Eu, Meu Noivo & Seu Crush — Thalico escrita por Helly Nivoeh


Capítulo 23
Foi assim que eu morri


Notas iniciais do capítulo

Oi pessoinhas!
Postando correndo enquanto estudo pra prova e trabalho!
Boa leitura!
P.s.: O capítulo começa logo depois que o Nico morreu, antes do capítulo 21.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/685975/chapter/23

Narração: Nico di Angelo

 

Di Angelo. Traduzido do italiano: Anjo. Uma das maiores ironias da minha vida, se me permite dizer, é o fato de que na minha lista de deuses que eu jamais quero (re)encontrar destacam-se dois que assumem a forma de anjos com asas majestosas e imponentes: O Cupido e Thanatos; E, para enfatizar o desgosto das Moiras por mim, era justamente o último que se apresentava à minha frente na noite em que eu morri.

Franzindo a testa como se houvesse recebido uma notificação inesperada de morte no seu iPod, o Deus da Morte estava de braços cruzados, apenas me esperando com um ar entediado. Felizmente, os nervos do meu corpo pareciam sobrecarregado com dor o suficiente para impedir que eu sentisse agonia, e era o único motivo pelo qual eu ainda conseguia reconhecer parte da realidade — o que me fazia querer gritar para Will deixar de loucura e me deixar morrer de uma vez, antes que fossemos os dois parar no Mundo Inferior. Não tenho certeza se meu pai deixaria ter a alma de um amiguinho no meu quarto novo.

Thanatos me olhou irritado, como se eu estivesse fazendo-o perder o novo capítulo de sua novela mexicana favorita  — por favor, não conte ao meu pai que eu contei isso —, e me estendeu a mão, com um olhar de “Anda logo, garoto, eu não tenho a noite toda!”, no qual eu realmente queria revirar os olhos, o que só foi possível no meu modo “fantasma”, quando eu realmente morri. Olha, é realmente estranho e inexplicável morrer, fora que é um assunto muito particular, então, não me pergunte como foi, tudo bem?

De qualquer forma, eu estava com raiva, e não me arrependo de todos os palavrões — ser poliglota é ótimo nesses casos. Provavelmente minha mãe lavaria minha boca com água dos sete rios do Mundo Inferior se ouvisse qualquer palavra que proferi em italiano, inglês ou grego. Ah, e alguns palavrões em espanhol que aprendi pra xingar o Valdez, já ia me esquecendo. — que gritei quando cheguei aos Estúdios M.A.C — eu só não fiz isso pelo caminho porque, acho que nem Percy, seria louco o suficiente de xingar Thanatos. Mesmo se você já estiver morto. —, ainda que isso perturbasse as demais almas e fizesse Caronte reclamar, até me reconhecer e ir correndo ligar para o meu pai. Agora que tô morto, eles ligam!

Tá, vou tentar ir com calma. Eu não penso em algo como: “óh, eu sou o poderosíssimo filho de Hades que nunca deve morrer”, mas eu estou com raiva porque eu morri da forma mais tosca possível — na verdade, não exatamente: Cronos perder o controle do corpo de Luke por causa de uma escova azul foi ainda mais tosco.

Quando eu realmente tive conhecimento do que é ser um semideus — um grande saco, se você me permite dizer — e, principalmente, um filho de Hades, eu pensei: É, eu vou morrer logo. E várias vezes eu já pude imaginar-me de frente aos juízes contando como eu morri: “Bom, eu saltei no Tártaro”, “Inanição, sabe? Me deixaram preso por uns dias em um pote sem comida, água ou oxigênio”, “Ah, eu só tava levando um dos maiores tesouros gregos pelo mundo quando me perdi nas sombras. Aliás, se vir uma estátua gigante de Atena por aí, pode me ligar?!”, “Eu só vendi um vestido novo de Perséfone para comprar McLanche Feliz” e “Eu estava brincando de pega-pega com meu cachorro gigante, Cérbero, e ele me confundiu com a bolinha”. Mas eu nunca me imaginei dizendo: “Eu estava brincando no Acampamento Meio-Sangue e atiraram uma flecha em mim. Aliás, só acho que isso é obra do meu pai. Mas não se preocupe com isso: é normal matar seus filhos.

