Cronômetro escrita por KarenAC


Capítulo 23
Capítulo 23 - Entrega


Notas iniciais do capítulo

Resolvi atualizar um pouco mais cedo pra que vocês possam ler antes de dormir ♥
Aproveitem e não esqueçam de comentar o que acharam! ^^



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Chat Noir pousou na janela do próprio quarto, adentrando o cômodo enquanto sentia cada músculo do seu corpo enrijecer em nervosismo. Sentia a boca secar e as mãos tremerem, mas não parava de caminhar. Não baixaria a cabeça. Não se deixaria ser vencido. Abriu a porta do quarto, ouvindo o Miraculous apitar pela última vez.

Adrien soltou a transformação assim que chegou na cozinha, e pegou um pedaço de camembert da geladeira, oferecendo-o a Plagg. O kwami comeu em silêncio enquanto Adrien encostava-se no balcão, esperando Plagg recarregar as energias. Nenhum dos dois trocou uma palavras sequer, o destino já era escuro o suficiente para que eles precisassem confirmar aquilo em palavras. Depois de revitalizado, Adrien transformou-se novamente em Chat Noir, voltando ao saguão de entrada da casa.

Olhou para as escadas e para o grande quadro pendurado na parede. O dia do enterro de sua mãe. Lembrava claramente daquele dia, já que fora provavelmente o pior de toda a sua vida. Sentira como se uma parte de si tivesse sido arrancada, e ainda assim Gabriel insistiu para que tirassem uma foto. E pior do que aquilo, mandou fazer um quadro enorme e pendurá-lo na parede. Agora, vendo o grande retrato ali, no meio da casa, conseguia entender o motivo.

Aquele não havia sido apenas o dia do enterro da mãe de Adrien. Havia sido o dia do enterro de Amelie, a portadora do Miraculous do pavão. Havia sido o final da vida de Gabriel como Chat Noir. Havia sido o dia em que Gabriel enterrava a pessoa que mais amava no mundo e que havia matado com as próprias mãos por causa de um erro que havia cometido. E não queria esquecer aquele erro por um minuto sequer, então ali estava a lembrança, pendurada na parede. O dia em que tudo terminou. E o dia em que tudo começou.

Adrien sempre havia sentido que era um estranho dentro da própria casa, mas nunca como agora. Subia as escadas da mansão com a roupa de Chat Noir, passando a ponta dos dedos pelas paredes e pelo corrimão, como se sentindo-os pela primeira vez. A cada passo que dava, a certeza retumbava mais e mais alto dentro da sua cabeça.

 

Pela minha mãe.

Por Marinette.

Por Paris.

 

Entrou na sala de seu pai e tudo parecia como antes. Apertou os olhos e na parede do outro lado do cômodo percebeu que o cofre estava aberto. Andou pela sala silenciosa, ouvindo os passos retumbarem pelo local e sentiu um nó na garganta ao alcançar o outro lado. A única coisa que tinha lá era um livro. Um único livro, e mais nada.

Levou a mão hesitantemente até o livro, puxando-o, mas sentiu resistência. Não era um livro, era uma alavanca. Chat puxou-a com mais força e quando ela se acionou, setiu um tremor sob seus pés e o cofre desapareceu atrás da parede, dando espaço para um elevador. Ele engoliu a seco vendo o fundo do pequeno bloco de ferro escuro e claustrofóbico, mas cerrou os punhos com força e deu um passo à frente.

As portas de metal se fecharam, e alguns segundos depois abriram-se à sua frente, mostrando uma sala envolvida em breu. Quando colocou o pé para fora do elevador, a escuridão sumiu e o espaço foi tomado por uma nuvem de borboletas brancas. Dezenas, centenas, milhares. Eram tantas que ele podia ouvir o bater das asas sincronizado quase tão alto como se fossem pássaros voando pelo local. Cada uma delas emanava uma luz própria, como pequenos pontos de luz. Do outro lado da sala, a grande janela redonda estava aberta e a luz da lua invadia o ambiente. A luz azul. A mesma luz azul que vira no sonho com sua mãe caída no chão.

Respirou fundo e engoliu a saliva, pegando nas mãos o bastão que guardava na cintura. Seus passos não faziam qualquer barulho. A sala tinha um fino carpete cobrindo o chão, provavelmente para que ninguém nos outros cômodos da casa reparasse que tinha alguém caminhando naquele lugar. Chat olhou em volta. O escritório de Gabriel era só uma fachada. O verdadeiro cômodo era aquele, e estava escondido bem acima do nariz dele o tempo todo.

"Você veio sozinho?" ouviu uma voz retumbar atrás de si e virou-se rapidamente, assustando as borboletas à volta que ergueram vôo ao mesmo tempo.

Chat Noir crispou os olhos para enxergar a distância e viu o homem se aproximar. O terno roxo era bem encaixado ao corpo, bem como a máscara prateada sobre o rosto. Luvas negras de um material muito parecido com o seu próprio uniforme de Chat Noir vestiam as mãos dele, e em uma das mãos, uma bengala. Finalmente, Hawkmoth. Finalmente, Gabriel.

