Cronômetro escrita por KarenAC


Capítulo 19
Capítulo 19 - Prova


Notas iniciais do capítulo

Prontos? Lá vai! ^---^



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"Marinette."

 

Ladybug ouviu a palavra sair da boca de Adrien e quando percebeu estava com as costas grudadas na parede do outro lado do quarto. Ela enxergava ele caminhando em sua direção com as mãos levantadas em posição defensiva, como um criminoso que diz que não está armado, falando coisas que ela não conseguia entender. Ouvia as próprias batidas do coração tão altas que era como se elas soassem pelo quarto inteiro em um volume ensurdecedor. Por que ele a chamara pelo nome? O que aquilo significava? Conforme Adrien se aproximava, ela se afastava em passos largos, como se mantendo distância de um predador.

"...bem." ouvia a voz de Adrien abafada, como se ela estivesse fechada em uma caixa de vidro. Não conseguia entender o que ele dizia.

Ladybug começou a correr pelo quarto, tentando manter distância de Adrien, como se aquilo fosse impedí-lo de ver seu rosto. De confirmar quem era. Mas sabia que era tarde demais, sabia que estava tudo acabado. Quando ela tinha baixado a guarda? Quando tinha colocado tudo a perder? Começou a revirar as memórias, tentando pensar em um momento onde ele talvez pudesse tê-la visto, mas não conseguiu pensar em nada.

 

Ele sabe quem eu sou.

Como ele sabe quem eu sou?

Acabou.

Tudo acabou.

Ele vai correr perigo.

Eu não posso protegê-lo.

Não posso protegê-lo do jeito que eu estou.

Meu Deus.

Meu Deus.

 

Ladybug girou a cabeça rapidamente para a janela e viu o vidro aberto. Uma saída. Ela precisava de uma saída. Correu com a maior velocidade que conseguiu, mas quando estava com a mão prestes a encostar no vidro, Adrien já estava à sua frente, fechando a janela e bloqueando a passagem, e era tarde demais para frear. Os corpos dos dois colidiram de frente, e Ladybug estava prestes a cair para trás, quando Adrien laçou-a pela cintura com o braço, grudando o corpo dela no seu.

O peito dos dois subia e descia rapidamente em uma respiração agitada e descompassada. O olhar azul encontrava o verde. O medo e a determinação. O desespero e a brandura. O terror e a bravura. Dois lados de uma mesma moeda. Duas forças terríveis e maravilhosas misturadas em um abraço.

"Chega, Marinette." Adrien falou devagar, seriamente, sem tirar os olhos dos dela "Chega de segredos." murmurou, juntando-a em um abraço lento.

Ladybug sentiu as pernas perderem as forças e Adrien apertou o abraço quando notou que ela falseava. O que ele estava falando? Que brincadeira era aquela? Ela sentiu os cantos dos lábios repuxarem em um sorriso incrédulo. Era quase cômico, se não fosse trágico. Só podia ser brincadeira, não tinha outra explicação. Ela não conseguia reagir. Sentiu os braços dele relaxarem ao redor da sua cintura.

Adrien estava pronto. Sentia-se mais rápido, mais forte. Ele podia protegê-la de tudo e de todos, e depois daquele dia tinha certeza que ela também estaria ali quando ele precisasse. Conhecia todos os lados dela. Todas as lágrimas, todos os sorrisos, todos os medos. Restava saber se ela o aceitaria do mesmo jeito, se o veria da mesma forma por cima ou por baixo da máscara, e a única maneira de resolver aquilo era dando a cara a tapa. Quando os olhos deles se encontraram novamente, Adrien tinha um sorriso sorrateiro.

"My lady." Ladybug piscou três vezes. Adrien. Chat Noir. Adrien. Ela levou a mão à testa e cambaleou para trás, encontrando o sofá e sentando-se sobre ele. Adrien é o Chat Noir? Colocou as duas mãos sobre o rosto, apoiando os cotovelos nas pernas e afundando as pontas dos dedos no couro cabeludo. Um sonho. Isso. Devia ser um sonho.

Fechou os olhos e esfregou-os com os punhos, na tentativa de acordar daquela situação, mas quando os descobriu, tudo continuava do mesmo jeito.

"Você... está bem?" Adrien sentava ao seu lado, olhando-a apreensivo. Ele viu ela abrir e fechar os lábios duas vezes, mas nenhum som saiu. Talvez aquilo fosse um não.

