Eu, Meu Noivo & Seu Crush — Thalico escrita por Helly Nivoeh


Capítulo 21
Discrepante


Notas iniciais do capítulo

Sinto muito pela "bad" do capítulo anterior. Na verdade não sinto, masok;
Obrigada pelas ameaças, Hades realmente me contou sobre vossas orações para o fim da minha alma. Prometo que as responderei logo.
Eu não sabia que nome dar à esse capítulo, porque ele é destoante demais. Então, esse foi o melhor título, porque é a maior característica.
Tendo dito isto, boa leitura!



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Narração: Jason Grace

 

— Eu estou dizendo o que sei: — Will ergueu a cabeça e me olhou nos olhos, o azul estava opaco como vidro embaçado, sem qualquer sombra de alegria. — Quem matou Nico foi meu pai.

— Will, isso é loucura. — argumentei, preocupado com meu amigo. Talvez aquilo tudo estivesse sendo difícil demais para ele, afinal, Nico morreu nas mãos do Solace. — Que razão seu pai teria para isso?

— Eu não sei… — Ele respondeu com a voz rouca, apoiando o braço sobre os joelhos flexionados e olhando para o chão. — Talvez…

— Talvez? — O incentivei, erguendo a sobrancelha. Não conseguia pensar em qualquer motivo plausível para o deus da arquearia se importar em vir à terra matar um simples semideus.

— Talvez seja por minha causa. — resmungou baixinho e franzi a testa. — Eu sei que as pessoas comentam sobre a gente, Jason. Eu sei o que elas dizem sobre eu e Nico sermos tão próximos. Principalmente quem sabe sobre mim, quem sabe que eu sou gay.

Não soube o que responder, mas não por surpresa do fato em si. Eu nunca tinha conversado sobre isso com Will. Sabia que alguns campistas comentavam sobre Nico evitar pessoas, mas estava sempre junto a Will. Eu nunca perguntei nada a Nico, foi ruim o suficiente a forma como ele admitiu ser homossexual na minha presença, e também nunca perguntei se Will gostava de meninos ou meninas.

— Eu me pergunto se foi por isso que meu pai o matou, sabe? Se ele acha isso tão errado assim...

— Will, — falei suavemente, colocando a mão em seu ombro. — eu não conheço seu pai, eu não sei por que ele mataria Nico, mas eu sei de uma coisa: ele jamais se importaria com isso. Eu tenho certeza que ele não acha que ser homossexual seja errado, e não é só porque ele mesmo já se envolveu com homens, mas porque isso te machucaria e eu sei que ele nunca faria algo pra te machucar de propósito. Os deuses podem ser distantes, mas eles ainda nos amam. Eu acredito nisso.

— Então, por que, Jason? — Will perguntou, os olhos azuis lacrimejando. — Por que meu pai faria algo assim?

— Nós nem sabemos se foi ele mesmo, Will. Mas eu posso garantir que nós vamos descobrir. Só que, enquanto não descobrimos, nós temos que terminar de cuidar do nosso amigo, não é?

— Precisamos tirar a flecha. — Will resmungou, se colocando de pé e secando as lágrimas que deslizaram por sua face. — Por que nós limpamos antes mesmo?

Eu não respondi, mas era implícito: sabíamos que tirar a flecha era colocar o ponto final, era assumir que Nico realmente não voltaria para nós, que não podíamos fazer mais nada.

— Vamos ter que tirar a calça também.  — Foi o que respondi, olhando um corte na calça que estava úmida e com sangue. Já estava começando a me sentir em uma cena de Grey’s Anatomy.

— Acha que é melhor tirar primeiro?  — em resposta a Will, dei de ombros, sem saber o que responder.  Eu nunca havia feito nada daquilo antes.

— Pode fazer isso? Vou procurar algumas luvas e panos.

