Segunda-feira era sempre o dia internacional da Marinette chegar atrasada na escola, mas não aquela segunda-feira. Ela havia descansado boa parte do domingo e estava sentindo-se muito melhor física e emocionalmente, principalmente lembrando que depois de toda aquela confusão conseguiria ver o Adrien de novo, e talvez formular uma frase inteira em uma conversa com ele sem fazer papel de idiota. Sorriu ao ver o prédio da escola crescer diante de si e vários alunos arrumando suas mochilas e colocando as conversas do final de semana em dia.

"Olha quem chegou cedo hoje! É um milagre! Será que já não tivemos enchentes o suficiente esse final de semana?" Alya se aproximava de Marinette, rindo ao ver a amiga.

"Ha-ha, muito engraçado, dona Alya!" Marinette fingia estar brava, mas sabia que Alya estava certa e não conseguiu segurar o sorriso por muito tempo "Tá bom, tá bom! Você sabe como segundas-feiras são difíceis pra mim, mas hoje fiz um esforço extra e até consegui tomar café da manhã antes de sair de casa!" Mari apoiou as duas mãos na cintura e fez uma postura orgulhosa. Alya aplaudiu, e as duas caíram na risada.

"Então... Como foi o final de semana?" Alya perguntou, olhando a amiga com a sobrancelha levantada.

"Foi legal, normal." Marinette respondia distraída, enquanto as duas caminhavam em direção a sala de aula. Viu Alya apressar o passo e parar na sua frente, com a mão espalmada em frente ao peito de Marinette.

"Não mesmo! Você não vai vir pra cima de mim com esse de 'legal, normal'! Não dessa vez, mocinha! Porque dos pequenos detalhes que eu sei: 1. Você e o Adrien passaram a sexta-feira a noite juntos, 2. Você estava doente? Espero que isso ou que vocês já estejam namorando, porque não esquece que você me deu bolo na festa do Nino, e por último mas não menos importante 3. Você não me ligou nem uma única vez!" Alya rodava a volta de Marinette como um predador prestes a atacar, contando nos dedos cada uma das situações, enquanto Marinette escondia o rosto atrás da pequena bolsa onde guardava Tikki e olhava em volta com medo de que alguém ouvisse Alya.

"Meu Deus, Alya! Fala baixo!" Marinette segurou a amiga pelo braço e a arrastou para o banheiro. Depois de se assegurar que não havia mais ninguém lá, Marinette contou para Alya toda a situação onde ficara doente e Adrien a encontrara desmaiada e ficara durante a noite para cuidá-la.

"Eu acho que eu vou desmaiar também! Que coisa bem fofa, Marinette!" Alya mordia o punho fechado, segurando-se para não gritar de excitação "Ele é quase o seu príncipe encantado!" Alya colocou as costas da mão sobre a testa, em uma pose dramática. "Como você ainda está viva depois disso!?"

"É, pois é..." Marinette riu sem graça e coçou o braço "O problema é um pouco maior do que isso." suspirou, encostando-se em uma das pias e olhando para o próprio rosto sério no espelho.

"Aconteceu alguma coisa entre vocês?" Alya perguntou em dúvida, apoiando as costas na pia ao lado de Marinette.

"Não que eu lembre, não. Não entre a gente, mas..." Marinette hesitou.

"...Mas?" Alya encorajava, vendo que a amiga parecia confusa.

"Acho que aconteceu algo dentro de mim, Alya" Marinette olhou para baixo, murmurando "E eu não sei se é bom ou ruim" Ela olhou para Alya que esperava o resto do desabafo "Sempre que eu pensava no Adrien, o meu coração acelerava sem controle e eu mal conseguia respirar. Você sabe como é, você deve ter sentido isso com o Nino" Alya acenou positivamente com a cabeça "Mas depois do que aconteceu final de semana eu não sinto mais aquele nervosismo enorme, só... calma. Eu acho que eu não o amo mais." Marinette terminou a frase num tom de culpa.

Alya olhou para o rosto sério de Marinette e começou a gargalhar. Literalmente gargalhar. Marinette franziu a testa, pensando por um momento que Alya tinha enlouquecido de vez.

