Os Descendentes e a Floresta Sombria escrita por Capitain Fabbris


Capítulo 2
Táxi-canoa-avião


Notas iniciais do capítulo

Oi gente! Espero que tenham gostado do primeiro capitulo!
Esse é o segundo (não depois do primeiro vem o quinto --') e será narrado por Breno.
Hoje também vão conhecer um pouco dos nossos Deuses.
Espero que gostem e boa leitura!



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Emma caminhava um pouco a frente, encarando o homem sem cabeça que nos guiava. Sim, um homem sem cabeça andando, livremente como se houvesse aberto o jornal do dia “Capricórnio: um ótimo dia para quem não tem cabeças andar pela rua e sequestrar jovens entediados. O dia pode ficar complicado no período de chuva e poderá morrer afogado. Leve um guarda chuva.” Eu simplesmente não podia acreditar nisso. Quando o vi parado tomando um café pensei em gorfar, gritar feito uma criança de dois anos ou correr, mas algo dentro de mim parecia dizer para ficar. Era como se um vazio que tanto fazia parte das minhas depressões estivesse se completando.

É, eu estou ficando louco, o homem sem cabeça completou o vazio do meu coração, que romântico! Consigo até ver meu perfil do facebook se atualizando. “Breno Millac está em um relacionamento sério com a Lua”.

Emmilia. Não conseguia entender como ela não havia se assustado ou passado mal. As vezes pensava que ela poderia se tratar de um robô. Sempre seca, corajosa. Certa vez, estávamos passeando em um shopping e um homem jovem, pelo menos aparentava, estava trabalhando em um estande de Vinho. Foi uma cena infeliz. Ao ativar a válvula para pegar um copo de vinho que ia ser servido para um senhor, a pressão do grande barril amadeirado se exaltou e simplesmente explodiu. Voou vinho para todo lado, sangue para todo lado. O corpo instantaneamente morto do homem caiu no chão. Quase desmaiei. Algumas garotas vomitaram e Emma? Ah sim, parou, olhou com um olhar assustadoramente curioso e me falou “Olha Breno! O cérebro dele voou! E a distância é a mesma da menina que foi atropelada perto de casa! Que mara!”. É, essa é Emma, seca, ciumenta, maligna.

Talvez a personalidade forte de Emma se contraste com sua aparência. Mili é pequenina, quase uma anã. Tem 1,50.. não 1,52 – seus super dois centímetros importantes – metros de altura. É magra e se disser que seu corpo evolui todo dia, vocês não vão acreditar. Sempre tivera grandes quadris. Bonitos, redondos. Coxas feitas para dormir. Isso, na verdade sempre foi igual. O que mudara nela foram seus seios. A um ano atrás eram pequenas picadinhas de mosquito e hoje eles mal cabiam em suas roupas. Era um crescimento exponencialmente grande, mas não poderia reclamar, o corpo dela era maravilhoso. E não reclame, sou homem e melhor amigo, tenho direito de olhar.

Seu rosto parecia de uma garota de 15 anos de idade, pele lisa ausente de espinhas, bochechas avermelhadas e gordas e lábios delineados, sua boca parecia ter sido desenhada por um Deus. Nariz pequenino e arrebitado, cabelos longos – e coloque longos nisso, batiam no começo da sua bunda – e de um loiro colorido, pelo que sabia seu cabelo era castanho, mas fazia muito tempo que ela não deixava no natural. O que mais me impressionava era seu olhar: seus olhos eram, quase sempre, negros, escuros, como um espelho enorme onde se refletia toda sua alma e sentimentos. De tamanho gigantes, era incrível como toda sua íris ocupava uma parte enorme de seu olho, bem maiores do que o comum, as vezes parecia que ela vinha de um anime. No geral, Emma parecia uma princesa romântica, mas por dentro ela era o demônio.

O lugar que nós estávamos era literalmente o mesmo. As mesmas lojas, as mesmas vitrines, os mesmos brinquedos dentro da loja. Era como se literalmente as pessoas tivessem sido abduzidas e por conta de meus pecados, eu tenha ficado para viver para sempre com uma Garota maluca, piadas ruins e um homem sem cabeça. Talvez fosse meu carma, afinal. De qualquer forma  o shopping tinha uma diferença bem marcante sobre o shopping que estávamos a alguns minutos atrás, ele não tinha pessoas, ninguém caminhando independente de onde fosse.

— Breno – Isaque se virou, tirando meus pensamentos notavelmente estranhos – Sabe o que é legal? Que posso falar o que quiser porque ele não vai ficar de cabeça quente.