Assenti e fiz o que me foi pedido, tirando os sapatos e depois a calça de Nico, deixando-o só com uma cueca box preta com caveirinhas brancas. Seria cômico, se não fosse trágico.  

— Nico leva a ideia de honrar nossos pais longe demais. — Will falou sarcástico, parado ao meu lado.

— Vai me dizer que não tem uma cueca com soizinhos, Solace? — alfinetei, não conseguindo me conter.

— A sua favorita é a de raios ou nuvenzinhas, Grace?

O clima aliviou um pouco com essas implicações, mas logo se reverteu quando olhei para as mãos de Will e vi luvas grossas o suficiente para evitar que farpas envenenadas atingissem nossas mãos.

— Você está pronto? — Will perguntou e, ao olhar em seu rosto, mais uma vez me lembrei de Octavian pela forma como estava abatido. Contudo o verdadeiro filho de Apolo tinha dor e piedade nos olhos claros, algo inconcebível em seu sobrinho distante.

— Tem como ficar? — retorqui, olhando a flecha fincada no peito de Nico. Estava bem funda, até me surpreendi não ter atravessado, e, provavelmente, o havia acertado no coração.

— Temos que forçar a atravessar. — Will murmurou, a voz seca e rouca, como se a garganta estivesse sendo machucada pelas palavras. — Não sabemos se a ponta é farpada.

— Eu faço. — Me forcei a dizer, ao ver que isso destruiria Will. Ele já não estava aguentando todo o peso em seus ombros, atravessar um flecha pelo corpo do nosso amigo o deixaria em ruínas.

O Solace não protestou quando tirei as luvas de suas mãos junto a panos que enrolei nas minha, aumentando a segurança.  Sentei-me na cama, ao lado do corpo do meu amigo, e respirei fundo, criando coragem para tocar a flecha.

Fechando os olhos e trincando os dentes, forcei a madeira e a senti entrar mais no corpo de Nico, quase completamente. Era como se a flecha adentrasse minha alma, minha cabeça chegou a latejar, como se a madeira envenenada transpassasse minha alma. Will me tocou nos ombros e soltei a flecha, abrindo os olhos e vendo tudo embaçado pelas lágrimas que se acumulavam nos meus olhos. Engoli em seco, forçando toda a dor ir para o fundo da minha mente, local onde ela se esconderia parcialmente.

— Me ajude a puxar a cama. —  Will pediu suavemente e me levantei, deixando as luvas no chão antes de arrastarmos a cama para o meio do quarto. — Pode segurá-lo?

Me sentei novamente na cama e puxei o corpo do filho de Hades contra o meu, o que exigiu um pouco de esforço, não só psicológico, mas físico também. Will estava parcialmente certo: Nico não era gordo, mas estava pesado.

O Solace deu a volta na cama e, com uma faca, quebrou a ponta da flecha, o sangue de Nico saindo do corte e nos sujando mais. O deitei novamente com a ajuda de Will que puxou a haste da flecha, retirando-a completamente do peito de Nico.

Mais sangue jorrou pelo peito do filho de Hades, encharcando a cama em vermelho. E mais uma vez tive vontade de vomitar e fiquei zonzo, com vontade de desmaiar e/ou chorar. Will pegou a flecha e a guardou em uma gaveta, antes de se sentar do outro lado da cama, observando o corpo de Nico jorrar sangue do coração.

— Por que esse idiota tinha que morrer tão cedo? — Will murmurou, a voz embargada. Me preocupei com a possibilidade dele começar a gritar em desespero novamente, mas o charme de Piper foi suficiente para acalmá-lo.

— Nós somos heróis, Will. Nós morremos jovens. — Me vi murmurar, pensando nessa terrível realidade. E ainda há quem deseja com todas as forças ser um herói. Dom Quixote não ensinou muitas coisas.

— É por isso que prefiro ser médico. Ser herói é superestimado.

