Eu, Meu Noivo & Seu Crush — Thalico escrita por Helly Nivoeh


Capítulo 18
O Jogo - Parte I


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura!
Uma narração bem diferente e especial!



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Narração: Apolo

 

Me recostei no tronco da árvore no exato momento em que a trombeta soava, dando início ao jogo no Acampamento Meio-Sangue. Todas as chamas foram apagadas e somente a luz da lua iluminava a floresta, onde diversas crianças se escondiam, como em um jogo de pique-esconde com armas mortais. Observei, divertido, meus filhos agirem juntos embaixo de mim, sob a supervisão de Will, encurralando alguns semideuses descuidados que faziam muito barulho.

Meu chalé não era o único a fazer tal coisa. Aliás, o de meu irmão, Ares, entraria em combate com o meu em pouco segundos. O orgulho me preencheu ao ver minhas crianças lutando com velocidade e inteligência, protegendo uns aos outros, e, mesmo quando eram gravemente feridos artificialmente, o que os tirava do jogo, eu não podia deixar de me emocionar com a coragem com que lutavam. Isso até me inspira haicais!

Talvez eu escreva sobre o momento em que Will gritou fogo, e uma saraivada de flechas acertaram os filhos de Ares em locais estratégicos, a mira de minhas crianças menores em galhos abaixo de mim, tão perfeitas quanto a das caçadoras, reduzindo boa parte do chalé do meu irmão a crianças se contorcendo em dor no chão.

— Preparem para avançar! — Will gritou quando não restou filhos de Ares em condições de lutar. Alguns conseguiram fugir por entre as árvores, em busca de encurralar campistas sozinhos, mas a vitória foi dos meus filhos, mesmo com algumas baixas, porque eles puxaram ao pai.

Conforme o treinamento, Will foi na frente, deixando Austin responsável por minhas outras crianças, esgueirando-se por entre as árvores mais densas, nas sombras. Quando o perdi de vista, revirei os olhos.

Hades ainda estava com a ideia louca de fazer seu filho salvar Thalia, então achou que esse seria o melhor momento — Mas, claro, ele não sabia o que o meu pai estava tramando —, por isso se ofereceu para manipular as sombras, fazendo com que semideuses se afastasse dos demais, principalmente os mais velhos que, normalmente eram os conselheiros. O argumento oficial era que não passava de uma estratégia de treinamento, ensinar os mais novos a se virarem, a tomarem a frente quando seus líderes se ausentassem, assim como equilibrar o jogo, fazendo os mais experientes se enfrentarem, mas aposto como ele doou cordialmente algumas raridades da sua adega pessoal para meu irmão, Dionísio.

Entretanto, como não é uma boa ideia deuses manipulando jogos, Hades ofereceu parte do seu poder para a filha, Hazel, por algumas horas, fazendo a garota manipular a névoa e poder abrir pequenos portais nas sombras, atraindo os campistas para pontos estratégico. Quíron foi completamente adepto da ideia, aliás, ele se encontrava agora em um ponto estratégico, acompanhado de Dionísio, Hazel e outros campistas veteranos que não estavam lutando, manipulando o jogo.

Por mais que eu adorasse ver meus filhos me honrando, meu foco essa noite deveria estar no mais novo casal favorito do Olimpo, Thalia e Nico, vulgo Pipopinha.

Levantei-me entediado e segui por entre as árvores, equilibrando-me nos galhos como o gato que eu sou, a procura de algum deles. Focalizei o filho de Hades, que estava a poucos segundos de dar de cara com duas garotas que queriam matá-lo. Sentei-me bem acima dele, ciente que não poderiam me ver por causa da névoa, e observei a cena se desenrolar.

— Eu acho, Di Angelo, que estou te devendo uma surra. — Ayla, a gêmea negra, sorriu de maneira desafiadora, girando uma adaga na mão esquerda, apesar de ser destra. A lâmina da arma estava brilhando com sangue fresco, e eu realmente tinha dó de quem acabara de ser sua vítima. Até eu estou ficando com medo dessas garotas.

— Vamos acabar logo com isso, Ayla. — Mirah murmurou em um tom entediado com duas facas nas mãos, não querendo lutar com o garoto a sua frente. Ah, o amor!

