Eu, Meu Noivo & Seu Crush — Thalico escrita por Helly Nivoeh


Capítulo 14
"Eu. Não. Estou. Louca!"


Notas iniciais do capítulo

Hey pessoinhas!
Eu sei que devia ter postado ontem, mas o capítulo estava muito ruim, então preferi reescrevê-lo e postar hoje...
Capítulo especial pra Vicky, como um presente de aniversário.
Eu sugiro colocarem músicas durante o capítulo, uma animada na primeira parte da luta (eu escrevi ouvindo está: https://www.youtube.com/watch?v=Cg_BBUgHRTA , mas a letra não tem nada a ver) e uma mais triste na parte com o Jason.
Boa leitura!



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— Nico? — Chamei, com os olhos fixos na hidra que estava mais irritada do que nunca. — Corte-lhe as cabeças.”

 

Os momentos seguintes foram tão rápidos que só com os reflexos de batalha a mil foi possível registrar e reagir. Os esqueletos cortavam com precisão as cabeças, enquanto eu invocava os raios o mais rápido possível, o cheiro de carne queimada invadindo o ar cada vez que a descarga elétrica atingia o local antes que outra cabeça surgisse. A cada corte a hidra avançava com mais raiva e velocidade, as cabeças investindo contra os esqueletos em uma fúria impressionante, as presas afiadas arrancado-lhes os membros até que se transformasse em pó.

Nico se revezava em invocar mais mortos-vivos e nos transportar pelas sombras todas as vezes em que o monstro ficava perigosamente perto. Infelizmente, nem sempre eu conseguia invocar um raio tão rápido quanto necessário, ou acertava com tanta precisão, dando tempo para a hidra criar mais duas cabeças e dificultar nosso trabalho. Uma das cabeças em especial, localizada perto do centro, recusava-se a ser cortada, atacando com mais rapidez e apetite que as demais e, mesmo que esteticamente igual as outras, seu pescoço era mais duro, as lâminas dos esqueletos tinham dificuldade em causar danos, ainda que superficiais, e cortá-la parecia realmente impossível.

— A cabeça imortal. — Arfei quando Nico nos transportou mais uma vez. A hiperatividade impedia que minha mente registrasse os efeitos negativos das viagens nas sombras. — A segunda, da esquerda pra direita.

— Percebi. — A respiração dele também estava acelerada. Não conseguia ver seu rosto porque ele estava atrás de mim, seu braço rodeando minha cintura para nos puxar pela sombra o mais rápido possível sem que impedisse os movimentos do meu braço com a lança. — Vamos acabar com as outras e depois cuidamos dela.

Mais cabeças foram cortadas e pescoços queimados, até que só restasse apenas a cabeça imortal. Isso havia deixado a hidra mais nervosa e rápida e eu começava a sentir minha força se esgotando, a adrenalina era a única coisa que me deixava consciente e reagindo. Nico não parecia menos cansado, as distâncias percorrida pelas sombras estavam cada vez menores, restavam apenas dois esqueletos investindo contra o monstro e eu desconfiava que o Filho de Hades estava tendo que escolher entre nos levar pelas sombras ou invocar mais.

— Vou ter que cortar a cabeça. — Ouvi a voz de Nico no meu ouvido quando mais um esqueleto foi reduzido a pó. — Talvez minha lâmina consiga cortar.

— Temos que ser rápidos. — Avisei, tentando agrupar a maior quantidade possível de energia, preparando-me para invocar. A hidra estava a três metros de distância quando fui novamente puxada pelas sombras, aparecendo a dez metros de distância. A mão de Nico abandonou minha cintura e vi sua figura aparecer perigosamente perto do monstro quando este estraçalhava o último esqueleto.

Enquanto as presas afundavam no morto-vivo transformando-o em pó, a lâmina de ferro estígio de Nico desceu sobre o pescoço do monstro, cortando-o como se fosse um machado sobre um osso, decepando a cabeça da hidra, que guinchou. A corrente elétrica que invoquei desceu sobre o local cortado em uma força tão alta que encheu o ar com cheiro de ozônio.