— Você também é um herói. Mesmo que não saia em missões, quantos teriam morrido se você não tivesse curado eles? Além de ser quase um espadachim aceitável.  — alfinetei no final, fazendo um sorriso surgir nos lábios dele.

— Você estava levando uma surra, Grace. Ia perder feio pra um espadachim aceitável.  — Will suspirou, tocando a mão de Nico. Não sabia se estava começando a ficar rígida, já havia perdido completamente a noção de tempo. — Eu já quis ser um herói, sabe? Sair por aí, matando monstros, essas coisas que vocês fazem.

— O que acontece? — Franzi a testa, Will nunca havia dito nada sobre isso.

— A Guerra contra Cronos. — suspirou, como se as lembranças lhe trouxesse tanta dor agora como sentiu na época. — Eu vi como heróis são frágeis, eu vi tantos morrerem nas batalhas... Lee, ele era um ótimo irmão, quase como um pai para nós, ele morreu nas minhas mãos quando o exército conseguiu invadir o acampamento, esmagaram a cabeça dele. — Uma imagem terrível surgiu na minha mente, me fazendo engolir em seco. Pelas minhas contas, Will não deveria ter mais que doze anos na época. — Foi quando eu vi que odiaria guiar pessoas para uma batalha, que eu não suportaria estar à frente dos meus irmãos e os mandar para serem mortos por outros como nós, outros semideuses. Mas é claro que as Moiras riram na minha cara e no ano seguinte eu me tornava o conselheiro chefe quando Michael morreu. Ele era meu irmão favorito, sabe?

— Todos temos que viver com nossa cota de sangue nas mãos. — suspirei, olhando para as minhas próprias mãos que já não estavam mais escarlates, mas em um tom rosado, a sombra do sangue de Nico manchando minha pele provisoriamente e minha alma eternamente. — Por que você aceitou então?  Ser o conselheiro?

— Eu era o mais experiente, não consegui impor a nenhum dos meus irmãos o fardo. No final, não tive escolha. Acho que sou o que melhor sabe lidar com a morte no chalé Sete. Acredite: foi a primeira vez que eu agi assim.

— Eu acredito. — falei. Will, no geral, era a personificação da calma, o tipo de pessoa que dá um sorriso confiante e garante que tudo vai ficar bem quando algum membro seu é arrancado. — Eu também vi e liderei muitos para a morte, Will. Todas as baixas que tivemos quando invadimos o Monte Ótris... eu estava liderando a Legião. Eu sei o nome de cada um dos que morreram ali, penso neles toda noite.

— Ser semideus é uma maldição?

Will perguntou e eu não tive força para responder, ficando em silêncio e olhando para o rosto pálido de Nico. Normalmente eu diria que não, agiria como um otimista, contudo, era difícil argumentar quando uma prova concreta se mostrava a nossa frente, principalmente quando a prova concreta era o corpo de alguém. Will também permaneceu em silêncio por um tempo, parecendo imerso em pensamentos e, mais uma vez, quase me sobressaltei ao ouvir seu tom alarmado.

— Jason? Não deveria ter parado de sangrar?

Voltei meu olhar para o peito de Nico que ainda sangrava, já estava encharcando toda a cama e parecia aumentar o fluxo de sangue a cada segundo, não diminuir.

— Você é o médico... — murmurei, assustado. Sim, Will era o curandeiro, mas eu vi CSI o suficiente para saber que o sangramento deveria ter parado.

Will ficou mais pálido — eu nem sabia que era possível — e colocou os dedos no pescoço de Nico, da mesma forma como Thalia havia feito. Ele abriu a boca e gaguejou:

— Jason, diz que eu não estou ficando louco!

Pediu e eu engoli em seco, colocando meus dedos no pescoço de Nico. Minha reação foi a mesma que Will: arregalar os olhos ao encontrar batimentos. Estavam bem fracos, mas havia uma frequência cardíaca ali.