— Já te disseram que você fala demais, Ayla? Se tivesse tanta perícia em armas quanto pra falar besteiras, talvez eu tivesse medo de você. — O garoto suicida provocou. Acho que, no último século, os deuses só querem transformar em deuses os meio-sangues que menos tem medo de morrer, ou são os mais estúpidos que adoram provocar imortais, como o Percy.

— Você não devia dizer isso quando está sem seu amiguinhos…

— Ayla, rápido! — Mirah reclamou, sem paciência pros jogos da irmã.

— Então avance, querida. —Retorquiu e a loira, Mirah, avançou como uma leoa em direção ao Di Angelo, apenas um mancha de cabelos loiros platinados quando ela corria tão rápido e se chocava contra o garoto, que quase não conseguiu aparar seu golpe com a espada;

Ela desferiu outro golpe com a faca na mão esquerda, passando muito perto do pescoço de Nico, que deu um passo para trás, algo calculado pela garota que o chutou no estômago. A armadura dele o impediu de se machucar, mas pesou, levando-o ao chão, fazendo com que ele batesse a cabeça.

A filha de Melinoe sentou sobre a barriga do garoto, aproveitando que ele estava desnorteado pela pancada, e segurou os braços de Nico sobre a cabeça dele, um sorriso entediado nos lábios pintados de preto. Os deuses achando que ele salvaria Thalia, e em dois segundos uma garota o deixa no chão. Se fosse meu filho isso não aconteceria.

— Corte a garganta dele. — Ayla instruiu com um sorriso, se aproximando do garoto. — Vamos deixar o sangue dele infiltrar na terra e chegar até os reinos de pai.

— Então me ajude! — Mirah reclamou, tentando segurar os braços do Di Angelo que se contorcia para se soltar.

— Eu não. — A gêmea negra resmungou, cutucando embaixo das unhas longas com a adaga ensanguentada.

— Ayla! — Mirah chamou mais uma vez, ficando vermelha pelo esforço de segurar Nico. Os pulsos do rapaz já estavam vermelhos por causa  do aperto, assim como pelos arranhões que aconteciam toda vez que conseguia se soltar um pouco.

— O.k.! — Ayla resmungou, se agachando em frente da irmã e segurando as mãos de Nico que resmungava. E esse é o grande herói do Olimpo! — Você pode beijá-lo também, depois cortar o pescoço dele. Vai ser bem poético.

Nossa! Verdade isso aí! Será que posso parar de assistir pra fazer uma haicai? (..)

Mirah enrubesceu diante da fala da irmã e Nico se debateu com mais força, aparentemente mais assustado com a possibilidade de receber um beijo do que morrer. A loira posicionou a faca na garganta pálida do garoto, mas eu sabia que em sua mente pensava na ideia da irmã. Isso seria tão romântico!

— Eu achava que a festa era depois do jogo. — A voz de Thalia Grace soou e Nico ficou vermelho, constrangido pela cena que se encontrava. Dá pra pensar besteira? Claro que dá!

— Tava demorando… — Ayla revirou os olhos. — Salvo pela namoradinha, Di Angelo.

— Ainda não. — Mirah falou entre dentes, apertando a faca contra a garganta do Di Angelo, um filete de sangue surgindo.

— Desculpe, meninas, mas eu reservei Nico essa noite. — Thalia falou em um tom entediado, se aproximando dos três com uma lança na mão. — Eu quem vou matá-lo.

— Você tem três segundos antes da minha irmã cortar a garganta do seu Romeu. — Ayla advertiu antes de começar a contar. — Um…

Thalia sorriu e ergueu a lança. Um raio desceu dos céus e se infiltrou na lança, iluminando seu rosto pálido, antes dela redirecionar a energia e acertar o trio.

Os três gritaram ao receber a descarga e Thalia correu até eles, empurrando o corpo de Mirah para o lado, tirando-a de cima de Nico e empurrado Ayla, puxando o Di Angelo pelo braço para ajudá-lo a se manter em pé, apesar dele ainda estar atordoado e reclamando.

— Não podia ter feito isso sem me machucar?! — Nico reclamou, deixando que Thalia se colocasse entre ele e as gêmeas, que se colocavam em pé com uma expressão assassina. Não disse que ela ia salvá-lo?! Nem preciso de Delphos para isso!