"Essa bengala..." Chat começou.

"Não tem nada a ver com a bengala da Supernova, se você quer saber." Hawkmoth riu, caminhando lentamente até a direção de Chat "Foi uma feliz coincidência, porém foi o necessário para que nós tivéssemos uma sincronia melhor do que o normal." ele olhou em volta "Onde está Ladybug?"

"Você não sabe?" Chat perguntou, endireitando a postura, e viu uma sombra de dúvida passar pelos olhos de Hawkmoth. Então ele não conseguia vê-los nem sentí-los. Como ele sabia quem akumatizar? Olhou para a própria mão com o punho cerrado e lembrou de tudo o que conversara com Plagg. A dor. Hawkmoth conectava a dor de seu próprio coração com a das outras pessoas.

"Bom, não importa. Eu posso começar por você, e eventualmente ela vai aparecer" Chat viu um sorriso torto passar pelos lábios do homem quando ele estendeu a mão "Seu Miraculous, por favor." falou as últimas palavras em um tom sarcástico.

"Nem pensar, Hawkmoth. Eu vim aqui pra acabar com isso de uma vez por todas." Chat Noir colocou-se em posição de defesa.

"Oh? Está?" Hawkmoth pronunciou a interjeição com um sorriso debochado "Já que está aqui, posso saber como me achou?"

Chat Noir arregalou os olhos. Hawkmoth não sabia. Não sabia que por baixo da máscara de Chat Noir era Adrien quem o desafiava. Então realmente aquele seria o fim, Iria esclarecer tudo, saber todas as verdades. Cada uma delas. Todavia, para aquilo acontecer, precisaria entregar a sua verdade primeiro.

"Eu moro aqui." Chat falou sentindo a voz tremer levemente no meio das palavras e viu Hawkmoth hesitar um passo e parar a caminhada no meio da sala.

"Você o quê...?" Hawkmoth inclinou a cabeça para a frente, franzindo os olhos, como se não conseguisse enxergar algo ao longe.

"Sou eu, pai." a voz grave ressoou pela sala e foi atirada contra os ouvidos de Gabriel como um tiro.

Hawkmoth perdeu o equilíbrio e deu um passo para trás. Sentiu o coração acelerado e os olhos corriam de um lado a outro na sala, como se alguém fosse aparecer e dizer que aquilo era mentira. Adrien? Como podia ser ele? Ali, embaixo do seu próprio teto, aquele tempo todo? Seu próprio filho? Sentiu a raiva crescer dentro de si.

"Você é um traidor!" o grito de Hawkmoth percorreu a sala e todas as borboletas desapareceram no ar como se tivessem virado pó "Como você ousa morar embaixo do meu teto carregando essa maldição!?" ele esbravejava apontando para Chat.

"Maldição!? Do que você está falando!?" Chat gritava de volta. Sabia o quanto Gabriel odiava ser contrariado, mas ali eles não eram mais pai e filho. Gabriel não podia mais controlá-lo. Ali, eles eram inimigos.

"Esse poder matou a sua mãe, Adrien! Destruiu a nossa família!" Hawkmoth se aproximou em passos largos e segurou os ombros de Adrien, sacudindo-os.

Adrien não reconhecia o próprio pai. Ele parecia desequilibrado, emotivo, impulsivo. Nada do que ele via em Gabriel no dia-a-dia. Aparentemente ele era mais um que só conseguia mostrar quem realmente era quando vestia uma máscara. Ergueu os olhos, desafiando-o.

"Não foi o Miraculous que destruiu nossa família..." Adrien sentia a raiva crescer dentro de si e ferver seu sangue. Cerrou os dentes para controlar as emoções, mas pouco ajudou "...foi você." disse fuzilando Hawkmoth com o olhar.

Gabriel deu um rápido passo para trás como se tivesse tocado em algo em brasas. Como ele tinha coragem de dizer aquele tipo de coisa de seu próprio pai? Sabia que os dois não eram próximos, mas nunca vira raiva nos olhos de Adrien daquela forma.

"Foram eles, não foram? Eles envenenaram você." Hawkmoth murmurou, e Adrien ouviu a derrota na voz do pai.

"Ninguém me envenenou, pai." chamá-lo de pai ali, naquela situação, lhe causava calafrios na espinha "Eu vi tudo o que aconteceu com meus próprios olhos. Pare de culpar os outros por coisas que você mesmo fez! Se você assumisse o que aconteceu e parasse de destruir a vida de todo mundo à sua volta, as coisas estariam bem agora! Pra que causar todas essas desgraças em Paris? Pra que fazer tanta gente sofrer? Por que é tão importante ter os Miraculous afinal?" Adrien deu dois passos na direção do pai, mas parou ao ver a sombra de incredulidade atravessar os olhos de Gabriel.

