A Guarda do Reino escrita por Srta Daydream


Capítulo 2
Sete anos de azar, para quem o cadáver furtar!


Notas iniciais do capítulo

Hey pessoal! Olha quem está de volta?
Primeiro, aqui nas notas, eu queria agradecer a todos os leitores lindos e maravilhosos que comentaram ♥ e vc fantasminha, apareça para bater um papo comigo :)
Segundo, eu queria avisar que vou começar a postar semanalmente, mas como a próxima semana eu tenho provas, talvez atrase um pouquinho. Mesmo assim vou tentar não deixa-los na mão.
E por ultimo, o terceiro e também importante aviso, SEGUREM OS FORNINHOS QUE A ANA DESMAIOU O PRÍNCIPE!



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Segundo passo: Acerte a cabeça de um príncipe até desmaia-lo.

Ps: Se você não tiver um príncipe por perto, serve qualquer outro membro importante da realeza. Vai dar o mesmo estrago.

Durante gerações a família de meu pai, os Lamartine, serviam devotamente a coroa, apoiando e dando a vida pelas famílias que subiam ao trono. Como era de se esperar, papai também dera continuação a essa união.

— Ana, você tem que ficar! — ordenou com seu olhar firme, como se indicasse que nenhuma de minhas artimanhas funcionária para fazê-lo mudar de ideia.

Ignorei tanto seu olhar quanto seu protesto, continuando a segui-lo, desviando das pessoas que, vez ou outra, quase nos atropelavam.

Com um suspiro cansado Júlio se deu por vencido, pois ele conhecia muito bem minha semelhança com o gênio autoritário e persuasivo de mamãe e que qualquer que fossem suas técnicas para tentar me fazer mudar de ideia, seriam em vão.

— Maldição! Onde se enfiaram os guardas desse lugar? — a alguns metros de distância papai resmungava como se não houvesse amanhã, empurrando e desferindo insultos as pessoas desesperadas que trombavam com ele.

O silêncio e o sumiço dos soldados eram realmente preocupantes. O que será que acontecia lá dentro?

— Ana, escute bem — Júlio pediu pacientemente, quase implorando para eu cedesse, nem que fosse apenas dessa vez — você não pode entrar, seria loucura. Então fique aqui, a polícia deve estar a caminho, mas eu preciso entrar e me certificar de que está tudo bem. Você compreende isso, querida?

Fiz que sim. Havíamos acabado de chegar à portaria e não havia razão para irritar ainda mais papai. Seja lá o que eu acabaria fazendo ele não precisava ficar sabendo. Não agora.

— Ótimo, sabia que você ia acabar concordando — soltou o ar preso nos pulmões e deu leves batidinhas em meus ombros — me espere aqui. Se estiver tudo bem eu te chamo.

Observei-o se afastar aos poucos, amarrei meus cabelos escuros em um rabo de cavalo e me debrucei sobre a bancada da portaria procurando pelas chaves que abriam a sala que dava para as câmeras externas do castelo. Mas, ao invés de chaves, encontrei estendido sobre o chão o corpo inerte de Mário, o porteiro, com um filete de sangue escorrendo pela testa.

Barbaridade!

Pedindo desculpas mentalmente e com uma cara de nojo, tateei os bolsos do cara gente boa que antes, em vida, sempre me dava bom-dia em meus passeios ao castelo. Com as chaves em mãos corri rapidamente a pequena salinha trancada da portaria.

Lá dentro tinha dúzias de visores que pegavam a área externa. Mostraram-me os manifestantes se aproximando, a polícia despontando lá atrás e, em uma câmera mais ao alto, onde eu tinha um pouco de dificuldade de analisar, pegava uma área aberta do castelo próximo ao chafariz real, onde o avião que eu vira mais cedo havia aterrissado.

Ao lado da aeronave estava um grupo de soldados desarmados e mais a frente cinco homens vestidos de preto que apontavam fuzis a alguém.

Forcei os olhos tentando distinguir a figura meio afastada e quase dei um pulo ao me dar conta que ali, sendo ameaçado por revoltosos, estava o rei. O rei!

Meu Deus! Tinha um fuzil apontado para a cabeça do rei!

— Papai foi para o lado errado! — meu comentário me atingiu como um soco no estômago. Os soldados estavam desarmados, nada podiam fazer, e Júlio havia seguido para o lado oposto, para as salas superiores do castelo.

Não teria tempo para procura-lo. Seja lá o que eu iria fazer, devia ser feito logo.

Voltei para junto do cadáver de Mário.

— Juro que não é pessoal — comentei com o morto enquanto pegava a pistola em sua cintura — normalmente eu não costumo furtar gente morta.

Depois de certificar que estava carregada, corri para dentro da grande área real ficando bem próxima aos arbustos e me camuflando com a folhagem. Pelo menos para isso servia minha pouca altura.