— E onde estaria a graça, querido?!

Se Nico respondeu, eu realmente não prestei atenção, tamanha minha surpresa quando uma das gêmeas avançou com uma expressão que chamariam de “sangue dos olhos”.

Mirah avançou sobre Thalia com a mesma velocidade com que havia feito com o Di Angelo, mas agora estava desarmada. Seu punho direito acertou a face da Grace com força, —  o que causaria um hematoma feio, além de muita dor — poucos segundos antes da sua perna a atingi-la na lateral do corpo. Minha meia-irmã cambaleou para trás, abrindo espaço para receber um chute com força no estômago desprotegido de armadura.

Ártemis, com essa neura de natureba, preferia que as caçadoras fossem ágeis, o que era complicado com quilos de ferro pesado no corpo, por isso evitava a proteção. Infelizmente, isso estava sendo uma grande desvantagem para a Grace, que continuava a receber golpes ágei da filha de Melione, que usava toda a raiva e força tentando acertar Thalia que se defendia atordoada.

As unhas grandes de Mirah passaram pela lateral do rosto de Thalia, fazendo o sangue brotar dos arranhões. Cara, aquilo ia ficar feio! Thalia a segurou pelo pulso, até que enfim saindo da defensiva, e girou o braço da filha de Melinoe para trás, fazendo a menina arfar antes mesmo de receber uma joelhada no estômago. Thalia a estapeou, empurrando-a para trás, ao mesmo tempo que Mirah avançava novamente com as garras prontas para tirar mais sangue. Ótima ideia essa de Quíron em enfeitiçar as armas dos semideuses para que eles se matem em segurança. Uma pena que eles estão preferindo transformar em UFC. Mas ainda é uma ótima ideia.

Desviei minha atenção da luta das duas garotas para prestar atenção em Nico e Ayla que lutavam com armas brancas e poderes, sumindo e surgindo nas sombras em velocidades atordoantes.

Ao contrária da gêmea que havia adotado o método das caçadoras de lutar sem armadura (ela dizia que era para ser mais ágil, que não tinha nada a ver com o fato de que isso a permite desfilar com tops croppeds tentando chamar a atenção de um certo garoto de olhos negros), Ayla usava o traje de luta completo feito de ferro estige por baixo da túnica preta, o que dificultava o trabalho do Di Angelo, que várias vezes a acertou com golpes que seriam mortais.

Mais uma vez Nico surgiu das sombras depois de desviar de um ataque muito próximo, mas sequer teve tempo de se recuperar quando o chicote de Ayla mais uma vez o acertou, dessa vez no braço esquerdo, causando um vergão e roubando sangue do garoto. Nico trincou os dentes e segurou a ponta com a mão direita, puxando a garota em direção a ele com força.

O Di Angelo se libertou do chicote e deu uma cotovelada na clavícula da garota, com força suficiente para que ela perdesse o ar e ele conseguisse certa vantagem, puxando uma adaga do cinto e abrindo um talho na cintura da garota, quase rente a armadura do tórax.

A filha de Melinoe gritou e cambaleou para trás, sumindo nas sombras. Que entediante esse pega-pega! Alguém trás o Will pra pararem com isso?

 

Voltei minha atenção para a luta de Mirah e Thalia, que estava bem mais brutal e divertida. Thalia havia prendido a filha de Melinoe contra uma árvore, seu braço no pescoço da garota que arfava, sangue manchando-lhe o rosto ao descer pela boca e nariz.

— Idiota… — Mirah resmungou, ficando sem ar. Curiosa, Thalia afrouxou o aperto o suficiente, apesar manter a mão firme e pescar uma das suas facas.

— O que você disse? — Minha meia-irmã ergueu as sobrancelha. Seu rosto não estava em um estado menos deplorável do que o da inimiga, havia vários arranhões profundos pelo corpo, mas o da bochecha direita se destacava, ainda derramando sangue, assim como os lábios inchados com um brilho vermelho que não era batom.

— Você também é uma idiota. — A filha de Melinoe abriu um sorriso assustador.

— Deveria supor que todos são, menos você?

— Eu e você somos idiotas. E Valentina.

