Cronômetro escrita por KarenAC


Capítulo 24
Capítulo 24 - Reencontros


Notas iniciais do capítulo

Não consegui postar ontem, me desculpem, gente :~~
Pra compensar estou postando o penúltimo capítulo bem cedinho hoje! :D

De noite posto o último!
Preparem os lenços e a pipoca ♥



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Chat Noir sentiu seu braço se mover como que por vontade própria em direção a mão de Gabriel estendida na sua direção. Era seu pai, o homem que amava e respeitava, a única família que tinha, e ele estava à sua frente de joelhos, suplicante, pedindo ajuda, como nunca fizera antes. Sentiu a ponta de seus dedos tocarem a mão de seu pai.

"Tudo vai acabar bem." Gabriel falou sorrindo sinceramente e colocou a mão esquerda sobre a mão de Adrien "Nós vamos usar esse poder para algo muito maior, algo muito mais importante."

Adrien sentia a cabeça leve, como se flutuasse. Suas pálpebras estavam pesadas e ele só queria dormir. Algo gelava seu peito por dentro e ele sentiu que perdia toda a felicidade e era tomado por miséria e sofrimento. Uma sensação tão familiar, muito mais conhecida do que qualquer alegria que sentira. Talvez aquele fosse seu destino para sempre. Ser apenas uma ferramenta, uma alavanca para a alegria de outras pessoas.

Mas se aquilo agradaria seu pai e traria sua mãe de volta, por que não conseguia sentir-se feliz? Por que sentia aquele buraco no peito como se algo o devorasse por dentro? Ergueu o rosto e viu o brilho nos olhos do pai. Era aquilo que ele queria ser? Era naquilo que ele queria se tornar? Um homem cujo único propósito de vida era consertar seus erros sem se importar em quem tivesse que pisar no caminho? Adrien fechou o punho sobre a mão de seu pai e se levantou.

"Não." a voz grave do garoto retumbou pela sala e Gabriel o olhou de baixo para cima sentindo o coração falhar uma batida "Isso é errado, pai."

"Errado..?" Gabriel se levantava devagar, perguntando com a cabeça inclinada, como se não tivesse ouvido direito "Errado!? Nooroo, me transforme!" Chat viu horrorizado enquanto seu pai era consumido pela luz roxa e voltava a ser Hawkmoth.

"Pai, chega!" Chat Noir gritou com o bastão em mãos "Eu não quero lutar contra você!" franzia a testa e dobrava o corpo para frente enquanto gritava.

"Se não for por bem, eu não tenho outra escolha, Chat Noir." Gabriel falou as últimas palavras lentamente. Adrien engoliu a seco. Aquela era a prova definitiva que ele estava desistindo de Adrien como filho. Que o via como uma pedra no meio do caminho e não admitiria ser parado por nada.

Hawkmoth bateu a bengala no chão e as borboletas começaram a girar ao seu redor, transformando-se pouco a pouco de brancas em negras. Conforme iam escurecendo, voavam na direção de Chat tão rápido como pequenos mísseis. Ele pulava e corria pela sala, fugindo dos ataques. No chão e nas paredes onde as borboletas batiam, o concreto se partia no formato de buracos.

Chat Noir abriu o bastão e começou a rebater as borboletas. Não queria atacar seu pai, não queria perdê-lo também. Sentiu as lágrimas aquecerem seus olhos e turvarem sua visão. O que havia feito para merecer aquilo? Por que toda sua família havia se quebrado em tantos pedaços e agora a única coisa que lhe restava também estava sendo tirada dele? Sentiu uma dor lancinante no peito e caiu sobre um joelho, então viu os ataques pararem e Hawkmoth se aproximar.

Sentiu-se ser levantando pela gola da roupa. Algo o fazia tremer incontrolavelmente, não conseguia entender o que estava acontecendo.

"O que você fez, Adrien?" ouviu a voz do pai perto de seu ouvido. Sentia como se os pulmões tivessem cheios de água e a cabeça latejava dolorosamente.

Gabriel baixou a gola da roupa de Chat Noir e viu uma grande mancha negra se espalhando pela superfície da pele. Percebeu que os dedos apertaram em reflexo contra o uniforme negro do filho. Como aquilo tinha acontecido? Sentiu Chat agarrar sua mão, soltando-a da gola e se afastando em dois passos cambaleantes.

"Esse Miraculous não é seu, pai..." Chat estava ofegante "Nunca v-vai ser. Eu vou lutar com garras e presas por e-ele" sorriu de canto e Gabriel sentiu o coração falhar uma batida. O mesmo sorriso de Amelie. As mesmas piadas horríveis.

"Adrien, o que você fez?" Hawkmoth correu para a janela, percebendo que a escuridão do lado de fora não era apenas noite. As coisas estava como antes. A Ladybug não havia purificado tudo "O que você fez com o akuma!?" correu até o garoto e gritou próximo a seu rosto.