Que tipo de herói morre com uma flecha? Tudo bem, até Aquiles morreu assim, mas ele estava em uma guerra e não brincando com espadas inofensivas!

Estou divagando, não é? Tentarei manter o foco. Por isso, vamos pular as súplicas de Caronte para que eu pedisse que meu pai aumentasse seu salário — A solidariedade dele é incrível nesses casos! — enquanto me levava na barca vazia até o Mundo dos Mortos. Eu não me incomodei em pegar qualquer fila, conhecia o Mundo dos Mortos tão bem quanto a palma da minha mão e sabia que meu quarto me aguardava há anos. Adentrei ao Castelo do meu pai sem cerimônia, raiva queimando no meu peito, e não me importei de ajoelhar e fazer mesuras quando o encontrei na sala do trono.

O incrível Deus dos Mortos estava com o rosto apoiado na mão quando abriram as enormes portas duplas — meu objetivo era empurrá-las para que se abrissem de uma vez, mas quando se é um fantasma você precisa pedir que esqueletos, por gentileza, abram portas do inferno pra você — e quando se pôs de pé, ele parecia ter uma expressão de tristeza.

— Não achei que fosse sentir falta do quarto tão rápido. — Meu pai falou e, mais uma vez, não soube dizer se ele estava sendo sarcástico ou não. — Se estivesse tão ansioso para maratonar Supernatural teria deixado você levar as temporadas, não precisava morrer.

— Oh, claro! Por que eu que me matei certo? Eu vi uma flecha voando e pensei “olha que legal! Vou pular aqui na frente! Vai que acerta meu coração, eu morro e passo o resto da eternidade acompanhando os Winchesters?!”

— Eu deveria estar entendendo as entrelinhas? — Hades questionou e revirei os olhos. Eu quase podia ouvir o choro dos meus amigos, e a voz de Hazel ecoava na minha mente, pedindo que eu me acalmasse.

— Você não tem nada a ver com isso? — Perguntei quase retoricamente, carregando minhas palavras com o máximo de sarcasmos. — Vai me dizer que foi um semideus qualquer que decidiu atirar flechas em mim? Bem no dia em que você tenta me convencer a me casar com uma garota?!

— Eu não te matei, Nico. — Meu pai falou com a voz firme e quase acreditei que havia pesar e ressentimento no tom. — Me entristece vê-lo aqui, eu te disse isso: queria que você fosse uma exceção, que fosse o primeiro dos meus filhos a realmente ser feliz. Você acha mesmo que eu faltaria com minha palavra tão rápido?

— Quando vem dos deuses, eu não duvido de mais nada.

Ralhei, cerrando os punhos. Sei que eu devia me manter em calma, que eu não tinha provas e que havia uma margem que eu estivesse errado, mas tente levar isso em consideração quando você acabou de morrer. Justo quando você estava tão feliz! Quando não havia monstros, profecias e nem madrastas sanguinárias, quando minha maior preocupação era fugir dos banhos de sol diários que Will me impunha.

Um vento forte tomou toda a sala do trono, e as tochas que não eram com fogo grego se apagaram, enquanto um raio estalava — eu nem sabia que isso era possível no Mundo Inferior.

— A última vez que um semideus disse algo assim, ele foi possuído por Cronos. — Uma voz forte ressoou pela sala e as portas se abriram de uma vez(Ei! Essa ideia era minha!), mostrando o Senhor dos Deuses desfilando para dentro do salão, sendo seguido por Hera, Deméter e Perséfone.

— Se vocês ouvissem um pouco os semideuses, saberiam que nós reclamamos disso o tempo todo. Luke não foi o primeiro e nem será o último. — Retruquei, suicidamente, para meu nada adorável tio. Felizmente, ele me ignorou.

