Sem dúvida o Deus do Amor estava por trás daquilo. Ele havia citado um encontro anterior e, sem dúvida, seu fiel servo Zéfiro havia sido responsável por me entregar a carta e o brinquedo. Não podia envolver Will nisto.

— Tudo bem. — O Solace deu um sorriso acolhedor, passando o dedo pela minha bochecha e limpando a lágrima. Seu tom era suave e baixo, quase um sussurro, mas suas palavras cuidadosas eram claras. — Escute, eu não sou sua mãe, mas também estou aqui pra cuidar de você, ok?

— Eu sei, Will. — Tentei retribuir o sorriso, engolindo um soluço. —  Obrigado, você é um bom amigo.

— Eu sou o melhor, Menino das Sombras. — O Filho de Apolo retrucou com seu irritante sorriso espelhado ao pai. — Agora vamos, você precisa comer: ordens médicas!

(...)

 

Durante todo o almoço Jason havia recitado o discurso de Quíron e pedido que quem quisesse se vingar de mim, que aguardasse eu terminar de comer — eram ordens de Will, qualquer um ali o obedeceria — e nos encontrasse no meio da arena. Isso não parecia bom, mas meus pensamentos ainda estavam na lembrança no palácio de Diocleciano, o que ajudava a ignorar toda a falação de Jason.

Ele só mudou de assunto quando Thalia interveio com um “Chega, Jason. Nós sabemos que não fui culpa de Nico.” e eu tive que sorrir em agradecimento. Jason parecia a ponto de morrer de vergonha depois da bronca da irmã, mas não durou muito porque logo Thalia desviava o assunto para as atividades da semana e como havia se dado bem com Piper quando teve pratica de arqueria com o chalé de Afrodite — não muito hospitaleiro com a caçadora — e, aparentemente, a Mclean era melhor aluna que eu.

Jason ficou feliz o suficiente ao descobrir que a irmã e a namorada se davam bem pra me dar um tempo de ficar sozinho com meus pensamentos. Ainda era estranho ter Thalia ali conosco na mesa, mas era bom mais alguém para  falar com Jason quando ele parecia uma maritaca.

— Tenho uma mensagem pra você! — Jason entoou alegremente, sentando-se à minha frente depois que Will me arrastou para a arena. Thalia permaneceu de pé segurando um bloquinho de notas e um lápis.

Resmunguei, já prevendo sentir dor.

— Mensagem? — Suspirei olhando para meu amigo, esperando mais um discurso “Olha, não é legal você preocupar todo mundo morrendo. Por favor, mande Thanatos não importunar novamente.”.

— Do Leo! — Jason sorriu, me entregando um pergaminho holográfico, a tecnologia que o Valdez havia usado para se comunicar com o acampamento e avisar que estava vivo.

— O que aquele falso morto pode querer comig…? — Comecei a reclamar, mas fui calado quando o holograma de Leo Valdez tomou forma.

— NICO MILHOSO DI ANGELO QUE HISTÓRIA É ESSA DE SE FINGIR DE MORTO? — O filho de Hefestos gritou alto o suficiente para fazer meus ouvidos zunirem e todos ao redor nos olhar. — Olha só, eu sou o único que pode morrer e não ficar morto! Você pára de me copiar! Copyright de gostoso pra dedéu é meu!

— O que, por Hades… — Comecei a resmungar, mas Leo estava dispostos a usar todas as ofensas que declarei pra ele quando o irritante Valdez voltou a vida. O que, aliás, eram muitas.

— Leo, deixa eu falar também! — A voz de Hazel soou e logo Leo era empurrado de lado e a imagem um pouco distorcida da minha irmã aparecia.

— Eu não terminei de falar! — Leo reclamou e a julgar como a imagem estava ainda mais borrada, pareciam brigar para falarem.

— Você só está reclamando! — Hazel revidou. — E pare de xingar meu irmão! Eu vou lavar sua boca com sabão!

— Tá, mas deixa eu terminar! — O filho de Hefestos resmungou.