— Nós dois estamos... — murmurei e então Will levantou-se de uma vez, pegando vários pedaços de tecidos e pressionando o machucado. O ajudei, colocando compressas que se ensopavam rapidamente. Pelo pulso, percebi que os batimentos de Nico começaram a aumentar. Olhei assustado para Will que, contrariando todos os princípios médicos, retirou todos os tecidos, deixando o peito de Nico a mostra.

Senti meu coração acelerar ao ver o tórax nu de Nico: o machucado em cima do coração ainda sangrava, mas havia diminuído drasticamente o fluxo de sangue e estava quase completamente cicatrizado.

— Will... — Murmurei, mas as palavras morreram. Nico inspirou profundamente, como se tentasse conseguir todo o ar que perdeu nas horas que passou inconsciente, e abriu os olhos extremamente negros.

Por um momento o mundo congelou na minha frente, ou eu congelei, não tenho certeza. Eu sei que Nico se sentou de uma vez, arfando e olhando assustado para nós — não sei se ele percebeu que morreu, mas acho que acordar com seus amigos em volta de você repletos de sangue pode ser assustador também.  — e no momento seguinte eu estava de joelhos no chão, o abraçando pela cintura, chorando e tremendo, sem saber se o socava por morrer ou o beijava por reviver.

— Você está vivo... — sussurrei o apertando e agradecendo aos deuses por isso.

Alívio era uma palavra pequena demais para dizer o que senti. Meu peito pareceu se inflamar, queimando toda a dor que senti, todo o desespero, aquecendo meu corpo e aliviando todo o cansaço. A felicidade parecia transportar-se por minhas veias, exortando lágrimas e fantasmas, retificando cada sofrimento, enevoando minha mente que tentava controlar toda a divergência de sentimentos que senti em questões de horas.

Eu queria gritar, apertar Nico até que toda as imagens das últimas horas sumissem, mas me vi sem voz, tão maleável quanto feliz, e só queria que aquele momento durasse para sempre, que nada disso jamais voltasse acontecer na minha vida.

— Estou... — A voz dele soou rouca e embargada. — Eu voltei.

— Seu idiota. — Will soluçou e só então percebi que ele também havia se jogado para cima de Nico o abraçando também.

— Ei, dessa vez eu não fiz nada. — Nico resmungou, mas sabia que ele estava abraçando Will tão forte quanto eu o abraçava. Senti sua mão sobre minha cabeça, e aquilo pareceu emanar uma sensação de anestesia pelo corpo, me acalmando.

Depois que consegui parar de tremer e soluçar, desvencilhei-me do abraço, apesar de continuar ajoelhado ao lado da cama. Will deixou de abraçá-lo também, apenas para dar-lhe um tapa na nuca.

— Ai! — O filho de Hades resmungou como se realmente doesse e, a julgar pela expressão homicida do Solace, o tapa não foi um carinho.

— Isso é por morrer! E um aviso pra não fazer de novo!

— Mas eu não tive culpa… — Entretanto, o Di Angelo não conseguiu concluir o raciocínio, pois Will o abraçou novamente e  eu quase pude ouvir o barulho de de ossos quebrando.

— Ai! — Nico gemeu de dor, mas retribuiu o abraço, descansando a cabeça no ombro do filho de Apolo.

— E isso por ter voltado.

Will se afastou novamente e eu me assustei em como ele estava todo escarlate, a pele bronzeada suja com sangue por todo o tórax, braços e rosto. Até os cabelos claros estavam úmidos e vermelhos.

— Não morrer de novo: checado. — Nico tentou fazer piada, mas eu estava aliviado demais para repreendê-lo.

— Você se lembra o que aconteceu? — Perguntei, fazendo a expressão do filho de Hades se tornar sombria, como há tempos eu não via. Ele balançou a cabeça assentindo, antes de engolir em seco.

— Sim. — Pensei em perguntar do que exatamente ele se lembrava, mas Nico olhou pro próprio corpo e franziu a testa. Achei que ele fosse comentar sobre estar completamente banhado em sangue, mas não foi essa sua dúvida.