— Olá irmão. — Zeus cumprimentou meu pai, enquanto agitava as mãos e fazia um trono grande de mármore branco surgisse ao lado do de Hades, sentando-se como se estivesse no Olimpo.

— Zeus. — Meu pai retrucou, rangendo os dentes. — Perguntaria se não quer se sentar, mas acho que já fez as honras. — O Deus dos Raios somente deu um sorriso arrogante, cruzando as pernas. — Sentem-se, minhas caras irmãs e querida esposa.

As deusas fizeram surgir seus tronos e se acomodaram de frente para mim, como se eu estivesse em julgamento.

— Deveria me procurar com a visita surpresa? — Hades questionou, olhando diretamente para Zeus.

— Claro que não, irmão. Achei que estivéssemos nos reconectando, não? Firmando laços? Uma visita faz parte do protocolo. Principalmente em momento de dores e luto.

— Eu sou o deus dos mortos, Zeus. — Meu pai retrucou, mal humorado. Parecia nada próspero a manter sutilezas, tons amenos e, muito menos, hipocrisias; — eu estou sempre de luto.

— Sei a dor de perder um filho, Hades. Só quero ajudar.

— Nossa! Com esse tom, até eu tô quase acreditando! — Me intrometi, com raiva. Eles causam minha morte e ainda choram no meu velório?!

— Achei que Poseidon que tivesse o filho encrenqueiro. — Zeus observou, me lançando um olhar de desprezo.

Isso porque você nunca conviveu com Jason ao lado do Will ou do Percy. Ou ficou cinco minutos perto da Thalia. Perto deles eu sou um anjo! — Ok, essa piada foi péssima.

— Eu posso saber por que — insira aqui um palavrão na sua língua favorita — vocês me mataram?!

— Menino, mais que coisa feia! — Hera brigou. — Devia lavar essa boca com sabão!

— Hades você não educar esse menino não? — A Senhora Natureba, vulgo Deméter, se intrometeu, escandalizada. — Se fosse meu filho ia ficar a semana toda arando o terreno!

— Precisamos escrever outro livro: — A Rainha Vaca continuou, apesar de soar pensativa. — “Como ensinar seu bebê que palavras feias não são legais”.

— Talvez com um spin-off: “Como lidar com palavras feias: mil ideias de como trabalhar na fazenda ajuda na disciplina”.

Por um  momento me senti abismado demais para comentar, observando as duas deusas agirem como super mães. Elas são tão boas conselheiras que criaram aquele livro extremamente constrangedor que eu só não joguei no Tártaro porque estou com medo dos titãs lerem e decidirem aplicar aos seus filhos. Já imaginou Vovô Cronos explicando pro meu pai de onde vem os bebês? Mais fácil pra onde vai: no caso, o estômago do Vovô.

— Amor, — Perséfone falou para meu pai e senti meu estômago revirar. Demonstração de afeto em público não, por favor! Eu vou terminar minha adolescência traumatizado! — eu disse pra não ficar falando palavrões perto de crianças. Tá vendo como eles aprendem?

Minha madrasta repreendeu em um tom quase gentil, me dando uma piscadinha. Espera, que que tá acontecendo?!

— Vocês enlouqueceram?! — Me vi questionando, abismado. Acho (ou melhor, tive certeza) que os deuses estão ficando insanos de novo. Alguém checou se a Athena Parthenos tá no lugar certo?! Eu não vou ficar carregando uma estátua emburrada nas costas de novo!

— Você que enlouqueceu menino! — Hera ralhou. — Isso é jeito de falar com sua família?!

— Família?! — Exclamei, dando um passo à frente. — Vocês me matam e vem me falar que são minha família?!

— Tá vendo, Hades? — Deméter se intrometeu. — Se você tivesse lido nosso livro até o final, esse menino ia ser bem educado. Se me deixasse levar ele pra fazenda…Um mês e te devolvo outra pessoa!

— Mamãe, Nico agora está morto. — Perséfone interveio, quase me defendendo.

— Não viemos resolver isso? — A Deusa da Agricultura ralhou, olhando para o irmão mais novo de um jeito irritado. — Anda logo, Zeus! Larga de ser bundão e revive logo esse menino.