— Frank! — A Levesque gritou. — Diz pro Leo deixar eu falar!

— Leo… — Meu cunhado começou em um tom de alerta, o tom que usava para comandar a legião. Mas, como Leo era um ser completamente indisciplinado, voltou a falar:

— Nem venha grandalhão! Eu preciso terminar meu discurso!

— Leo, deixe Hazel falar logo! — Uma outra voz feminina surgiu, o tom um pouco irritadiço. Ouvi resmungos masculinos e logo a imagem se estabilizou, mostrando minha irmã.

— Nico! — Hazel sorriu nervosa. — Assim que você acordar me mande uma mensagem! Não pude ficar, mas prometo voltar no final de semana.

— É ESSE TIPO DE PRIVILÉGIO QUE DÁ NAMORAR O CHEFE? — Leo gritou. Hazel ficou completamente vermelha e a imagem embaçou, provavelmente por ela avançar no Valdez. — AI! NÃO PRECISA BATER!

— FRANK É MEU PRETOR, NÃO CHEFE! — Hazel corrigiu exasperada.

— DÁ NA MESMA! — O filho de Hefestos retrucou.

— Hazel, você quer…? — A voz de Frank soou na mensagem, um tom sugestivo oferecendo ajuda.

—Sim, por favor. — Minha irmã confirmou e logo os gritos de Leo surgiam.

— FRANK, LEÃO NÃO! ISSO É INJUSTO! MAMACITA, ME AJUDA!

— O que eu disse sobre me chamar de mamacita, Leo?! — A mesma voz feminina resmungou em um tom entre irritado e entediado. Provavelmente Calipso.

— Enfim, — Hazel apareceu novamente na mensagem. — Nós estamos preocupados com você! Não esqueça a mensagem ou eu vou bater em você também!

— Me bater também? — Questionei, franzindo a testa.

— HAZEL, SPOILER NÃO É LEGAL! — A voz de Leo soou novamente. — E FRANK, VAI MORDER SUA NAMORADA, NÃO À MIM! HAZEL, FRANK MORDEU MEU BRAÇO! SABE COMO É DIFÍCIL EXPLICAR QUE UM LEÃO MORDEU SEU BRAÇO?!

— Hazel, querida, — A voz de Calipso soou novamente. — Pode pedir para Frank não arrancar pedaço? Preciso das mãos de Leo.

— Tudo bem. — Hazel sorriu olhando para trás. — Eu já terminei mesmo. Frank, pode soltar o Leo. Imagino que o gosto não seja muito agradável.

— Valeu, Levesque! — Leo reclamou, seu holograma aparecendo. — Sério que você só queria falar isso?! Eu podia ter deixado o recado.

— Leo, a mensagem está terminando. — A voz melodiosa de Calipso soou, fazendo o filho de Hefestos se concentrar.

— Certo, vamos lá: Segundo o código, já que você roubou a minha ideia  de morrer, eu posso roubar uma sua. Eu queria fazer isso cara-a-cara, mas não sei quando vou visitar o Acampamento Meio-Sangue, as coisas aqui com Annabeth e o pessoal do Acampamento Júpiter está desenrolando bem mais que eu planejava e…

— Leo, olha o spoiler! — Calipso advertiu.

— Certo, gatinha. Onde eu estava? Ah, adaptando sua ideia. Você se lembra de quando eu voltei e todos queriam me socar, certo? Como você, como um bom amigo, claro, organizou as filas para que todos pudessem me bater? É claro que eu queria retribuir o favor, mas estamos um pouco distantes. Então estou atribuindo essa tarefa ao meu melhor amigo, Jason Grace. Ele já comandou sei lá quantas tropas, acho que pode organizar um exército pra te machucar.

— Isso é só vingança ou ciúmes do Jason também?— A voz de Frank soou baixa, causando risinhos das meninas.

— Ninguém te chamou na conversa, Zhang! — Leo retrucou, ficando vermelho.

— Ciúmes. — Hazel e Calipso disseram juntas.