— Ei, cadê minha camisa? Minha calça? A camiseta de vocês? Vocês sabem que eu só estava brincando sobre o streap, certo? Não vai começar I Love You Baby, vai?

Will lhe deu outro tapa no braço, mas eu acabei rindo. Por mais que Nico quisesse passar a imagem de “garoto das trevas”, ele tinha um senso de humor macabro e interessante.

— Cedo demais para fazer piadas disso? — Nico perguntou o óbvio, o que fez Will revirar os olhos. — Podem, pelo menos, me jogar um lençol? Estou me sentindo exposto aqui.  

— Estávamos te preparando para… você sabe… — Falei, passando a mão pelos meus cabelos um pouco nervoso, enquanto Will jogava um cobertor negro para Nico, que se cobriu até a cintura.

— Meu funeral? — Nico ergueu a sobrancelha, sorrindo. — Vocês iam me vestir com um terno, por acaso?

— Não, íamos te deixar completamente nu. — Will resmungou, ainda um pouco emburrado. Contudo, era visível o alívio que sentia, até sua cor estava voltando.

— Eu estava planejando dançar Thriller com o Michael, mas acho que pelado ia ser meio complicado. Da próxima vez podem me deixar com uma jaqueta vermelha? Pode até ser igual a da Emma. — Will deu mais um tapa em Nico, mas era apenas um gesto dramático, ele também estava tentando não rir daquilo. — Ei, minhas ordens médicas incluíam rir mais!

— Suas ordens médicas também incluíam não morrer. — Will retrucou, se sentando ao lado de Nico na cama. O Solace descansou a cabeça no ombro de Nico, fechando os olhos, provavelmente tão esgotado fisicamente quanto psicologicamente.

— O engraçado é que eu tenho medo dele por causa desse vídeo — Nico continuou seu discurso, parecendo não notar nem o gesto, nem as palavras de Will. —, mas não porque ele é um lobisomem. Eu achava lobisomens demais, até conhecer Licaon, claro.  Será que eu vou virar um lobisomem? Ele me e arranhou e olha: eu tenho marcas! — Para comprovar o que disse, ele apontou para os bíceps, onde havia cicatrizes de garras na pele pálida. — Mas nunca virei um lobisomem, não que eu lembre.

Como não tinha lá muita força para retrucar, ou qualquer comentário para adicionar, apenas deitei minha cabeça sobre meus braços que estavam apoiados na cama, sentindo-me exausto.

— Do que eu estava falando mesmo? — o Di Angelo continuou seu monólogo, alheio ao nosso desânimo e parecendo animado e feliz demais pra quem acabou de morrer. — Ah sim: Thriller. O Michael come pipoca no vídeo. Eu tenho medo de pessoas que comem pipoca.

Antes que eu pudesse fazer qualquer comentário ou perguntar se meu amigo estava bem,  um vulto que entrou mais rápido que Árion no quarto e se jogou em cima de Nico, o abraçando.

— Você está vivo!  — Hazel exclamou, enquanto o irmão o apertava. — eu senti uma coisa no meu coração e eu sabia que você estava vivo! Você está vivo! — Ela chorava quase incrédula, apertando Nico, como se ele fosse desaparecer.

— Sim, irmãzinha. Eu estou vivo. — Mesmo se a voz de Nico não denunciasse, eu sabia que ele estava chorando.  

— Eu fiquei preocupada com você. — A filha de Plutão soluçou.  — Eu até pensei em ir te buscar... em te trazer de volta... como você fez comigo...

A corpo de Nico se retesou e ele afastou a irmã do abraço, uma expressão sombria e dolorosa no rosto ao encarar a irmã nos olhos.

— Hazel, nunca mais repita isso! — ordenou em um tom de O Rei dos Fantasmas. — Você não pode fazer isso, nunca! Você não pode ir no mundo inferior.

