Cronômetro escrita por KarenAC


Capítulo 17
Capítulo 17 - Efusão


Notas iniciais do capítulo

Falando sério, respirem fundo que esse é provavelmente um dos capítulos mais tensos e importantes da história!
SEGUREM FIRME QUE NÃO TEM MAIS VOLTA!



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"Mãe, mãe!" Adrien corria pelo gramado, com o controle remoto em mãos e os olhos no pequeno avião que planava e fazia piruetas pelo ar "Olha isso!" ele ria e vez que outra jogava a cabeça para trás, vendo a bela loira que sentava embaixo de uma árvore.

Ela vestia um vestido cor creme com um decote discreto, cujo comprimento chegava até um pouco acima dos joelhos. Na cabeça, o grande chapéu de palha protegia do sol quente da tarde de verão. Olhava o filho correndo pela praça, feliz em vê-lo se divertir.

"Adrien, vem comer! Se não se alimentar direito vai acabar ficando com a mesma cara carrancuda do seu pai!" ela ria, olhando para Gabriel que sentava a seu lado, de braços cruzados e testa franzida, e o cutucou com o cotovelo.

"Você é muito engraçada, Amelie. Não sei como eu esqueço de rir dessas suas piadas engraçadissimas. São quase tão boas quanto os trocadilhos que você inventa." ele a olhava de soslaio, mas fazia um esforço enorme para controlar os espasmos de um sorriso no canto de um dos lábios.

Adrien pousou o avião e correu para pegá-lo nas mãos, carregando-o ao local onde estavam seus pais. Colocou a miniatura de lado e agarrou um sanduíche na cesta de piquenique, devorando-o.

"Adrien, mais modos na hora de comer." Gabriel repreendeu e Adrien parou de mastigar.

"Viu? Isso é fome." Amelie murmurava para Adrien com a mão em forma de concha, em um tom de segredo e virou-se para o marido "Toma, querido, isso vai resolver boa parte do problema." ela ofereceu um sanduíche a Gabriel, aproximando-o de sua boca. Ele olhou contrariado e deu uma mordida, mastigando devagar.

"Podia ter pedido para a Sonya fazer os sanduíches. Você nunca acerta na medida da maionese." ele mastigava, analisando, e Amelie virou para Adrien e imitou a pose pomposa de Gabriel. Adrien teve que virar para o lado para controlar os risos.

"Mas querido, se eu acertasse a quantidade de maionese, você não ia ter do que reclamar." ela piscou para Adrien, e os dois não conseguiram mais segurar o riso.

Gabriel franziu a testa seriamente ao ver os dois gargalhando, mas pegou outro sanduíche da cesta, virando de lado para esconder o meio sorriso que ocupava seus lábios.

O tempo ensolarado logo começou a dar espaço para várias camadas de nuvens, tão densas que o sol já não conseguia mais iluminar o dia. Uma sombra preencheu o céu, e Adrien assistia horrorizado o dia virar noite em segundos, bem acima de sua cabeça. Olhou para trás e não viu mais os pais, e abaixo de seus pés o gramado deu lugar ao concreto. Ele se viu no meio de uma sala escura, redonda, com uma fraca luz azul refletida no meio.

"Mãe?" ele chamou, andando devagar, tentando acostumar a visão à luz fraca "Pai?" sua voz ecoava pelo local, bem como seus passos, batendo e voltando em paredes às quais ele não conseguia enxergar.

"Adrien..." ele ouviu um sussurro no escuro, e não reconheceu a voz. Virou o corpo para todos os lados, rastreando a área com a audição, tentando descobrir a origem do som.

"Quem é?" ouviu a própria voz ser emitida em um impulso.

"Adrien..." a voz parecia mais próxima, mas ele não enxergava qualquer pessoa ali, até que baixou os olhos e viu uma sombra no chão. Parou de caminhar no mesmo instante, sentindo os batimentos retumbarem em seus ouvidos. Era uma pessoa?

"Adrien..." a sombra se moveu e Adrien viu Amelie deitada no chão, com a mão estendida na direção dele.

"Mãe! Mãe, o que aconteceu!?" no momento em que Adrien encostou em seus dedos, tudo ao redor se tornou branco. Tão branco que ele teve que fechar os olhos por um segundo para se acostumar a claridade. Quando reabriu os olhos, ela não estava mais lá.

"Mãe?" ele gritou, ouvindo a voz retumbar pelo local fechado. Levantou-se e correu até a única porta que estava na sala redonda, mas antes de atravessá-la ouviu gritos do outro lado e gelou.

"Gabriel, isso está matando você!" a voz emanava desespero.

"Não fale bobagens, Amelie" O tom dele era calmo, mesmo após ouvir os gritos "Eu estou bem."

"E eles, estão bem? Ficaram bem? Você destrói tudo o que toca e não tem ninguém pra recuperar esses danos! Olha o estado que ficou aquele lugar!"

"Você preferia que eu tivesse deixar eles invadirem e matar todo mundo? Que eu faça de conta que não tenho nada a ver com isso!?"