— Alguém me explica o que está acontecendo?! — Pelos deuses, vou trazer Annabeth aqui, porque tá difícil!

— Isso é o que quero saber. — Meu pai reclamou, perdendo a paciência. — O que exatamente você veio fazer aqui, Irmão?

Zeus suspirou dramaticamente e fez sinal para que as irmãs e a filha (Cara, meu pai é casado com a sobrinha: Acho que sou traumatizado desde sempre; E não vou falar sobre o fato de que Zeus traiu a esposa, sua irmã, com a outra irmã deles. E depois me perguntam porquê eu sou emo.) se calassem. Ele deveria ser o deus das artes, porque vamos combinar né…

— Nós fizemos uma reunião de emergência no conselho, Irmão. — Zeus falou em um tom pesaroso, dissimulado e sério.

— Qual era a pauta? — Meu pai perguntou e pude ver que se sentia incomodado por não ter sido convidado. Sempre começa assim, daqui a pouco não tão chamando ele pro aniversário da Vovó Réia e temos uma nova guerra.

— Seu filho.

— E não achou que eu estivesse interessado? — Meu pai questionou, erguendo a sobrancelha.

— Temo que não tenha recebido o convite há tempo. —  Zeus argumentou. Aham, tá. Claro que é por isso!

— O que discutiram? — Perguntei, talvez um pouco temeroso. Não faço ideia do que os deuses poderiam conversar sobre minha vida. Talvez sobre o casamento, mas acho que isso é só loucura do meu pai e Zeus.

— Pipopinha! — Perséfone exclamou feliz, batendo os dedos indicadores um no outro com um sorriso psicopático. Eu.vou.matar.o.Will! Não tinha um nome melhor não?!

— Eles são tãããão fofos! — Hera exclamou, quase vindo na minha direção. Eu quase podia imaginar a deusa apertando minhas bochechas.

— Dá vontade de encher de cereal! — Até a louca da Deméter exclamou, um brilho psicótico nos olhos. Will, socorro!

— Silêncio! — Zeus ordenou.

— A casa é minha, irmão, eu ordeno silêncio. — Meu pai reclamou, mas parecia sem ânimo pra brigar. Felizmente, meu tio menos favorito ignorou:

— Estávamos discutindo sobre suas vitórias, garoto. Sobre tudo o que fez pelos Olimpianos nos últimos anos. Reconhecemos seu esforço, seus sacrifícios.

— Vocês estão falando com o cara errado. — resmunguei. Eu não era um grande herói, eu só ajudei minha família, mesmo que na época não fosse minha família. — Percy, Jason e Leo que são os caras da profecia.

— Nem sempre os heróis recebem as honras que merecem. Você foi um exemplo disso. — Zeus continuou formalmente.

— E Percy não quis a imortalidade. — Hera murmurou entediada.

— E Jasico não é tão shippavel. — Perséfone concordou. O que, por Hades, é jasico:? Uma flor? Uma comida? Uma banda indie?

— Posso terminar? — Zeus falou irritado, se controlando para não mandá-las calar a boca.

— Onde quer chegar com isso irmão?

— O conselho olimpiano votou. — Zeus falou em um tom sério e até as deusa se calaram. — Nico di Angelo se tornará um deus.  

Um deus. A palavra pesou de tal forma como se Athena Parthenos tivesse sido uma pluma nas minhas costas. Senti o ar me faltar e quase arfei — O que era irônico, eu estava morto. Eu não precisava respirar —, uma pressão tão forte como se novamente estivesse caindo no tártaro me atingiu, o pânico quase me dominando.

— Um deus? — Murmurei, apertando minha garganta.

Tenho certeza que vocês adorariam saber da minha resposta e eu adoraria narrá-la, mas tenho que revelar as coisas aos poucos. Então, vamos pular, pelo menos por enquanto, toda a discussão e também os acontecimentos que se seguiram depois que eu voltei a vida — aliás, perdoe-me meu comportamento infantil. Culpe Deméter por isso. — e chegamos ao momento em que eu voltei a sanidade.