Coloquei os dedos ente as têmporas, agora avermelhadas pela pressão. Que Diabos que deu em Isaque quando ele nasceu. Desde que o conheci, ele era o mestre em piadas ruins, e acredito que qualquer um desistiria de passar um tempo ao lado dele depois de tanta piada sem noção.

Não sei por quanto tempo caminhamos por entre algumas ruas depois de sairmos da entrada principal do shopping até pararmos em um ponto de taxi. Agora, reparei, era mais comum ver algumas pessoas passeando, mas com uma frequência bem pequena. Certo momento uma mulher de talvez uns 30 anos de idade passou por nós, fazendo um certo movimento de cumprimento ao senhor Lua. Não teria pensado nada sobre ela se a mulher somente tivesse passado e sumido como um ponto negro atrás de nós. O maior problema foi que a mesma deu um urro  - talvez de força, de dor, de qualquer coisa anormal – e quando me virei para trás, ela estava com uma melancia em suas mãos. Claramente uma das maiores melancias que já vi na minha vida, e tudo indicava que ela havia PARIDO a fruta.

Ficamos parados por alguns minutos no ponto de ônibus antes que o taxi mais estranho aparecesse para nos buscar.

Ele não era nada parecido com o taxi brasileiro que nós estávamos acostumados. Não era branco, com um motorista sempre exótico que iria te roubar e te levar pelo caminho mais longo e congestionado. Muito menos era o taxi dos filmes americanos, amarelos, com um o xadrez preto na lateral e o mesmo motorista exótico, só que dessa vez falaria outra língua e não entenderia nada do “7th avenue” e te levaria para uma ponte onde ela provavelmente iria ter 1) Um ataque alienígena; 2) Monstros; 3) Zumbis; Não. Nada disso. O taxi era parecido com uma canoa metalizada, com uma pequena saída de fumaça em sua lateral, totalmente branco. Nos dois lados paralelamente duas asas parecidas com a de um avião estavam postas, turbinas ligadas girando fracamente.

— Lua! Novos recrutas para nós? – Um índio. É UM INDIO DIRIGINDO UM TAXI. Eu realmente já havia visto de tudo, já tinha andando de taxi com um homem esquisito. Já havia andado de taxi com um senhor com o pé na cova que falava com sua mulher morta, mas nunca por um índio vestido com penas de todos os tipos e que tinha um grande cocar na cabeça, além de um acessório único: um óculos de aviador – Quatro de uma vez? Isso não parece bom. Bom, de qualquer forma, pode ir para seu canto, eu fico com eles.

Vamos tentar retomar minha vida nestas ultimas horas: Eu estava no Starbucks com meus amigos, uma explosão acontece, uma pessoa é abduzida, um cara sem cabeça toma um café com a gente e diz ser a lua, uma mulher pariu uma melancia gigante e agora um índio em um taxi-canoa-voador aparece e nós precisamos entrar lá? Nem por um caralho.

— Eu não vou entrar ai – reclamei, já virando as costas e começando a andar. Sim, sou birrento, algum problema com isso?

— Breno! BRENO! – Foi Emma que me segurou, suas mãos estavam frias, úmidas – Por favor, nós não temos para onde ir.

— Eu acho que não temos muita escolha mesmo.

— Concordo com Leo, o que pode dar errado afinal? – Esse tipo de frase saindo do Isaque? Bom. Tudo

— Breno, por favor. Como vamos sair daqui? Pense no Pin.

Era fácil me conquistar. Eu sempre fui muito afastado de família e relacionamentos, mas se existia algo que amava, era meu cachorro mausoléu chamado Tampinha. Não sei o que faria sem ele.  E Sim, tampinha, tinha 4 anos de idade quando dei o nome. Era somente uma criança. Segurei o ombro de Emma enquanto voltava para o taxi ao seu lado.

— Parece que temos uma vencedora aqui não? Ihu. – Logo em seguida, deu um tapa no ombro de Emma, quase deslocando o mesmo. Ela retribuiu o “carinho” com uma grande careta mas muito, muito irritadiça, e pelo que puder perceber por um segundo, ele também não havia gostado muito dela.

Essa provavelmente foi a pior viagem de taxi-canoa-avião da minha vida.

A coisa que estávamos andando levantou voo. Se você pensa que estávamos prontos a partir em um voo de classe A, estava enganado, a verdade é que eu consegui ver a morte pelo menos umas 147 vezes antes da canoa pousar.