"Ah, Marinette! Minha Marinette!" Alya abraçou Mari, sentindo lágrimas se formarem no canto dos olhos de tanto rir "Os mistérios do amor! Por que não veio falar comigo antes? É muito simples!"

"Marinette se deixava ser abraçada, pois dizem que não é bom contrariar os loucos. Vendo o rosto incrédulo de Marinette, Alya decidiu fazer um teste, puxando o celular do bolso.

"Olha, é o Adrien ligando!" Marinette pulou e puxou o pulso da amiga, para ver a tela do celular que não tinha qualquer sinal de alerta "Era mentira, sua boba! Agora, olha isso!" Alya segurou a cabeça de Marinette e a colocou em frente ao espelho "Olha esses olhos brilhando e essas bochechas rosadas!" Alya ria, parada em pé atrás da amiga "E nem era ele de verdade no telefone! Se isso não for amor, eu juro que desativo o Ladyblog!"

Marinette olhava para a própria expressão no espelho. Os sinais eram mais sutis do que o de costume, mas estavam todos lá.

"Mas então por que..."

"Por que não é igual a antes? Ora, Marinette, isso acontece com todo mundo! Acontece que o que você sentia deixou de ser só paixão. Provavelmente depois de tudo o que aconteceu você e o Adrien se conheceram um pouco melhor, e ele se tornou mais real pra você, e o mesmo aconteceu com o seu sentimento! A boa notícia é que provavelmente você vai conseguir pelo menos ser capaz de conversar com ele sem parecer uma criança se engasgando!" Alya caiu em mais uma crise de risada e Marinette empurrou a amiga com um encontro de corpo, sorrindo a seguir. "É sério, Marinette, a palavra do dia é 'intimidade'. Bem-vinda ao mundo dos sentimentos maduros." e piscou para Mari.

Intimidade. Marinette sentiu o rosto corar um pouco. Se alguém tivesse dito pra ela há uma semana que aquilo aconteceria, ela nunca iria acreditar, mas agora, se olhando no espelho e em paz com o próprio coração, tudo fazia sentido. Talvez os acontecimentos envolvendo sua vida como Ladybug tenham acelerado o processo. Ou talvez não. No final das contas, não lhe parecia importante descobrir. Como que confirmando, o sinal da escola tocou.

"Agora vamos correr porque eu não quero ganhar a sua fama de atrasadinha!" Alya cutucou a amiga e saiu correndo na frente.

"Heeeey!" Marinette correu, seguindo a amiga dos cabelos avermelhados e sentindo-se viva de verdade pela primeira vez naquela semana.

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Adrien ouvia o despertador tocar pela milésima vez. Já havia perdido as contas de quantas vezes o desligara. Nas primeiras vezes apertara o botão inconscientemente, sem nem acordar, mas quando finalmente despertou e tentou erguer o corpo da cama para se preparar para ir a escola, sentiu como se cada um dos seus membros pesasse uma tonelada. Estava tão cansado na noite anterior que após o banho nem colocara o pijama. Deitara com a toalha úmida enrolada na cintura por cima das cobertas, adormecendo instantaneamente. Adrien havia feito várias aulas extra de esgrima, karatê e treinos acrobáticos durante o final de semana. Queria resultados imediatos, mas não aqueles tipos de resultados.

Levou as mãos aos cabelos que mal haviam secado enquanto sentava na cama, esfregando-as logo após no rosto, tentando acordar. Esticou as costas e fez uma careta de dor, consciente de que cada músculo em seu corpo gritava. Nunca se sentira tão exausto antes. Deixou o cansaço tomar as decisões por ele e caiu novamente com a cabeça no travesseiro. Exatamente quarenta e cinco minutos depois, acordou num salto e olhou para o celular, percebendo que já havia perdido quase metade do primeiro período na escola. Malditas segundas-feiras.

O garoto pulou da cama segurando a toalha na cintura e vendo a colcha da cama que havia molhado durante a noite. Estalou a língua no céu da boca, praguejando sem palavras. Plagg dormia no travesseiro ao seu lado. Enquanto Adrien treinava, o kwami ficara comendo e assistindo televisão. No final, os dois acabaram dormindo no mesmo horário, por volta das três horas da manhã.

Ligou para Nathalie, que já havia deixado o motorista preparado, pegou uma maçã na cozinha para ir mastigando no caminho e entrou no carro, ainda passando a mão nos cabelos pra arrumar a bagunça.

