Orgulho e Preconceito escrita por Mokocchi


Capítulo 8
Dançando em cima de mapas


Notas iniciais do capítulo

Demorei, realmente. Várias coisas aconteceram na minha em reles três dias, por isso acabei tendo que cuidar de mim mesma. Mas, cá está o capítulo oito, cheio de amor e feels pra vocês.
Não respondi alguns comentários pelo mesmo motivo de ter demorado pra postar, mas não se preocupem pois uma hora ou outra responderei tudinho ;). Agradecimentos à Cherry a Chihuahua, e paísdasmaravilhas, duas pessoas lindas que me presentearam com mais recomendações, esse capítulo é de vocês!
Boa leitura!!



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Segunda-feira, manhã de nove de novembro, Nick tomava seu café em direção ao trabalho, e Judy, como sempre, roendo as próprias unhas, sentindo a ansiedade à flor da pele. Compreensível, considerando que uma semana já havia passado e não tiveram nenhuma resposta de Nigel Wolfgang. Nada, nenhuma mensagem, nenhum indício que dividiria as pistas.

Isso levou o humor da coelha a não estar lá dos melhores, e o pobre Nick não poderia nem zombar dela sem levar um belo fora.

— Vai acabar perdendo as garras desse jeito – ele disse, bebendo o último gole de seu café. – Roedores são conhecidos por seus dentes de aço, sabe.

Pensou que ela reagiria, nem que fosse de forma negativa, mas ela permaneceu quieta e com os braços cruzados. Nick suspirou, cansado de vê-la daquela forma.

Entraram na delegacia e foram recebidos pelo sorridente recepcionista.

— Bom dia, coelhinha e raposinha – usou os cumprimentos de sempre, fazendo a raposa sentir calafrios.

— Bom dia – disseram em coro, porém Nick tinha um tom mais grosseiro na voz.

— O chefinho tá esperando vocês na sala dele – os parceiros se entreolharam. – Parece que quer falar sobre o caso.

Sem perder tempo, dirigiram-se para o andar de cima onde era a sala do delegado, bateram na porta, e com permissão, entraram sem fazer cerimônia. E lá estava ele, sentado em sua cadeira preenchendo milhares de papeladas com o ar de quem estava sem a mínima paciência e não descansava há dias. Sempre fora rabugento, mas tinha seu carisma.

— Bom dia, Hopps e Wilde – disse sem olhar pra eles enquanto assinava em algum papel. – Deveria perguntar como estão, mas... não tô nem aí.

O clima melhorou um pouco, Bogo estava demonstrando seu carisma.

— Receptivo como sempre, senhor – brincou Nick, com seu típico sorriso debochado.

— Quieto, Wilde – disse num tom sério, mas eles não recuaram, Bogo sempre tratava as brincadeiras de Nick dessa forma.  – Sentem-se.

Eles se sentaram nas duas cadeiras vazias em frente à mesa do búfalo, este afastou toda aquela papelada e juntou as patas, fazendo alguns movimentos com os dedos inquietos. Bogo suspirou, parecia cansado e impaciente.

— Como vai o caso? – a pergunta pareceu explicar toda a sua expressão.

— Está sendo um pouco complicado conseguir pistas, senhor, mas... – respondeu Judy, tentando fazer o possível para não aborrecer seu chefe, ou voltar a roer as unhas – nada que não possamos resolver.

— Sei – um notebook estava ligado ao lado do búfalo, a luz refletia em sua pelagem negra. Ele digitou algumas coisas enquanto reinava o silêncio, provavelmente organizando arquivos. – Vou pedir que se apressem – disse sem olhar para eles –, não aguento mais esses jornalistas enchendo o meu saco. É uma pergunta atrás da outra, e as críticas estão caindo sobre mim.

A coelha congelou, olhando para Nick logo em seguida, este não tirava os olhos de seu chefe. O clima começou a ficar meio desconfortável quando Bogo pôs no rosto uma expressão furiosa, como se estivesse a ponto de jogar sua mesa pela janela, o búfalo tirou seus óculos do rosto e os colocou sobre a mesa.

— Tudo por causa daquela gente— Bogo fez a oficial Hopps abaixar e levantar as orelhas em questão de segundos. – Não entendo como há quem defenda aquela anomalia. Francamente, duas espécies diferentes se casando...

Bogo não olhava para eles, era como se estivesse falando sozinho, ou seus lábios tivessem criado conta própria. O delegado estava fungando com força, bufando, fazendo jus ao nome de sua espécie. E com Judy considerando abrir a boca, o clima apenas tendia a piorar.

