Eu, Meu Noivo & Seu Crush — Thalico escrita por Helly Nivoeh


Capítulo 17
Tipos, revirar os olhos, dar de ombros e ficar vermelho.


Notas iniciais do capítulo

Gente, a Dama do Poente tem uma estratégia de review bem legal que comecei a adotar: ir lendo e anotando no bloco de nota os comentários!

Por que vocês não experimentam? É bem legal e mais fácil de comentar!

Mas, se quiserem mandar áudios no Whatsapp contando a reação de vocês, como a Dama das Cores, eu vou amar também!

Especial porque o dia dos irmãos foi essa semana, então já aviso que vai ter momentinhos fofo Hazel e Nico, mas também Jason e Nico, que estão como irmãozinhos fofos (futuros cunhados!)
Boa leitura!



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Narração: Nico di Angelo

 

É realmente estranho, quando você é um semideus, passar o dia com seu pai olimpiano. E você pode ter certeza de que, se isso acontecer com você, é porque ele quer alguma coisas. No meu caso, meu pai queria que eu me casasse com uma garota, por isso passamos o dia assistindo Game of Thrones (imagine que motivador foram os comentários dele durante o Casamento Vermelho!) e comendo McLanche Triste. Não confiei em provar da pizza (alguns atores já usaram ketchup pra simular sangue; Acho que os pizzaiolos fizeram o contrário), mesmo que eu adore pizza.

Quando retornei ao Acampamento Meio-Sangue no meio da tarde, o céu já se coloria em um tom alaranjado, perto do pôr-do-sol, e a maior parte dos campistas estavam preocupado em polir armaduras, afiar espadas e facas, ou treinando como loucos para a batalha que logo aconteceria. Aproveitei que o banheiro masculino deveria estar quase vazio para tomar banho, antes que enchesse de adolescentes suados. Felizmente, o único que encontrei por lá foi Jason.

— Estava pensando em reformar meu chalé — Gritei sobre o barulho da água, esfregando minha cabeça.  — Um banheiro seria bem útil lá.

— Vou visitá-lo todos os dias. — Escutei a voz de Jason no box ao lado.

— Por que você não faz isso no seu também? Aposto como Thalia não se importaria. — “Mesmo porque, assim que resolvermos essa bagunça, ela vai voltar pra adorada deusa”, pensei.  —  Grace? — Chamei quando Jason não respondeu. — Você morreu?

— Não, eu estou vivo.

— Fico feliz. Você sabe: eu não quero te arrastar do banheiro nu. — Brinquei, mas ele não riu, me fazendo perceber que algo estava a errado. — Jason? Você está bem? — Perguntei, franzindo a testa.

— Sim. — Ele mentiu.

— Você não ia me contar algo?

— Depois, cara. É algo meio íntimo. — Jason falou e revirei os olhos, apesar dele não me ver.

— Estamos tomando banho juntos. Tem algo mais íntimo que isso?

— Tem uma parede entre a gente.

— Diga logo! — Alguns segundos de silêncio se sucederam, enquanto o único som audível era o da água caindo

— Talvez eu vá embora mais cedo. — Falou, por fim, e fiquei feliz que ele não pudesse ver minha expressão.

Aquilo me deixou com um gosto amargo na boca, como se ele tivesse dito que ia embora para sempre.

— Por quê? — Perguntei, tentando deixar minha voz neutra e não muito desapontada. Acho que não consegui.

— Piper conseguiu um estágio pra gente. — Revirei os olhos, claro que tinha que ser por causa de garotas. — Ela realmente está empolgada e é algo importante e difícil de conseguir, sabe? O pai dela teve que usar de muita influência pra isso.

Franzi a testa, percebendo que Jason soava como alguém recitando algo decorado, algo que ele não acreditava.

— E você quer ir?

— Eu quero ficar com Piper. — Falou, sem responder minha pergunta.

— E o estágio? Você quer fazer esse estágio?

Várias vozes soaram pelo banheiro, salvando Jason de responder.  Desliguei o chuveiro, me sequei e vesti a roupa em silêncio, processando a informação com um péssimo humor.

Sai do banheiro indo em direção ao meu chalé, mas parei ao escutar Jason me chamar. Esperei até que ele ficasse do meu lado, seguindo em silêncio.  

— Não.  — A voz do Grace soou assim que passamos em frente ao chalé um. O encarei sem entender, ainda indo em direção ao meu chalé. — Eu não quero esse estágio.  Eu nem quero fazer administração!  Nem faculdade eu quero!

Exclamou baixo, eu um tom exasperado. Depois suspirou, como se um imenso fardo lhe tivesse sido tirado.

— Então não vá.  — Dei de ombros. Não entendia porque fazer algo que você não quer e nem gosta.

— Eu não posso… — Sussurrou em um tom infeliz.

— Por que não? — Trinquei os dentes, percebendo que havia soado raivoso.

— Piper...

— Piper vai conseguir sobreviver sem você até o final do verão.  — Murmurei mal humorado, sem esperar que o Grace terminasse. — Você não precisa aceitar o estágio. E sobre faculdade... Nossa expectativa de vida é de, no máximo, vinte anos. Você já é um idoso entre os meios sangues. Sem ofensa, claro.

— Entre os romanos não...

— Romanos vivem mais e blablabla. — Abri a porta do meu chalé, encontrando-o vazio. — E daí?  Nós, gregos, que nos divertimos mais. Nós não ligamos pra faculdade.

— Eu sou romano... — Murmurou, se jogando na cama de baixo do meu beliche.  Will roubando uva e Jason roubando cama, tô bem feito de amigos, viu?

