Orgulho e Preconceito escrita por Mokocchi


Capítulo 7
Nigel Wolfgang


Notas iniciais do capítulo

Gente, se vocês querem me matar, que não seja dessa forma tão intensa. Três recomendações novas? Isso é sério? Não tô crendo de jeito nenhum!
Muito obrigada, Ahri Abadeer (que já considero pacas minha amiga), Overland X, clarissa elsa cosmo, vocês são incríveis! Me emocionei lendo as recomendações de vocês, e este capítulo GIGANTE comparado aos demais, vai especialmente pra vocês.
Boa leitura!!



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Quando se está ansioso demais para uma coisa, o dia parece passar mais devagar do que nunca, Judy que o diga. A cada cinco minutos flagrava a si mesmo roendo as unhas, arranhando a madeira de sua mesa de trabalho enquanto contava os segundos para a noite chegar logo. Aquele convite de Venus estava cheirando a uma bela pista.

Nick sabia se conter, e quando se entediou de ficar fazendo absolutos nadas dentro de sua sala, foi para a recepção tirar sarro do novo aplicativo de Garramansa. Tirando os olhares nada simpáticos que recebiam de Tyronne e companhia, os outros policiais pareciam ter deixado de lado aquela história de ficar encarando a dupla de forma estranha. Provavelmente com medo de brigar com Nick, a raposa dos argumentos.

Bogo, por sua vez, parecia estar voltando ao seu estado normal, o que não é muito diferente de como estava antes. Toda manhã chamava uma dupla à sua sala para saber como os casos estavam encaminhando, e por alguma razão “desconhecida”, não chamou Nick e Judy desde que eles pegaram a pasta. Parece que, quanto menos falavam naquele caso, menos mal humorado ele ficava, então preferiram deixar as coisas assim.

Enfim anoiteceu, e Judy arrastou o colega às pressas até o lugar mais afastado da Savana Central, onde se localizava o bar. Cheio como na última visita, só que dessa vez, entraram juntos. Mesmo um tanto desconfortável, Nick estava começando a lidar melhor com toda aquela situação, talvez fruto da última discussão que tivera com a coelha, que saltitava alegremente pelo bar procurando a garçonete de pelo vermelho.

Sentaram numa mesa vazia e decidiram esperar. Como da última vez, vários olhares se fixaram em seus uniformes, ou neles mesmos.

— Somos atraentes assim, ou é impressão minha? – ele brincou, apoiando as patas na mesa e fazendo a parceira rir.

— Eles não estão acostumados com policiais agindo de maneira civilizada perto deles – ela interpretou a brincadeira dele como uma dúvida, fazendo questão de responder –, assim como não estamos acostumados com híbridos aos beijos bem na nossa frente.

— Pelo menos não há nenhuma lontra à vista – ele tentou parecer sério, mas ela ainda assim achou graça.

Ficaram conversando, tirando sarro um do outro, por isso conseguiram ignorar todos os olhares e cochichos que os miravam. Diferente da última vez, nenhum animal tentou seduzi-los, coisa reconfortante e intrigante ao mesmo tempo.

Alguns minutos depois, uma girafa, garçonete, se aproximou de sua mesa com um bloquinho de anotações nas patas, e sorriu para eles no momento em que sua caneta tocou o bloco. Ela agachou o grande pescoço para olhá-los melhor e perguntou:

— É a primeira vez que os vejo aqui – ela disse em bom tom, girafas tinham o problema de geralmente não serem escutadas por sua altura. Os parceiros tomaram sua atenção para ela, e tomaram um susto no momento em que ela perguntou – Os casais ganham uma batida de morango na primeira visita, aceitam?

A coelha e a raposa se entreolharam rapidamente com uma expressão espantosa e disseram em coro:

— Não somos um casal! – em tom de desespero e certa vergonha.

— Oh, não? – a garçonete parecia surpresa, mas reconsiderou ao reparar o uniforme deles. – Ohhh, sim... Me perdoem. Então, o que vão querer?

— Bem – Judy reparou o olhar desconfiado da girafa, por isso tentou sorrir o máximo possível, sabia que policiais eram uma ameaça naquele ambiente –, nós estamos esperando a garçonete Ve-

— Deixa eles comigo, Gisele – a outra raposa apareceu logo atrás da girafa, apoiando a pata sobre nossa mesa. – E relaxa, esses policiais são do bem.

A girafa nos deu um último sorriso e foi embora, Venus, toda linda em seu uniforme, nos lançou um olhar receptivo e encantador, como se estivesse nos recebendo em sua casa.

