Cronômetro escrita por KarenAC


Capítulo 5
Capítulo 5 - Intenções


Notas iniciais do capítulo

A gente tarde mas não falha ;3



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Depois de muitos minutos procurando entre as prateleiras da padaria dos pais de Marinette, Plagg encontrou um pote com alguns salgadinhos dentro, e sentou-se ali mesmo escondido no fundo da estante para comer. Quando estava na terceira ou quarta mordida, sentiu os pelos no meio de suas costas se arrepiarem. Era uma sensação familiar até demais, mas que há muito tempo não sentia. Terminou de mastigar e saiu da estante em um vôo cauteloso, rente a parede, tentando manter-se o máximo possível nas sombras. Ao chegar na sala, confirmou o que temia.

"Tikki" a voz de Plagg era quase inaudível. Ele sabia que reencontraria a kwami rosa, mas não que seria tão em breve.

"Plagg" ela falou sorrindo e voando na direção dele "Nós precisamos conversar." O kwami negro inspirou e expirou fundo. Marinette. Claro. Como ele não havia percebido antes? Adrien ia enlouquecer quando soubesse.

"Está começando, não está?" Plagg sentiu as orelhas encostarem na própria cabeça, de tão baixas, e a sensação no estômago que geralmente era fome transformou-se em medo.

"A gente sabia que essa hora ia chegar." Tikki franziu a pequenina testa e estendeu a mãozinha na direção de Plagg, que a segurou.

"Ele não está pronto, Tikki. Não agora." O pequeno gato preto falava quase que em uma súplica, mas sabia que não era a pequenina joaninha que decidia.

"Ele vai estar quando for necessário" a kwami rosa largou a mão de Plagg e foi até a estante onde o porta-retratos contendo a foto de Marinette com os pais repousava. "E ela vai estar lá para apoiá-lo, assim como ele está aqui.", disse olhando para o topo das escadas.

Tikki..." Plagg ia recomeçar, mas parou quando a kwami virou-se bruscamente e aproximou-se, com os olhos marejados, engolindo em seco para juntar forças.

"Ela não tem muito mais tempo, Plagg. Aquilo lá..." olhou novamente para o topo das escadas, referindo-se ao estado de Marinette "...é só o começo. Eu posso dar todas as minhas forças enquanto ela for Ladybug, mas se não for suficiente..." Tikki baixou a cabeça e Plagg arregalou os olhos ao ver uma lágrima escorrer pelo canto do pequeno rosto rosa "...o mundo vai perder Marinette também."

Plagg aproximou-se e acariciou o rosto da kwami com ternura, respirando fundo "Eu sei, eu também estava lá. Podia ter sido eu." o gato preto colocou a patinha sob o queixo de Tikki, erguendo-o para que ela o olhasse nos olhos "Ou você. E eu não sei o que eu faria sem você.", terminou sorrindo.

"Seu gato bobalhão." ela riu baixinho. Eles precisavam de um do outro mais do que nunca naquele momento.

"O cronômetro está andando..." Plagg falou olhando para a janela, repetindo a frase que ouvira há muitos e muitos anos

"...mas em um estalar de dedos ele irá parar." Tikki continuou, posicionando-se ao lado dele.

Os dois kwamis se entreolharam por alguns segundos. Ambos sabiam que era inevitável, que o tempo estava fora de controle.

"Ele é um bom garoto" Plagg disse em um sussurro.

"Eu sei." Tikki respondeu no mesmo tom "Mas ele foi escolhido por um motivo muito maior do que a bondade do coração dele."

"E a Marinette também, não é ?" o pequeno kwami preto sabia que sim, por esse motivo Tikki não respondeu, e os dois continuaram em silêncio.

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Marinette abriu os olhos devagar. A luz do quarto estava ligada, e não via Tikki em volta. Sentia a cabeça doer um pouco, mas provavelmente era porque tinha dormido muito. Olhou pela janela, e viu que ainda era noite. Bocejou, sentando-se na cama. Sua visão ainda estava embaralhada, então esfregou os olhos e pousou os olhos na beira da cama, onde viu Adrien confortavelmente acomodado sobre o próprio braço, em sono profundo.