— Você se esqueceu que eu que invoquei uma legião de zumbis na qual você não conseguiu comandar por não se sentir mais filho de Júpiter? — Ergui a sobrancelha, sentando na cama de Hazel, em frente a minha, e deixando a toalha molhada ali. Ela provavelmente me daria uma bronca.  — Você é tão grego quanto romano, Jason. Se não for mais. Você é uma espécie de híbrido, sabe? Será que é estéril?

— Eu nunca testei pra saber. — Murmurou e acabei rindo, melhorando um pouco meu mau humor. Levantei-me da cama de Hazel e fui em direção a minha.

— Chega pra lá.  — Ordenei ao Grace, que obedeceu e me deitei ao seu lado.

— Isso não é meio estranho? — Perguntou, colocando o braço por baixo da cabeça, destacando a tatuagem.

— Não se preocupe, você não faz meu tipo. — Retruquei, passando os dedos pela grande da cama de cima. Nós raramente tocávamos nesse assunto, mas não me sentia tão desconfortável ao conversar isso com Jason. Pelo menos, não tão envergonhado quanto ao pensar em falar isso com Will.

— E qual é o seu tipo? Gregos? — Sua pergunta me fez sorrir de canto, pensando em uma resposta.

— Qualquer um que não seja você.  

— Ai! — Exclamou, colocando a mão livre no coração.  — Isso magoou.

— Me desculpe te desiludir. — Falei em um tom indiferente.

— Tudo bem, eu sobrevivo com Piper. Que ela não me escute.

— Ela te mataria.

— Provavelmente. — Acabei rindo do seu tom, como se não se importasse muito que a namorada o matasse. — Mas ainda não entendi porque não sou seu tipo.

— Acredite, Grace. Você não é o tipo de todo mundo.

—Poxa! Eu não sou o Percy?! — Gargalhei com a fala de Jason, balançando a cabeça em negação.

— Não. — Retruquei, quando consegui falar. — Mas nem o Percy é o tipo de todos.

— Mas era o seu. — Não precisei olhar para ele pra saber que o Grace me encarava.

— Não exatamente. — Murmurei, mais pra mim mesmo. — Acho que eu... como é mesmo aquela palavra que Alexia usa? Pra dizer quando alguém gosta de uma pessoa?

— Crush.

— Isso. Meu crush pelo Percy foi mais porque eu estava impressionado com essa coisa de semideuses e tudo mais. Ele tinha salvado minha vida. — Falei, enquanto as várias lembranças daquele dia surgiram na minha mente.

— Estava ele e quem mais?

— Ele e Thalia, que, aliás, eles estavam tentando se matar porque Annabeth tinha pulado em um penhasco.

— Ela estava treinando pra pular no tártaro? — Novamente caí na risada diante da pergunta de Jason, pensando em como Percy nos mataria se ouvisse algo assim.

— Pelos deuses, Jason! Essa piada acaba de reservar sua vaga nos campos de punição.

— Tá, continua. — Ordenou, também passando os dedos da mão esquerda pela grade da cama de cima.

— Só eles, Grover e as caçadoras, que sempre se metem em tudo. — Murmurei a última parte revirando os olhos.

— Minha irmã é uma caçadora.

— Eu sei. — Dei de ombros, sem fitá-lo.
— Como seria se ela que tivesse salvado sua vida? Acha que seu crush seria por ela?

Tenho certeza que os deuses iriam adorar isso.”, pensei.

— Acho que não.  Eu gosto de meninos, Jay. — A última frase soou baixa, como sempre acontecia quando eu tocava nesse assunto.

— Eu sei. — Foi a vez de Jason dar de ombros. — É só porque seria engraçado ver vocês dois juntos.

— Por quê?

Mais um não, por favor!”, pensei, quase suspirando.

— Sei lá.  Vocês dois são cabeça dura e arrogantes demais. — Nossa! Adorei os elogios! — Pelo menos é o que parece.

— Isso herdamos de nossos pais. — Resmunguei. — Todos os filhos dos três grande tem, incluindo você. Ou vai me dizer que não é por isso que você e Percy tentam se matar de vez em quando? — Jason riu como resposta. — Mas, falando nos grandes " e se... " da vida, como você acha que teria sido se vocês tivessem crescido juntos?

Jason ficou um tempo em silêncio, processando a informação.

— Teria sido mais fácil pra mim. — Falou baixo, quando pensei que nem responderia. — Eu era... muito sozinho. Mas agora tenho vocês. — Virei meu rosto na direção dele, que sorria de uma maneira honesta. — Vocês são minha família.

— E como você acha que seria se ela voltasse? — Perguntei de forma cuidadosa, pesando que eu havia dito à Thalia que ela ainda tinha o irmão, que poderiam ser uma família. Mas não pensei em como meu amigo se sentiria com a volta da irmã. — Se ela ficasse  permanentemente?

Ele fez silêncio por um tempo.

— Eu não sei. — Murmurou em um tom que deixava claro que seus pensamentos estavam indo longe. — Thalia é meio... intimidante. E isso me assusta. — Balancei a cabeça, entendendo. Thalia Grace era uma das pessoas mais intimidantes que eu conheço. — Posso te contar uma coisa?

— Claro. — Falei, me virando pra Jason. Ele continuou deitado olhando para as grades da cama, mas abaixou o tom, como se contasse um segredo.

— Quando eu reencontrei Thalia, antes de me lembrar do acampamento Júpiter, eu sabia quem ela era. — Murmurou e assenti. Sabia que Hera havia deixado a lembrança de Thalia na memória de Jason quando retirou suas lembranças e eles haviam se reencontrado. — E ela pediu pra falar comigo sozinho, mas... eu estava com medo, sabe?