Sorri orgulhosa, esperando ver a hidra de transformar em pó, mas, ao invés disto, outras duas cabeças surgiram, como se nunca tivesse sido queimada. Arfei assutada quando a cabeça da direita avançou sobre Nico, pronta para dar-lhe o bote. Felizmente, os reflexos do semideus agiram rápido, ele se jogou no chão e rolou, escapando das presas afiadas por pouco. Quando a hidra investiu de novo, a lâmina de ferro estígio decepou novamente e desci outra descarga elétrica, queimando-a enquanto as sombras envolviam o filho de Hades e ele surgia do meu lado, arfando e pálido.

— Achei que você tivesse queimado! — Ele gritou. Mordi o lábio nervosa, novamente a hidra estava a menos de cinco metros da gente.

— Não foi suficiente! — Arfei e Nico tocou-me no pulso, nos transportando para o lado oposto.

    — Tenta mais forte. — Ele pediu. Podia sentir sua mão gelada ainda no meu braço, provavelmente já esgotado.

— Eu não consigo! Foi o máximo. — Tentei respirar fundo, ouvindo meu coração martelar. — Preciso de outra fonte de energia! Mas não há nenhuma aqui!

Olhei em volta a procura de alguma coisa pra nos ajudar, mas os céus ainda eram a melhor opção.

— A gente! — Ele gritou, apertando meu pulso, fazendo formigar. A hidra já estava vindo na nossa direção. — Usa a energia entre a gente.

Aquela era a pior ideia possível, eu sequer entendia porque existia tanta eletricidade entre nós dois, acreditar que poderia manipulá-la seria loucura, uma ideia digna de Percy.

— Não é suficiente. — Arfei. — Mas posso tentar juntar as duas. Se importa de ficar tostado? — Questionei, sabendo que talvez juntar as duas energias poderia causar um choque tão forte a ponto de nossos corações pararem de bater. Era uma péssima ideia, mas era sempre com elas que salvávamos o Olimpo.

— Só arrumem meu cabelo no funeral. — Ele afirmou e sua mão deslizou pelo meu pulso até a minha mão, apertando-a.

Podia sentir a energia passando por entre nós dois, os choques elétricos, como se nossos elétrons estivessem em uma guerra acirrada. Minha respiração se tornou mais acelerada, e, a cada vez que eu inspirava, era como se as cargas elétricas reagissem mais. A hidra estava a poucos metros. Ergui minha lança, concentrando-me em agrupar a energia para invocá-la mais rápido.

— Prenda a respiração. — Nico avisou sobre o hálito venenoso, quando o monstro ficou a cerca de cinco metros.

Fiz como instruído, meus olhos fixos no monstro que nos encarava como se pensasse “sério que vão ficar parados aí?”.

— Agora. — Nico sussurrou quando o monstro ficou muito próximo, a cabeça vindo em nossa direção para dar o bote. A lâmina de ferro estígio acertou a base do pescoço.

Mesmo sendo destro e o golpe foi dado com a mão esquerda, o corte de Nico foi preciso e forte, decepando o pescoço do monstro. Finquei minha lança no local antes que outras cabeças surgissem, chamando toda a energia acumulada nos céus e toda a energia que circulava entre nós dois,  unindo-as, concentrando-as na ponta da lança que adentrou a carne do monstro.

Houve uma explosão e a força desta nos jogou para trás. Meu corpo se chocou contra a terra batida, causando machucados por toda as minhas costas. Abri os olhos sentindo minha cabeça latejar, provavelmente a havia batido no chão, todo o meu corpo estava dolorido e pedindo descanso. Consegui me sentar com dificuldade, tossindo e sentindo meu peito queimar. Olhei para o lado e vi Nico, ele estava sentado e parecia tão dolorido quanto eu, tossindo também. Ele tampou o nariz e estendeu a mão.

Olhei na direção que ele estendia e vi a última cabeça da hidra ainda viva, nos encarando com a boca aberta a uns quatro metros, provavelmente liberando o hálito venenoso que nos fazia tossir. Lembrei-me que Hércules havia enterrado a cabeça imortal sobre uma rocha, provavelmente para que ela não se regenerasse ou continuasse matando pessoas com seu veneno. O chão sob a cabeça se abriu, gerando um buraco que engoliu os restos do monstro e se fechando em seguida.

Olhei para Nico e o vi se levantar, cambaleando. Ele parecia mais pálido que o normal e havia cortes superficiais por seus braços, mas isso não parecia incomodá-lo. Ele estendeu a mão para mim e aceitei a ajuda, me sentindo fraca.