A garota arregalou os olhos, sacudindo a cabeça. Estava alucinando, não tinha outra explicação. Esfregou os olhos mais duas vezes, mas a imagem do garoto pelo qual era apaixonada continuava ali, apoiado na beirada de sua cama. Estendeu a mão vagarosamente até a direção dele. Se não fosse alucinação, só podia ser um sonho, mas Marinette logo se arrependeu quando seu toque parou na pele de Adrien e o garoto abriu os olhos em espanto.

"Marinette, você acordou!" ele levantou dos braços, esfregando os olhos.

"Acordei?" ela deu um sorriso torto "É, e-eu acho que acordei. Se bem q-que isso é um sonho, quer dizer, você parece um sonho, quer dizer, você é um son... argh!" Marinette afundou o rosto nas mãos, se amaldiçoando. Por que fazia papel de idiota na frente dele o tempo todo?

"Parece que você está mesmo de volta" Adrien disse depois de rir. Aquela era a garota que ele conhecia. Respirou aliviado. "Quem bom que você voltou" e sorriu, deixando o rosto de Marinette entre um tom de tomate e pimentão. Ele interpretou aquilo como vergonha por ele estar na casa dela, se intrometendo, e levantou-se rapidamente. Marinette olhou para a rua.

"Já é noite! Meu Deus, o que aconteceu?" ela esfregou a mão na testa, tentando lembrar.

"Você estava queimando de febre. Quando cheguei aqui vi você desmaiada" Adrien respondeu em uma voz baixa, relembrando preocupado.

"E-eu?" Marinette olhou para a parede tentano lembrar, mas a última coisa que recordava era ter engasgado enquanto tentava responder Adrien ao telefone e alguns pesadelos. Fechou os olhos com força. Queria que aquilo também tivesse sido um pesadelo.

"Marinette..." Adrien falou sério, virando-se para a garota "Se você precisar de qualquer coisa, qualquer coisa mesmo, fique sabendo que pode contar comigo, tá?" Adrien sem querer deixou os olhos caírem no abdome de Marinette, onde havia visto o hematoma, e desviou o olhar rapidamente. Ela não percebeu, e ele levantou a cabeça para fitá-la nos olhos "Sei que a gente não conversa muito, e que você tem muito mais intimidade com a Alya, mas seja lá o que acontecer, saiba que eu não vou te julgar, e vou estar aqui quando você precisar."

Marinette viu a timidez de Adrien sumir por um minuto e se transformar em confiança. Ele lhe fazia lembrar alguém que conhecia, mas não sabia quem. Sua cabeça ainda girava um pouco pelas horas inquietas de sono. Ela sentiu a vergonha sumir, e uma gratidão tomou conta de seu coração, fazendo-lhe abrir um sorriso no rosto.

"Eu sei disso. Obrigada, Adrien"

Adrien nunca tinha visto Marinette sorrir daquela forma. Sentiu o rosto aquecer e colocou a mão na própria testa. Tomara que não estivesse também ficando doente.

"Deixei ali em cima da escrivaninha os comprimidos que você precisa tomar. Chamei um médico pra vir te ver, espero que não se importe. Ele disse que você está com pneumonia, mas que se fizer o tratamento direitinho vai ficar bem logo logo" Adrien sorriu, e Marinette sentiu-se mais ainda em dívida com o garoto. Não tinha como amá-lo mais do que ela já o amava. Ou pelo menos era isso que ela achava.

"O-obrigada, Adrien. Não sei como te retribuir." ela disse, corando.

"Sabe sim. Se cuida e me liga se precisar" e Adrien piscou pra ela.

Os dois congelaram. Adrien sequer respirava. Havia deixado sua personalidade de Chat Noir tomar conta agora que estava mais acostumado a presença de Marinette. Estava deixando transbordar um lado que quase ninguém conhecia. Um lado que não sabia se era permitido mostrar aos outros, se iria ser aceito. Marinette viu Chat Noir na sua frente em um lampejo. A piscada. A mesma piscada. O mesmo flerte. A garota caiu em uma gargalhada divertida. Com certeza era um efeito da febre. Aquele estava sendo um dia muito, muito estranho. Adrien viu que Marinette ainda estava rindo, e o efeito foi contagioso. Ele não havia sido julgado. Ela estava bem. Tudo estava bem.

"Ligo sim, pode deixar!" Marinette sorriu, e por um segundo ficou surpresa por ter conseguido terminar uma frase sem gaguejar.