— De Thalia? — Franzi a testa. Mesmo intimidante, não achei que Jason teria medo da irmã.

— Também. — Deu de ombros, passando os dedos finos pelas grades, sem me encarar. — Da situação em si. Do que ela esperava de mim.

— Você não falou com ela? — Perguntei receoso. Isso explicaria porque Thalia acreditava que jamais poderiam ser uma família.

— Eu falei, mas... pedi que Leo ficasse comigo. Não queria ficar sozinho com Thalia.

Fiquei em silêncio por um tempo, sem saber o que dizer. Não conseguia imaginar Jason sentindo medo da própria irmã.

— Você ainda se sente assim? — Perguntei, por fim.

— Às vezes. — Novamente deu de ombros antes de baixar mais o tom, se tornando quase inaudível. — Ela me disse uma coisa, ontem: Se ela soubesse que eu estava vivo, nunca teria ido pra caçada.

Senti minha garganta se apertar, a lembrança de Bianca surgindo na minha mente. Minha irmã mais velha havia tomado uma decisão completamente diferente da que a Grace tomaria.

— Ela sente sua falta. — Falei baixo, pensando em como eu era péssimo pra animar pessoas.

— Ela sente falta do que teríamos sido.  Do menino que ela conheceu. — Ele suspirou e engoli em seco. Minha vontade era de sair correndo dali, deixando os Graces se resolverem sozinhos. Mas eu não podia fazer isso, eu disse a Thalia que eles poderiam ser uma família. E sei que eles podem.

— Acho que você devia dar uma chance a ela. — Sussurrei, sem conseguir encarar Jason. — Acho que ela só quer te conhecer. Uma irmã é importante demais para perder.

Estranhamente, não foi Bianca que surgiu na minha mente, e sim Hazel. Nós também fomos completos desconhecidos, mas eu amo minha irmã romana da mesma forma que amei a Bia.

— Como chegamos a essa conversa tão filosófica? — Jason questionou, fugindo do assunto.

— Estávamos falando de tipo. — Decidi não pressioná-lo. — Alias, você não me disse o seu.

— O meu óbvio não? — Pude ouvir o tom de riso na sua voz. — Eu só tenho um tipo, que é Piper.
— Vocês me dão enjoou de tanta doçura. — Murmurei, fingindo um mau humor.

— Quando você se apaixonar, aí você vai me entender.

— Dispenso, obrigado.  — Retruquei. A queda pelo Percy já havia sido ruim o suficiente, me apaixonar fazia um novo salto no Tártaro parecer agradável. E eu já estive no Tártaro.

— Anota o que eu estou falando. — Jason falou em um tom humorado.

— Não rogue pragas, Grace. E eu nunca seria tão meloso igual você.
— Isso é ciume, Niquinho? — Brincou, virando-se para mim.

— Tá, claro. — Falei irônico e senti os braços de Jason em volta de mim, me abraçando. — Jason! Me solta!  — Briguei, apesar de estar me divertindo com a situação.

— Não, você é fofinho! — Ele falou, rindo e me apertando mais, quase me machucando.

— Eu sou tão fofinho quanto gordo! — Reclamei, mas será que eu realmente tava precisando perder uns quilos? Geralmente pessoas fofinhas eram gordinhas e macias de apertar, eu não sou assim, né!

— Você é fofinho sim! — Jason riu. — Um emo todo fofinho que dá vontade de apertar!

— Eu não gosto de apertos! —Argumentei, sem sucesso. — E nem de abraços! Eu sou antissocial! Eu não gosto de amor!

Resmungava, me debatendo pra me livrar do aperto de Jason, mas ele só ria e me apertava mais.

A porta do chalé foi aberta e Hazel entrou, franzindo a testa com a cena.

— O que está acontecendo? — Perguntou em um tom divertido.

— Jason está carente! Manda ele me soltar! — Pedi, sentindo o filho de Júpiter me apertar ainda mais. Nem vou precisar perder quilo, o Grace já estava dando um jeito de me compactar.

— Jason, você sabe que o Nico não é Piper né? — Hazel argumentou, para em frente a minha cama de braços cruzados. — Acho que sua namorada não quer você apertando garotos por aí.

— Mas ele é fofinho! — Jason argumentou, como se esse fosse o melhor motivo do mundo.

— Eu não sou gordo! — Reclamei novamente, desistindo de lutar.

— Ah, então pode. — Minha irmã deu de ombros. Fui traído!

— Hazel! — Supliquei, mas ela me ignorou, indo pra própria cama. — Qual a parte de que você não é meu tipo você não entendeu?! — Resmunguei pra Jason, enquanto ele gargalhava.

— Nico di Angelo! — Hazel brigou e não foi só o “ih!” de Jason que me fez perceber que lá vinha bronca. — Quantas vezes eu tenho que dizer que roupa suja é no cesto?! E nada de toalha molhada em cima da cama! Muito menos da minha!

— Por que todas as garotas querem te matar? — O Grace perguntou e dei de ombros. Também queria saber.

— Você vai levantar agora daí e arrumar esse chalé! — Minha irmã continuou, dando seu melhor olhar mortal. Hazel sim era fofa, mas ela sabia muito bem parecer ameaçadora. Até dava dó de Frank às vezes. Mas, neste momento, toda compaixão do mundo deve ser direcionada à mim, o objeto da sua fúria. — Amanhã de manhã tem vistoria nos chalés, e, se o nosso ficar mal falado por terem achado roupas íntimas suas jogadas, eu juro que eu te mando de volta pro nosso pai!