"Você não tem nada a ver com isso, Gabriel!" Adrien nunca ouvira a mãe gritar tão alto.

"Você está histérica, Amelie. Olha pra mim." Adrien encostou o ouvido na porta, pois as vozes silenciaram, mas retornaram a seguir em um tom mais calmo "Nós temos um trabalho a fazer, e você sabe disso."

"Gabriel, nosso trabalho..."

"Já acabou!? É isso que você vai me dizer!? Ouviu isso, Plagg!? Consegue ouvir daí!? Está orgulhoso!? Gabriel gritava, e Adrien deu três passos para trás, vendo que a voz se aproximava. As duas portas da sala foram jogadas para trás, e Gabriel entrou, mas não do jeito que Adrien esperava.

À sua frente, Chat Noir entrou na sala. Ele era mais alto e os cabelos platinados estavam penteados para trás. Tirando aqueles detalhes, era quase como se olhar no espelho, mas 10 anos à frente. Até mesmo a constituição física era parecida. Atrás dele, outra figura entrou.

A mulher usava uma roupa justa a todo corpo, deixando a mostra apenas uma parte do colo e a palma das mãos. No busto, o azul escuro começava, e ao longo do corpo descia um degradê, transformando-se em um verde água quando chegava nas pernas. Uma cauda longa que encostava no chão, feita de algo semelhante a penas de pavão, caía de sua cintura, presas à frente por um fino cinto com uma fivela verde em formato de pavão, pouco mais escura do que a cor da roupa. O Miraculous. A mesma fivela que vira no cofre de Gabriel.

"M-Mãe?" Adrien falou e colocou as mãos sobre a boca, consciente de que estava em um local onde não devia estar, porém nenhum dos dois olhou para ele. Era quase como se ele não estivesse ali.

"Você sabe quanto tempo da minha vida eu dediquei a isso, Amelie?" Gabriel começava a gritar, e suas mãos tremiam em punhos fechados "Quantas noites de sono perdidas? Quantos ferimentos profundos?" a voz dele estremecia ao final das perguntas.

"A Ladybug se foi, Gabriel. Você não pode fazer isso sem ela." ela caminhava pela sala passando a mão pelos cabelos preso em um rabo de cavalo alto, visivelmente impaciente, virando-se a seguir "E você sabe que não devia ter guardado o Miraculous do Hawkmoth. O Jean não desistiu, Gabriel. Ele sabe que acabou. Eu já pedi pra você devolver aquilo. O Plagg já pediu pra você devolver. O Nooroo já pediu pra você devolver. Por que você não escuta ninguém?" Amelie implorava.

"E as pessoas lá fora? E os roubos? As mortes? É isso que eu escuto, Am! Tudo que o mundo vai perder porque nós simplesmente decidimos não fazer mais isso!" Gabriel aproximou-se de Amelie e colocou as mãos sobre os ombros dela, os lábios torcidos em um sorriso insano "Eu vou escolher um novo portador para o Miraculous do Hawkmoth, e quando isso acontecer, vai ser alguém tão bom que vão me dar o da Ladybug também. E você vai poder usar, e tudo vai ficar bem!"

"Não é mais nossa decisão, Gabriel" Adrien via ela sorrir tristemente, olhando para Gabriel. Adrien estava ali, vendo e ouvindo tudo, mas seus pais não conseguiam vê-lo, e mesmo assim ele trancava a respiração, com medo que sua presença fosse notada.

"Para com isso, Amelie." ele pediu, largando-a e virando de costas.

"Ela não vai voltar."

"Para."

"Você está se tornando um risco pra mim e pro Adrien também. Você não consegue mais controlar isso sem a Ladybug."

"Chega, Amelie."

"Acabou, Gabriel."

"EU DISSE CHEGA!" Gabriel gritou, virando-se em um movimento brusco, e de uma de suas mãos um raio de energia negra foi atirado contra o peito de Amelie. Ela caiu no chão desacordada, e Adrien viu a cena como câmera lenta desenrolar-se a sua frente. Arregalou os olhos e ficou em choque ao ver a mãe cair desacordada à sua frente em um baque surdo. Não conseguia mexer um músculo sequer.

"Amelie..." Gabriel chamou em um sussurro, mas ela não respondeu "Hey, Amelie..." a voz dele estava trêmula "Não brinca comigo." ele caminhou tropeçando até ela, pegando-a nos braços.

Adrien via a saia de penas de pavão desaparecendo e a roupa verde desmanchando, dando lugar ao mesmo vestido que ela usava na tarde do piquenique, mas a cor creme começava a ser tingida por uma feia mancha vermelha escura.

"Pelo amor de Deus, Amelie, não" Gabriel deitou ela no chão e colocou as mãos sobre a cabeça "O que foi que eu fiz? O que foi que eu fiz?" Adrien viu a transformação de Chat Noir desmanchar também, e Gabriel voltava a ser apenas um homem comum, com um ar desesperado. Plagg sentou ao lado dele, com a cabeça baixa e o semblante derrotado.