— Boa noite, oficial Wilde, Hopps – disse, sem se sentar ainda.

— Boa noite – eles respondem, mas foi Nick quem prosseguiu:

— Devo dizer que você está encantadora esta noite, Srta. Venus – elogiou a outra raposa, que sorriu alegremente no mesmo instante. Judy, por outro lado, foi pega de surpresa e sentiu quase todos os pelos arrepiarem.

— Você que é gentil demais, oficial Wilde – Venus respondeu, um tanto sínica, um tanto sedutora. Olhou para a coelha, que estava totalmente deslocada diante daquele “clima”, e a confortou com um tapinha do ombro. – Aposto que a coelhinha aqui está ansiosa para irmos direto ao ponto.

Judy deixou de lado todo aquele desconforto e seu espírito justiceiro reapareceu, voltando a ficar ansiosa para saber o que Venus teria a dizer sobre o caso.

— Pode ter certeza – a menor respondeu. – Então... a quem quer nos apresentar?

— Ele já deve estar chegando – o olhar da garçonete parou sobre a porta, que foi aberta em poucos segundos depois, para a sua surpresa. – Chegou.

Os policiais se viraram e, no meio de todos aqueles animais, encontraram um lobo de pelagem branca, provavelmente vinha de Tundralândia pelas roupas de frio. Era consideravelmente maior que as raposas, tinha um olhar extremamente sério, daqueles que ninguém nunca imaginaria vê-lo sorrir. E no mesmo olho em que Venus tinha um roxo, uma grande cicatriz atravessava seu azul.

Nick demorou um pouco para analisá-lo, e quando o fez, sussurrou sem perceber:

— Nigel Wolfgang – a coelha foi a única capaz de escutar.

— Conhece esse lobo?

— Quantas vezes vou ter que dizer que conheço todo mundo? – os dois se viraram, tentando parecer mais discretos. Nick não estava com uma expressão muito boa no rosto. – Nunca falei com ele, pra ser sincero. Mas pelo que sei, ele abandonou seu clã, e desde então os lobos se recusam a tocar no nome dele – Judy percebera que a expressão no rosto do colega era de desgosto. – Francamente, tinha que ser um lobo?

A coelha apoiou as patas na mesa, e suspirou com certa desaprovação no olhar.

— E você ainda reclama do preconceito que sofre por ser uma raposa.

Venus sorriu para o lobo que se aproximava e estendeu a pata para ele, que provavelmente ainda não tinha percebido a presença dos policias.

— Fala aí, Wolfgang – cumprimentou –, tudo em cima?

— Espero que tenha me tirado de casa por um bom motivo, Roxanne – disse fria e secamente, ignorando completamente a hospitalidade da raposa. Sua voz era um tanto rouca, e a expressão séria do rosto dele parecia não mudar.

Apesar da indelicadeza, Venus não deixou de sorrir e de aproveitar a situação para tirar sarro. Lembrava mesmo Nick.

— A simpatia em animal, como sempre – puxou a cadeira vazia para ele se sentar. – Por favor, sinta-se em casa.

Ele resmungou algo que ninguém foi capaz de entender. A primeira impressão que tiveram de Nigel Wolfgang fora: rabugento, sem nenhuma intenção de ser simpático, e parecia não sorrir a anos. Nick não lembrava ao certo os motivos dele deixar seu clã, mas, para estar num bar como aquele, com cara de quem já estava familiarizado com o ambiente e que conhecia todos os animais, já estava criando suas teorias.

Judy se sentiu um tanto intimidada quando o lobo lançou um olhar surpreso e de puro desgosto para ela e seu parceiro, mas não abaixou as orelhas, estava ali por motivos tão sérios quanto ele. Venus, que detestava hostilidade, sentou-se na última cadeira fazia e pôs as patas na mesa redonda.

— Já que estamos todos reunidos, oficial Wilde, Hopps – apontou a pata ao lobo nada alegre –, este é Nigel Wolfgang. Conhecido como o rei da advocacia em Tundralândia, detetive nas horas vagas.

“Detetive?”, as orelhas de Judy mexeram de excitação, as peças estavam começando a se encaixar no momento em que as possibilidades surgiram. Mas, à medida que os segundos passavam, ele parecia menos contente.

— Que caras são essas? Não me digam que pensaram que os casos dos híbridos eram totalmente apagados? – ela perguntou com certa ironia. – Este lobo influente, por pura bondade, não deixa um caso excluído da polícia sequer passar. Age por conta própria e faz justiça com as próprias patas, caso o departamento de polícia não faça isso por si só.

