Os sentimentos da Princesa Guerreira escrita por Kori Hime


Capítulo 15
Capítulo 15 — Como vivem os heróis na Terra




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A academia Stewart era um prédio de dois andares na esquina da Avenida Fountain com a Lindeb Boulevard. O prédio, datado dos anos trinta, possuía um clima bucólico da antiga época, mantendo as placas originais dos antigos armazéns de peixe que vinham do porto. Todo aquele saudosismo estava destacado em detalhes como os arcos nas portas de tijolo vermelho e vidraças quadriculadas brancas.

Quando Diana saiu do carro, após fazer uma breve verificação do perímetro com seu olhar clínico, ela se rendeu a um grupo de garotinhas que pulavam corda na calçada do outro lado da rua. A amazona atravessou a rua, enquanto Shayera cumprimentava um conhecido que saía da academia.

  — Vocês moram por aqui? — Diana perguntou para as crianças, que pararam imediatamente com a brincadeira para encará-la. — Desculpe, provavelmente suas mães disseram que não se pode falar com um estranho.

As crianças começaram a rir e saíram correndo. Diana sorriu, não as culpava de fugir daquela maneira, era um sinal clássico de autoproteção, embora fossem muito pequenas para compreender isso.

— Meninas, não é assim que tratamos uma heroína. — A mulher que se aproximou de Diana estava usando um vestido bastante colorido, um colar de pedras e cabelos encaracolados que cobria suas costas. — Elas gostam bastante da Supergirl. Meu nome é Jasmine, estou mais familiarizada com a Mulher Maravilha do que as crianças.

A mulher estendeu a mão e Diana apertou, sem usar muita força.

— Então você me reconheceu? — Diana perguntou, sentindo-se surpresa, afinal de contas, embora seu rosto fosse estampado nas revistas, ainda assim, não imaginaria que iriam reconhecê-la quando a encontrassem na rua vestindo calça jeans e camiseta de alças. Geralmente as pessoas a ignoravam, não imaginando que a Mulher Maravilha estaria numa fila do supermercado ou abastecendo um carro.

— Vai precisar de mais esforço para não querer ser reconhecida por aqui. Eu não sei se já ouviu falar, mas temos uma organização no bairro, John é um dos nossos membros, temos uma grande admiração pelo trabalho de vocês no mundo.

A amazona se sentiu constrangida por não conhecer a organização ao qual foi dito, mas era uma oportunidade para conhecer o trabalho que eles faziam naquele bairro.

Diana foi convidada por Jasmine para visitá-los quando estivesse disponível. A princesa amazona concluiu que isso poderia acontecer logo depois da sua visita à academia.

Jasmine despediu-se e correu atrás das meninas, anunciando a hora do almoço.

— Como vai, Diana. — John Stewart veio receber as heroínas na porta de sua academia. — Bem-vindas, já faz algum tempo que eu tento trazer outros membros da Liga aqui, mas estão sempre todos ocupados.

  — Sinto muito por não ter aceitado seu convite antes. Eu me sinto envergonhada por isso. — Diana respondeu.

— Não vejo motivos para vergonha, princesa. — Shayera comentou. — Cada um aqui tem seus projetos e vida pessoal, as vezes não dá para ser assim tão super e estar em todos os lugares ao mesmo tempo.

— Eu sei, eu sei. — Diana balançou a cabeça, seus cabelos estavam presos em uma trança, que se moveu junto à cabeça. — Eu quis dizer que, somos amigos, não somos?

— É claro. — Shayera e John responderam ao mesmo tempo.

— Então deveríamos nos atentar mais aos nossos amigos e suas necessidades, sonhos e conquistas. Estar ao lado deles, não somente na hora da luta. — Diana sorriu. — Sinto muito, não quero iniciar um discurso no meio da calçada. Força do hábito.

John concordou com um sorriso e a direcionou para a entrada da academia, dando diversas informações sobre o local.