— Você não entende…

— Entendo sim! E não adianta nada você morrer por minha causa, íamos ficar os dois presos lá! — Nico me olhou irritado, como se eu tivesse culpa das ideias suicidas da sua irmã. — Se algo me acontecer, você não pode deixar Hazel fazer uma loucura dessa.

Me vi assentindo, mesmo que a lógica fosse ele ordenar isso para Frank, que era o namorado da Levesque. Além que, a julgar pelo meu comportamento há poucas horas, acho que eu não tenho qualquer fundamento para prometer cuidar de Hazel caso algo volte a acontecer com seu irmão.

— Aliás, isso me lembra algo: — Nico deu um tapa em Will, dirigindo seu olhar de Filho de Hades irritado para o Solace, como se quisesse transformá-lo em uma pilha de ossos. — Onde você estava com a cabeça pra abusar dos poderes, Will?! Você quase morreu! Os dois, aliás!  Eu vi Thalia avisando e vocês ignorando!

— Por que você pode abusar a vontade, né? — Will reclamou em um tom irritado, nenhum pouco satisfeito com a inversão dos papéis.

— Não, vocês não me deixam fazer isso. Vocês cuidam de mim, e eu amo vocês por isso, mas não quero que morram por minha causa.

A tensão se instalou por alguns segundos no quarto enquanto as palavras de Nico pareciam ressoar pelo ambiente. Isto até Will abrir um de seus sorrisos de filho de Apolo e falar um "ownt!".

— Ele disse que ama a gente! — Will falou na voz mais fofa que conseguiu.

— Não disse não!

E, no momento seguinte, nós abraçávamos o filho de Hades novamente,  murmurando “own” e o apertando, enquanto ele reclamava, apesar de retribuir o abraço.

Acho que fui o último a sair do aperto e, quando me sentei no chão novamente, olhei de relance para a porta e percebi que Thalia estava ali, escorada no batente. Provavelmente havia seguido Hazel até ali e observava tudo de longe.

— Pode entrar. — falei, mas ela balançou a cabeça que não.  Sua expressão estava séria e a tiara de Tenente lhe deixava com um ar intimidante ao se combinar com a postura ereta.

— Thalia, entre. — Para minha surpresa, foi Nico quem insistiu, fazendo minha irmã franzir a testa.— Preciso da sua ajuda: Por favor. — Thalia parecia tão surpresa quanto eu, Nico raramente usava um tom tão gentil, ou pedia qualquer coisa e, muito menos, usava por favor (acho que tenho que ensinar ele a fazer mais isso). Minha irmã acabou por assentir com a cabeça. — Fecha a porta. — ela se juntou a nós, mas continuou um pouco distante da cama, encostada em outra beliche. — Eu preciso da ajuda de vocês para arranjar uma desculpa.

— Uma desculpa? — Perguntei, franzindo a testa.

— Eu sou o terceiro semideus a voltar permanentemente da morte em menos de uma década. E não podemos deixar que saibam disso, é perigoso.

Olhei de relance para todos os presentes e cada um olhava para um ponto que não fosse Nico, e era óbvio que a maioria se perguntava a mesma coisa, apesar de ninguém colocar em palavras, com medo que a resposta fizesse a alma de nosso amigo ir embora novamente.

— Nico, — A voz de Hazel soou tensa, e ela segurou o pulso do irmão, parafraseando nossos pensamentos.  — como você voltou?

A expressão do meu amigo se tornou novamente sombria. Ele suspirou e, então, deu um sorriso:

— Como o Jay-Jay disse, eu sou o Rei dos Fantasmas. Acha que o mundo dos mortos pode me segurar?! — Era óbvio que ele estava fugindo da pergunta, mas eu não tive ânimo ou força para questionar. O importante era que ele estava vivo. — Então? Ideias de como ninguém saber que eu voltei dos mortos?