Ele baixou os olhos para as mãos cruzadas sobre o colo, começando a se arrepender de toda aquela situação. Estava de novo pressionando-a. Por tanto tempo havia respeitado a decisão dela de manterem as identidades em segredo e agora ali estava, jogando todas as cartas na mesa de uma vez só. Talvez fosse demais pra ela. Ou pior, talvez ela nem pensasse nele daquela forma. Fechou os olhos com força. Era aquilo, ele havia percebido os sinais de forma errada. Ela era só uma garota gentil, e ele estava confundindo as emoções. Levantou do sofá e andou devagar até a janela, abrindo-a.

"Pode ir." ele murmurou, de costas para ela.

Ladybug arregalou os olhos, vendo os ombros dele curvarem em uma posição de derrota. Em apenas um movimento, toda a coragem e força que sentira nele havia desaparecido, dando lugar ao mesmo garoto machucado que ela encontrara sentado quando chegara ali.

"Adrien..." ela murmurou.

"Me desculpa." ela sentiu a voz dele quebrar no final da frase.

Adrien sentia que a estava forçando a ficar ali. E como não? Havia literalmente encurralado a garota e a trancado dentro do seu quarto, mantendo-a refém de suas próprias vontades. Talvez seu pai tivesse razão, talvez ele fosse realmente desequilibrado emocionalmente. Tinha que aprender a controlar aqueles sentimentos, aquele turbilhão de sensações. Deveria naquele ponto já ser um homem melhor, uma pessoa melhor. Começou a sentir nojo de si mesmo por ter imposto seus caprichos em cima de uma garota que já estava enfrentando tantos problemas.

 

Em que tipo de monstro eu me tornei?

 

Adrien ouviu Ladybug levantar do sofá e fechou os olhos, virando-se de lado. Não queria vê-la ir. Aquilo ia doer como se arrancassem seu coração do peito, e ele não sabia se aguentaria ser torturado mais do que já estava sendo. Apertou as pálpebras com força quando ouviu ela se aproximando, e esperou o som dos pés dela contra a estrutura da janela, mas ele não aconteceu. Sentiu um peso nas costas, em um toque hesitante, e abriu os olhos subitamente. Não tinha coragem de se virar, então olhou para a direita e viu o reflexo na janela.

Ladybug estava com a testa apoiada nas costas dele e os olhos fechados. Não conseguia ver claramente o semblante dela, porém notou que ela estava aflita devido aos punhos fechados e os braços caídos de cada lado do corpo.

"Adrien..." ela chamou em uma voz baixa e ele se virou devagar. Não lembrava de ela ser tão mais baixa do que ele. Sempre que ela era a Ladybug, na sua memória, ela era até mais alta, imponente em toda a sua confiança. Sorriu timidamente para si mesmo. Esse monte de detalhes o impediu mais ainda de ver a verdade bem debaixo dos seus olhos.

"Marinette..." ele repetiu no mesmo tom dela, sentindo o canto de um dos lábios ensaiar um sorriso "Eu não quero que você ache que eu estou te pressionando ou te forçando a algo que você não quer..." ele viu ela sacudir a cabeça devagar em sinal negativo.

"Não é esse o problema ." ela começou timidamente, de cabeça baixa. Sentiu Adrien colocar a mão devagar embaixo de seu queixo, levantando seu rosto.

"Então me diz qual é. Me deixa fazer parte disso." Adrien olhava Ladybug nos olhos, e viu que o olhar dela se tornou mais terno.

"Você sabe o que está acontecendo comigo. Sabe o que nos espera em breve." desviou o olhar para a rua, olhando Paris se estender até onde os olhos pudessem alcançar "E eu não sei se eu consigo proteger você e isso ao mesmo tempo." ergueu o braço e balançou a mão, indicando a cidade do lado de fora. Ela ouviu ele rir, e logo o riso virou uma gargalhada.

Adrien estava literalmente gargalhando, e aquela era a coisa mais rara do mundo. Ele ria tanto que chegava a segurar a barriga e secar as lágrimas nos cantos dos olhos.

"Esse é o problema? Sério?" Adrien olhou para a rua, o tempo nublado e sem graça, e por um momento aquele pareceu o dia mais lindo do mundo. Ela não estava fugindo dele. Estava fugindo da possibilidade de machucá-lo. Olhou pra ela e viu que ela tinha as sobrancelhas levantadas em surpresa. "Vem cá, eu vou te mostrar uma coisa." ele disse pegando-a pela mão e levando-a até a janela. Ela se deixou ser levada, sem entender o que estava acontecendo.

"Plagg, mostrar as garras!" Adrien gritou, e Ladybug não conseguiu se mover de onde estava. Viu a luz verde descer o corpo dele, transformando as roupas do dia-a-dia de Adrien no uniforme do Chat Noir. Era ele. Era ele mesmo. O mundo girou e ela teve que se apoiar na janela para não cair.

Quando a transformação acabou, ali estava ele, em todo semblante de atrevimento do Chat Noir, olhando-a com as mãos na cintura.