— Você está bem? — Ele perguntou com a voz rouca. Assenti com a cabeça, observando o local onde o corpo hidra deveria estar. Não havia vestígio dela ali, só minha lança intacta, provavelmente a explosão havia sido suficiente para a essência do monstro voltar ao tártaro. Sorri aliviada, ciente de que eu não aguentaria um segundo round.

— Até que você não luta tão mal, Grace. — Sequer consegui responder, minhas vistas escureceram de uma vez senti meu corpo tombar. — Thalia!

Ouvi a voz de Nico e abri os olhos, atordoada. Ele me segurava pela cintura, apoiando-me em seu peito e com dificuldade de se manter em pé. Gemi, sentindo-me fraca.

— Jason! Me ajuda! — Nico gritou novamente e escutei outras vozes e passos. Minhas pálpebras estavam pesadas, então me permiti fechar os olhos por alguns instantes.

Senti alguém me tocar pela cintura e me puxar para si. Abri os olhos e vi que alguém me abraçava contra o peito, me apoiando, alguém mais alto do que eu e que tinha uma tatuagem no braço de algumas linhas negras, “SPQR” e uma águia. Jason.

— O que aconteceu? — Ouvi a voz do meu irmão perto do meu ouvido enquanto ele me ajudava a ficar de pé, novamente não conseguindo me manter de olhos abertos.

— Uma hidra. — Nico explicou. — Acho que ela usou muito dos poderes. Will, você tem poção de unicórnio?  Dê um pouco pra Thalia, ela está pior do que eu.

— Thalia? — Ouvi a voz gentil de Will. — Beba isso. — Afastei-me um pouco do meu irmão e abri os lábios, sentindo alguém colocar um vidro gelado na minha boca. O liquido tinha gosto de água com cloro e alguma coisa mais que não conseguia identificar, além de uma textura como se tivesse um pó bem fino. Tomei alguns goles e afastei com a mão a bebida, abrindo os olhos. — Você precisa tomar mais.

Neguei com a cabeça, sentindo-a latejar.

— Néctar. — Sussurrei, ainda sentindo como se houvesse poeira na minha boca.

Outro liquido me foi dado, desta vez com gosto de chocolate quente, que pareceu encher meu corpo de energia. Afastei-me de Jason sentindo-me melhor, mas ainda deixei que ele me ajudasse a ficar de pé, seu braço na minha cintura.

— Você está bem? — Ele perguntou e assenti com a cabeça. Olhei em volta e percebi que todos estavam nervosos. Nico estava sendo apoiado por Percy e Annabeth, bebendo de um vidro pequeno e escuro, enquanto Will o encarava com uma expressão preocupada e com raiva, em dúvida se perguntava se o melhor amigo estava bem ou se o socava.

Nico se desvencilhou dos meus amigos, parecendo bem melhor.

— Você está bem? — Ele perguntou, um sorriso brincando no canto dos seus lábios.

— Pronta pra outra. — Retruquei sorrindo. — E você?

— Se eu disser algo assim Will vai me matar antes que eu diga Pipopinha.

— Fico feliz que você saiba disso. — Apesar do tom mal humorado de Will, ele sorria de canto.

— Como foi que vocês conseguiram vencer sozinhos? — Annabeth perguntou, nos seus lábios brincava um sorriso malicioso.

— Melhor contar isso no carro, não sabemos se há outros monstros por aqui. — Chris, sendo responsável, recomendou. Ele segurava o pequeno Chuck no colo, que, aparentemente, havia caído no sono.

— Poxa, nem andamos no carrocel. — Nico brincou.

— Chris está certo, é melhor irmos. — Meu irmão ignorou o filho de Hades.

Enquanto todos seguiam a sugestão de Jason, desvencilhei-me dele, ainda sentindo meu corpo meio fraco. Senti um toque suave no ombro e me virei para trás, dando de cara com Nico.

— Acho que isso é seu. — Percebi que ele havia vestido a jaqueta novamente e tinha um sorriso mostrando as covinhas, enquanto me estendia o urso de pelúcia.

— Obrigada. — Agradeci, pegando o brinquedo de suas mãos. Nico deu de ombros e eu sorri, abraçando Pipo.