— Você quer fingir que é um fantasma o tempo todo? — Will perguntou, franzindo a testa. — Porque todo mundo te viu morto.

— Alguém aí tem pó de arroz? — Ele brincou e eu quis socá-lo. Pelas nossas expressões, Nico ergueu as duas mãos, se rendendo. — Ok, sem mais piadas!

— Precisamos de uma forma se você nunca ter morrido, — Hazel falou pensativa, ainda sentada em cima da cama, provavelmente em cima das pernas de Nico. — pelo menos, acreditarem que você nunca morreu.

— Devo supor que os poderes do tio Zeus não incluem fazer chover? Porque posso conseguir água do rio Lete.

Primeiro: Tio Zeus?  Segundo: por que ele soa realmente animado em apagar a memória de todo mundo?!

— Eu acho que Quíron não ia gostar disso. — murmurei, deitando novamente minha cabeça na cama. Felizmente a noite estava quente, ou eu já teria congelado no chão. — tem que ter uma forma de enganar todo mundo.

— É isso. — Thalia se pronunciou, dando um passo à frente. — Precisamos enganar eles, precisamos de névoa.

—  É por isso que eu disse que precisava da sua ajuda! — Nico sorriu pra ela. Um sorriso meio ... estranho. — Hazz, você pode fazer isso?  

— Manipular todo mundo ao mesmo tempo por um tempo indeterminado? — Hazel perguntou pensativa. — Isso seria complicado, não sei se tenho força o suficiente.

— Você manipula a névoa? — Thalia perguntou e Hazel assentiu. As vezes me esqueço que nem todo mundo sabe os pormenores da guerra de Gaia, ou os segredos que escondemos. — As pessoas sabem disso?

— A maioria sim. —A Levesque deu de ombros. — Quíron me pediu para manipular  o jogo essa noite, por isso vocês se encontraram.

— E você viu quem disparou a flecha?  — Me vi perguntando, nervoso. Se alguém teve tanto esforço para matar Nico, era provável uma reincidência. A expressão de Hazel se tornou fechada e ela desviou os olhos

— Você não pode manipular todo mundo permanentemente? — Thalia falou, ignorando minha conversa com Hazel.

— Não, no máximo por alguns minutos ou poucas horas.

— Mas eles não sabem disso. — Thalia falou e eu franzi a testa, não entendendo.

— Nico não pode fingir que nunca morreu… — Will sorriu para minha irmã e percebi que eles estavam se entendendo. Alguém me explica? Estou me sentindo o Percy.  — Mas pode fingir que morreu .

— Exatamente. — Thalia falou, sorrindo para o Filho de Apolo.

— Alguém me explica?  — Nico parafraseou meus pensamentos erguendo a mão como se estivesse na escola.

— Lembra do caça a bandeira? — Thalia falou, se aproximando e encostando na cama de Nico. — Você me disse que estão complicando os jogos para torná-los mais reais. Podemos usar essa desculpa, falar que fingimos que você morreu para experimentarem as sensações de ver um companheiro morrer em batalha.

— E aí entra a névoa de Hazel! Podemos dizer que tudo não passou de ilusão!  Nico nunca esteve em perigo realmente. — Will completou e eu quase sorri, com vontade de acreditar nisso. Mas a cicatriz em cima do coração de Nico era testemunha ocular.

— E a cicatriz? — questionei, desviando os olhos do peito ensanguentado do meu amigo.

— Quem ficar olhando pra mim sem camisa eu mando pro Tártaro.  — Nico deu de ombros em uma expressão macabra.

— Você está brincando né?! — Ele sorriu de uma forma estranha como resposta à minha pergunta.

— Não sei, irmaozão! — implicou e senti meu rosto esquentar. Não que eu estivesse arrependido, Nico era realmente como um irmãozinho, mas agora eu me sentia exposto.

