Orgulho e Preconceito escrita por Mokocchi


Capítulo 9
Coberta amarela


Notas iniciais do capítulo

Capa nova por motivos muito importantes: eu quis. E bem, eu adorava a outra mas, de alguma forma, me senti mais confortável com esta.
Capítulo curtinho, digamos que eu ando sem inspiração nenhuma, mas não deixa de ser um capítulo importante.
Um agradecimento a todos que acompanham a fanfic, comentam, favoritam, vocês são incríveis! E RodrigoSnts, muito obrigada pela recomendação! Esse capítulo é seu ;)
Boa leitura!!



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Judy e Nick criaram o hábito de assistir filmes alugados aos domingos, embora a raposa fosse totalmente contra a “burrice” de pagar por um filme que pode se ver de graça. A coelha chegou ao apartamento do parceiro por volta das sete e meia da noite, tinha acabado de voltar da locadora, vazia, como esperado.

Nick já estava sentado no sofá quando ela chegou, estava vestindo aquela blusa verde e velha que costumava usar na época em que ainda vendia patolés, e ela não pode deixar de suspirar nostalgicamente ao vê-lo daquele jeito.

— Vendendo patolés de novo, Nick? – ela brincou, sentando-se no sofá ao lado dele. Só assim ele notou sua presença e não perdeu tempo para revidar:

— Só quando você não está olhando – sorriu, ajustando sua gravata roxa.

— Isso me lembra que você tem uma dívida um tanto... pendente com a polícia – o intimidou mais uma vez, na expectativa de fazê-lo esboçar um pouco de desespero. Mas, como sempre, ele apenas levou na esportiva e continuou a brincadeira.

— Estou pagando tudo o que devo estando na polícia – ela levantou uma sobrancelha, ele riu. – Pensou que eu aceitei o trabalho por sua causa, meu amor?

— Não. Sei que você não passa de um trapaceiro – ela sorriu debochadamente para ele.

Golpista, você quer dizer.

Depois de rir um pouco, Judy estendeu a sacola com o disco em DVD dentro, a raposa a tomou de suas mãos no mesmo instante. Mas, a locadora era daquelas que entregava uma capa lisa, sem o título do filme.

— Que filme você escolheu? – ele perguntou, já se levantando para colocar o disco no aparelho.

— Promete não me bater? – mesmo com certo receio, ela ria, principalmente quando ele deu uma pausa e olhou para ela, e sua expressão foi de dúvida ao desprezo.

— Por favor, não me diga que você escolheu um romance – perguntou com certo desespero, mesmo já sabendo a resposta. Ela fez que sim com a cabeça e ele resmungou, Judy riu mais. – Já falei mil vezes que odeio romance.

— Ora, vamos – ela fez o possível para não parecer que estava achando graça dele –, eu também não sou muito fã, mas Venus disse que esse era bom.

Ele levou a pata ao queixo e ficou alguns segundos em silêncio olhando pro nada, pensando. Rendeu-se a um suspiro.

— Venus tem bom gosto, então... posso relevar dessa vez – Nick colocou o disco no aparelho enquanto Judy fingia, talvez para si mesma, não ter ficado desconfortável. Pegou o controle remoto e voltou a sentar ao lado da coelha.

O disco carregou, a tela tornou-se preta, e logo em seguida a tela partiu-se para a seleção de idiomas. Logo acima das opções estava o nome do filme, “Orgulho e Preconceito”, nenhum dos dois já havia ouvido falar, mas, se foi indicado por Venus, não custava dar uma chance.

Nick levantou-se do sofá numa velocidade de quem acabara de lembrar uma coisa muito importante.

— Que tipo de animal vê filme sem pipoca? – pareceu perguntar para si mesmo enquanto se dirigiu para a sua cozinha, a qual era aberta para a sala, assim como todos os apartamentos. – Gosta dela caramelada?

— Nunca provei – respondeu a coelha que se aconchegava mais no sofá.

— Sério? – perguntou num tom surpreso, como se acabasse de ouvir algo absurdo. Sorriu e abriu o pacote de caramelo que vinha junto com a pipoca. – Cenourinha, está prestes a descobrir um dos grandes prazeres da vida.