Eu acordei com uma luz forte demais no meu rosto, junto há uma cabeleira loira bem próxima de mim. Pisquei atordoado pensando em voltar a dormir, mas comecei a me preocupar com o possível cadáver meio deitado na minha cama: eu realmente não gosto quando ficam invadindo meu espaço.

Tentei abrir a boca pra falar algo, mas minha garganta estava seca e quente e tudo o que saiu foi um resmungo. O ser humano — ou, pelo menos, eu esperava ser um ser humano — ergueu a cabeça alarmado e me encarou confuso. Por um momento eu achei que fosse Octavian por causa da palidez do loiro, mas quando sorriu radiante, reconheci Will.

— Você acordou! — Ele exclamou, verificando minha temperatura. Sua pele estava quente conta a minha, o que era comum, mas até que não foi tão ruim quando ele afagou os meus cabelos.

— Will. — Consegui murmurar com minha voz soando áspera, fazendo uma careta ao sentir minha garganta doer. Já passou uma lixa em outra? Era assim que meu timbre soava. — Água.

O Solace logo me pegou a garrafinha que estava do lado da minha cama, colocando o canudo na minha boca. Depois de uns três goles consegui resmungar:

— Eu consigo tomar água sozinho.

— Você realmente voltou ao normal. — Will revirou os olhos azuis, mas permaneceu sorrindo ao afastar a garrafa.

Consegui me sentar na cama, apesar da sensação que meu corpo estava pesado e mole, notando que havia um tubo no meu braço segurado por esparadrapos. Franzi o cenho ao observar o soro que pingava, um pouco enjoado ao imaginar adentrando minha veia por uma agulha. Eu adoro (ver) ajudar Will com membros fraturados, deslocados, arrancados… Mas não me fala de agulhas no meu corpo não, por favor!

— Você está meio verde. — O Solace notou ao se curvar na minha frente, verificando minhas pupilas. — Mas parece normal. Eu ainda sou bonitinho?

— Você está meio desbotado. — Respondi, tentando não rir. Mas era verdade: Will estava pálido e abatido, com olheiras escuras e faltava pouco pra ter rugas de preocupação. — Meu médico iria sugerir banho de sol.

— Seu médico é muito sábio. Tenho certeza que sugeriria o mesmo pra você. — Acabei fazendo uma careta: Tudo o que eu menos queria era ficar no sol, ainda estou chateado com Apolo por ter me matado.

— Por que diabos eu estou aqui mesmo? — questionei, olhando em volta da enfermaria vazia. Pela luz alaranjada, calculei se aproximar da hora do jantar.

— Primeiro: Pare com os xingamentos. — Por causa do tom de reprovação de Will, revirei os olhos. Diabo nem era um palavrão! E por que estão todos preocupados com o que eu digo?! Não é como se eu fosse o bebêzinho de todos! — E depois, precisávamos limpar seu chalé. As pessoas já acham que você é um vampiro, se encontrassem aquele tanto de sangue, sua fama só ia piorar.

— Acharam meu estoque de “O” negativo? — questionei e Will me respondeu com um olhar irritado, me fazendo erguer as mãos me rendendo. — Só estou brincando! — o Solace apenas suspirou, erguendo-se para checar a bolsa de soro. — Mas, se acabarem com meu estoque, posso te morder?!

Meu comentário fez Will parar e me encarar com uma cara de “sério isso?” e eu quase pude ver ele pensando seriamente em verificar minhas pupilas de novo, então o respondi com um belo sorriso angelical, antes que me colocassem para dormir novamente. Não tenho certeza se Will me contaria história como Thalia, acho mais provável sedativos ou uma mordaça apenas pra me fazer calar a boca. Felizmente, ele não fez nada disso, apenas tirou o soro da minha veia.

— Já estou recebendo alta? — perguntei quase fazendo um bico.