 

(...)

 

Meu corpo ainda estava todo dolorido quando chegamos ao Acampamento Meio-Sangue. Já havia passado do horário do toque de recolher, então nos esgueiramos pelas sombras até nossos chalés, tentando não chamar atenção das harpias e nem de outros campistas. Will provavelmente seria o que teria o maior problema de todos, uma vez que era menor de idade e o conselheiro chefe e, com certeza, seus irmãos sentiram sua falta, assim como aconteceria com Annabeth e Piper.

Quando que cheguei ao chalé de Zeus, troquei as roupas com cheiro de hidra frita e me enfiei de baixo das cobertas, mesmo sabendo que deveria esperar um pouco pra saber se havia alguma concussão ao bater minha cabeça.

— Você está bem? — Jason questionou abaixando-se ao meu lado, seus dedos gelados tocando minha testa e afastando os cabelos. Ele havia trocado de roupa em um dos cantos mais escondidos do chalé, onde havíamos colocado uma cortina improvisada.

— Estou. — Respondi suavemente com um sorriso. — Não se preocupe.

Ele assentiu com a cabeça, a expressão preocupada.

— Eu fiquei preocupado, quando te vi desmaiada nos braços de Nico. — Ele falou baixo, como se estivesse falando pra si mesmo. — Achei que tivesse acontecido algo.

— Jason, — Chamei, alcançando sua mão e a apertando. Seus olhos fixaram nos meus. Apesar de tons diferentes, o azul era o que tínhamos de mais parecidos. —  eu estou bem, sério. Um pouco dolorida e cansada, mas bem. Eu só me esgotei.

— Você não deveria ter se esforçado tanto. — Ele me repreendeu e senti um pouco de satisfação por isso.

—  Vai dar uma de Will? — Ergui a sobrancelha, sorrindo. — Eu que deveria me preocupar com você, irmãozinho. — O lembrei.

— Acho que agora você que é minha irmãzinha. — Me implicou. Sua mão esquerda ainda apertava a minha, enquanto a direita fazia cafuné no meu cabelo, eu tinha que admitir que aquilo trazia uma sensação de segurança.

— É normal sentir tanto sono? —  Ele assentiu, franzindo o cenho.

— Você não costuma usar seus poderes?

— Raramente. —  Admiti. — Confio mais no meu arco.

— Você pode usar os dois. Pelo menos, é o que faço. — Ele abaixo os olhos, como se estivesse embaraçado.

— Acho que não tenho controle sobre meus poderes. — Sussurrei, atraindo seu olhar. — Na caçada nós queremos lutar da mesma maneira que nossas irmãs, todas no mesmo nível, com sincronismo. Não queremos desenvolver nossas habilidades pessoais quando lutamos ao lado de alguém que um dia foi uma mortal. Somos um time.

— Parece uma grande família. — Jason disse no mesmo tom baixo que eu.

—  Deveria ser. — Murmurei, desviando os olhos, um pouco incomodada.

— Quem são as mais próximas de você?

— Eu não sei. — Admiti. — Quando eu entrei, Phoebe e Naomi foram as que mais me acolheram, elas estavam ali há muito tempo.

— E como elas são? — Jason perguntou suavemente e engoli em seco, me sentando e abrindo espaço para meu irmão se juntar a mim. Ele se sentou ao meu lado, debaixo das cobertas.

— Eram. — Me virei para ele, retraindo o lábio em uma expressão pesarosa. — Quando interceptamos Reyna em Porto Rico, quando ela levava a Athena Parthenum, Órion matou muitas de nós, caçadoras e amazonas. Elas estavam em uma das linhas de frente…

Jason fez a mesma expressão que eu, repuxando o lábio.

— Sinto muito. — Sussurrou sincero. — Tenho certeza que elas foram boas guerreias.

—  E eram. — Sorri, lembrando-me das inúmeras batalhas. — E ótimas pessoas. Phoebe estava sempre preocupada com nós, ela se sentia culpada porque deveria ter ido na missão para resgatar Ártemis, quando me tornei caçadora.

— Por que ela não foi?

— Os Stolls. Eles a intoxicaram em uma brincadeira. De qualquer forma, Phoebe se sentia responsável pela morte de Zoe e Bianca.

— Bianca? Esse nome me parece familiar… — Jason franziu a testa.