Não houve resposta de ninguém naquela mesa, Judy estava tentando segurar sua empolgação, Nick tentava transparecer que se sentira um tanto intimidado com o olhar fixo do lobo, que por sua vez, parecia menos insatisfeito com aquela situação. Venus olhou para Nigel, e encostou-se às patas juntas do maior.

— Wolfgang, estes policiais estão tentando resolver o caso de Thomas e Jeanette, e se minha teoria estiver certa, você está com as provas, não?

Bingo! Fazia todo sentido, uma cena do crime não poderia estar limpa de provas, e detetives autônomos costumam ser bem rápidos no que fazem. Certamente Nigel Wolfgang estaria mais na frente com o caso, se talvez...

— Se, talvez, vocês três unirem tudo o que sabem – Venus completou a linha de pensamento –, poderão resolver o caso bem mais rá-

— O que é isso, algum tipo de piada? – resmungou o lobo, que agora parecia estar bem raivoso. Após alguns segundos apenas intimidando os policiais espantados com o olhar, virou-se para a garçonete e, sem alterar o tom de voz, voltou a dizer coisas nada simpáticas. – Roxanne, conheço e respeito demais os seus pais, e acho que eles ficariam bem decepcionados ao vê-la se metendo com essa gente repugnante.

Judy e Nick nem tiveram tempo de se ofender, pois Venus já estava retrucando com um olhar desgostoso.

— Wolfgang, querido, eu já sou independente, não precisa me tratar como uma criança.

— Sabe muito bem que os policiais dessa cidade valem menos que lixo.

 - E o senhor, por outro lado, poderia usar um pouco da sua educação e permitir que os outros terminem o que tem a dizer – apesar da confiança, havia certo deboche no tom da raposa menor. O lobo pareceu perder ainda mais a paciência. Venus se recompôs e voltou aos argumentos. – Como eu estava dizendo, o oficial Wilde e a oficial Hopps precisam das provas para juntar as peças que tem, e o senhor está com elas, não está? – o lobo não respondeu, apenas bufou, mas a raposa considerou aquilo como um sim. – Foi o que eu imaginei. Alguma colocação?

Ela se dirigiu aos policiais, ambos se entreolharam procurando dizer qualquer coisa que não gerasse outra resposta grosseira do detetive. Mesmo com toda arrogância, ele tinha as provas, e precisavam delas.

Nick respirou fundo, estufou o peito e bateu as patas em seu uniforme, tentando parecer o mais confiante possível.

— Senhor Wolfgang, me permita dizer que se precipitou um pouco ao julgar pelas aparências – entrelaçou as patas que estendeu sobre a mesa, o lobo continuava lançando o olhar de mais puro desprezo aos policiais. – Eu e a oficial Hopps somos profissionais, sei que o nosso departamento tem má fama quanto a esses casos, mas-

— Queremos ajudar – Judy interrompeu seu colega no maior dos impulsos e todos olharam surpresos para ela. Só quando ela se colocou, o lobo percebeu o quanto ela era pequena. A coelha, trêmula, engoliu seco aquele olhar intimidador de Wolfgang e voltou a falar. – Estamos aqui na melhor das intenções, senhor Wolgang. Estamos lidando com um assassinato, não importa o meio que ele envolva – sentiu todo o orgulho que tinha de ser policial no peito, e o deixou escapar. – Não somos como os policiais que estão acostumados, não temos preconceito, e queremos aju-

— Acho que já ouvi baboseiras o suficiente – o lobo sequer deixou a coelha terminar a frase, tal como fez com Venus.

Levantou-se da cadeira e pôs as patas sobre a mesa, se agachando e aproximando o rosto de Judy. O violeta dos olhos dela, por mais intimidada que se sentisse, não fugiu do azul celeste que havia nos dele.

Nigel Wolfgang certamente não era um animal de rodeios, e muito menos fácil de ser convencido.

— Prefiro que finjam que não existimos à tanta hipocrisia, oficial Hopps – a voz rouca do lobo invadiu a mente de Judy, tão confusa e sem palavras quanto a de Nick. O lobo parecia uma barreira inquebrável para a solução do problema. – Vocês, policiais, nunca estiveram presentes em casos muito piores que este. Não ficarei surpreso se este caso estiver sendo levado em consideração apenas para limpar a imagem daquele búfalo que vocês tem como delegado.