"Admirada?" ele ergueu o queixo em uma pose de orgulho e ela revirou os olhos gemendo em desaprovação, sacudindo a cabeça surpresa com a própria reação "Viu?" ele começou, rindo "Você é você e eu sou eu." ele se aproximou "Isso não muda quem nós somos por dentro, nem nunca vai mudar, mas não era isso que eu queria te mostrar." ele foi até a janela e fez sinal com a mão para que ela se aproximasse.

"Quanto tempo você tem de transformação ainda?" Chat perguntou, olhando para os brincos dela.

"Uns cinco minutos, talvez? O Miraculous ainda não apitou." ela tocou a ponta da orelha.

"Vai servir. Nós vamos fazer uma aposta." ele disse e Ladybug ergueu uma das sobrancelhas "Não me olha assim, é sério!" ele franziu a testa e continuou "Quem de nós subir a Torre Eiffel, deixar isso lá em cima e voltar primeiro, ganha a aposta." Chat entregou para Ladybug uma fita vermelha que buscou na gaveta do criado-mudo e sacudiu a fita verde, mostrando a que era dele. Não era um caminho muito longo para eles. A torre ficava logo atrás da casa de Adrien.

"Mas o que vale?" ela perguntou sem entender, olhando a fita vermelha.

"Se eu ganhar, você vai me deixar te ajudar com tudo que está acontecendo e nunca mais vai guardar segredos de mim." ele disse e ela percebeu que ele estava levando aquilo bastante a sério.

"E se eu ganhar?" ela inclinou a cabeça, colocando a mão na cintura.

"Você pede o que quiser." ele baixou a cabeça "Até pra eu me afastar se for a sua decisão." ele a olhou seriamente, murmurando, e viu a personalidade de Adrien vazar por baixo da máscara do Chat.

Ladybug fechou os olhos e apoiou o rosto na mão, pensativa. Chat Noir a olhava apreensivo. Era a última chance que ele tinha de mostrar que ia dar tudo certo. A chance que ele tinha de mostrar que podia ser mais rápido, melhor, protegê-la. De mostrar que ela estaria segura ao lado dele. Notou ela baixar o braço e soube a resposta no momento em que viu o sorriso desafiador atravessar os lábios dela.

"Feito! Mas você sabe que nunca foi páreo pra mim." ela ergueu uma sobrancelha, provocando.

"Ninguém é pareo pra você, my lady." ele sorriu de volta e subiu na estrutura da janela, vendo ela subir ao lado dele e virou-se para ela "Mas hoje a história é outra." ele lançou um olhar calmo e seguro na direção dela "E vou te provar isso. Vamos."

Os dois subiram lado a lado na janela, segurando-se nas laterais dos vidros.

"Pode dar o sinal." Ladybug falou, olhando para o alto com uma expressão confiante. Chat a olhava e sorria. Era por aquela expressão que ele se apaixonara desde o primeiro dia.

"No três! Um... Dois... Três!"

Ambos lançaram os corpos para fora, e como esperado escolheram a mesma rota, correndo a toda velocidade contra a lateral da mansão Agreste. Ladybug estava na frente, sentindo a adrenalina correr nas veias e tomar conta dos seus movimentos. Não usaria o iôiô, e sabia que ele não usaria o bastão, por isso os tinham deixado no quarto. Era uma disputa de orgulho e habilidade, e os dois sabiam daquilo.

Ela dobrou a construção com os pés ligeiros, impulsionando o corpo e enxergando a Torre Eiffel crescer à sua frente. Sorriu confiantemente, atirando o corpo em direção à construção de metal e agarrando-se firmemente. Não parou para se equilibrar, não precisava. Conhecia cada canto daquele monumento como a palma da própria mão. Cada curva e cada borda. Jogou o peso contra os pés e começou a subir, e quando olhou para cima para avistar o ponto de vitória, algo passou tão rápido do seu lado que nem conseguiu ver o que era.

Ela arregalou os olhos, e um segundo depois Chat Noir já estava a pelo menos uns 5 metros de distância dela. A velocidade dos movimentos dele era impressionante. Ela nunca o vira correr daquele jeito. Olhando daquela distância, ele nem parecia a mesma pessoa. Via os músculos se contraírem sob a roupa preta e percebeu pela primeira vez que os ombros dele estavam mais largos também. Ela sorriu com o desafio e aumentou a velocidade. Não se daria por vencida.

No limite do primeiro andar ela já estava quase alcançando ele. Sentia o corpo agradecer o exercício e os movimentos. Fazia tempo que não praticava uma atividade que a fizesse se sentir tão bem. Um riso escapou dos seus lábios e Chat virou para trás enquando corria, para vê-la. Ela estava bem atrás dele, com os cabelos ao vento e aquele sorriso maravilhoso nos lábios. Maldita garota.