Eu até gostava de ficar na enfermaria: não precisava me preocupar em ser sociável, com as minhas obrigações no acampamento, podia ficar o dia todo deitado e Will sempre aparecia pra ficarmos conversando. Além do mais, eu não precisava dormir sozinho no meu chalé, o que, às vezes, é muito solitário, mas eu jamais diria isso. O lado ruim era ficar preso em um lugar ensolarado, claro.

— Sim. Você está plenamente capacitado para querer se matar novamente. — O tom de Will saiu anormalmente irônico e seco, me fazendo franzir a testa vendo-o guardar as coisas pelo chalé e me jogar uma camiseta. Só então percebi que meu torso estava nu.

Em silêncio, vesti a peça e levantei da cama, ignorando os protestos do meu corpo. Will estava de costas, arrumando as ataduras já organizadas dentro da gaveta, um gesto apenas para me evitar. Ei, esse tipo de coisa sou eu que faço!

Respirando fundo e jogando meu orgulho de lado, caminhei até ele e o toquei no ombro para que se virasse pra mim. Ele se recostou no gaveteiro e cruzou os braços, o olhar desafiante que parecia reservar exclusivamente à minha pessoa.

— Will. — falei em um tom baixo, o que desmanchou a expressão séria dele para surpresa por um breve segundo. Eu sempre o chamava de Solace, “Will” era reservado para situações especiais em que eu usava todos os artifícios argumentativos, incluindo “cara de cachorrinho”. Will estava realmente com raiva de mim: aquela era uma situação especial nível máximo, por isso, deixei de lado também meu repúdio de pessoas e o abracei.

Ele suspirou antes de retribuir o abraço, como se pensasse “eu vou me arrepender disso” e acabei sorrindo quando ele me apertou. Will tinha cheiro de álcool e menta, o que combinava com o corpo sempre quente, me lembrava sol e pureza, apesar da sua mente não tão limpa. O fato de que ele era poucos centímetros mais alto que eu — ele e boa parte dos meus amigos. Acho isso muito injusto, se me permite dizer .—, não me incomodava naquele momento, pois me permitiu apoiar o queixo no seu ombro por alguns segundos, ouvindo seu coração bater acelerado e tentando forçar as palavras saírem da minha boca. “Eu sinto muito”, “me desculpe”, “estou feliz de estar aqui”: era o que eu queria dizer, mas demonstrar sentimentos me era tão estranho quanto as pessoas que shippavam “pipopinha”, eu simplesmente não conseguia entender.

Já estava quase falando as palavras — mentira — quando ouvi um pigarro de alguém e me afastei de Will o mais rápido possível, como se estivéssemos fazendo algo errado. Eu sou uma pessoa antissocial, imagina o que fariam comigo se descobrissem que eu gosto de abraços quentinhos! Me virei, sentindo meu rosto quente e encarei Jason, que sorria radiante e corria na minha direção. Oh,não!

— Eu também quero abraço! — ele exclamou, me apertando (leia-se, quebrando meus ossos em mil pedacinhos) e tentei não murmurar um “ai”. Piper precisa ensinar Jason a abraçar direito, ele é muito “abraçável”, parece um ursinho, mas dói quando ele demonstra carinho. Depois me perguntam porque eu não abraço pessoas!

— Ele me abraçou por livre e espontânea vontade; — Will cantarolou, me colocando em maus lençóis. Grande amigo!

— Isso é verdade? — Jason questionou  me soltando, fazendo uma cara de bravo e depois de “cachorrinho abandonado”.

— Vocês dois são meus melhores amigos. — revirei os olhos antes que a discussão recomeçasse. Eles sempre discutiam por isso, tenho a certeza de que para me irritar.

— Ele voltou ao normal? — Jay questionou para Will, que franziu a testa, como se ponderando. Por fim, eles decidiram que a melhor prova era me abraçar novamente e Will ainda me deu um beijo estalado na bochecha.

— Eu tô normal! — ralhei, tentando me desvencilhar dos abraços. Poxa, tá calor! E meu estoque de abraços da década já acabou!