"Você está bem, Adrien?" Nathalie perguntava, vendo as olheiras do garoto e os cabelos fora de ordem.

"Estou sim, só fiquei jogando videogame até muito tarde ontem." disse rindo disfarçadamente. Nathalie olhou-o de soslaio, obviamente não acreditando, mas manteve-se em silêncio. Ela conhecia o garoto muito melhor do que aquilo.

Adrien desceu do carro em frente ao colégio, correndo em direção a sala de aula. Parou na porta, arrumou o cabelo uma última vez e respirou fundo, entrando na sala o mais silenciosamente que conseguia. Infelizmente, naquele exato momento, a professora estava virada para os alunos, e Rose estava em pé, lendo o texto que havia sido deixado de tarefa para casa.

Toda a classe silenciou. Adrien entrou, fechou a porta atrás de si e sentou no seu lugar ao lado de Nino. Nenhum som era emitido, mas Adrien tinha a plena consciência de todos os olhares voltados pra ele. Quando olhou para Nino, viu os olhos arregalados em sua direção.

"O que foi?" Adrien perguntou sussurrando.

"Cara, você parece que foi atropelado por um caminhão." Nino respondeu no mesmo tom.

Atrás dos dois, Alya virou o rosto para Marinette, cobrindo a boca para conter a risada e abaixando-se para que a professora não as visse conversando.

"Meu Deus, o que você fez com o Adrien, Marinette?"

"Para, Alya! Eu nem vi ele nesse final de semana!" ela olhou para as costas de Adrien, vendo o cabelo desalinhado e a camisa amarrotada. Nunca o tinha visto daquele jeito. Sentiu as sobrancelhas se curvarem em preocupação e apoiou a cabeça sobre os braços em cima da mesa. Será que ela tinha realmente algo a ver com o estado dele?

A aula passou rápido, mas para Adrien levou uma eternidade. Ele lutou contra o sono o tempo todo, e em uma das vezes, se não fosse por uma cutucada do Nino sob a mesa, teria mesmo dormido.

Marinette observava a cabeça de Adrien balançar e sacudir nas tentativas de se manter desperto, e uma aflição apertava seu peito cada vez que aquilo acontecia. Após aulas e aulas, o sinal para o final do dia soou. Alya e Nino se despediram rapidamente, pois tinham um jantar com os pais de Alya, deixando Adrien e Mari sozinhos na sala enquanto terminavam de arrumar os materiais. Marinette respirou fundo duas vezes e caminhou até a frente da classe de Adrien.

"O-oi, Adrien." Marinette comemorou internamente por ter gaguejado, vai ver era verdade o que Alya tinha dito. Logo depois se deu conta que comemorar por aquele motivo era burrice. Viu o garoto a cumprimentar de volta com os olhos semicerrados em sonolência "Você está bem?" Ela estava tremendamente feliz pela Chloe estar fora em um cruzeiro, ou aquele momento seria um desastre. Ou nem aconteceria.

"Estou sim, só fiquei acordado até muito tarde jogando videogame." ele coçou a nuca, explicando.

Marinette colocou a mão dentro da mochila e tirou um tecido azul, o qual Adrien reconheceu como sendo a toalha que havia emprestado.

"E-eu queria te devolver isso. Está bem limpinha, eu lavei com cuidado." ela corava furiosamente, não conseguindo olhá-lo nos olhos por muito tempo. Sentiu movimento sobre o tecido, perto dos seus dedos, e viu Adrien com a mão sobre a toalha.

"Obrigado, Marinette. Mas você pode ficar com ela se quiser." disse pegando a toalha nas mãos.

"Não, não, e também..." ela puxou uma pequena sacola de papel de baixo da classe "É-é um p-presente de agradecimento por t-ter me carregado, quer dizer, ajudado na sexta-feira" a gagueira havia voltado com força total, bem como as frases desconexas, tamanha era a vergonha.

Adrien pegou a sacola calmamente. Nunca imaginava que Marinette lhe daria um presente. Puxou de dentro da sacola um par de luvas de um tom azul água.