— Estou saindo! — Jason exclamou, rolando por cima de mim pra sair da cama.

— Ai! Seu gordo! — Reclamei quando todo seu peso ficou em cima de mim, me machucando. — Depois eu arrumo! — Pedi pra minha irmã que me fulminava. — Eu tô com fome!

— Você só sai desse chalé quando ele estiver impecável. — Hazel falou friamente, demonstrando toda a compaixão do mundo com seu pobre irmão.

— Mas… — Supliquei, vendo ela guardar as roupas sujas no lugar certo e pendurar a toalha, o que eu deveria ter feito.

— Só quando tiver impecável! — Ordenou novamente, saindo do chalé, sendo seguida pelo meu amigo (traíra), Jason Grace, que havia ficado para ver a bronca de camarote e me lançou um sorriso malvado antes de sair.

Uma eternidade de tempo depois, tive coragem de sair da cama e obedecer minha irmã, antes que ela voltasse e me ensinasse como centuriões romanos agem. Já passara do crepúsculo quando terminei de arrumar o chalé e meu estomago roncava de fome. Entrei nas sombras e focalizei o pavilhão de jantar, aparecendo na mesa de Poseidon e fazendo  Percy praguejar quando o assustei.

— Você já ouviu falar na iniciativa portas? — Reclamou, me fazendo rir junto à Hazel, que estava ao lado de Jason; Não havia sinal de Thalia ali.

— É por isso que está gordo. — Jason comentou e o fitei, erguendo a sobrancelha.

— Quantas vezes eu vou ter que dizer, só hoje, que eu não sou gordo?

— Will concorda comigo. — O loiro deu de ombro.

— Eu não conheço essa história. — Percy murmurou e o ignorei.

— Tão amiguinhos agora? — Comentei, implicando com o filho de Júpiter.

— Como você sumiu o dia todo, te troquei por ele. Ele, pelo menos, me prometeu que serei padrinho do casamento, ao contrário de certas pessoas. — Fez drama.

— Não tem problema, ainda tenho Percy. — Dei de ombros.

— Somos tão descartáveis assim?! — Jason exclamou, fazendo graça.

— Falando nisso, sua noiva quer te matar. — Hazel se intrometeu. — Alguma ideia do por quê?

Ok, não era mais tão engraçada a ideia de Thalia ser minha noiva quando o casamento era verdade.

— O pior é que sim. — Apertei os lábios, lembrando-me da discussão com a garota. O.k, talvez eu tenha sido um pouco duro com ela, mas eu não suportava essa ideia de ser brinquedo dos deuses.. — Acho que vou deixar o arco bem longe de Thalia. Vamos ver quem ganha na espada.

Eu realmente treinei muito com a espada nos últimos anos por culpa de Will, que me obrigava a ser expert em armas pra evitar usar meus poderes. Como era péssimo com o que envolvia mira, eu realmente sou um bom esgrimista.

— Você está louco. — Percy falou.—  Thalia vai te fatiar em mil pedacinhos.

— Ela é tão boa assim? — Jason questionou, franzindo a testa. Pra mim, as caçadoras lutavam mais com arcos e facas.

— Luke foi um dos melhores esgrimistas que conheci. — Percy contou, e me lembrei que foi o Castellan quem o ensinou a lutar. —  Thalia derrotou ele quando estávamos na missão. E ele já tinha a maldição de Aquiles na época.

— Sinto muito irmãozinho. — Hazel falou em um tom que parecia não sentir nada.

— Jason, me ajuda! — Supliquei, quase me ajoelhando.

— Hum… não, Nico. — Ele deu de ombros, nenhum pouco preocupado com a possibilidade de sua irmã me matar. — Somos inimigos essa noite. E eu já tenho que me preocupar com duas loucas querendo me matar.

Referiu-se à Ayla e Mirah, as gêmeas de Melinoe. Verdade, agora tem três garotas querendo me matar, isso porque eu não fiz nada com elas. Bom, nada demais.

— Percy? — Tentei por último.

— Prometi a Annabeth que não iria lutar. — Levantou as mãos se defendendo. Grandes amigos eu tenho, sério.

— Não se preocupe, Nico. — Hazel falou, sorrindo. Só minha irmã pra me salvar! Tá que ela quase me matou agora à pouco, mas…  — Vamos dar uma surra nos Graces.

— Duvido.

— Jason, você já me viu usando a névoa. — Ameaçou e me senti orgulhoso de seu tom “cale a boca, querido, eu sou demais.”.

— Isso é meio injusto. — Jason fingiu estar emburrado.

— Cada um com suas armas, ué! — Hazel se defendeu. — Você só precisa me explicar como funciona o jogo.

— Eu ia explicar pra Thalia também. Falando nisso, cadê ela?

— Com uma faca atrás de você pronto pra te matar. — Percy falou e virei pra trás, não encontrando ninguém. Revirei os olhos.

— Isso deveria ser engraçado?

— Ela foi procurar uma espada pra usar, além de treinar um pouco. — Jason ignorou a brincadeira. — Aliás, eu já falei com ela. Aonde você tava o dia todo?

—  No inferno. — Brinquei, mas com seu fundo de verdade. — Até que é simples de entender, Hazel. — Comecei a responder minha irmã, antes que questionassem de novo onde estive. — Basicamente vamos enfeitiçar todas as nossas armas e matar uns aos outros.

— Você é tão bom professor, Nico. — Jason falou sarcástico, antes de virar-se para Hazel e terminar de explicar: — As lâminas não vão machucar, não de verdade. É como na névoa, as pessoas vão sentir a dor, vão sangrar, se cortar, mas não vai ser real, tudo uma ilusão que se desfaz em algumas horas.