— Espera, você viu tudo?! — Will questionou em um tom nervoso. Pelo jeito não era só comigo que ele nunca havia tido a conversa "eu sou gay". Aliás, nem Nico com ele. E o Solace ainda se acha o melhor amigo.

— Algumas partes. — Ele deu de ombros e, pela expressão, dava pra ver que ele não escutou a parte de suspeitarmos de Apolo e o porquê. — Ah, e o Jay realmente tem uma cueca de nuvenzinhas com raios. É bonitinha, eu já vi. — Senti meu rosto esquentar, sem conseguir pensar em uma resposta.

— Thalia, essa é nossa deixa para sair? — Hazel perguntou, descendo da cama. — Aliás, vocês três precisam de um banho. Parecem que saíram de um filme de terror!

— Precisamos falar sobre Kevin. — Nico murmurou, olhando para o próprio corpo.

— O que? — Franzi a testa. Às vezes Nico soltava palavras e frases aleatórias que eu nunca entendia, mas isso já era demais.

— Parece que estou em uma cena de “Precisamos falar sobre Kevin”. — Explicou, fazendo uma careta. — Ou de “Carrie, A Estranha”. Será que eu vou ter poderes também?

— Hum… Você já tem poderes. — murmurei um pouco preocupado. Nico estava agindo estranho. Bom, mais estranho que o normal.

— Verdade! — Ele sorriu de um jeito quase infantil. — Eu posso mover as coisas com minha mente?

Olhei alarmado para Will, que começava a perceber que nosso amigo não estava em seu estado normal.

— Olha aqui pra mim. — ainda sentado na cama, o Filho de Apolo pediu, se colocando de frente para Nico que aceitou sorrindo, arregalando os olhos. — Alguém tem uma lanterna?

— Serve do celular? — Thalia entregou o aparelho com a lanterna ligada para Will, que direcionou a luz para os olhos de Nico. Eu não sou médico, mas tenho quase certeza que as pupilas dele não deviam estar tão dilatadas.

— Você tem olhos bonitos. — Nico falou como uma criança, começando a ficar inquieto quando Will devolveu o celular e colocou a mão na testa dele, aferindo a temperatura. Pela cara do loiro, eu sabia que não estava abaixo de 37ºC. — Você é bonitinho.

— Que tal tomarmos um banho? — Will sugeriu, fazendo com que Nico resmungasse. — Jason me ajuda?

— Eu consigo fazer isso sozinho. — Nico replicou em um tom familiar, que me fez ficar um pouco menos tenso.

— Sim, mas não é só você que está coberto de sangue. — Will replicou, ficando em pé e jogando uma toalha para Nico cobrir a cintura. Ele resmungou, se erguendo enrolado.

— Sabe de uma coisa, Solace: Você não é mais tão bonitinho.

 


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Notas finais do capítulo

Estou perdoada?
E aí, gente? Como o Nico voltou? Por que ele está assim? Qual treta vai dar disso?
Eu queria parabenizar (ou bater) na MaryDiÂngelo que acertou a parte sobre tudo não passar de uma ilusão! Bom, você acertou em parte: essa é a desculpa que eles vão dar; Não foi só ela que sugeriu a névoa, mas foi quem mais se aproximou.
E também parabenizar a Bia Jackson, que lembrou de um "duas mentiras, uma verdade" que tem um trecho desse capítulo que eu disse que seria futuro!

Bom, vamos ao game poser:
Apesar da Risurn quase ter me batido pela pergunta (eu adoro humor negro!), eu adorei as respostas e nem fui eu quem decidir, e sim as meninas do grupo Team Pipopinha (Se você não faz parte, entre em contato com a embaixadora oficial: Dama do Poente; Ou comigo mesmo.), aliás, obrigada meninas!
Então, o(a) vencedor(a) do game poser é...
Princesa de Jade!

Próxima pergunta:
Por que todo mundo quer se casar com o Nico?

Tem uma overdose de referências aí: Conseguem achar?!