"E-eu sei que você gosta de azul e vi você usando um cachecol dessa mesma cor, e sei que falta um pouco ainda pro inverno, mas que v-vai ser bem frio esse ano então r-resolvi tricotar isso..." ela esfregava uma mão na outra, vendo o garoto que mirava o par de luvas sem dizer nada.

Marinette tricotara o cachecol que ele tinha, mas em um mal-entendido, Adrien acabara acreditando que seu pai que o havia lhe dado como presente de aniversário. Ela vira o garoto tão feliz com o suposto presente do pai que não teve coragem de lhe dizer a verdade, mas como o vira usando a peça muitas vezes, achou que talvez ele gostasse de algo para combinar, então aproveitou o resto da mesma lã do cachecol para tricotar as luvas.

O problema é que ele não estava dizendo nada. Ele olhava para as luvas e não dizia absolutamente nada. Na verdade, ela mal conseguia ver se ele estava piscando. Será que ele tinha odiado? Será que havia sido uma péssima ideia? Será que ele só usava o cachecol porquê o pai havia lhe dado, e não porquê realmente gostava? Um pânico começava a tomar conta de seu peito.

Adrien olhava para o par de luvas, extremamente surpreso. Achava impressionante como a Marinette havia acertado com exatidão a cor das luvas. Até o toque da lã era parecido com o do cachecol que ganhara. Quanta coincidência. Ele achava que seu pai havia comprado o cachecol em alguma grife cara, mas ver ali uma peça tão bem feita a mão por Marinette o surpreendeu mais do que o próprio ato do presente. Deve ter dado muito trabalho para ela tricotar aquilo a mão.

"Eu adorei, Marinette! Muito obrigado!" ele enfim disse, olhando a garota com um olhar radiante.

A garota colocou a mão no peito e expirou profundamente. Não tinha percebido que estava segurando a respiração aquele tempo todo.

"Que bom! Eu que agradeço p-por tudo! J-já vou indo! Tchau!" ela abanou se despedindo e saiu correndo da sala antes que explodisse em felicidade, gritos e pulos ali mesmo na frente dele.

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Adrien chegou em casa e sentiu a cama lhe puxar como um ímã, lembrando-o de quão cansado se sentia. Atirou o corpo de bruços sobre a cama, largando tudo o que segurava. A sacola de papel virou e as luvas caíram, ficando à mostra.

"São muito parecidas com o cachecol" Plagg sobrevoou o quarto e sentou sobre as peças de lã, sentindo o nariz estremecer "E tem o mesmo cheiro também."

Adrien olhou Plagg de canto de olho, por cima do braço que estava embaixo do travesseiro. Será que eram mesmo parecidas ou era só ilusão da sua memória?

Levantou e foi até o armário, pegando o cachecol, e sentou sobre a cama, colocando as peças lado a lado. Eram absurdamente parecidas. Ele olhava as luvas e o cachecol de perto, e percebeu que até mesmo os pontos do tricô eram semelhantes. Após anos como modelo, vestindo tantas roupas diferentes e conhecendo tantas grifes, Adrien tinha a capacidade de reconhecer estilos de roupa e tecidos diferentes com bastante precisão.

Um lampejo lhe passou na cabeça. Será que Marinette havia mentido sobre ter feito as luvas? Será que havia comprado no mesmo local onde seu pai comprara o cachecol? Olhava as luvas de perto, e percebeu que em um pequeno canto, na parte interna do punho, havia uma pequena linha dourada. Ele puxou a linha com a mão, achando que ela estava ali por acidente, mas ao ver mais de perto, percebeu que ela estava bem presa, e que sutilmente formava uma pequena e desenhada letra M.

"Marinette" Adrien sussurrou para si mesmo, notando que ela havia assinado o próprio trabalho e sorriu em um misto de alegria e alívio. Como ele poderia sequer pensar que ela havia mentido? "Mas se ela não mentiu" Então uma sombra de angústia atravessou seu rosto. Plagg observava o garoto sem emitir uma palavra. O kwami já havia visto, já percebera o que havia acontecido, mas o garoto deveria descobrir por si próprio.

Com um gesto incerto das mãos, Adrien pegou o cachecol, virando as dobras da lã azul. Ali, em um pequeno canto interno, onde só quem procurasse acharia, descansava uma tímida letra M alinhavada em dourado.