— Ênfase no sentir dor, por favor.

— Eu ouvi dor? — A voz da garota que quer me matar soou atrás de mim e fiquei com medo de Percy ter previsto uma faca.

— Por que você quer matar meu irmão? — Hazel perguntou, enquanto a Grace se sentava justamente ao meu lado.

Sussurrei um pouco alto:

Não precisa lembrar ela!

— Eu não quero matar ele. — Ela deu de ombros, pegando um prato e se encaminhando para o local das oferendas.

Meus amigos me olharam como se estivessem visualizando meu funeral e me levantei, pegando meu prato e seguindo Thalia. Fiquei ao seu lado enquanto ela jogava parte da comida no fogo, sussurrando o que entendi como sendo “Ártemis”. Tentei não revirar os olhos.

— Eu preciso falar com você. — Falei baixo, enquanto jogava um alimento aleatório no fogo em oferenda ao meu pai. Como ela não esboçou nenhuma reação, continuei. — Falei com meu pai hoje, ele confirmou tudo o que você disse.

— Ainda achava que era mentira minha? — Perguntou, os olhos incrivelmente azuis e destacados por muita maquiagem fixos no fogo, sem me encarar.

— Não. Mas eu percebi que há muito mais que o seu pai te disse. — Sussurrei e a olhei. — Estão nos colocando em um jogo político.  

Ela se voltou para mim com um sorriso sarcástico.

— Seu pai te disse isso ou você descobriu sozinho? — Questionou, voltando para a mesa.

A segui até a mesa, onde apostavam sobre em quanto tempo Thalia iria me triturar.

— Vocês são ótimos amigos. — Resmunguei, me sentando ao lado da Grace, que jogava seu lance de cinco minutos.

— Quatro filhos dos três grandes se enfrentando. — Hazel falou. — Quanto isso vai dar errado?

— Thalia, — Sussurrei pra garota ao meu lado, baixo o suficiente para só ela ouvir. Jason e Hazel estavam sentado do outro lado da mesa, absortos nas apostas junto à Percy, que estava em uma distância segura ao meu lado. Me aproximei mais da Grace, que me ignorava ao fatiar a carne no prato em mil pedacinhos. — Me desculpe. — Continuei, me referindo ao fato de que menosprezei as caçadoras. Ok, aquilo não foi legal. — Eu não devia ter falado aquilo. Você está certa: são sua família. E sei que elas se preocupam com você.

A Grace deu um pequeno sorriso, sem me encarar.

— Percy, — Falou baixo, erguendo o rosto e encarando a mesa. — você está quase no colo de Nico. Seja mais discreto quando quiser ouvir conversas alheias.

Percebi que todos na mesa havia se calado e nos encaravam.

— Só queria saber o que tanto falavam. — O Jackson se desculpou, sorrindo envergonhado.

— Nico estava me implorando para pegar leve com ele hoje a noite. Eu posso até te perdoar Di Angelo, mas isso não significa que vou pegar leve.

— Você acha que eu não sou páreo pra você? — Ergui a sobrancelha. É, eu não era, mas é aquele ditado né: “vamo fazer o quê?!” Cutucar o leão com vara curta. Nesse caso, leoa.

— Eu tenho certeza. — Respondeu com um sorriso irritante.

— Nossa! — Hazel exclamou depois de poucos segundos, nos quais eu não consegui retrucar. — Vocês estão sentindo esse cheiro de tinta? — Me virei com a testa franzida, sem entender do que minha irmã estava falando.  — Acho que está pintando um clima aqui.

Revirei os olhos, tentando não rir, mas já era tarde. Jason e Percy gargalhavam e até Thalia abafava o riso. Ah, se meus amigos soubessem…

— Essa foi péssima, Hazel. — Thalia falou quando conseguimos parar de rir. — Aliás, falando nisso, e o seu amigo que ficava me cantando, Jason?

Franzi a testa. Thalia sendo cantada por um amigo de Jason?

— Leo? — O Filho de Júpiter perguntou e revirei os olhos. É claro que tinha que ser obra de Leo Valdez, o cara que não consegue se controlar perto de uma menina bonita.

— Qual o seu problema com ele? — Thalia perguntou, parecendo notar meu mau humor.

— Ele fez o Nico de trouxa. — Jason respondeu por mim da maneira como grandes amigos fazem.

— Não fez não, — Me defendi. — ele morreu mesmo. Eu só não esperava que ele não ficasse morto.

— Ele tomou a cura do médico, — Hazel explicou mais civilizadamente do que a gente. — Ele morreu durante a explosão, mas voltou a vida logo depois. Ninguém sabia disso, claro, então ficamos alguns meses achando que ele estava morto. Até ele aparecer aqui com Calipso. Ele conseguiu resgatar ela da ilha junto com Festus.

— Ainda não entendi porque o senhor resmungão aqui… — Apontou pra mim.

— Hey! — Reclamei.

— …tem raiva dele.

— Não é raiva. — Justifiquei, tentando melhor definir qual era o “meu problema” com o Valdez. Na verdade não era nenhum, era mais drama. — Eu só acho que ele não precisava assustar todo mundo. Não precisava ter arquitetado esse plano sozinho, fazer todo mundo achar que ele está morto e depois voltar como se nada tivesse acontecido.

— É, tipo, morreu fica morto? — Perguntou e senti um calafrio, dando um olhar rápido para Hazel, que parecia igualmente desconfortável. Poucas pessoas sabiam que Hazel esteve um tempo morta, e Thalia não estava inclusa nesse grupo.