— E nós somos por quê?

Ou-ou, alguém está falando demais!

— Ele nunca vai olhar pra gente. — Mirah respondeu com um risada no melhor estilo de desespero. — Ele só olha para aquele maldito filho de Apolo.

Hey, queridinha, não vem falar mal do meu filho só porque você é trouxa não, ok? Não fui eu quem te flechei, vai brigar com o cupido!

— De quem você está falando? — Thalia perguntou, franzindo a testa e afrouxando mais o aperto.

— Afinal, o que ele vê no Will? — Toda a gostosura do pai, querida! — Eles são tão diferentes! Will nunca poderia entendê-lo! Nem você! Só filhos do Mundo Inferior se entendem! Eu amo ele, sabe? Só eu posso amá-lo de verdade!

Poxa, querida, o ultraromantismo passou a séculos! Chega de supervalorização do seu coração, ok?

— Acho que bati sua cabeça forte demais… — Thalia falou, abaixando a guarda.

Ok, retiro o que eu disse sobre ela poder salvar o Di Angelo! Que garota tola!

Mirah se aproveitou da falta de atenção da Grace e a empurrou, Thalia conseguiu ainda mantê-la no lugar, pressionando o corpo contra o da Filha de Melinoe para mantê-la presa na árvore, mas a loira conseguiu morder o ombro da outra, fazendo-a gritar e se afastar.

Mirah a socou novamente — ela realmente tem um ótimo gancho de direita —, dando golpes na minha meia-irmã até que esta se visse contra um árvore. A filha de Melinoe deu uma cotovelada no estômago de Thalia que se contorceu em dor antes de ter a cabeça puxada pelo cabelos  e empurrada com força contra a árvore por três vezes. Cara, isso deve ter doído!

— Nem tanto, querida. — Mirah sussurrou no ouvido dela, empurrando a cabeça da outra mais uma vez contra a parede. Daqui a pouco Thalia vai se juntar ao Junípero. — Mas eu posso te ensinar como isso se faz.

Quase podia já ouvir o ruído do cérebro da Grace explodindo contra a árvore (algo familiar depois de passar alguns dias dos irmãos com Ares em campos de batalhas), quando ouvi o grito da filha de Melinoe.

Thalia havia enfiado a faca na barriga da garota, um ferimento bem grave e Mirah se afastou cambaleando, sem ar.

— Mirah! — Uma das gêmeas gritou pela irmã, correndo em direção a ela.

Thalia continuou apoiada contra a árvore, arfando, provavelmente zonza e desnorteada pelas batidas. Nico, ao ver seu estado, surgiu nas sombras ao lado dela.

— Você está bem? — O Filho de Hades perguntou e quase podia ver os deuses do Olimpo surtando com aquela demonstração de afeição. Thalia assentiu, respirando fundo e dando um passo a frente, parecendo mais recuperada ao receber um pouco de ambrósia que o garoto lhe estendia.

 

Acaba de me ocorrer que não relatei a luta de Nico e Ayla. Às vezes me esqueço que vocês, reles mortais, não possuem essa capacidade de fundamental de serem onipresentes. Como vocês conseguem sobreviver com isso?!

Enfim, voltemos ao momento em que Nico a feriu gravemente no ventre e Ayla usou os poderes para sumir nas sombras. Enquanto esse dois usam demais os poderes, Thalia e Mirah se esquecem que são semideusas, não?!

Enfim, Ayla reapareceu em cima de uma árvore acima Di Angelo, escondida pela ausência de luz. Firmando as mãos no galho baixo, ela se pendurou, chutando-o nas costas ao se balançar, e levando o garoto de cara no chão.

Nico rolou, ficando deitado de costas sobre a terra enquanto Ayla se aproximava com uma expressão maligna, sangue ensopando-lhe as pernas. Sua beleza era tanta que se tornava aterrorizante. Ela pegou o chicote na cintura e o desenrolou, antes de mover o braço com toda a força possível em direção ao garoto, chicoteando nas pernas antes que sumisse nas sombras.

Quando ele surgiu novamente, foi pelas costas e bem perto da filha de Melinoe, a acertando na cabeça com a parte chata da espada. Ela cambaleou, mas os reflexos rápidos permitiram que se virasse para ele, sacando a espada na cintura com a mão esquerda. Mesmo destra, ela tinha perícia o suficiente para interceptar os ataques de Nico enquanto guardava o chicote na cintura.