A pipoca ficou pronta no momento em que os trailers acabaram, Nick levou o pote quente até o meio do sofá e esperou que a coelha provasse antes de qualquer coisa.

— Ai! Gruda no dente – exclamou a coelha, realmente isso era um problema para os roedores. Arrancou o caramelo grudento com a língua e voltou a mastigar a pipoca, assim que engoliu, ficou alguns minutos pensativa com a pata no queixo. – Doce... salgado... sabor interessante – disse esboçando um sorriso.

— Gostou?

— Gostei – Nick sorriu, todo orgulhoso.

— Melhor que suas cenouras, confesse – debochou com seu sorriso característico.

— Nada é melhor que cenouras – disse ela, sorrindo com orgulho de suas origens.

— Que nojo.

Você é um nojo – eles riram.

— Cala a boca, vou apertar play.

Os dois policiais apenas abriram a boca para comer a pipoca depois dali, de fato, não era um filme ruim. Passava-se no século XIX, o que geralmente era sinônimo pra chatice, mas não era lá um romancezinho meia-boca.

Judy estava cada vez mais encantada com o caótico romance de Darcy e Elizabeth, e pensou que Nick sentia-se da mesma forma, mas, ao olhar para ele, se decepcionou com seu olhar fixo ao próprio telefone, mexendo os dedos com rapidez. A coelha suspirou em decepção e lhe deu um soquinho no ombro, quase derrubando o celular.

— Nick, eu não paguei cinco dólares pra você ficar mexendo no celular – reprimiu, dando pausa no filme usando o controle remoto. – Se não tá gostando do filme avisa, só não fica aí jogando candy crush.

— Perdoe a pobre raposa – ele sorriu ainda com os olhos sobre a tela, digitando sem parar –, acredite, estou gostando do filme.

— Então larga esse celular – ela cruzou os bracinhos.

— Não posso – ele apertou o último botão e colocou o aparelho sobre a coxa –, a Venus não para de me mandar mensagens.

Judy sentiu aquele arrepio na espinha, o que sempre surgia quando Nick falava de Venus, o que ela sempre questionava. O desconforto é inexplicável quando não se tem conhecimento do que sente. E que sentimento seria esse?

— Oh... – foi tudo o que ela conseguiu dizer.

Mirou os olhos arregalados para o celular de Nick, que vibrava mais uma vez, tudo o que ela pode ver foi uma mensagem com o nome Venus em cima, e esta dizia algo do tipo “Ah, nós podíamos fazer alguma coisa...”, não pode ler que coisa seria essa pois a raposa desbloqueou a tela e continuou a responder na mesma velocidade de antes.

Nick sorria para a tela, e pela primeira vez, um sorriso dele não a fez sentir-se nas nuvens. Este foi como jogá-la num mar de espinhos, um mar confuso e inexplicavelmente assustador.

— Heh – ele colocou o celular sobre o colo mais uma vez e, enfim, olhou para Judy com aquele mesmo sorriso, ainda com certo humor no olhar –, acho que você tinha razão, cenourinha – ela não conseguiu dizer nada, nem esboçar um sorriso fingido. – Tenho 99% de certeza que ela tá na minha.

— Ah – Judy teve certeza que sua voz criou vida própria, provavelmente impacto da pontada que sentira em seu peito. Levou a pata ao dito cujo e apertou o tecido da camisa, mil perguntas giravam em sua cabeça, mas não havia tempo para responde-las pois havia começado a falar, e não podia simplesmente deixar o amigo no vácuo. – Eu avisei.

Nick riu, e voltou a digitar no celular. Aquela imagem do amigo sorrindo para a tela trazia arrepios estranhos, fazia todas as perguntas possíveis voltarem a atormentá-la, nada mais fazia sentido.

“Por que não consigo falar nada? Por que esse sorriso me incomoda tanto?”, pensou, sem notar que suas orelhas haviam abaixado. Coçou a cabeça, “Tem alguma coisa errada comigo...”

— E você... – seus lábios criaram vida de novo, ela deslizou o corpo pelo sofá, se aproximando dele, nem acreditando no que estava prestes a perguntar – gosta dela?

Agora que teve alguns segundos de silêncio para pensar, começou a se perguntar porquê, de todas as perguntas, fora essa que ela conseguiu fazer a ele. De um lado, sentia-se envergonhada, de outro, aflita.