— Precisávamos checar. — Will riu, se afastando e encostando mais uma vez na gavetas, dessa vez sorrindo sem qualquer rancor de mim. Viu? Meus artifícios sempre funcionam! — Vai que você tenta beijar uma caçadora novamente.

Senti minhas bochechas esquentarem. Das coisas que eu mais me arrependia daquela noite, tentar beijar Thalia estava no topo.

— Nosso menininho tá crescendo! Já tá até se apaixonando! — Will exclamou apertando minhas bochechas. Will! Para! Só para com essas ideias loucas! Os deuses estão te ouvindo, caramba!

— Vai dormir, Solace! — retruquei, afastando a mão dele, tentado a argumentar, mas isso podia vir a me colocar em maus lençóis em um futuro extremamente próximo, como dali algumas horas.

— Você escutou o Batman, Will! — Jason se juntou a gozação. Pelos deuses, eu ia sofrer eternamente por causa daquela noite!

— Você dormiu por dois dias, Nico. Eu tenho que recuperar todo o tempo perdido!

— Dois dias? — Pisquei um pouco assustado e meus amigos confirmaram. — Eu sei que temos muito o que conversar, mas eu preciso ir!

Gritei, já correndo para a saída da enfermaria, enquanto eles questionavam o que estava acontecendo. Provavelmente, o mais lógico deveria ser perguntar a Jason se ele sabia onde a pessoa com quem eu precisava falar estava, entretanto, não era necessário. Eu não a conhecia muito bem, mas em meio a tanta confusão, os lugares em que poderia estar eram poucos. Por isso, não me surpreendi ao encontrá-la no meio da arena, espetando vários bonecos com sua lança. Desviei de todos os campistas que tentavam falar comigo, correndo até ela, que parou ao me ver chegando, felizmente.

— Nico? — perguntou no momento em que eu segurava seu pulso e nos puxava para as sombras.

Meu plano era pararmos no meu chalé (por favor, não é o que você está pensando), mas descobri que estava fraco quando quase caímos no bosque do Acampamento. Cambaleei um pouco, soltando o pulso dela, mas ela me puxou pelo braço e envolveu minha cintura em seguida, me ajudando a ficar em pé.

— Você está bem? — Balancei a cabeça que sim, esperando a tontura passar, ao mesmo tempo que estava nervoso demais para continuar com esses protocolos. Eu acabo de voltar a vida e tenho certeza que serei morto daqui há um minuto. — Will vai te matar por isso.

— Will quer me matar por um monte de coisas. — retruquei, me afastando um pouco dela, suavemente, ao ver que minha cabeça não girava mais.  — Eu preciso falar com você!

— Então fale. —  Ela passou os dedos pelos fios negros que lhe caíam na testa escapando da tiara, um gesto claro de nervosismos. Como eu sei disso? Bom, digamos que eu também tive que passar meus dedos pelos meus cabelos, tentando aliviar todo o estresse e, talvez, mandar a loucura embora. Porque só a insanidade me levaria à algo assim.

Mordi o lábio, tentando pensar na melhor forma de começar essa conversa — talvez fosse bom fazer um chá e chamar um chapeleiro e uma lebre, combinaria mais com o assunto — e tentando falar o que eu precisava. Tudo bem, eu não havia tido coragem para dizer a Will enquanto nos abraçávamos como eu fiquei com medo ao morrer, como me senti solitário e que me sentia grato e amado pela forma como ele tentou ao máximo me salvar, mas agora eu precisava ter coragem de colocar meus pensamentos e planos em palavras.

Por isso, respirei fundo e falei com a maior coragem que consegui:

— Thalia Grace, você quer se casar comigo?  


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Oi amores! Estou amando os reviews, mesmo que enrolada para responder (provavelmente vou deixar acumular até o hiatus, que deve acontecer daqui dois ou três capítulos)! Fantasminhas, lindo, digam "olá", please, e vamos marcar um chá com Hades, certo?!

Vencedores(as) do Game Poser: Dama do Poente e Aluada!
Próxima pergunta: Por que o Nico pediu a Thalia em casamento?


Acharam as referências?
Obrigada por lerem!