— Bando de ignorantes – alterou um pouco a voz sem perceber, os dois oficiais abaixaram as orelhas –, e eu ainda sou obrigado a aceitar essa palhaçada.

Levantando suas orelhas e sentindo a garganta se preparando para agir, Judy sentiu a pata de Nick pousar em seu ombro, transmitindo sua mensagem sem mesmo olhar para ela. Aquele toque, estranhamente, a acalmou, lembrando-a que não valia o risco. “Valeu, Nick”.

Bogo escapou de seu transe e suspirou, colocando seus óculos de volta.

— Perdoem o desabafo – disse, finalmente olhando para os policiais –, eu realmente ando muito estressado.

— Entendemos perfeitamente, senhor – disse a raposa aos sorrisos compreensíveis fingidos, tentando ao máximo manter as aparências. Judy admirava a facilidade que o parceiro tinha de criar algo em si mesmo.

— Podem voltar ao trabalho, tenho muito o que fazer – Bogo voltou-se para seus arquivos e os policiais se levantaram. – Boa sorte.

—-X---

— Eu não acredito que o chefe Bogo disse aquelas coisas – a voz indignada de Judy chamou a atenção de alguns animais que passaram por eles. Nem no meio da rua ela era capaz de conter suas emoções.

— Eu falei – disse Nick, indiferente, levando as patas à sua nuca –, se depender dele, os híbridos estão ferrados.

Eram três horas da tarde, e a dupla de policias estava voltando para casa. Como esperando, o assunto não fora outro, era impossível para a coelha pensar em outra coisa tão absurda. Seu chefe era um preconceituoso, e dos grandes, como não acreditar que ele levou o assassinato de Thomas e Jeanette em consideração para salvar a própria pele?

— Respeito tanto o chefe Bogo... – o tom de Judy era o de puro desapontamento – sempre o respeitei...

— Decepção é um prato amargo – disse a raposa, ajustando seus óculos espelhados no rosto enquanto bebia mais um gole de seu café. – E fez bem em não ter falado nada.

— Obrigada por me deter naquela hora – ela o fez sorrir.

— Tudo pelos nossos empregos – os dois riram um pouco, coisa repentinamente interrompida quando o celular de Nick vibrou. O policial colocou a pata no bolso e desbloqueou a tela. – É a Venus.

— De novo? – apesar daquele desconforto inexplicável que sentia toda vez que Nick sorria por causa da outra raposa, fez o possível para não transparecer sua reação e brincou – Ela tá mesmo afim de você, hein – ele ri como se ela estivesse fazendo uma piada.

— O que posso fazer? Sou irresistível – passou a pata na cabeça e alisou seu próprio pelo, se achando o tal. Judy fingiu o riso e ele riu mais. – Mas, quanto a isso, não tenho certeza. Talvez ela só esteja sendo legal.

— Legal do tipo que manda mensagem todos os dias?

— Legal do tipo que está tentando se enturmar.

Judy sabia que Nick detestava contar vantagem, e ia contra todas as possibilidades para não acabar se iludindo. Ele não era do tipo que confiava em algo com facilidade, mas era surpreendente como até mesmo numa coisa óbvia dessas ele não ligava o desconfio.

— Nick, ela está afim de você – disse como quem acabara de ensinar um padre a rezar.

— Talvez... – e não se falou mais nisso.

Eles dobraram a esquina e a primeira coisa que viram fora um outdoor, um anúncio de ano novo, a banda de guaxinins, Raccoon 5*, daria abertura ao show da virada em Zootopia.

— Já estão anunciando os shows de ano novo? – a coelha analisou os cinco guaxinins, todos muito charmosos, no outdoor – Que surpresa não ser a Gazelle dessa vez.

— Sinceramente, não curto ambos – disse Nick, indiferente.

— Você deve ser o primeiro animal de Zootopia a dizer isso.

— Que posso fazer? Sou autêntico – se gabou mais uma vez. Passaram por mais uma esquina, só que ao invés de seguir reto, Nick a dobrou e acenou para Judy. – Preciso comprar novos fones de ouvido, pode ir na frente.

— Posso ir com você, se quiser – ela ofereceu na maior inocência, mas mais uma vez ele aproveitou a oportunidade de zombar dela.

— Nah, posso me virar sozinho – ele lançou um olhar de deboche ao desapontamento da menor. – Quem está carente agora, hein? Quer que eu lhe apresente um coelho?