— Bianca Di Angelo. —  Expliquei e meu irmão expressou um “ah”, surpreso. — A irmã de Nico. Eu estava na missão em que ela morreu.

— Como ela era? Bianca.

Forcei minha memória para me lembrar da filha de Hades, havia tantos anos que parecia outra vida.

— Doce. — Respondi. — Eu não a conheci muito bem, mas acho que essa seria a primeira coisa que eu diria. Ela estava assustada no início, acho que todos ficamos quando descobrimos quem somos, mas eu senti um pouco de raiva dela. — Admiti e Jason fez uma expressão confusa.

— Raiva? Por quê?

— Por abandonar Nico. — Sussurrei olhando para minha mãos, nunca havia dito nada parecido e estava me sentindo um pouco mal por isso. —  Eu pensava que se eu te vesse novamente, se eu tivesse como viver com você de novo, eu nunca te abandonaria pela caçada. Eu nunca abandonaria você pra viver com várias garotas que eu nem conhecia, nem para ganhar a imortalidade. Eu acho que senti um pouco de inveja de Bianca por ela ter o irmão ao seu lado e raiva por ela se afastar dele.

 

Jason ficou em silêncio e me arrisquei a olhá-lo, observando sua expressão pensativa, ao encarar um ponto cego a sua frente. Eu não fazia ideia do que ele pensava, mas me surpreendi quando ele se virou para mim e sorriu.

—  Eu estou aqui agora. — Então o abracei, fechando meus olhos ao pensar em tantas noites que havia sonhado em abraçá-lo novamente, sonhando em abraçar meu irmãozinho sem medo de perdê-lo novamente.

Jason me apertou também em seus braços e percebi que um de nós dois tremíamos um pouco, podia sentir seu coração bater acelerado contra o peito quando o apertava mais, com medo de que ele se dissolvesse, com medo de acordar e descobrir que tudo não passava de um sonho, descobrir que eu havia perdido meu irmão quando eu tinha sete anos e jamais o encontraria novamente.

Esse medo me afligia desde o momento em que o reconheci em uma caverna anos atrás, em que ele só tinha uma leve lembrança minha e uma cicatriz de um momento que havia me deixado em pânico, o momento em que Jason havia se machucado com um grampeador e eu percebi quão frágil ele era e em como eu não suportaria perdê-lo. O dia em que Jason foi tirado de mim foi o dia mais doloroso de toda a minha vida, um dia pior até mesmo que o dia em que eu desfaleci na colina meio-sangue e me tornei um pinheiro.

O dia em que minha mãe entregou Jason aos deuses foi o dia em que haviam me tirado tudo, porque ele era tudo o que eu tinha na época. E agora que eu podia recuperá-lo, que eu podia abraçá-lo e saber que estava tudo bem, parecia o momento em que eu estava mais distante dele. Bianca havia trocado Nico pela caçada, eu havia feito a mesma troca as cegas.

—  Thalia, você está bem? — Jason perguntou, se afastando. Balancei a cabeça que sim e soltei um soluço, percebendo que em algum momento eu havia começado a chorar.

—  Estou. —  Sussurrei, tocando em seu rosto. — Vai dormir, irmãozinho, meu pequeno comedor de grampeadores.

Ele fingiu uma careta, mas sorriu.

— Tem certeza? — Passei no meu rosto limpando as lágrimas e assenti com a cabeça. Ele suspirou e se levantou. — Qualquer coisa me chame. —  Pediu e respondi novamente balançando a cabeça que sim.

— Boa noite, Thalia. — Meu irmão sussurrou ao se deitar e apagar a luz.

— Boa noite Jason. — Respondi, fechando os olhos.

Infelizmente, eu não consegui dormir. Toda a minha conversa com Jason rondava minha mente, me fazendo pensar nos vários “se”s da minha vida. Me fazendo pensar em como, às vezes, os deuses eram tão cruéis e egoístas como os titãs. O que os diferenciavam, afinal?

A última coisa que eu queria era pensar em Nico, mas me surpreendi ao pensar em como ele também havia sofrido, na nossa conversa sobre como havia sido nossas vidas quando éramos ainda crianças. Doze anos deveria ser a idade em que você se preocupa se sua amiga disse pra todo mundo que você acha um menino bonitinho e não se você vai sobreviver mais um dia. Isso me fez pensar em toda essa história de nos casarmos, em como meu corpo havia reagido ao dele, toda a energia entre nós. Em como eu quase havia beijado-o.