Aflição... Seria esse o sentimento que sentia quando Nick falava de Venus?... Não.

— Hum... não sei – Nick a fez sair de seu transe, pensativo com a pata no queixo. – Acho que não.

Judy não soube porque sorriu.

— Por que não? Ela é legal – também não sabia porque estava insistindo naquele assunto.

— Como eu disse, cenourinha – levou as patas à nuca, aconchegando-se no sofá com as pernas cruzadas e o olhar mais indiferente e irônico possível –, não é por ela ser uma raposa que eu vou magicamente me interessar por ela. Venus é legal, mas...

Houve alguns segundos de silêncio, por mais que Nick tentasse parecer sempre o mais indiferente e sarcástico possível, parecia estar um pouco angustiado.

Angústia... Seria isso?... Não.

— Mas? – ela insistiu, ansiosa.

Ansiedade?... Também não.

Nick sorriu, num movimento surpresa, a puxou para mais perto de si e afogou sua cabeça em seu braço esquerdo, coçando a cabeça dela com a mão livre, desarrumando seus pelos cinzas. Ela tentou escapar, mas infelizmente a natureza fez raposas mais fortes que coelhos.

— Será que você não lembra de nada que eu te falo? – brincou, soltando-a um pouco. – Eu estou solteiro por opção, não acho que preciso de uma namorada agora.

Conseguindo, enfim, livrar-se dos braços magros porém fortes de Nick, riu dele e sua expressão engraçada. Sentiu como se uma tensão enorme tivesse saído de seus ombros.

Tensão?... Não.

— Você realmente vai morrer solteiro – brincou, jogando uma almofada na cara dele. Nick riu.

— Tal como você, coelha carente.

Os dois trocaram mais algumas risadas e atiro de almofadas, coisa que foi interrompida quando Nick se levantou do sofá enquanto passava as patas pelo braço, um pouco trêmulo.

— Eu estou congelando, vou pegar cobertas pra nós – dirigiu-se até o quarto, deixando a coelha sozinha na sala.

A sensação que estava sentindo naquele momento era estranha. Queria ver Nick com Venus, e, ao mesmo tempo, não queria. Sequer sabia que não queria. Ou melhor, Judy não sabia de nada. O que estava acontecendo, o que poderia acontecer, e o que queria que acontecesse. Era realmente lenta para reparar as coisas quando o assunto envolvia sentimentos.

Apenas sabia que havia um sentimento ali, toda vez que Nick mencionava Venus e vice e versa. Mas, ele não a queria daquela forma, até perdeu o gosto de descobrir que se tratava de...

... Ciúmes?

— Acabei de lembrar que só tenho uma coberta, as outras estão lavando – Nick surgiu de repente, sentando-se no sofá de novo. Cobriu-se com a coberta amarela que tinha em suas mãos, e, para a surpresa da coelha, deixou um espaço para ela. – Vem, divide comigo.

O rosto de Judy avermelhou, devia ser o frio, pensou. A coberta não era tão comprida, isso exigia que eles ficassem numa proximidade maior, e, sem contestar, agora estava a poucos centímetros de Nick, ambos cobertos pelo mesmo tecido amarelo.

Era um tanto estranho tê-lo tão perto, Nick não era fã de proximidade, tão pouco de contato físico. Mas, ainda assim, permitiu que ela encostasse a cabeça em seu ombro.

Enfim apertaram o play novamente, mas dessa vez fora Judy quem não conseguia prestar mais atenção no filme. As perguntas decidiram voltar, e nisso, toda a mistura de aflição, angústia, ansiedade e tensão. Porém, desta vez Venus não era a causa, e sim a si mesma.

“Ciúme...”, a coelha suspirou, e tentou voltar-se para o filme novamente. Tomou um leve susto quando Nick começou a acariciar sua nuca, alisando seus pelos, fazendo-a sentir-se ainda mais confortável ao seu lado. O toque de Nick fez, enfim, Judy esboçar um sorriso sincero e sem malícia.

"É, deve ser um ciuminho de amigo..."

 


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Notas finais do capítulo

Como eu disse, capítulo curto, mas necessário ;)
Kissus ♥