Adrien chamou o motorista e voltou para casa. Marinette voltou para o quarto, tomou os remédios e foi deitar, mas o sono não veio. Ficou olhando para o teto e recapitulando tudo o que tinha acontecido, e cada vez que lembrava que Adrien tinha estado presente em seu quarto, dormido em sua cama... "Calma, Marinette, ele só estava apoiado nela", ela dizia para si mesma e rolava na cama abraçada no travesseiro.

Num canto do quarto, Tikki estava sentada em uma pequena almofada, observando Marinette. Seu olhar era sério. A pequena kwami baixou a cabeça e, pela primeira vez em muitas décadas, rezou.

Adrien chegou em casa e jogou a mochila sobre o sofá em frente a televisão. O brilho forte branco do luar entrava pelas grandes janelas e refletia nas paredes do quarto, e Adrien foi até elas para observar o céu. Colocou a mão sobre o próprio peito. Sentia algo estranho, algo morno e aconchegante. Algo doce. Levou a mão ao rosto e sentiu o perfume de cereja. Respirou fundo, fechando os olhos, e franziu a testa, arregalando-os logo em seguida. Não era possível. Teria ele se apaixonado por Marinette? Impossível. Absurdo. Ele sabia o quando amava Ladybug, e por um minuto sentiu-se culpado por estar sequer imaginando aquele sentimento.

"Vou tomar um banho, vai ver só estou cansado" Adrien falou, mas nada lhe respondeu. Olhou em volta e não viu Plagg. Seu coração acelerou.

"Plagg?" ele perguntou, rastreando o quarto com os olhos.

"Sim?" ouviu a pequena voz sobre a cama responder e suspirou.

"Que susto, achei que tinha te esquecido na Marinette!" Adrien colocava a mão sobre o coração para acalmar os batimentos acelerados.

"Não, eu estava dentro da sua mochila" Plagg estava sério. Sério demais.

"O que aconteceu?" Adrien perguntou, aproximando-se. "Está bravo por que a gente não foi no Nino?" Adrien colocou as duas mãos sobre a cabeça "Meu Deus, o Nino!" ele gritou, correndo até o sofá e pegando o celular nas mãos. Viu dois alertas de mensagem piscando na tela.

[ Adrien, se você estiver na Marinette me avisa! Estamos esperado vocês dois pra festa - Alya. ]

[ Ai meu Deus, ela tá bem? ]

[ Então tá! Se precisar de alguma coisa me avisa! E se comportem ;) Beijo! ]


Adrien ergueu uma sobrancelha. Não lembrava de ter mandando mensagens ou ligado pra Alya. Coçou o queixo franzindo a testa, enquanto abria a caixa de saída, onde estavam as mensagens enviadas do seu celular.

[ Alya, não vmos ir na fsta. A Marintte está doente, vou ficar por aqi hje. ]

[ Ela tá bm sim, só uma grpe forte. ]

[ Obrgado. ]

Adrien reconheceu a escrita faltando letras.

"Plagg?" o garoto andou até o kwami com o celular em mãos "Foi você que mandou essas mensagens pra Alya?" Adrien perguntou mostrando a tela do celular.

"Pooooode ter sido? Eu fiz muita coisa hoje, não lembro de tudo." Plagg disfarçou, virando as orelhas de um lado para o outro "Por quê?"

"Porque se foi você, queria agradecer por você ter explicado tudo pra eles." Adrien sentiu um sorriso travesso atravessar os lábios.

"Ah, então fui eu sim. De nada!" Plagg disse, acenando positivamente com a cabeça, e os dois caíram na risada. Adrien acariciou a cabeça do kwami e levantou da cama, separando uma muda de roupas e entrando no banho. Quando voltou, Adrien viu Plagg de olhos fechado e achou que ele já hávia adormecido, mas o garoto estava sem sono. Deitou-se mesmo assim, e fechou os olhos, ouvindo o silêncio familiar que tomava conta de seu quarto.

O pequeno kwami preto abriu os olhos, girando a cabeça na direção de Adrien, que estava de costas para ele. Sentiu os olhos fecharem as pontas das orelhas encostarem no topo de sua cabeça em sinal de tristeza profunda. O garoto já havia perdido tanto na vida, e ele teria que lhe tirar mais uma coisa. Aquilo não seria fácil. Nada fácil.


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Notas finais do capítulo

E o próximo capítulo já está engatilhado!
Me façam feliz com comentários pra eu liberar rápido ^3^