— É tipo, não morra. — Falei por fim, percebendo que Percy e Jason também estavam desconfortáveis com isso.

— Afinal, cadê ele? — Thalia perguntou e não soube dizer se ela havia reparado no clima da mesa. — Ele não saiu de Ogigia?

— Viajando pelo mundo com uma garota bem mais bonita que Jason. — Meus primos estavam demorando a se alfinetar.

— Percy que o diga. — Jason retrucou diante da implicância do Jackson.

— Que Annabeth não me escute.

Ri do comentário dele. Uma das coisas que indicava que eu não daria certo com Percy: Não saberia lidar com o ciúme devido as várias pessoas à fim dele. Annabeth, por outro lado, se tornava amiga da gente.

— Poxa, ainda estou chateado pelo o que você me disse. — O Grace falou olhando pra mim.

— O que? Que você não é meu tipo? Supere Grace.

— Ele já me disse isso. — Percy falou com uma expressão de tristeza. — Demorou um tempo pra superar, mas consegui. Pelo menos ele disse que sou bonito.

— Sinto muito por abalar o ego de vocês. — Falei em um tom de “eu não me importo”, tomando um pouco de coca-cola.

— E qual é seu tipo? — Thalia perguntou e, sem pensar (eu juro!), dei uma piscadinha pra ela por cima do copo.

— Na minha época, — Hazel começou e percebi meu erro. — ...essa cara significava: é o seu.

Minha irmã deu uma piscadinha e senti minhas bochechas queimarem diante do olhar e risadinha dos meus amigos, mesmo com Jason e Percy sabendo que aquilo não era verdade.

— Por que tá todo mundo interessado no meu tipo? — Reclamei, abaixando a cabeça.

— Por que você é o único solteiro dessa mesa. — Jason respondeu. Por que eu sou amigo dele, mesmo?

— E Thalia? — Tentei compartilhar o fardo. Não é justo só eu sofrer bulliyng.

— Juramento de castidade, querido. — A Grace sorriu.

— Olha, não sou eu que saio por aí falando que Apolo é quente. — Retruquei com um sorriso. A Grace me fuzilou com os olhos, dando-me um tapa estalado no braço.

— Ai, não precisa me bater! — Reclamei, esfregando meu braço como se tivesse doído na alma.

— É o que,Thalia? — Jason perguntou divertido.

— Você não devia ser mais inocente, não menino?  — Thalia questionou, ignorando o irmão. — Pelo menos naquela época!

— Ué, mas apolo é quente mesmo. — Percy e sua santa ignorância!

— Cara, você não pode ser tão inocente. — Jason falou balançando a cabeça. Tá pra nascer alguém mais lento que Percy Jackosn. É, Annabeth, fica pra você que eu não tenho paciência!

— Percy é o menos inocente,  a diferença é que ele é lerdo.  — Comentei e senti minhas bochechas queimarem assim que terminei. Pelos deuses, eu e minha boca!

— Espera! — Percy falou, com uma expressão “eu acabo de descobrir o mistério do universo!” — Acho que entendi… Apolo, quente… Nossa, Thalia!

— Cale a boca, Cabeça de Algas. — Thalia mandou, sorrindo com as bochechas levemente rosadas. Eu não sou o único a ficar com vergonha!

— Só Annabeth pode me chamar assim. — Percy murmurou emburrado.

— Vocês competem com Jason e Piper pra ver quem é mais doce. — Falei fazendo uma careta.

— Nem todo casal é fofo e enjoativo. — Hazel argumentou e Percy retrucou:

— Mas você não foge da regra, Levesque.

— Frank sempre foi louco por você. — Ajudei meu primo, uma vingança pela gracinha de Hazel falando que Thalia era meu tipo. — Dava até dó quando você deixava ele na friendzone.

— E você, definitivamente, não ria disso, né? — Minha irmã falou erguendo a sobrancelha. Era divertido e fofo como o Filho de Marte de esforçava pra chamar atenção dela. — Frank  tentava me impressionar e eu ficava morrendo de vergonha. Ele demorou um pouco pra conseguir meu coração, mas, agora, é todo dele.

— E ainda diz que não são doces? — Ergui a sobrancelha, provocando. — E era divertido ele ter medo de mim.

— Frank é filho de Marte. — Jason explicou pra Thalia, que não conhecia meu cunhado. Cunhado. Mesmo com tantos anos de namoro, ainda é estranho pensar na minha irmãzinha namorando. — Ele é mais alto, mais forte, mais velho e mais poderoso que Nico.

— Mais poderoso? — Ela ergueu a sobrancelha. — Isso é algo raro de se ver.

Abaixei a cabeça, envergonhado, torcendo pros meus amigos não terem notado.

— Mas ele tem o coração mais puro que alguém poderia ter. — Percy falou, o que foi ótimo pra mim. — Não conheço ninguém tão bom quanto Frank. Não é à toa que ele é pretor agora.

— Ele é descendente de Netuno, Thalia. — Hazel respondeu à Grace. Lá se foram as esperanças de ninguém ter notado o elogio que ela me fez. Bom, eu acho que é um elogio. — Aliás, quando ele estiver no acampamento vai poder sentar com a gente?

— Não. — Falei, brincando.

— Pode sim. — Jason me lançou um olhar divertido por me contrariar. — Legados se sentam na mesa do parente olimpiano.

— Desde que ele é meu.. hum... — Percy pensou, ajudando a Jason. Mais um contra mim. Tá complicada essa vida. — sobrinho distante... ele pode se sentar com a gente.