Chat Noir sentia o mundo girar e tentava manter-se em pé, mas algo dentro de seu coração era frio, muito frio. Sentiu o queixo bater como se estivesse em uma geleira, e logo sua respiração começou a ficar fraca. Segurou o bastão com toda a força que conseguiu para usá-lo de muleta, mas não foi o suficiente e ele tombou para a frente.

"Não... Não..." Hawkmoth caiu de joelhos ao lado de Adrien, as mãos trêmulas no ar, e no próximo segundo a transformação do garoto se desfez. O homem pegou o filho nos braços, aproximando-o do peito. O corpo de Adrien estava frio e os lábios tremiam. A mancha negra atingia a região da sua mandíbula, espalhando-se lentamente sobre a pele.

"P-Pai, tudo o que nós fazemos tem um preço. As outras pessoas não tem n-nada a ver com isso. O-Os Miraculous não tem nada a ver com isso. Cada semente d-dessas fomos nós que plantamos, e é o que vamos colher. Vamos parar com isso, pai. Vamos ser felizes juntos." Gabriel ouvia o garoto falar com dificuldade, tremendo entre as palavras, e por um minuto não o reconheceu. Ouvia a voz grave e os ombros largos com o olhar sério o fitando. Desde quando Adrien havia crescido tanto? Onde ele estava enquanto o seu filho amadurecia daquele jeito? Olhou para a mancha no pescoço do garoto que começara a se estender pelo rosto dele.

"PLAGG! PLAGG!" Gabriel gritava a plenos pulmões, e sua transformação se desfazia enquanto seu corpo tremia descontroladamente.

O pequeno kwami sobrevoou o corpo de Adrien, ofegante, fazendo contato visual com Gabriel.

"Por favor, salve ele! Eu dou o que você quiser! Faço o que você quiser!" Gabriel gritava sentindo grandes lágrimas caírem de seu rosto enquanto via Adrien ficar com o corpo cada vez mais e mais frio nos seus braços.

"Você sabe..." Plagg soluçou "...que eu não tenho esse poder, Gabriel. Eu não posso fazer nada." o pequeno kwami sentou no pescoço de Adrien, aconchegando-se ali. Não queria ver o garoto morrer. Ele não merecia aquilo. Nada daquilo.

Gabriel apertava Adrien contra o próprio corpo, tentando mantê-lo aquecido. Era culpa dele. Tinha feito aquilo de novo. De novo por suas próprias mãos. Sabia o que acontecia com um portador do Miraculous que absorvesse um akuma. Sabia que era fatal.

 

Por favor, não me tirem ele também.

Não levem meu filho.

Não deixem ele morrer.

 

"Adrien!" Gabriel ouviu uma voz gritar atrás de si e como reflexo apertou o filho mais forte contra o peito. Ninguém o tiraria dele. Não o roubariam dele. Ele não ia perder mais ninguém.

Em sua frente, Ladybug pousou com delicadeza e Gabriel cerrou os dentes na direção dela, silvando em um sinal de ameaça. Ela estava ali para destruí-lo. Para destruir os dois. E depois abandoná-los, como todas as Ladybugs faziam.

Ela andou calmamente até os dois e se ajoelhou, abrindo os braços com um sorriso tranquilo no rosto. Gabriel sentia as lágrimas queimando nos olhos. Estava perdendo o resto de humanidade que tinha e não se importava com mais nada a não ser salvar a vida de Adrien.

"Me deixa cuidar dele." ela murmurou em uma voz doce "Eu prometo que tudo vai dar certo."

Gabriel sentiu um nó na garganta e soluçou. Olhou para baixo e viu Adrien respirando superficialmente e franzindo a testa em uma expressão de sofrimento. Ele tinha feito aquilo com as próprias mãos, mas sabia que não tinha poder para mudar o que causara. Fechou os olhos, sentindo algo apertar em seu peito. Em um movimento lento, entregou o corpo de Adrien para Ladybug. Ela o abraçou como a coisa mais preciosa que já tinha segurado no mundo e sussurrou algo que ele não conseguiu ouvir no seu ouvido.

 

Eu voltei.

 

Gabriel viu o carinho no olhos de Ladybug. O mesmo olhar que Amelie oferecia a ele quando as coisas não estavam bem. O mesmo sorriso tranquilizador. Sentiu que ela cuidaria de Adrien, que ele estava em boas mãos. Respirou fundo. Se Gabriel tivesse percebido aquilo mais cedo, se tivesse dado valor a Amelie ao invés de suas próprias ambições, nada daquilo teria acontecido. Talvez se arrepender de tudo também fosse um jeito de parar o cronômetro. De parar o ódio que crescia e arrastava tudo consigo.

Gabriel viu Adrien se mover sem abrir os olhos e trancou o soluço que estava prestes a transbordar, vendo o garoto erguer a mão e tocar o rosto de Ladybug, ainda não completamente consciente.

"Vamos acabar com isso." Ladybug disse sorrindo e atirou o iôiô para cima, gritando com todas as forças que tinha "MIRACULOUS LADYBUG!"