Ao menos, para quem gosta de futebol e é Palmeirense, passar por cima do estádio renovado do Palmeiras foi incrível. E até descreveria mais o cenário se não estivesse tão atormentado pelas alturas. Eu odeio lugares altos, e ficar em um taxi voador que não tinha segurança nenhuma não ajudava em nada, claramente.

No geral, poderia se dizer que ficar em cima das nuvens sem ser por um avião que cobria toda a visão, a não ser pelas pequenas janelas ovais era um privilégio. O Sol raiava atrás de nós fortemente, aquecendo minha camisa azul escura, deixando uma ardência e provavelmente uma futura e horrenda marca de camisa em meus braços – sem contar que não tinha a sorte de Emma. Ela era tão pálida quando eu e mesmo assim, ficava morena. Eu já parecia um camarão. O céu estava azul, não sei dizer se mais claro do que parecia, ou se o fato de estar nas alturas ajudava na mudança de cor.  Poucas nuvens pairavam no ar, mas quando se passava por elas, era uma sensação única e que todos os humanos deveriam passar ao menos uma vez na vida.

— E quem é você? – foi Isaque que cortou o silêncio. O índio de óculos se virou para ele e o encarou – Só pra saber, claro.

— Abeguar, mas vocês já devem ter ouvido falar de mim. – ficamos em silêncio, o encarando.

— O supremo voador?

Como se fosse coreografado, fizemos não com a cabeça.

— Hn, devem ter me conhecido como “O rasante dos céus?”

— Não, na verdade não – Leo olhou, ignorando a raiva que saia dos olhos do índio.

— Eu sou o DEUS DO VOO! – O taxi balançou furiosamente, e percebi que talvez fosse meu ultimo dia de vida.

— A certo. – Emma olhou com desdém, isso poderia ser um problema se ele realmente fosse um Deus – Não. Nunca ouvi falar de você.

Se eu não conhecesse Emma, se nós não estivéssemos em um universo paralelo com índios modernos se autoproclamando Deus, eu diria que estes dois já tentaram se matar algum dia. Abeguar, o supremo voador, olhou para Emma com um ódio e tive certeza que ele teria virado o táxi se não fosse contra as regras de segurança do cliente (será que isso existe aqui?) matar alguém enquanto está transportando uma pessoa, sem contar que Emma precisou abaixar a cabeça antes que tivesse se trombado com uma ave do tamanho da minha coxa. E eu joguei futebol, ela não é pequena.

— Para onde nós estamos indo? – Perguntei enquanto me segurava na “porta” – Será que não pode simplesmente deixar a gente em casa e você tira essa cara de cu?

— Ah sim, descendente, adoraria deixar você, seus amigos e esse demônio em forma de mulher, mas não, não posso deixar. Preciso cumprir meu trato.

— Qual é seu problema peladão? – Emma encarou, ficando com os olhos mais escuros do que poderiam ser? Você que sequestra a gente e eu que sou o Demônio? Vai voltar pra sua tribo e se pintar de vermelho.

Emma nunca na sua vida devia ter feito isso.

— Eu sei quem você é, e vou te seguir pelo resto da sua vida. – O problema, de verdade não foi a ameça de um Deus e sim o fato de que ele havia tirado as mãos do volante e desesperadamente o taxi começou a cair, Leonel tentava inutilmente arrumar – Sei quem governa seu corpo, sei o que você é. E se eu tiver chance de acabar com você, minha querida. EU VOU.

— É? – Se fosse eu, teria ficado no mínimo quieto, mas é Emma – Você parece mais um servo nosso do que um Deus do mal, sério.

Bom. Podemos dizer que Emma nos fez emagrecer. O Deus do céu desceu o táxi-canoa-avião com força, fazendo um pouco que poderia ter nos levado a morte. E virou-se para Isaque (parece que ele havia pego um pouco de carinho pelo menino) e explicou o caminho que deveríamos fazer. Por sorte, Isaque era o único menos perdido de nós quatro, o que nos rendeu uma caminhada Breve, mas não curta. Foram no mínimo quatro quadras em uma região que nunca vi de São Paulo antes de entrar em um prédio abandonado e esquisito.

E lá vamos nós com nossa nova aventura. Eba.


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Notas finais do capítulo

E ai galera? Gostaram?
Agora já conhecem Emma e um dos milhões de Deuses que nossa mitologia tem.
Sei que vocês tem muito mais o que saber sobre eles e assim que tiver palavras suficiente os três dicionários estarão postados



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