"Você pode ser linda, mas eu não vou te deixar ganhar por causa disso!" Ladybug sentiu a bochechas aquecerem com o elogio, revirou os olhos e riu. Aquela confusão de sentimentos ia acabar com ela.

No limite do segundo andar, Chat Noir estava muito mais rápido. Absurdamente muito mais rápido. Era como se ele soubesse exatamente onde pisar e onde pular sem nem olhar, e aquilo surpreendeu Ladybug. Ela sempre fora muito melhor do que ele naquilo. As poucas vezes que eles corriam, era sempre ela que chegava primeiro. Sorriu para si mesma, sentindo o vento forte passar pelo seu rosto. Era isso que ele queria dizer. Era aquele o motivo da aposta. Ele queria mostrar que ela não precisava mais protegê-lo. Que ele seria capaz de protegê-la quando a hora chegasse. Maldito gato.

Chat Noir chegou ao topo e amarrou a fita rapidamente, descendo em seguida, mas quando olhou para baixo Ladybug estava parada entre no topo do segundo andar, olhando para cima e sorrindo. Aquele sorriso. O culpado de tudo.

Justamente quando Ladybug achava que era impossível, Chat Noir começou a correr mais e mais rápido, impulsionando o corpo em saltos velozes torre abaixo. Uma sombra de medo atravessou os olhos dela. Um movimento em falso e Chat poderia se machucar seriamente se perdesse o equilíbrio. Era uma distância de quase 200 metros do chão. Cuidava cada um dos movimentos dele sem desviar o olhar, na esperança de que se ele perdesse o equilíbrio, ela poderia pegá-lo. Quando ele estava a cerca de 10 metros de distância dela, Ladybug viu Chat Noir saltar em sua direção.

Ele pulou. Literalmente pulou. Dez metros. Na direção dela. E ela não estava com o iôiô. Arregalou os olhos e olhou em volta, procurando um lugar onde pudesse se segurar caso ele passasse voando pelo lado dela e ela tivesse que agarrá-lo, mas quando ela ergueu os olhos de volta, ele já pousava graciosamente a seu lado. Os dois se olharam e Ladybug franziu a testa furiosamente.

"Você é louco!?" ela correu até Chat e deu um soco no braço dele "Você tem ideia do que acabou de fazer!? Você nem trouxe o seu bastão! E eu estou sem o meu iôiô! Você podia ter morrido!" ela gritava com os braços sacudindo no ar, em tom de fúria.

"Mas eu não me machuquei." ele sorriu tranquilizando-a "E tem mais, olha..." ele a laçou pela cintura com o braço, apontando para cima.

Lá, no topo da Torre Eiffel, no coração de Paris, uma fita verde e uma vermelha sacudiam no vento de um dia nublado.

"Mas quando você...?" Ladybug passou a mão na cintura, onde tinha amarrado a fita vermelha.

Não estava lá. Ela sentiu o queixo cair. Ele havia deixado ela ir na frente de propósito no início da corrida para roubar a fita dela. Chat não tinha só sido mais rápido, tinha enganado ela. Ele nunca tinha conseguido enganar ela antes. Olhou para Chat Noir com a boca entreaberta em surpresa.

"Agora eu sei que você está impressionada" ele disse com um sorriso sorrateiro, segurando delicadamente o queixo dela e empurrando-o pra cima, fechando a boca de Ladybug.

Ladybug deu um soco de brincadeira no peito de Chat Noir e começou a descer a torre, fingindo estar brava.

"Hey, eu tava brincando!" Chat Noir descia atrás dela, rindo.

"Como sempre as suas piadas são muito engraçadas!" ela segurava o riso, quase alcançando o primeiro andar da Torre Eiffel. Olhou para a parte de trás da casa de Adrien e parou instantaneamente. Chat Noir a viu parar e focar a visão em um ponto distante.

"O que foi, Ladybug?" Chat ainda falava em tom de brincadeira, mas seu semblante endureceu quando olhou para Ladybug e a expressão no rosto dela era um misto de terror e incredulidade.

Ele viu ela erguer o braço na direção para a qual olhava, e quando ele moveu o olhar para o ponto onde ela apontava, sentiu o sangue gelar.

Era os fundos da casa dele.

O canto escondido atrás da Torre Eiffel.

Exatamente como Maremarvin descreveu.

Chat arregalou os olhos.

Ele segurou a cabeça, sacudindo-a negativamente, e caiu de joelhos.

A janela redonda.

A janela do covil do Hawkmoth.


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Notas finais do capítulo

Contagem regressiva, gente!
Se preparem ♥