Hazel me deu língua e acabei rindo. As conversas continuaram, inclusive as gracinhas com a minha cara, mas isso tudo me divertia, era bom ter a mesa que abrigava as crianças dos três grandes lotada de risos e brincadeiras. Mesmo que isso significasse atrair diversos olhares e ser observados como alienígenas. Era bom estar rodeado de amigos, da família.

Mas isso era raro. Meu ânimo começou a esvair quando pensei que em poucos dias a mesa ia esvaziar novamente. Percy e Hazel iriam embora assim que acabassem os jogos, Jason iria voltar pra São Francisco mais cedo e Thalia para as caçadoras. E, novamente, eu voltaria a ficar sozinho na mesa de Hades.

— Nico? — Hazel me chamou e a fitei. — Está planejando uma estratégia de batalha na sua comida?

Pisquei os olhos e percebi que ela se referia ao fato de que eu estava há algum tempo só remexendo no prato, sem comer nada.

— Algo assim. — Forcei um sorriso, evitando olhar para eles.

— Acho que ele está planejando o próprio funeral, Hazel. — Jason comentou e me perguntei se ele sabia o motivo pelo qual fiquei triste de repente. — Acho que alguém não arrumou o chalé direito.

— É bom, para a saúde dele, que esteja impecável. — Ameaçou e acabei rindo, tentando jogar pro fundo da minha mente o que me preocupava.

— Hey! Eu que sou seu irmão mais velho! — Reclamei, fingindo estar brabo. — Eu que devia dar broncas em você.

— Não faz diferença. Aliás, eu nasci primeiro.

Argumentou e eu acabei rindo. Não eram só os Graces que tinham problema com “quem nasceu primeiro não é o mais velho”.

Felizmente, fui salvo de responder por Valentina Diaz, que havia se aproximado da nossa mesa acenando para nós e agora estava parada ao meu lado direito.

— Hazel, Quíron pediu pra falar com você depois do jantar. — A nova conselheira do chalé de Afrodite avisou pra minha irmã, que assentiu e agradeceu. — Preparados para o jogo?

Meus amigos responderam animados enquanto a filha de Afrodite sorria, balançando os cabelos negros. Valentina tinha uns dezesseis anos e a beleza da mãe.

— E você, Nico? Preparado?

— Claro.

— Isso é bom. — Ela sorriu de um jeito que só uma filha de Afrodite conseguia. — Vou acabar com você.

Valentina deu as costas e seguiu para sua mesa, sem se despedir de ninguém. Observei enquanto ela seguia para a mesa do chalé dez, onde suas irmãs seguravam risadinhas.

— O que foi isso? — Hazel perguntou.

— Nada ué! — Dei de ombros, sentindo meu rosto novamente ficar vermelho. Acho que vou virar um morango até o fim do dia.

— Nada? — Minha irmã repetiu, com um sorriso malicioso.

— Talvez “nada” signifique outra coisa nessa língua, Hazel. — Thalia alfinetou.

— Outra língua? — Franzi a testa.

— Vocês estavam falando italiano. — Jason explicou.

Fazia sentindo: Eu e Valetina tínhamos mania de conversar em italiano, uma vez que era minha única compatriota ali. As vezes eu falava na minha língua materna sem perceber.

— Ah! Não é nada disso. Só estávamos conversando sobre o jogo. — Tentei argumentar, ainda me sentindo envergonhado.

— Sinto muito, Thalia. — Hazel me ignorou, virando-se para a Grace com uma expressão pesarosa. — Mas acho que você não é a única do tipo do Nico.

Meus amigos — que ótimos amigos! — começaram a rir diante do meu desconforto, mesmo sabendo que aquilo não era verdade.

— Ótima irmã você, Levesque! — Resmunguei, enquanto nossos amigos riam da nossa cara.

(...)

 

— Sinto muito, Nico. — Hazel falou mais uma vez quando chegamos ao chalé. Quíron pediu a ajuda dela no jogo, mas isso implicava que não poderíamos lutar juntos.

— Tudo bem, Hazel. — Admiti, depois que fiz bastante drama. Ela realmente estava ficando chateada com isso. — Eu só estava brincando, vamos ter mais chances assim. Não sei você, mas eu não pretendo morrer essa noite.

Brinquei e ela me olhou de cara feia, enquanto me jogava na minha cama. Os jogos iam começar em meia hora, mas dava tempo de procrastinar um pouco.

— Eu estava pensando numa coisa. — Comentou, sentando-se na minha frente. Mais uma pra roubar minha cama.

— O quê? — Perguntei, sentando-me com cuidado para não bater a cabeça.

— O que Thalia disse, sobre se morrer continuar morto...

— Hazel… — A interrompi.

— Eu sei o que você vai dizer! — Desta vez, ela me calou. — E não era isso, eu não me arrependo nem um pouco sobre ter voltado. Eu só quero dizer obrigada. — Falou suavemente, pegando minhas mãos entre as suas. — Por me trazer de volta, mas também por ficar comigo. Por ser meu irmão.

— Hazel… — Comecei, sem saber o que dizer. Ela apenas sorriu e me deu um beijo na bochecha.

— Anda logo, você vai ter que vencer os Graces sozinho… — Falou, quase levantando-se da cama, mas apertei sua mão.

— Hazel, espera. — Pedi, sentindo meu coração acelerar.

— O que foi? — Ela parou, fitando-me. — Algum problema?

Apertei meus lábios em um gesto nervoso. Os últimos acontecimentos, as últimas conversas que eu tive, tudo isso me fez ver que eu estava adiando demais uma coisa importante.

— É só algo que quero te contar. — Falei suavemente, abaixando a cabeça, sem conseguir olhá-la nos olhos.