O Di Angelo conseguiu acertá-la no braço antes que a garota trocasse a espada de mãos, causando um corte profundo no braço direito, a manga rasgada se ensopando com o líquido vermelho enquanto ela gritava de raiva e fúria. Nico sorriu e investiu novamente, causando outro corte na coxa da garota, mais superficial que o outro.

Já estava prevendo a filha de Melinoe sumir novamente nas sombras, mas ela somente se afastou e levantou a mão esquerda. O chão embaixo do Di Angelo tremeu e ele se afastou, vendo a terra rachar e de lá surgir uma criatura escura e gosmenta, que tomava uma forma semi-humana bem bizarra, com garras onde deveria ter cada dedo e olhos projetados, junto a dentes afiados. Parecia o Venom do Homem Aranha com as garras do Freddy Krueger.

— Tem certeza que você se lembrou de passar seus monstrinhos pela poção, Ayla? — O Di Angelo questionou, mas pude ver que ele empalideceu.

— Sabemos que os vilões nunca cumprem normas, Di Angelo. — A garota retrucou, deixando que sua marionete tomasse a frente.

— Seus fantasminhas não me assustam. — Ele blefou, mas eu podia ouvir seus coração acelerando, denunciando-o.

— Tente dizer isso quando eles arrancarem suas tripas. — A garota invocou mais três fantasmas gosmentos (que de fantasmas não tinham nada) e os reconheci ao tomarem formas de personagens de filmes misturadas: uma garota com todo o cabelo pra frente, levando gosma pra onde rastejava e com várias tesouras no lugar dos dedos; um anão do tamanho de um boneco, com uma faca na mão, além das asas de corvo e olhos enormes fixos.

Nico engoliu em seco e fez um gesto, invocando cinco esqueletos. Acho que alguém está se arrependendo de blefar.

Ayla ficou rindo ao observar suas três criaturas avançarem, os cinco esqueletos conseguiram interceptar a menina de O Chamado e o Venom, mas o boneco voou direto para a direção de Nico. O rapaz conseguiu impedir que a lâmina o acertasse no rosto ao abaixar e se proteger com os braços, mas isso o arranjou um corte feio no braço esquerdo.

Guinchando, a criatura deu meia volta e avançou novamente. Nico conseguiu aparar o golpe com a espada, pegando uma faca na cintura para tentar atacar. Ele conseguiu fazer com que a lâmina passasse pela perna do Chuck Voador, cortando-a como massinha de modelar e caindo no chão se contorcendo. Ei, por que eu não tenho o poder de criar coisas assim?!

Ele conseguiu cortar as pernas da criatura enquanto se defendia, mas aquilo só deixava-a mais agressiva, investindo com mais velocidade ao se ver livre do peso. A coisa se afastou de Nico, apenas para pegar embalo e avançar com muita velocidade. O garoto conseguiu desferir um golpe nas asa da criatura, levando-a a cair sobre ele, arranhando-o no pescoço com uma mão e cortando a armadura com a faca. Nico, em pânico, conseguiu esfaquear a criatura pelas costas e a puxar de si, jogando-a no chão como se fosse um grande inseto tentando se erguer.

Ele fez uma careta e deu um passo para trás — Devo spoilar que isso foi um grande erro? — e as cinco garras de Freddy Krueger passaram por sua armadura, cortando-a como massinha de modelar, e adentraram a carne do garoto. Eu quase pude ver seu sangue brotar, assim como sentir a dor da ferida.

O Di Angelo soltou algumas palavras nada bonitinhas, algumas até em italiano e girou o braço com a espada para trás, acertando a lâmina de ferro estígio na cintura da criatura, conseguindo se afastar o suficiente para fazer o chão sob a criatura se abrir e engolir só o monstro. Ele ergueu a mão e mais dois esqueletos surgiram, avançando sobre o que restava dos fantasmas da filha de Melione.

Nico cambaleou. Eu pude sentir sua pressão baixar, as sombras densas dentro dele, envolvendo e, se Will estivesse ali, provavelmente já estaria xingando a quinta dinastia do Di Angelo pelo abuso dos poderes, enquanto via o garoto quase desmaiar de exaustão.