Mordi meu lábio inferior, tentando suprimir as imagens de seu rosto tão perto do meu que vinha na minha mente, tentando me esquecer do som da sua risada e todas as provocações que ele havia feito no dia, todos os indícios quem ele havia dado em saber sobre o casamento.

Já passava da meia-noite quando decidi que não suportava mais ficar sem saber se Nico sabia ou não sobre os planos dos deuses. Me levantei da cama em silêncio, torcendo pra Jason já estar dormindo, e vesti uma blusa de frio fina sobre a camiseta preta do pijama. Apesar de ser verão, o vento frio da noite atingiu-me e me deixou arrepiada ao abrir a porta pesada do meu chalé e me esgueirar até o chalé treze.

Felizmente não havia qualquer harpia por perto, mas ao me aproximar do chalé de Hades, tive receio que alguém me visse iluminada pelas tochas com fogo grego que brilhavam o tempo todo. Bati na porta de madeira escura, um pouco assutada pela arquitetura sombria do chalé e torcendo para Nico aparecer logo. Como ele não respondeu, bati de novo, nervosa. Já estava na quinta tentativa quando a porta se escancarou.

— Pelos deuses, Will. Você já não brigou o suficiente? — Nico reclamou, os olhos semifechados. Seus cabelos pareciam que haviam passado por um redemoinho, os fios negros indo pra diversas direções, ele estava sonolento, com um pijama amarrotado cinzento que o fazia parecer um zumbi aquela hora.

— Na verdade eu não sou o Will. — Murmurei, arrependida de ter ido ali.

— Thalia? — Ele arregalou os olhos. — Está tudo bem? Aconteceu alguma coisa? Jason está bem?

— Calma! — Pedi ao ser bombardeada de perguntas. — Está tudo bem, eu só queria falar com você. — Expliquei, apertando os braços a minha volta com frio. — Podemos entrar?

— Claro. — Ele afastou, me deixando ver o interior do chalé que estava  repleto de cortinas brancas.

— Aconteceu alguma coisa aí dentro? — Questionei, hesitando ao entrar.

— Quer dizer o fato de que meu chalé parece uma enfermaria? — Ele  perguntou, rindo. — É só Hazel. Ela insiste em dividir tudo sempre que está aqui.

Balancei a cabeça afirmando que entendia, mordendo o lábio.

— Que tal darmos uma volta? — Sugeri.

— Thalia, você sabe que o toque de recolher foi há muitas horas, certo?

— Por favor. — Pedi, assentindo. — É importante.

— Tudo bem. — Nico suspirou derrotado. Me virei e comecei a caminhar em direção ao refeitório. —  O que você tem de tão importante pra me falar?

Ele perguntou baixo, depois de um tempo. Mordi o lábio novamente, não sabendo como iniciar o assunto.

— Há quanto tempo você não fala com seu pai? — Perguntei, olhando a lua brilhante no céu. “Me dê forças para fazer isso”, pedi pensando em Ártemis.

— Algum tempo. — Ele respondeu evasivo. Parei e me virei para Nico, fazendo com que ele imitasse meu gesto. — O que está acontecendo, Thalia?

— Casamento. — Respondi e observei ele franzindo a testa.

— Que casamento?

— O nosso. Você sabe algo sobre isso? — Perguntei, olhando nos seus olhos.

— Thalia, você está bem? — Ele questionou, parecendo nervoso.

— Nosso casamento. — Repeti, como se ele fosse uma criança.

— Foi uma brincadeira. — Ele imitou o meu tom lentamente.

— Não estou falando desse casamento. — Revirei os olhos. — Estou falando do verdadeiro.

— Thalia, você não está bem. — Nico se aproximou de mim, tocando minha testa com as costas da mão. Senti um formigamento no local, mas continue impassiva.

— Eu estou bem, Nico. — Expliquei. Pra mim já era claro o suficiente que ele não sabia de nada.

— Tem certeza? Você sabe quem você é?

— Claro que eu sei quem sou! — Exclamei um pouco irritada. Ele continuava a tocar meu rosto, como se aferisse se estava febril.