— Estive pensando em uma reforma, mas precisamos de mais dinheiro. A estrutura é boa, só que esse prédio já possui oitenta anos, precisa modernizar o sistema de encanamento, esgoto e abastecimento de luz. Por enquanto, estamos trabalhando somente em algumas áreas, já que existem salas em que o teto está arriscado a cair.

— Posso ajudar a reconstruir. — Diana se prontificou para a tarefa.

— Seria ótimo tê-la conosco. — John a apresentou para alguns funcionários e eles fizeram uma excursão pelo prédio até chegarem ao segundo andar, onde os problemas aparentes deixava claro a idade do prédio. — O dinheiro é mais complicado. Estou juntando o que posso, e quando tiver uma soma razoável, poderei ir ao banco pedir um empréstimo.

Havia infiltração nas paredes e metade do telhado já não existia mais. Diana avaliou a situação. Ela sabia que aquele prédio foi comprado pelas Empresas Wayne e oferecido como doação. Uma das tantas doações que a empresa fazia. Entretanto, como Shayera contou no café da manhã, John Stewart não aceitou que Wayne fizesse a restauração do local. Diana reconhecia o esforço de John, e compreendia sua decisão.

— Esse é um lugar inspirador, John. — Diana caminhou de maneira cuidadosa até a janela, observando a rua.

— As pessoas aqui são cooperativas. — Ele cruzou os braços, pensativo. — Shayera me falou da sua ideia.

— Sim, eu gostaria de conversar com você sobre isso. É ainda uma ideia básica, estou sempre aberta a sugestões. Conversei com Jasmine, ela me falou sobre uma organização que você faz parte.

— É a associação dos moradores do bairro. Eles precisavam de ajuda para manter os filhos na escola e conseguir emprego, o bairro estava fadado ao esquecimento quando cheguei aqui. Aos poucos conseguimos renovar a imagem do lugar, impedir que a única escola dos arredores fosse fechada, e conseguir emprego para os moradores.

— Isso é maravilhoso.

— Jasmine tem uma agência de empregos, muitas pessoas conseguiram abrir seus próprios negócios, gerando mais trabalhos e trazendo pessoas de fora, então a comunidade prosperou. Mas ainda existe muito o que podemos fazer.

— Eu gostaria de saber mais sobre o projeto de vocês. Talvez podemos trabalhar todos juntos. Seria uma honra para mim.

John acompanhou Diana até o primeiro andar. Ele continuou as apresentações pela academia, até chegarem na lanchonete, um pequeno anexo que John permitiu que transformassem em um lugar onde todos poderiam compartilhar de uma boa alimentação.

— Hey! John. Vem provar meu suco, acabei de inventar. — Do outro lado do balcão, uma menina de aproximadamente doze anos estava com os cabelos presos dentro de uma rede de proteção, usando um avental branco, porém manchado com diversas cores de frutas. — Advinha o que tem aqui dentro?

Diana sentou-se em um banco ao lado de Stewart, ambos receberam um copo com a bebida.

— Vamos ver. — John bebeu um gole do suco e fez um pouco de suspense, deixando a garota ansiosa. — Tem laranja.

— Certo. — Ela falou sorridente.

— Amora e hortelã.

— Sim.

— Agora eu não consigo identificar o outro gosto, hmmm. — Ele olhou para Diana. — O que acha?

A amazona terminou de beber o suco, tentando adivinhar o último ingrediente.

— Hmm acho que pode ser... damasco?

— Sim! — A garota comemorou, embora estivesse crente de que eles não acertariam. — Acho que não tem uma fruta que a Mulher Maravilha não conheça.

— Tenho certeza que deve existir alguma fruta que eu não conheço nesse mundo. — Diana aceitou mais suco e bebeu de boa vontade, até porque, estava realmente bom.

— Mulher Maravilha. — A menina se chamava Malila, ela esticou o corpo no balcão e cochichou para Diana. — Você conhece a Supergirl?

— Sim, ela é minha amiga. — Diana também cochichou. — Gostaria de conhecê-la?