— ENFIM, — Leo gritou. — Espero que Pips te chute em um lugar especial. Você fará isso por mim, Rainha da Beleza? E Jason, meu melhor amigo, não economize nas senhas! Divirta-se, Di Angelo!

— Deixa eu dizer tchau! — Hazel pediu, mas a imagem já se mostrava instável.

— NÃO! — Leo gritou. — ESSE NÃO É UM DOS PRIVILÉGIOS DE NAMORAR O PRETOR!

— EU VOU TE MATAR, VALDEZ…. — A imagem se apagou, bem como o gritou de Hazel.

Fiquei parado até que Jason tirasse o pergaminho da minha mão, um sorriso perigoso nos lábios.

— Ah, deuses, você não… — Resmunguei, já sentindo meu braço latejar em um dor psicossomática.

— Assistente, — Jason gesticulou para a irmã. — qual foi a última ficha entregue?

— Seiscentos e sessenta e seis. — Thalia sorriu, verificando no caderninho.

— O Acampamento não tem tantos campistas… — Comecei a resmungar.

— Jason, podemos começar a chamar? — A Grace questionou em um tom doce, me ignorando completamente.

— Só um segundo, Thalia. — Jason pediu, o olhar perigoso e dois papeizinhos na mão. — Will, você pegou sua ficha?

Olhei para o Solace que sorria em uma expressão maliciosa. Oh deuses, o complô está acontecendo!

— Hum… Não, amigo. Você não teria uma sobrando, teria?

— Aqui, amigo. — Jason sorriu lhe entregando um papelzinho. — Peguei um especial para você. Thalia, minha querida assistente, pode começar.

— Com prazer, Jason. — Minha futura noiva sorriu. Ainda dá tempo de usá-la como escudo? — Número um!

— Ah, a minha é a dois. — Jason suspirou teatralmente. — Qual é a sua, Will?

— Ah, olha que coincidência! — Will exclamou como se estivesse surpreso. — É justamente a um!

Só deu tempo de fazer uma careta: no segundo seguinte Will dava um soco no meu braço.


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Notas finais do capítulo

Todo mundo tava de colete, né?
As tretas estão começando e com elas vem Thalico e Solangelo... Preparem-se pra ficarem confusos!
Só eu tô achando que o Nico tá abraçando demais ~Will~ as pessoas?
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ADIVINHA O QUE VOLTOU: O game poser!
Eu nunca revelei quem ganhou o último (porque eu sempre esqueço), maaaas, hoje vou falar. É uma pessoinha que sempre me faz rir muito dos comentários, não só pelas respostas, mas por seu jeito bem engraçado e até maluquinho. Esta pessoinha é a DemonicMoon!
Nova pergunta: Qual o maior sonho de Will Solace?
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Quero agradecer novamente a Mimi e a Dama do Poente pelas recomendações e por todo o apoio, é realmente muito importante e especial ♥
Espero continua fazendo jus ao que escreveram!
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Acredito que a maioria dos Thalico Shippers conhecem a fanfiction que é praticamente nossa bíblia né? Claro que estou falando de Worse Than Nicotine! Bom, pra quem não sabe, está sendo postada uma continuação chamada Favorite Sweater. Já possui onze capítulos maravilhosos que mostra claramente que o amor e adoração dos Graces&Cia permanece, junto com a escrita apaixonante (que eu particularmente amo!) da Dama do Poente. Ah, e tem treta, então não tirem os coletes! Enfim, vão lá ler vai: https://fanfiction.com.br/historia/713894/Favourite_Sweater/
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Curtam a páginazinha: https://www.facebook.com/eumeunoivoeseucrush
E entrem no meu grupinho: https://www.facebook.com/groups/214089935682143/?ref=bookmarks
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Esse é o último aviso, sério!
Só quero avisar oficialmente que faço parte da Família das Damas! No caso, sou a Dama de Segredos e tenho duas filhazinhas lindas a Dama do Poente e a Dama da Lua (aka Risurn). ♥
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Até os comentários!