Uma multidão de joaninhas explodiu para fora do iôiô, tomando conta de toda a sala e envolvendo Adrien, correndo em seguida janela afora para despertar o mundo que estava adormecido por tempo demais. Ladybug baixou a cabeça e aninhou o rosto no pescoço de Adrien.

 

Volta pra mim.

 

Adrien sentiu as forças voltando aos poucos e abriu os olhos devagar, girando a cabeça em volta e pousando o olhar em Ladybug. Sentiu um sorriso puxar-lhe os lábios. Era tão bom vê-la. Tão, tão bom. Ele a amava demais. Não conseguia explicar o quanto. Virou a cabeça e viu o pai secando as lágrimas com as costas das mãos. Nunca havia visto Gabriel tão vulnerável, muito menos quando ele agarrou a camisa de Adrien e soluçou sobre ele como uma criança. Colocou a mão sobre a cabeça do pai e olhou para os olhos de Ladybug.

 

Estou em casa.

 

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Ladybug ajudou Adrien a levantar e Gabriel parou em pé ao lado deles.

"Ladybug, onde ela está?" Adrien perguntou e viu a garota sorrir.

"Ela disse que ia nos esperar lá fora." Ladybug virou para fitar Gabriel que os olhava sem entender "Ela disse que queria ver o senhor." Gabriel ergueu uma sobrancelha e Ladybug passou por ele, tocando-o levemente no braço "Acho que vocês têm muito o que conversar. Vou pedir pra ela entrar." Gabriel viu Ladybug e Adrien se afastarem e girou o corpo para olhar através da grande janela redonda a cidade que acordava aos poucos da escuridão.

"Gabriel?" ouviu o próprio nome em uma voz familiar e se virou, sentindo o coração pular no peito. Nunca a tinha visto sem o uniforme, mas sabia quem era. Aqueles olhos, aquele sorriso. Era ela.

"L-Ladybug?" Gabriel sentiu-se gaguejar, hesitou um passo e pigarreou. Ela sacudiu a cabeça em sinal negativo.

"Não, não mais, lembra?" ela sorriu timidamente.

A mulher andou em passos delicados até o meio da sala, ficando frente a frente com Gabriel. Ela era tão mais baixa do que ele lembrava, tão menor, tão mais frágil.

"O que você está fazendo aqui?" ele estava confuso. Não imaginava que ela ainda morava em Paris. Ela nunca havia se mostrado sem a máscara. Sempre havia dito que preservava a segurança de sua família mais do que tudo, então por que estava ali agora?

"Eu vim porque acho que está na hora de você saber algumas coisas." ela andava pela sala, olhando os cantos adornados nas paredes e os detalhes das janelas "Amelie te amava mais do que tudo nesse mundo, Gabriel." ela se virou devagar, falando com calma "E tudo o que ela fez, ela faria de novo." riu baixinho "Você sabe melhor do que ninguém que ela não era o tipo de mulher que se arrependia do que fazia."

"Como...?" Gabriel estava sem palavras. Como ela podia saber aquilo?

"Nós éramos amigas, mais do que você imagina, e sempre que vocês tinham algum problema, ela ia lá em casa e nós conversávamos." ela sorriu, olhando para o chão enquanto lembrava "Ela era uma mulher maravilhosa. E ela nunca, nem por um segundo, se arrependeu de estar do seu lado, Gabriel" ela sorriu e viu as sobrancelhas de Gabriel se unirem para conter as lágrimas que enchiam seus olhos.

"Por quê?" Gabriel caiu de joelhos no meio da sala "Por que isso teve que acontecer comigo?" ele segurou a cabeça nas mãos.

Ela se aproximou, ajoelhando-se e colocando as mãos sobre os ombros dele.

"Às vezes coisas ruins acontecem a pessoas boas, Gabriel, mas isso não muda o que ficou para trás. Não é mais hora de pensar nas dores do passado." ela inclinou a cabeça na direção dele "Está na hora de pensar nas coisas felizes do presente. Você tem um filho maravilhoso, ele está crescendo bem em frente a seus olhos e você está perdendo isso. Olhe pra ele, Gabriel. Tenha orgulho dele. É o presente que Amelie te deixou. É um pedaço dela que ficou pra trás."

Gabriel soluçou, abraçando-a. Ela dava tapinhas nas costas dele, sorrindo. Lembrava o quanto ele costumava esconder as próprias emoções e fingir que estava tudo bem atrás da expressão séria mesmo quando algo o rasgava por dentro. Rezava para que tudo o que havia acontecido mudasse ele de dentro para fora também.

"Obrigado..." ele disse, mas não terminou a frase e sorriu sem jeito "Desculpe, eu não sei como te chamar."

"Sabine." a mãe de Marinette respondeu, sorrindo sinceramente "Sabine Dupain-Cheng."


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Notas finais do capítulo

E aí, quem acertou nas teorias?
Comentem! Me contem o que acharam! *0*