Eu e Hazel éramos semideuses de outra época, crescemos com outros costumes, outras ideologias. O que no século XXI era normal, seria um escanda-lo antes de 1950.

— Aconteceu alguma coisa? — Ela perguntou e respirei fundo várias vezes, tentando criar coragem.

Eu disse isso pro meu pai”, pensei, “posso contar isso para Hazel.

Mas, a grande diferença é que eu me importo mais com Hazel do que com  Hades.

— Nico? — Chamou suavemente, soltando uma das mãos e a colocando sobre meu queixo, me fazendo fitá-la.

— Eu… — Comecei, sentindo a garganta apertar.

— Não precisa me dizer agora se não quiser.

Sim, mas se eu deixar pra depois, eu nunca direi.

— Eu quero. — Falei, procurando as palavras na minha mente.

Eu sou homossexual”, “Eu sou gay”, nada disso parecia certo. Então, vamos a enrolação.

— No jantar, — Comecei. — quando estávamos falando sobre tipo, sobre o meu tipo… — Parei um pouco pensando em como falar.

— Eu exagerei brincando? Me desculpe… — Começou a dizer e acabei sorrindo.

— Não, Hazel. Não é nada disso. Você não exagerou. — Ela suspirou aliviada. — É só porque você estava errada. Thalia nunca seria meu tipo, ou Valentina. Nem qualquer outra filha de Afrodite. Nem qualquer outra garota. Meu tipo é... garotos.

Deixei ela processar a última frase. Desviei os olhos para nossas mãos entrelaçadas, não conseguindo fitá-la. Não sabia o que esperar, não sabia como reagir, mas o silêncio que fazia mil paranóias surgirem.

Hazel apertou minhas mãos por fim, mas não tive coragem de erguer meu rosto.

— Nico. — falou suavemente.

— Eu sei que… — A interrompi, as palavras saindo sem eu querer. —… que na época que você cresceu… Bom, as pessoas diziam que era errado, que era pecado. Elas ainda dizem isso, mas…

— Nico, — Ela falou de forma firme, me interrompendo. Apertou minhas mãos e novamente ergueu meu rosto. Eu não consegui ler sua expressão, mas ela estava séria. — A época que eu cresci, que nós crescemos… Ela já passou. Já acabou. Era uma época terrível e eu fico feliz que acabou. Nós vivemos em uma nova época, eu aprendi isso nos últimos anos, então por que ficar preso a essas coisas no passado? Pra que viver em regras que não existem mais? Com preceitos que nunca tiveram lógica? Nascemos em outra época, mas vivemos agora. Não tem razão pra vivermos com costumes antigos.

Arregalei meus olhos com a última parte,  uma ideia terrível passou pela minha mente.

— Você está me dizendo que… Que você e Frank…

— O que?! — Exclamou, ficando vermelha. — Não… Nós nunca... Não é isso!

Senti minhas bochechas queimarem também, desviando os olhos da minha irmã. Estranhamente, estava satisfeito pela resposta ser não.

— Deuses! Nunca mais toque nesse assunto! — Ordenou e acabei rindo da situação. — O que eu quero dizer é que não me importo! Não com isso! — A olhei novamente e vi que ela estava nervosa e corada ainda. — Eu amo você, Nico. Você é meu irmão e eu amo você de qualquer forma! Não me importo se você gosta de meninas, se gosta de meninos ou não gosta de ninguém. Eu amo você.

Sorri e a puxei para um abraço, sentindo um peso enorme sumir do meu peito. “É estranho”, pensei, “fiquei tanto tempo com medo de não me amarem por ser gay e eles parecem me amar justamente por isso!”.

— Eu também amo você, irmãnzinha. — Sussurrei a apertando.

— Eu sei. — Ela riu, afagando meu cabelo. — Só tem uma coisa muito ruim em saber disso.

— O que? — Perguntei franzindo a testa e Hazel soltou um suspiro.

— Saber que Pipopinha não é real.

É, só falta explicar isso pros deuses.”.

 


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Notas finais do capítulo

Alguém explica pra Senhorita Levesque que Pipopinha é real sim?
OI GENTE!
Tive que adiar o jogo porque o capítulo ficou enorme (isso era só a introdução), mas preparem-se para o próximo! O povo vai lutar, lutar, lutar (miau!)!
Espero que tenham gostado!

*Vou fazer uma listinha do pessoal achando as referências. No final da fic eu dou um presentinho pra quem achar mais ♥

*Alguns leitores/escritores fundaram um grupo no facebook pra quem shippa Thalico. Entrem lá: https://www.facebook.com/groups/semidiosgreosouromanos/?fref=ts

*Game poser pergunta:
Se você encontrasse a Thalia, qual seria a primeira coisa que você perguntaria? E o que jamais perguntaria?

*Sobre o game poser: eu estou escolhendo um(a) vencedor(a) que respondeu algo envolvendo um trecho da fic ou do universo de PJO e outro(a) abrangindo toda a zoeira do universo. Por isso, os(as) vencedores(as) de hoje são:
DemonicMoon e Dama do Poente!


*Agora a parte triste: Provavelmente não vou conseguir postar semana que vem porque eu tenho que estudar pra prova de cálculo e eu sou péssima em matemática 3

Enfim, obrigada pela atenção de vocês!
E, fantasminhas, saibam que amo vocês também ♥


ATUALIZANDO:
Para quem queria ver um Strip do Nico, a (incrível) Dama do Poente fez essa maravilho short-fic, com direito à Will querendo levar o Di Angelo pra cama, mas aquele corpo é todo da Thalia. Leiam!
https://fanfiction.com.br/historia/620851/Forbidden/