— Claro. — Malila mostrou-se empolgada diante da oportunidade, quando Jasmine entrou na lanchonete. — Mãe, eu vou conhecer a Supergirl.

— Que boa notícia, Malila. — Jasmine sorriu. — Mas já faz algum tempo que eu estou à sua procura, você se atrasou para o almoço.

— Eu estou cheia, fiz um sanduíche enorme e suco, quer provar, mamãe?

— Claro que sim, por favor. — Jasmine sentou-se ao lado de Diana. — Desculpe por Malila, muitas vezes ela não sabe a hora de parar. Se deixar, ela vai acabar pedindo para ir até a Torre da Liga da Justiça.

— Sua filha é uma garota muito atenciosa e gentil. Tenho certeza que a Supergirl adoraria conhecê-la.

Naquela tarde, Diana observou as atividades de Jasmine como presidente da associação dos moradores. No final do dia, ela foi convidada para jantar na casa de Jasmine. Ela vivia com a irmã mais nova, a mãe e a avó, além de suas quatro filhas. A aproximação com aquela família rendeu à amazona uma saudade de sua casa, quando a família se juntava ao redor da mesa para grandes banquetes.

Assim que as crianças foram para a cama, Diana acreditou que já era hora de ir embora. Não queria abusar da hospitalidade daquelas mulheres.

— John me falou sobre você querer trabalhar na academia. — Jasmine havia acompanhado a Mulher Maravilha até a porta, para se despedirem.

— Sim, eu queria poder ajudar as mulheres com técnicas de defesa pessoal, só que, depois de conviver um dia normal com as pessoas, fica claro que existem mais coisas que nós podemos fazer.

Jasmine moveu a cabeça, concordando.

— Eu fiquei bastante curiosa em saber como seriam essas aulas, posso reunir algumas pessoas interessadas e a gente faz um teste.

— Agradeço sua ajuda. — Diana despediu-se de Jasmine e decidiu caminhar até o apartamento, ao invés de voar.

As ruas eram movimentadas e havia música e conversas vindo de todos os lugares. Diana sabia que Shayera estaria na casa de Stewart, por isso não se importou em demorar mais para chegar em casa. Queria passar mais tempo na companhia das pessoas.

Ela finalizou a noite em um supermercado. Comprou alguns itens que faltavam na geladeira, que se ofereceu para reabastecer naquela manhã em um acordo com a nova colega de apartamento.

Na seção de frutas, Diana selecionou alguns damascos, recordando-se de Malila e sua determinação para se tornar uma chefe de restaurante, como contou Jasmine, após o jantar em que a garota colaborou com a preparação.

Diana parou diante da geladeira do supermercado, que oferecia uma quantidade razoável de sorvetes. Ela escolheu o de menta com chocolate e colocou dentro do carrinho de compras. Uma pessoa, que passava ao seu lado naquele momento, adicionou outro produto dentro do carrinho.

— Desculpe, o carrinho é meu. — Diana virou-se para avisar que ele havia colocado no carrinho errado.

— Achei que iria gostar de uma cobertura em seu sorvete.

— Bruce. — Diana não escondeu a surpresa ao vê-lo. Muito menos conseguiu disfarçar o sorriso. — O que está fazendo aqui? — Ela perguntou, abaixando o tom da voz, embora não houvesse mais ninguém naquele corredor do supermercado.

— Soube de sua mudança. E como eu vim para um jantar aqui na cidade, pensei em passar para cumprimentá-la. — Bruce falou, abrindo a geladeira do supermercado e acrescentando mais alguns itens dentro do carrinho.

— E por acaso você estava passando exatamente por essa rua, decidiu entrar nesse supermercado e me encontrou aqui. — Diana não poderia negar que sentia uma euforia ao vê-lo, mas também achava preocupante a surpresa, não sabia se estava pronta para deixar Bruce invadir sua vida, o apartamento e a mudança, como foi da última vez.

É claro que a amazona não imaginava que ele fosse comprar o prédio em que morava, ou contratar um porteiro para o prédio.