Você talvez pode ter se perguntado: E Ayla? Onde está? Assistindo comendo pipoca? Bom, acho que você já deve ter percebido que quem é fã de milho aqui é a outra gêmea. A garota assustadora estava encostada contra uma árvore, ainda repleta de sangue e com dor, mas a satisfação em ver o Di Angelo sofrendo a fazia sorrir do mesmo modo que a mãe quando via carnificina e seu sorriso só desmanchou quando viu a irmã ser apunhalada.

 

Então, voltemos ao momento anterior, em que Nico ingeria a comida dos deuses e dava para Thalia. Os quatro estavam em estados bem caóticos, e eu aposto como vai ter reprise a semana inteira na TV Hefestos, mas até que está divertido. Alguém aí tem pipoca?

Ver as gêmeas lutarem juntas sempre eleva o nível no quesito macabro e deixa mais interessante. As duas deram as mãos e eu só consegui ver a ilusão que elas criaram do ponto de vista de Thalia e Nico porque eu sou um deus muito poderoso.

Tudo escureceu para ambos, e no momento seguinte eles se sentiram completamente sozinhos. Thalia se sentiu presa, como se suas pernas ficassem grudadas na perna, e ao olhar, percebeu que elas fundiam ao chão, formando um tronco escuro. Seus braços se esticaram e começaram a criar vários ramos, além de tomar um coloração de madeira. Ela tentou gritar, em pânico, ao sentir tornar-se uma árvore novamente, seu coração acelerando tão freneticamente que ela poderia facilmente ter um ataque cardíaco.

Ao mesmo tempo, Nico conseguia ver tudo em preto e branco, em uma clareira vazia, e duas sombras começaram a aparecer, uma de cada lado para o cercar e, quando entraram em evidência, minha vontade foi rir. Eram duas bananas gigantes, vestidas em macacões listrados, representações de um desenho animado. Mas meu humor acabou por aí, quando vi onde seria a cara das banana, estavam deformadas, seus olhos eram enormes e somente dois buracos estáticos, assim como a boca que não passava de um corte horizontal,  como se o Coringa as tivesse ensinado sorrir.

— Se afastem! — O Di Angelo gritou, apertando a mão na espada. — Em nome de Hades, se afastem!

Uma música infantil começou a tocar, mas a melodia estava alterada, parecendo mais melancólica e se tornando mais devagar e com o tom se distorcendo, como os efeitos que usam em filmes para colocar em câmera lenta. Nico começou a tremer, girando com a espada em mãos, apontando para uma e outra banana que continuava a se aproximar.

— Eu sou o Rei dos Fantasmas! — Nico gritou, a voz trêmula. — Eu ordeno que se afastem!

Fora da visão, eu podia ver Nico se aproximar, em transe, de Thalia, que se debatia parada, tentando se livrar das raízes do seu pesadelo. O garoto estava com a espada apontada para a Grace, e com um simples golpe poderia vencê-la.

— Não! — Thalia gritou e mexeu os braços. Pude ver que as gêmeas estavam ficando pálidas, quase perdendo o controle dos poderes. Minha meia-irmã conseguiu se libertar da visão e desviou no momento em que Nico desferiu um golpe nela, ainda em transe. — Nico!

Ela gritou, desviando do segundo golpe, enquanto Nico ordenava que se afastasse.

— Isso é uma visão! — A garota tentou. — Acorde!

Ela o segurou pelo braço e a mente dele clareou, arregalando os olhos ao perceber o que estava acontecendo. As gêmeas apertaram mais as mãos e rangeram os dentes, extraindo mais poderes de dentro de si.

A visão do casal pipopinha escureceu novamente e eles se viram cair, uma floresta infinita abaixo deles.

 


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Notas finais do capítulo

Oi pessoinhas!
Sim, estou postando mais cedo porque o capítulo estava enorme e quero ver se posto a parte II amanhã ou sábado.
Enfim, espero que tenham gostado!

*A vencedora do game poser é... Aluada!
Eu realmente amei a resposta!

*Próxima pergunta: O que é Pipopinha?

Obrigada pela atenção!