— Então me diga quem você é. — Pediu.

— Eu sou garota que só anda de saltos altos por aí matando um monte de demônios e fazendo tatuagens. — Revirei os olhos novamente. — Eu não estou louca, Nico. — Ele me olhava como se eu fosse um bebê chorando e que ele era obrigado a cuidar enquanto manipulava reagentes químicos.

— Eu não estou dizendo que você é louca. — Explicou, nervoso. — Só estou dizendo que talvez fosse bom chamar, Will. Você bateu a cabeça e isso as vezes  pode deixar a gente um pouco atordoado…

    Suspirei e comecei a andar em direção ao meu chalé, o deixando sozinho.

— Thalia! — Ele chamou, pegando no meu pulso. — Espera!

Parei e o encarei, desvencilhando do seu aperto e cruzando os braços.

— Vamos chamar Will, vai ser rápido. — Pediu, histérico. Revirei os olhos pela terceira vez.

— Eu não estou louca, Nico. — Falei pausadamente. — Nossos pais estão. — Ele fez uma careta, olhando para os céus, me esperando ser fulminada. — Eles estão querendo nos casar. Eu e você. Casados.

— Thalia, nós já estamos em frente ao chalé sete, Will deve estar acordado… — Argumentou novamente.

— Eu. Não. Estou. Louca! — Repeti perdendo a paciência. — Quer saber? Adeus, Nico. — Virei as costas novamente, marchando em direção ao meu chalé.

— Ok! — Ele mais uma vez pegou no meu pulso e me fazendo parar. — Então que tal a gente conversar sobre isso?

— É o que eu estou tentando fazer! — Exclamei irritada, puchando meu braço para ele soltar. — Mas você só fica me chamando de louca!

— Vamos conversar sobre isso e pra ser imparcial talvez seria bom chamarmos uma terceira pessoa, sabe? Só pra saber o que ela acha…

— Se você tentar me enfiar no chalé de Apolo de novo, você quem vai precisar de Will pra tentar sobreviver! — Ameacei e ele ergueu as mãos como se rendesse.

— Eu estava falando de Annabeth. — Se defendeu.

— Primeiro que Annabeth já sabe, e acredite, ela não tem conselho nenhum pra dar além de rir bastante com tudo isso. — Avisei. — E segundo, eu não quero acordar o chalé de Atena todo uma hora dessa.

— Você acha que ela está no chalé de Atena? — Ele ergueu a sobrancelha, dando um sorriso malicioso. Fiz uma careta com isso.

— Quer saber? Amanhã conversamos.

— Thalia, calma. Vamos só dar uma passadinha…

— Se você falar do Will de novo eu te mato!

— Tudo bem! — Se rendeu. — Posso pelo menos te acompanhar até seu chalé?

— Você sabe que eu não estou louca, certo? — Questionei e ele desviou os olhos. Suspirei e dei as costas, indo em direção ao chalé um. Nico me seguiu calado, como se estivesse acompanhando um animal raivoso. Entrei no chalé e já ia fechar a porta quando ele me impediu.

— Acabei de lembrar que eu preciso pegar algo muito importante, sabe. — Mentiu.

— O que? — Ergui a sobrancelha.

— Uma coisa… Preciso perguntar ao Jason…

— Nem pense em acordar meu irmão! — Briguei.

— Mas é importante… — Tentou argumentar, em pânico.

— Saia do meu chalé agora, Di Angelo! — Ordenei. — Ou aí sim você vai me ver louca! — O empurrei para fora e bati a porta com força.

 


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Notas finais do capítulo

* Já que vocês pediram pela página no facebook, eu fiz pra compartilhar coisas relacionadas a fanfiction, curti lá: https://www.facebook.com/eumeunoivoeseucrush/?skip_nax_wizard=true

*Vocês acharam as referências do capítulo anterior! A maioria pelo menos, duas ficaram beeem escondidinhas! Vocês vão a desse capítulo?

*A vencedora do capítulo foi... A Lare. Eu realmente fiquei imaginando Hades fazendo propaganda. Sweet, me manda uma MP pra gente conversar sobre o prêmio!

*Pergunta do Game Poser:
O que o Nico estava fazendo de madrugada?
(de preferência -18, ok? '-')

Enfim, até mais!!!