"Você sabe o que os Miraculous são, Adrien? Você tem ideia do que eles podem fazer?" Hawkmoth bateu a bengala no chão, e todas as borboletas brancas retornaram à sua volta. Ele ergueu a mão e uma delas pousou ali. Logo mais e mais delas se juntaram à primeira, até que uma esfera de asas inquietas foi formada. Hawkmoth fechou a mão e as borboletas colidiram umas contra as outras, formando um orbe de brilho e fumaça branca. Ali no meio, a imagem do rosto da mãe de Adrien surgiu.

"O que você está fazendo?" Chat perguntou, sentindo o coração gelar.

"Os Miraculous da criação e da destruição são os que contém o poder do mundo, Adrien. Os que podem controlar o equilíbrio do levantar e cair. Do surgir e sumir." Hawkmoth fez uma pausa, erguendo as sobrancelhas, olhando para o filho por baixo da máscara prateada "Do nascer e do morrer."

Chat Noir sentiu as pernas bambas e caiu de joelhos. Era aquilo. Era aquilo que ele queria.

"Eu vou ressuscitar a sua mãe, Adrien." Gabriel falava, olhando para o orbe que mostrava cenas da vida de Amelie como se fosse um filme gravado em looping "Ela morreu por causa desses poderes horríveis, e agora eu vou usá-los pra trazer ela de volta." Chat viu o pai se aproximar com a esfera em mãos. Sentia o coração palpitando na garganta.

"O-O quê..." Adrien sentiu os lábios se mexerem, mas não conseguia raciocinar para articular palavras. Ele podia ressucitar Amelie. Podia trazer de volta a pessoa que mais lhe fazia falta na sua vida.

"Eu posso trazer ela de volta, Adrien. Você nunca mais vai precisar ficar sozinho. Nunca mais vai precisar sentir falta dela. Ela merece isso, Adrien, muito mais do que qualquer um de nós. Porque o cronômetro está andando, mas em um estalar de dedos ele irá parar, Adrien." o garoto viu Hawkmoth estalar os dedos no ar e o orbe de luz desaparecer.. Aquela frase. A frase que Marinette tinha lhe dito para explicar que seus poderes estavam terminando. Era tudo um plano dele. Hawkmoth tinha acelerado tudo para que Ladybug não conseguisse mais resistir e se entregasse.

"O que acontece..." Chat teve que engolir saliva para continuar falando. Sentia as palavras lhe afogando "O que acontece se você usar os Miraculous para isso?"

"Os Miraculous deixam de existir." Hawkmoth alinhou a coluna e bateu a bengala no chão "Todos eles. Toda essa desgraça, essa maldição, kwamis, poderes, e tudo o mais. Acabou." ele cortou o ar com a mão direita.

Chat Noir baixou a cabeça, olhando para a própria mão e para o anel que carregava. Os poderes iriam sumir, todos os Miraculous e os kwamis. Tudo acabaria. Se um dia o mal ressurgisse, nada poderia ser feito. As pessoas iriam sofrer e morrer pelas mãos de algo que não poderia ser detido. Franziu a testa.

"E as pessoas? O que acontece com elas?" Chat perguntou e viu horrorizado uma ruga profunda atravessar a testa do seu pai.

"Com elas!? E interessa o que acontece com elas!? Quando eu tentei fazer algo, me disseram que a responsabilidade não era minha! Que o meu trabalho havia acabado! Se eles tivessem me dado o Miraculous da Ladybug, nada disso teria acontecido, Adrien. Você não entende?" Adrien viu o pai se abaixar à sua frente para olhá-lo nos olhos "Nós podemos acabar com isso, reconstruir a nossa família. Não é tudo que você sempre quis?"

Chat desviou o olhar sentindo uma gota de suor descer pelo seu rosto. Era verdade. Era o que ele sempre desejou. Sonhava com a mãe voltando para casa, dizendo que aquilo tudo tinha sido apenas uma brincadeira, e tudo voltaria ao normal. Fechou os punhos com força. Mas e as pessoas? E o mundo? Teria coragem de sacrificar o futuro do mundo em troca de sua própria felicidade? Girou a cabeça devagar, olhando para o pai que soltava a transformação e arregaou os olhos.

"Adrien..." Gabriel começou em um tom gentil no qual nunca ouvira antes "Junte-se a mim. Me ajude. Me dê o seu Miraculous. Vamos trazer a sua mãe de volta. Vamos ser felizes." e sorriu, estendendo a mão para ele.

Adrien nunca vira o pai sorrir, não para ele, daquela forma. Gabriel só queria ver a família junta e feliz, só queria ver todos bem. Ele não era ruim, não era cruel. Só estava machucado, e queria de volta o que havia sido tirado dele. E Adrien também queria. Queria mais do que tudo ver a mãe de novo, poder abraçá-la, beijá-la, chegar em casa no fim da tarde e contar como tinha sido seu dia.

Então em um movimento lento, Adrien percebeu que colocava a mão sobre a de seu pai.


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Notas finais do capítulo

Essa última cena de "Junte-se comigo ao lado negro da força" foi quase uma fic de Star Wars! Referências everywhere!
Ah, e um segredo pra vocês, já comecei a escrever a fic nova!
Depois que a Cronômetro acabar, eu conto sobre o que é, mas vai ser beeeem diferente ♥