— Estou hospedado no Ritz, pensei em dar uma passada aqui. — A voz dele era despretensiosa e o charme de Bruce Wyane exalava com naturalidade.

— Eu não conheço muito bem a cidade, mas tenho quase certeza de que esse hotel é bem longe daqui.

— Eu tenho um helicóptero. — Bruce lançou uma piscada de olho e decidiu empurrar o carrinho de Diana. — Que tal um vinho?

— Não sei se aqui tem os mesmos vinhos que sua adega, senhor Wayne.

— Eu posso me adaptar, senhorita Prince.

— Muito bem, então eu aceito um vinho.

O apartamento estava escudo. Diana acendeu a luz assim que passou pela porta e deixou as compras em cima da bancada que dividia a cozinha e a sala. Bruce entrou logo em seguida.

Diana começou a organizar os produtos dentro do armário e da geladeira, enquanto Bruce Wayne afrouxava a gravata e olhava pela janela do apartamento.

— É bem aconchegante. — Ele comentou.

— Esse aqui é menor que meu antigo apartamento, mas eu gostei bastante. Os vizinhos são agradáveis e o bairro é bem alegre. — Ela terminou a arrumar as compras e decidiu abrir o pote de sorvete.

Serviu duas bolas de sorvete em duas taças de vinho, improvisando, já que não encontrou nenhum recipiente que pudesse usar. Finalizou com a cobertura que Bruce havia pego, entregando para ele uma das taças.

— Como está Damian? — Diana encontrou um assunto que pudesse trazê-los para a uma conversa mais neutra. Sentou no sofá, tirando as almofadas do caminho para que Bruce também pudesse sentar.

— Ficou com Alfred em Gotham, não quis vir para Nova Iorque com medo de eu levá-lo a Broadway para ver Cats, ou qualquer outro musical.

— Aposto que ele gostaria mais de Hamlet ou Rei Lear. — Ela sorriu, sentindo uma naturalidade com a presença de Bruce ao seu lado.

— Talvez ele se interesse mais com Édipo Rei, mas duvido que ele aceite o final em que o rei fere os próprios olhos.

— Acho que Damian iria gostar de conhecer um lugar que eu visitei hoje.

Diana passou a falar sobre sua visita daquela tarde. Bruce pareceu interessado e prestou atenção em tudo o que ela dizia, fazendo algumas perguntas sobre a infraestrutura da academia e como John estava trabalhando, sem interferir ou oferecer sua bondosa ajuda. Os dois sabiam como jogar aquele jogo dali em diante. Afinal, a amazona deixou claro os motivos de ter se mudado e a firmeza na hora de pagar a conta no caixa do supermercado.

— Tenho certeza de que vai ser um trabalho incrível. — Ela finalizou, sentindo um pouco de sede após terminar de comer o sorvete. Bruce se ofereceu para abrir a garrafa de vinho, enquanto Diana lavava as taças para utilizá-las novamente.

— Alfred está ansioso para preparar mais alguma delícia grega, quando puder nos visitar, será uma honra. — A mão de Bruce encontrou a de Diana, quando ele serviu a taça. Ela notou que ele vinha se esforçando para uma aproximação mais íntima.

— Alfred sempre tão atencioso. Eu comeria suas refeições para sempre se pudesse.

Com as taças em mãos, eles brindaram, bebendo o vinho em seguida. Bruce deixou a taça em cima do balcão e sugeriu beijá-la, mas Diana decidiu que era cedo para continuarem de onde pararam.

— Creio que já deu a minha hora. — Ele falou, segurando a mão de Diana e depositando um beijo nela. — Boa noite, Diana.

— Boa noite, Bruce.

Diana abriu a porta para que ele pudesse sair. Logo que fechou a porta, a amazona sentia que precisava de mais vinho para encarar o turbilhão de pensamentos daquele momento. E, é claro,  mais sorvete.


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Notas finais do capítulo

Beijos e obrigada aqueles que acompanham a história e comentam apoiando quem escreve.



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