Devido minhas inúmeras visitas ao castelo eu já conhecia toda e qualquer área aberta à visitação. Desde a separação de meus pais que os passeios com Júlio só se resumiam a casa real. Eu não o culpava. Papai vivia para a proteção do rei desde a separação. Era a forma dele de se proteger e fingir que tudo estava bem, mesmo que não estivesse.

Me esgueirei por uma entradinha estreita que daria de frente para chamariz, com uma visão totalmente privilegiada do drama que acontecia ali.

Não entre em pânico, Ana. Você é boa no que faz, é só se concentrar”.

Respirei fundo, não adiantaria ter um ataque agora. Eu já havia encarado um verdadeiro pandemônio, depois furtado um cadáver, então eu deveria tirar de letra tentar salvar a vida do rei.

Da entrada do corredorzinho, abaixada perto de uma estátua dava para ver e ouvir tudo.

Vi quando um homem alto e com o rosto coberto se aproximou do rei, meneou a cabeça para o lado antes de comentar alto o suficiente para que todos ali escutassem:

— Vossa Majestade! É uma honra estar na presença de um homem tão importante para o nosso país — apoiou as mãos no ombro do rei antes de continuar — mas é uma pena que não possamos conversar. Admito que sou um grande admirador da família real, mas, infelizmente, o valor do rei de Lira morto me é muito mais interessante.

Aquele cara iria matar o rei! Matar de verdade!

Pelos céus! Aquilo não era um grupo extremista contra a coroa, era um grupo de assassinos. Assassinos contratados para matar o rei Augusto!

Mesmo chocada com a informação, pude ouvi-lo perguntar a um dos comparsas:

— Como anda o nosso tempo?

— A polícia está próxima, senhor.

— Ótimo! Cubra as entradas e saídas. Descarregue nossas armas mais pesadas em quem ousar se aproximar. Eu e o rei Augusto vamos dar uma última olhada no quarto real.

Os outros concordaram com um breve aceno, enquanto três, dos cinco que restaram, se dirigiram as portas de entrada e saída, ficando apenas dois de ronda vigiando os soldados.

Estiquei a cabeça um pouco mais, a tempo de ver, por entre os arbustos, Vossa Alteza e o assassino entrarem pela larga porta do castelo. Aquela área era fechada ao público e eu não fazia ideia de onde poderia ficar os tais “aposentos reais”. Precisava dar um jeito de segui-los o quanto antes.

Ainda agachada, tomando cuidado para não ser descoberta, tratei de sair dali e voltar para perto da portaria, aproveitando o atalho para chegar antes dos atiradores que tinham o dever de tardar o ataque da polícia. O único jeito de entrar pelo castelo seria pela porta da frente, mas a missão mais difícil seria conseguir não me perder em toda aquela imensidão.

Passei novamente perto da portaria, mas ao invés de entrar nela, entrei na enorme porta principal que levava ao grande salão, onde os visitantes eram recebidos e indicados para seus respectivos guias.

Não estranhei o fato de estar fazia, com o tumulto causado do lado de fora me dava ainda mais certeza que qualquer alma viva que não servisse a coroa havia dado um jeito de meter o pé dali. O que comprovava ainda mais minha tese de que, além de assassinos, aqueles caras eram profissionais. Afinal, para quê manter um tanto de gente presa, gente que mais a frente serviria como testemunha contra eles?

Passei pelo grande corredor, onde começava a área restrita, e peguei a primeira escada que vi. Papai devia estar lá em cima.

Desde a guerra declarada à monarquia, os opositores haviam atacado o castelo de todas as formas possíveis, por isso alguns detalhes daquele patrimônio histórico que fora mantido por gerações, teve de sofrer reformas. Trocaram portas, fizeram outros cômodos, reconstruíram áreas danificadas ainda tentando deixar o aspecto medieval do lugar. As paredes grossas foram mantidas (pelo menos as que não acabaram derrubadas), quadros com antecessores do trono, candelabros usados na época medieval e espadas ornamentais eram vistas penduradas nas paredes, alem de outros itens usados antigamente que só eram encontrados na área aberta ao público, como pude acabar de comprovar. Já a área restrita era muito sem graça. Um lugar comum, com quadros de pessoas importantes da atualidade (principalmente de soldados e generais condecorados).

Depois de subir as escadas, totalmente decepcionada com o balde de água fria que haviam me jogado, já que o lugar que eu visitava há anos, na verdade, não era nada do que eu imaginava, entrei na primeira porta que vi, assustada por ouvir vozes que também pareciam vir da escada.

Entrei no cômodo agarrada ao cabo da pistola quando fui puxada para dentro tendo a boca tapada por uma mão forte e calejada. Comecei a me debater, tentando puxar a arma ou agarrar qualquer coisa para acertar a pessoa que me segurava.

— Pare de se mexer, Ana — a pessoa que me segurava resmungou. Espera, aquele era meu pai. Meu pai estava aqui, não era um dos invasores! Pronto, o rei estava salvo, papai era imbatível — O que você pensa que está fazendo aqui? Não te mandei ficar na portaria?