Os policiais continuaram a engolir seco, não podiam simplesmente ignorar que aquilo fazia todo sentido, e sem dúvida, era o que chegava mais perto da versão real. O lobo não cortou a proximidade com a coelha, como se a fuzilasse apenas com os olhos, ou, quem sabe, descontando um sentimento muito forte na sensibilidade que ela tinha.

Toda a esperança que os oficiais tinham de virar o jogo fora por água abaixo quando o lobo disse:

— Milhares de híbridos já foram assassinados – sua voz chegou no tom mais rouco possível –, um, dois a mais, que diferença isso faz pro seu departamento? Por que acham que sua caridade neste caso irá pagar a dívida que a ZDP tem, em anos, com o nosso povo?

Deixando os três animais na mesa sem fala, ele se levantou, ajustou seu chapéu na cabeça, e voltou a falar:

— Agora, se me derem licença, eu tenho um suspeito para perseguir, e já perdi muito tempo aqui – olhou para Venus, para Nick, e por fim, Judy. Os deixou e caminhou até a porta. – Tenham uma boa noite.

—-X---

— Eu sinto muito mesmo pelo que aconteceu sexta-feira – Venus já havia dito isso umas quatro vezes só naquela manhã.

Era domingo, primeiro de novembro, e desde o incidente no bar, Venus não parava de se desculpar. Os havia enchido de esperanças, para no fim, serem tratados com tanto desprezo pelo detetive. E o pior de tudo é que ela já esperava algo assim, conhecia Nigel Wolfgang de longa data.

Estavam no apartamento da vizinha, ela os havia convidado para almoçar com ela, e tinham que admitir que a comida dela era uma delícia (sendo bem precavida, preparou comida de raposa e coelho).

— Não precisa mais se desculpar, Venus – disse a outra raposa, que não deixou um único grão de comida no prato. Estava completamente satisfeito. – Quem tem culpa nessa história é aquele tal do Nigel Wolfgang.

— Não fale assim, Nick – Judy o reprimiu, comia devagar e ainda estava na metade do prato.

— Falo sim, cenourinha – ele retrucou, com a expressão de mais pura raiva no rosto. Certamente não havia ido com a cara do detetive. – Francamente, que lobo otário! Além de apenas complicar ainda mais a solução para o caso, não é nem um pouco simpático.

Venus, que já tinha conhecimento da personalidade difícil do lobo, suspirou um tanto desapontada. Sentia-se inútil por não poder ajudar os amigos, e sentia-se obrigada a lhes dar uma explicação.

— Não o levem a mal – os policiais olharam para ela. – Nigel não é um animal ruim, o conheço desde que eu era uma raposinha, e sempre foi muito gentil com todo mundo, mas... – ela fez um olhar distante, e um tanto triste também. Suspirou. – Não confia na polícia ou em qualquer outro animal não-híbrido que ele não conheça.

— Preconceito com animais não-híbridos – Nick deixou um risinho escapar, achando aquilo bastante irônico. – Essa é nova.

— Pode-se dizer que sim, ele tem preconceito – a raposa menor empilhou seu prato e o de Nick, que estavam vazios, e os colocou sobre a pia. – Mas ele é assim porque... – suspirou mais uma vez – guarda rancor pela morte de sua esposa.

Um silêncio desconfortável pairou sobre a sala, Judy, sentimental como sempre, já tocara-se com a história. Nick apenas ficou surpreso, e Venus tentou não transparecer certa tristeza. Tirou um cigarro do bolso da calça e o levou à boca.

— Não sei ao certo como ela morreu, existem várias versões dessa história, mas tudo indica que foi violentada. Por ser híbrida, obviamente.

— Que horror... – a coelha sentiu uma pontada no peito. “Como existem animais capazes de fazer isso?”

— A polícia não fez nada a respeito, e... se Nigel já tinha aversão à forma como fazem descaso com os híbridos, esta se converteu a ódio – Venus aspirou toda a fumaça que tinha pra soltar, e retornou à sua história. – E então ele se tornou o detetive que é hoje, o “herói” do seu povo, resolvendo todos os casos que a polícia oculta por preconceito aos híbridos. Ele vê isso como uma forma de fazer jus à morte de sua esposa ou coisa assim.

— Até que... – Nick não acreditava no que estava prestes a dizer, esmagando todo o seu orgulho –... é bem digno da parte dele.

— Não é? – Venus voltou a sorrir, e apagou sua fumaça na cigarreira. – Mas quanto ao caso de vocês... ainda dá tempo de convencê-lo. Afinal, ele não deixa de ter bom coração.