— Cala a boca. Vá comprar seus fones.

Eles riram, e cada um seguiu seu caminho.

—-X---

A primeira coisa que Judy fez ao pisar no prédio fora ir ao apartamento de Venus, ansiosa para saber se ela havia recebido alguma resposta de Nigel Wolfgang. Porém, ela não estava em casa. Mesmo com certa decepção, a coelha subiu para o seu apartamento sem abaixar as orelhas.

Estava tão cansada que sequer lembrou de fechar a porta, ao olhar todo o seu apartamento vazio, quieto, sem nenhum resto de animação, respirou fundo e pensou “Preciso de um banho”. Isto representava um momento livre, uma brecha, coisa que Judy nunca se dava o direito.

Tirou seu uniforme, colocando-o na máquina de lavar em seguida, e entrou no boxe como quem saia de uma cúpula quente e abafada depois de meses presa nela. A água pareceu limpar todo o seu estresse a trouxe de volta à calmaria.

Saiu do banheiro, enxugou-se, colocou uma roupa fresca e ligou o seu pequeno rádio. Nossa, quanto tempo fazia desde a última vez que o ligou? E como as pilhas ainda funcionavam?

A primeira FM falava de um anúncio sobre o show de fim de ano, como viu no outdoor, da banda Raccoon 5. A banda anunciava a estreia de novas músicas, e também uma sessão de autógrafos antes e depois do show. Não era fã número um da banda, mas ficou feliz quando a rádio pôs algumas músicas para tocarem, e a primeira fora Maps.

Judy amava essa música. Não perdeu tempo ao pegar sua escova de pelos e usá-la como um microfone, cantando e dançando como se fosse um dos guaxinins em frente a uma plateia.

Era bom deixar seus problemas de lado de vez em quando, abaixar seu escudo, suas armas, e ter um momento para si mesma. Agora não era mais a oficial Hopps, mas apenas Judy.

I miss the taste of a sweeter life…

—-X---

Nick voltou pra casa com seus novos fones pendurados em suas orelhas, tirou-os no momento em que parou de frente ao apartamento 1001, o apartamento de Judy. A porta estava meio aberta, e escutava-se a voz de Judy junto com uma música, parecia estar cantando. Sem poder evitar, espiou pela abertura da porta e divertiu-se com a cena.

A coelha dançava, cantava, pulava pelas almofadas, com certeza um flagra um tanto constrangedor e que o faria rir por semanas. Mas, por outro lado, ela nunca pareceu tão leve, sorridente, sem nenhum ar de preocupação ou comprometimento com o trabalho. Judy vivia agindo como uma máquina da polícia, não era sempre que ela saia de seu posto e relaxava para variar. De certa forma, ele ficou feliz ao vê-la assim.

— But I wonder where were you when I was at my worst own on my knees...— cantou a coelha com a escova na mão, nem notando quando a raposa entrou em seu apartamento. – And you said you had my back so I wonder where were you...

When all the roads you took came back to me…— a segunda voz fez com que a coelha saltasse do chão até o sofá, num susto. Nick desatou a gravata preta de seu uniforme enquanto ria da vergonha da colega. – So I’m following the map that leads to you ♪.

— C-Como foi que entrou aqui? – perguntou a menor, largando a escova em algum lugar no chão com o rosto queimando.

— Deixou a porta aberta, gênio – ele riu ainda mais de sua vergonha. – O que é isso? Preparação pro fim do ano?

— Raposa boba – sorriu timidamente enquanto se recompunha aos poucos. Após alguns segundos na desvantagem, lembrou-se que ele cantara um verso da música e seria a oportunidade perfeita para provoca-lo. – E você? Não disse que odiava Raccoon 5?

— Eu disse que não curtia – deu de ombros, sem mudar sua expressão. – Mas, gosto dessa música, apesar de ficar na cabeça.

Num movimento surpresa, Judy atirou uma almofada no colega, fazendo seu rosto afundar nela.

— Por que fez isso?

— Artigo 150 – a coelha, toda sorridente e com um ar brincalhão, se aproximou da raposa –, violação de domicílio. Entrar ou permanecer, clandestina ou astuciosamente, ou contra a vontade expressa ou tácita de quem de direito, em casa alheia ou em suas dependências. Um a três meses de prisão, ou uma multa daquelas. Agradeça por eu não denunciá-lo e aceite a almofada na sua cara, Nicholas Wilde.