Encolhi os ombros. Aquela era a tão temida hora da bronca, e, pelo visto, seria bem no meio de um golpe contra a coroa. Ótima hora para se decidir dar um sermão na filha.

— Ana, a senhorita tem noção que poderia ter sido descoberta? — Júlio passou as mãos pelos cabelos grisalhos de forma exasperada — droga! Você tinha que ter puxado justo o gênio da sua mãe?

— Papai, depois de sairmos dessa você pode me dar o castigo que quiser, mas agora o senhor tem que fazer alguma coisa. Eles querem matar o rei!

— Matar? Não seja boba! São apenas um bando de baderneiros. Só querem atenção para a causa deles, talvez só queiram um regaste, mas confie em mim, quando a polícia chegar eles estarão perdidos.

Fiz papai se sentar em uma poltrona confortável e colocar a arma em um criado mudo bem ao lado de um abajur muito bem decorado, com os detalhes de ouro em alto-relevo. O tipo de abjeto que por si só valia mais que a minha vida. Talvez aquele quarto inteirinho, valesse mais que a vida de toda a geração da minha família.

— Pai presta atenção, quando o senhor entrou no castelo eu aproveitei para pegar a chave do porteiro morto e entrar na salinha das câmeras externas.

— Mataram o Mário? — papai encarou-me desacreditado, com seu olhar confiante de antes vacilando um pouco.

— Mas isso nem é o pior — falei, também pousando minha arma ao lado do criado.

— O que poderia ser pior que isso, minha filha?

— Os tais baderneiros são, na verdade, assassinos contratados para matar o rei.

— Impossível! — Júlio levantou-se com um pulo.

— Mas eu estava lá, papai. Estava no momento em que o chefão dos assassinos disse que mataria o rei, que ele valia muito mais morto.

Júlio se deixou cair novamente na poltrona.

— O que eu vou fazer agora? Até acharmos o rei ele já estará morto! Temos de esperar a polícia chegar.

— A polícia não vai chegar tão rápido assim.

— O que você quer dizer com isso, Ana?

— Que o tal chefão mandou os comparsas descarregar todo o armamento pesado na polícia. E pelo naipe desses caras, não duvido nada que a polícia demore pelo menos, algumas horas para conseguir avançar. Sem contar no pandemônio lá fora.

— Pronto, estamos perdidos! Não faço ideia de onde o rei possa estar.

— Mas eu sei papai. Nós iremos até os aposentos reais, é para lá que Vossa Majestade será levada.

— Você tem certeza, querida? — meneei a cabeça de um lado para o outro em resposta — ótimo, vou agora mesmo até lá.

— Só o senhor? Pois não vai mesmo! Quem deu as informações fui eu. Mereço ir junto.

— Ana, você nem tem uma arma. Não posso cuidar do rei e me preocupar com as maluquices que você pode fazer.

— Mas eu estou armada sim — apontei na direção de minha pistola, repousando sobre o criado — e eu atiro melhor que o senhor.

— Em nome da coroa! Onde que você arrumou uma coisa dessas, Ana?

— Digamos que Mário não precisaria mais dela — respondi com um sorrisinho, fazendo papai levantar e me seguir na direção da porta.

— Você furtou um cadáver? Sua mãe ainda me mata!

Fiz menção de girar a maçaneta, quanto papai me puxou pelo braço, agarrando a arma com a outra mão.

— Tem alguém se aproximando — explicou — vamos agarrá-lo e trazê-lo para dentro. Temos que evitar atirar e atrair atenção.

— E se for mais de um? — perguntei realmente preocupada com essa possibilidade.

— Oras, a senhorita “eu atiro melhor que o senhor” agarra o outro.

Papai levou o dedo indicador até os lábios quando os passos se aproximaram e a maçaneta começara a girar.

Júlio agarrou o primeiro homem a entrar, mas o segundo, antes que eu pudesse segurá-lo, avançou habilmente na direção de papai.

— Segura ele, Ana — papai gritava desesperado, tentando dar conta do primeiro enquanto o segundo desferia socos e pontapés no ar.

Peguei a primeira coisa que vi, o abajur que custava bem mais que a minha alma, e acertei na cabeça do cara grandão, fazendo-o cambalear e cair como um saco de batatas no chão. Papai, imobilizando o primeiro homem, encarou os dois caras no quarto.

— Meu Deus! — Júlio exclamou horrorizado — você acabou de desmaiar o príncipe, Ana!

— Eu o quê?

— O príncipe, Ana! Você acertou um abajur na cabeça do príncipe!

Encarei o garoto estendido no tapete caro do quarto. Não parecia estar morto, o que já era um bom sinal. Levei a mão ao queixo antes de responder a papai:

— Pelo menos eu não estava armada, ou aí sim teríamos um problema.

Se o olhar de Júlio servisse de aviso, eu estaria muito encrencada quando chegássemos em casa.


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