Gabriel juntou o corpo de Amelie contra o peito em um abraço apertado, e o urro que Adrien ouviu sair dos lábios dele foi o som mais terrível que já entrara em seus ouvidos.

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Adrien jogou o corpo para frente, mas ao abrir os olhos o cenário era completamente diferente. Estava em seu quarto, deitado na cama, e o sol começava a raiar do lado de fora. Sua respiração era pesada e o suor escorria pela sua testa. Colocou as duas mãos no rosto e atirou as pernas para fora da cama, ofegante.

"Plagg!" chamou, mas a voz falhou com a garganta seca, então ele repetiu "Plagg!" falou mais alto, com urgência, e o kwami aproximou-se em um vôo rápido.

"O que foi, Adrien? Que desespero!" Plagg falava em tom brincalhão, mas parou quando viu a expressão assustada de Adrien "Nossa, você está branco feito papel. Teve um pesadelo?"

Adrien começou a relembrar as cenas na cabeça, colocando as informações em ordem. Pesadelo? Não. Não eram sonhos. Não era imaginação. Aquilo era verdade. Aquelas memórias, todas aquelas memórias voltando de uma vez. Sentiu a cabeça latejar com força e gemeu, esfregando as mãos no rosto.

"Plagg, eu preciso saber." Adrien disse, esfregando o rosto nas mãos.

"Saber? Eu acho que você precisa respirar primeiro..." Plagg sugeriu, um tanto quanto apreensivo.

"Eu não quero respirar. Eu quero lembrar. Eu quero entender!" Adrien começava a estremecer. O kwami respirou fundo, fechando os olhos.

"Então pergunta." Plagg sentou na cama ao lado de Adrien, com a cabeça baixa. Há dias sentia que aquele momento chegaria. Sabia do que Adrien estava falando. Carregava nas costas o peso de toda aquela história, e era hora de dividir.

"Eu estava lá, Plagg?" Adrien olhou para as próprias mãos "Você estava lá?" ele sentia os dedos tremerem.

"Eu sim, você não." Plagg sussurrou.

"E como eu vi tudo aquilo?" Adrien sacudiu a cabeça, não querendo rever as cenas.

"São as memórias do Miraculous. Você tem passado por muito estresse, e o seu corpo está respondendo a isso. Normalmente, as memórias ficam presas e ninguém consegue acessar, mas..." Plagg suspirou "A sua ligação com esse Miraculous é maior do que só um simples portador. Você é o segundo Chat Noir da sua geração. Você está em sincronia com ele."

O garoto tentou levantar da cama, mas sentiu as pernas bambas e teve que se sentar novamente. Puxou a garrafa de água do criado-mudo ao lado da cama e tomou um gole, sentindo o líquido descer por sua garganta. Quando o alívio do líquido fresco tranquilizou seus batimentos, as cenas começaram a reprisar na cabeça dele como um filme em looping.

"Por que você não fez nada?" Adrien ouvia a voz falhando em soluços. Passou a mão no rosto. Quando havia começado a chorar?

"Porque eu não podia. Eu não tenho o poder de curar as coisas, Adrien. Eu não pude fazer nada." Plagg esfregava as patas no rosto, tentando evitar que as lágrimas surgissem.

"Como aquilo foi acontecer?" Adrien perguntou, sentindo todas as sensações dos sonhos voltarem, levantando-se da cama. Plagg não se moveu.

"Eles tinham ido viajar. A sua mãe sugeriu que fossem para o Tibet e visitassem alguns monges, para que o seu pai encontrasse a paz que havia perdido. Eles estavam no hotel quando descobriram que um monastério havia sido invadido." Plagg respirava fundo, relembrando "Ele obrigou Amelie a irem lá e lutar contra os invasores, mas a destruição e a quantidade de mortos que ficou para trás foi absurda. Eles saíram do lugar sendo tratados como os próprios criminosos. Foi um desastre." Plagg baixou a cabeça e olhou para as próprias mãos. Ainda tinha pesadelos com aquela noite "Eles brigaram, e..." o kwami não conseguiu continuar.

Adrien sentou no chão, encostando as costas na cama, e todos os acontecimentos o invadiram como um tsunami. A morte da mãe, a saudade que sentia, o abandono pelo pai, a solidão, quase perder a Ladybug, o incêndio... As coisas foram empilhando umas sobre as outras, até que tudo desabou e Adrien começou a chorar desesperadamente. As emoções transbordaram ao mesmo tempo, como se tudo que estivesse guardando rasgasse seu peito para sair, abrindo-o de dentro para fora. Parecia que quanto mais chorava, mais o seu peito doía. Por um segundo, teve vontade de morrer. Levantou os olhos para tomar fôlego, e um soluço ficou preso na sua garganta quando olhou para a frente.

Do outro lado da janela, Ladybug estava com os olhos arregalados e a mão levantada em um punho fechado, pronta para bater no vidro.


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Notas finais do capítulo

EU PRECISEI FAZER ISSO, NÃO ME MATEM! D:
É IMPORTANTE PRA HISTÓRIA D:
Amanhã tem mais ♥