— Me soa justo – ele tentou revidá-la com a almofada, mas ela desviou, os dois riram. – Mas acho que você esqueceuquem é o policial aqui.

— Hum... nós dois?

— Você está com algum uniforme ou distintivo pra provar?

— Touché – ela riu, olhando para si mesma e lembrando que deixara suas roupas de trabalho na máquina de lavar. – Há leis que também me impedem de violentar as autoridades.

— Merece ser punida por agredir um policial, Judy Hopps.

Ela se arrepiou, como toda vez em que ele a chamava pelo primeiro nome, era uma sensação... peculiar. Sem que desse conta, Nick tocara suas duas patas e a girou, a conduzindo à uma dança. Saindo de seu transe, a coelha riu.

— Você é bem leve quanto as suas punições.

— Fazer o quê? – ele lhe deu o mais famoso de seus sorrisos, fazendo-a girar mais uma vez. – Sou um coração mole com espécies inferiores.

— A que te deu um emprego, no caso?

— Cala a boca, eu só tava brincando – os dois riram.

A música estava longe de acabar, e à medida que o som saia do rádio, mais eles se envolviam e se divertiam, como se fossem os únicos naquele prédio, no bairro, em Zootopia, no mundo. Fazia tempo que não se deixavam levar dessa forma, ainda mais estando a sós.

— Que milagre vê-la assim – disse ele no meio da dança.

— Assim como?

— Não trabalhando – ela riu.

— Sou a melhor policial do ZDP, esqueceu? – brincou em meio a mais um giro, fazendo referência ao que ele mesmo já disse uma vez. Nick pôs as patas em sua cintura e, com firmeza, a fez mergulhar de modo que ficasse próxima ao chão, apoiando-se no pescoço firme e avermelhado dele e a perna presa ao seu colo, numa dip pose*. Judy riu enquanto mantinha as patas firmes no pescoço da raposa sorridente. – Mereço uma folga de vez... em quando...

“♪The map that leads to you

Ain't nothing I can do

The map that leads to you

Following, following, following…♪”

A coelha olhou para cima e percebeu que o rosto do parceiro estava consideravelmente próximo do seu, como nunca estivera antes. Sem perceber, já estava mergulhada naqueles grandes olhos verdes que ele tinha, olhar para eles era como ouvir Nick dizer seu nome diversas vezes, cada arrepio maior que o outro.

Ela não soube ao certo o que a prendeu naquela fortaleza verde, era hipnotizante, incerta, e de certa forma, aterrorizante. Desconhecia completamente aquele sentimento, mas a única certeza que tinha era o desejo de continuar ali, arrepiando-se ao olhar oblíquo que aquela raposa dissimulada tinha.

— O que foi?

O silêncio foi cortado e Judy pode, enfim, sair de seu transe. Lembrou que estava nos braços de ninguém menos que Nick, e aquela posição era um tanto vergonhosa, se parasse pra pensar. Ou, talvez, fosse apenas neura dela... seria?

— Err... – ela desviou o olhar, timidamente, a raposa continuou estranhando, mas sem tirar o sorriso do rosto. – Nada, eu só... – fingiu um sorrisinho – estava me perguntando se você iria me levantar a qualquer momento.

Nick mordeu o lábio e fez uma expressão estranha, uma de quem parecia estar usando todas as forças que tinha.

— Eu bem faria, mas... a gravidade não está ajudando muito – com mais certo esforço, pode enfim deixar a coelha em pé novamente, e sorriu com todo o deboche do mundo. – Você andou engordando?

A coelha bateu a pata no chão.

— Vá se ferrar, Nick – os dois sentaram no sofá, e Judy pegou o seu rádio para desliga-lo – Raposa idiota.

— Coelha gorda.

Ambos riram.

“… following, following, following…


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Notas finais do capítulo

Raccoon 5 = como já deve ter notado, um trocadilho com a banda Maroon 5 e a palavra "guaxinins" em inglês.
Dip pose = mais ou menos isso (https://slm-assets1.secondlife.com/assets/4616434/lightbox/Magnifique%20-%20Dip%20Me!%20(Couples%20Pose).jpg?1321646923)
Oh, e antes que eu esqueça, o link da música Maps (https://www.youtube.com/watch?v=pgpi6rZ72F0)

Ok, imagino que muitos tenham gostado por causa da cena final. Sem dúvida, foi um dos meus capítulos prediletos XD
Deixe no comentário o que gostou, o que não gostou, enfim, tudo o que esse capítulo o fez sentir.
Até a próxima o/
Kissus ♥