— Está decidido – Judy ficou em pé acima da cadeira, o que não era muita coisa por causa de sua altura minúscula.

A coelha levou as patas à cintura e, juntando as sobrancelhas, fez o olhar mais determinado e confiante possível. Nick conhecia esse olhar, ela sempre fazia quando tomava uma decisão, daquelas que não iria desistir até conquistar o que desejava. Por isso, não pode deixar de liberar um sorriso involuntário para a coelha.

— Nigel Wolfgang será nosso aliado! – exclamou, ainda naquela pose e com um sorriso radiante. – Guardem minhas palavras!

As raposas se entreolharam, e não evitaram de rir um pouco. Enfim, o clima aquela sala não estava mais tão obscuro ou deprimente.

Mudaram de assunto, jogaram conversa foram, riram bastante, foi um almoço divertido. Sem que percebessem, Venus estava se tornando parte de suas rotinas. Era uma boa amiga, sem dúvida.

Houve um momento em que Nick se espreguiçou em sua cadeira, depois se levantou.

— Moças, acabo de lembrar que preciso fazer uma coisa importante lá em cima – disse, pegando sua jaqueta e a vestindo.

— Já vai? – Venus tinha um olhar meio triste agora.

— Infelizmente, sim – ele caminhou até a vizinha, a deu um beijo na bochecha, e voltou para a porta. Era íntimo o suficiente de Judy para ignorar as formalidades. Acenou para as duas. – Até mais, moças.

— Até – ambas responderam em coro, e a porta se fechou.

Houve certo silêncio entre as duas, Judy não soube porque olhou para Venus naquela hora, mas a visão que teve foi da raposa aos suspiros e um tanto corada. E, por alguma razão, tinha certeza que aquilo tinha algo a ver com o beijo de Nick.

Escutaram o som do elevador fechar, ir embora, e Venus cortou o silêncio, voltando-se para a coelha com certa euforia.

— Preciso confessar uma coisa – ela disse, colocando as patas sobre a mesa.

— Você está a fim do Nick – a coelha sorria com sobrancelhas juntas.

— Como você...? – a raposa fez uma pausa, depois começou a rir de si mesma. – Tá tão na cara assim?

— Mais ou menos – Judy riu um pouco também. Não podia negar que aquela situação era engraçada e um tanto estranha ao mesmo tempo. – Me diga, o que você viu naquela criatura? – brincou.

— Como assim o que eu vi? Ele é muito bonito – com a ênfase, Judy começou a sentir um calafrio estranho e inexplicável –, e é simpático, e gentil, e charmoso, e fofo, e cavalheiro...

A coelha levou a pata ao queixo, analisando todas as características que Venus usou para descrever seu parceiro. “Simpático... gentil... fofo... cavalheiro...”, Judy tentou lembrar das vezes que ele foi essas coisas com ela, e nada.

Bateu a pata no joelho e começou a rir.

— Tem certeza que estamos falando do mesmo Nick? – brincou, Venus levantou a sobrancelha. – O Nick que eu conheço é sínico, troglodita, debochado e irritante na maior parte do tempo.

Venus achou graça, entrando na gargalhada com ela.

— Ah, vamos, ele é adorável – a raposa insistiu, e o novo adjetivo fez Judy rir ainda mais.

— Se você diz – enfim conseguiu conter os risos. – Pode ficar, tô precisando tirar umas férias dele.

— Já que insiste – Venus tirou o celular do bolso, e o estendeu para a amiga. No começo, ela estranhou, mas o sorriso da raposa entregava tudo. – Me passa o número dele.

— O quê? – agora uma expressão esquisita reinou o rosto da menor.

— Por favooooor... – a maior juntou as patas. – Me quebra esse galho, vai. A não ser... – Venus analisou a expressão meio estranha que a policial tinha no rosto, e recuou – a não ser que tenha problema, é claro.

Aquilo soou como algum tipo de incógnita para Judy, e ela mesma estranhou porque estava tão desconfortável. Que mal tinha, afinal?

A coelha sorriu, pegou o celular da raposa sorridente, e começou a digitar os números do novo contato.

— Não tem problema – disse um tanto baixo enquanto digitava.

Sentiu os dedos tremerem, os pelos arrepiarem, e uma sensação estranha no estômago. “Que está havendo comigo?”

— Não tem problema nenhum...

O novo contato foi salvo.

 


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Notas finais do capítulo

Espero, do fundo do coração, que tenha gostado do capítulo, do novo OC, do início do romance. Enfim, o que você mais gostou, deixe nos comentários!
Até a próxima o/
Kissus ♥