Shigure - A Super Gata escrita por ZodiacAne


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem =D
Morram de amores pela Shigure!



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Não sei exatamente quando foi que eu tomei consciência da minha felina existência. Provavelmente foi no momento em que minha mãe lambeu meu rosto quando nasci. Acho que também foi nesse momento que eu percebi que era bem diferente dos meus irmãos.

Vivemos cerca de 25 dias juntos, até que fomos todos doados para donos diferentes.

Ganhei como dono um senhor bem idoso e que mal tinha companhia durante o dia. A noite, a filha, que passava o dia trabalhando ficava com ele. Nessas horas é que eu podia ser a gata que era.

Para quem não sabe, nós somos bichos meio livres e precisamos sempre passear.

Meus dias com o velhinho eram de alguma forma divertidos. Ele ficava sentado assistindo televisão e de vez em quando conversava comigo. Passava horas e mais horas ouvindo conversas humanas.

Eu não sei como meus irmãos ou até os meus semelhantes veem esse tipo de coisa, mas eu conseguia entender perfeitamente tudo e ainda sabia como responder. Uma gata que entende mais de relação humana do que felina. Parabéns, Shigure!

Alias, esse é o meu nome. Que foi dado pela neta do meu dono, porque ela viu em um desenho e achou bonitinho. Crianças!

***

Então, em uma noite, durante meus passeios noturnos, deixei de ser uma gata branca de olhos verdes comum para ser uma gata com algo especial. Equilibrava-me em um muro enquanto observava uma jovem moça andando sozinha na rua. Já era bem tarde e antes que eu ou ela percebermos, um homem a abordou e nós duas sabíamos que aquilo não ia dar em boa coisa. Ela estava sozinha, indefesa, sem reação. Tive um impulso que vocês vão achar estranho. Não, não pulei nele. Eu falei! Sim. Eu falei!

Por estar um pouco mais atrás, parecia que realmente tinha alguém vindo atrás. Foi tão alto, que o homem apenas saiu correndo, com medo. A garota ficou sem entender o que houve. Decidi sair das sombras e entrei no campo de visão dela. Ela arqueou uma sobrancelha e soltou:

—Ah, claro. Foi o gato! - riu da maluquice que pensou – Seja lá o que tenha sido: obrigada! - completou para o vento

A garota seguiu o seu caminho e por precaução escoltei-a. Quando a vi entrar em casa, dei meia volta e retornei a minha.

Nem eu tinha entendido muito bem o que houve, o que eu fiz, porém, senti que era essa a minha missão: proteger as pessoas. Mas como faria isso? Era só uma gata, filhote ainda. Pouco meses depois recebi minha resposta.

***

Foi no dia do meu primeiro aniversário, quando um gato se torna adulto, que eu tive uma surpresa. Ao sair da casa, algo muito estranho aconteceu comigo. Só ficou faltando o fundo colorido, a música de fundo e eu fazer uma pose no final. Eu me senti uma personagem de anime ou mangá mahou shoujo, tipo Sailor Moon. Mas, aconteceu algo bem mais extremo. Tornei-me humana. Logo notei que vestia uma espécie de roupa de girl group de j-pop. Botas, um short, um top, luvas e um casaco sem mangas comprido o suficiente para cobrir o short se fosse fechado. Mexi nos meus novos cabelos e vi que elas eram brancos com a roupa e o meu pelo na versão felina. E por que diabos ainda estava com minhas orelhas e rabo.

Acreditem, eu estava tão perdida exatamente como vocês agora. O que tinha acontecido? “Da fuck” uma gata vira uma humana com uma roupa digna de um show no Nippon Budokan?

Resolvi continuar o que ia fazer, mesmo que o salto da bota me atrapalhasse um pouco. Enrolei-me um pouco no início, porém em poucos minutos peguei o jeito e já andava e pulava normalmente pelos telhados como a felina que era.

Não tardou muito até a acontecer algo bem semelhante ao que houve no dia em que falei pela primeira vez. Só que dessa vez a menina em questão ia ser assaltada.

A rua era um pouco escura, por conta de alguns postes que estavam com as luzes queimadas. Ela andava apressada, louca para sair dali. O ladrão a seguiu em passos mudos, aguardando o melhor momento. Fui seguindo-os para ver o que poderia acontecer e não deu outra. Quando a garota percebeu que alguém a seguia já era tarde. Com uma faca, ele a ameaçou. Eu entrei em ação. Desci do telhado em que estava, pouco atrás deles.

—Ei! - chamei, o homem se virou para mim – Acho que você pode parar com isso né? Ou vai querer sair machucado?

Admito que fiz tudo isso inconsciente, depois que eu vi que isso podia dar em algo muito ruim.

—E quem é você para me impedir? Nada aqui é de meu interesse.

—É de meu interesse a partir do momento em que vejo alguém em perigo.

O que foi que eu disse? Estava fora de mim... E oficialmente me declarei uma heroína.

O ladrão veio me atacar, apontando a faca para mim. Uma força desconhecida por mim até então conseguiu fazer uma técnica para desarmá-lo. Depois soquei-o no nariz. Então, ele caiu desmaiado.

A menina assistiu a cena perplexa. Numa situação normal, já teria fugido, mas acho que ela queria saber quem era sua salvadora.

—Quem é você? - foi a única coisa que conseguiu dizer

—Nem eu sei quem eu sou. Sou apenas a sua salvadora. - sorri para ela – Agora vá!

—Obrigada, de qualquer forma.

Um aceno de cabeça e cada uma de nós seguiu o seu caminho.

Naquela noite ainda ajudei mais umas pessoas, umas sete segundo minhas contas. Eu sei falar não contar.

E daquela noite em diante, passei a me transformar em humano e sair por ai salvando pessoas de crimes ou até impedindo coisas piores. Meu dono e nem ninguém que vivia com ele percebia o que acontecia comigo todas as noites. Eu metamorfoseava e “desmetamorfoseava” quase dando uma festa no quintal e eles sequer abriam os olhos. Será que era só eu que via esse brilho todo?

Acabei ficando conhecida, passei a aparecer em diversas notícias em vários veículos. Eles passaram a me chamar de Super Gata E ninguém sabia quem era eu. As câmeras noturnas já eram meio ruins a noite e eu não sou humana. Mas, não tenho com o que me preocupar, é sempre escuro a noite.

O tempo foi passando e essa mesma rotina se manteve. Minha rondas noturnas já não eram mais as mesmas. E já nem me sentia mais tão felina assim. Só tinha meu rabo e orelhas para não me fazer esquecer.

Porém, alguns hábitos nunca mudam. Meus instintos ainda me fazem ficar nas sombras, ser sagaz e ter uma ótima visão noturna. E de vez em quando ainda me pego apenas observando as pessoas na rua, seja indo para casa, indo para uma festa, ou apenas observando a vista na janela. É divertido apenas assistir!

Numa noite me peguei muito atenta a uma garota de cabelos negros e olhos bem azuis, distraída na janela. Ela parecia pensativa em algo que eu jamais saberei. Em uma de suas mãos havia uma bebida quente e ela estava pronta para adormecer pois vestia uma bela camisola. Então, um homem loiro e de olhos castanhos a abraçou por trás.

—O que faz aqui, querida?

—Só estou olhando a noite.

—Esperando a Super Gata passar, como sempre né?

—É!

—Ainda quero entender essa sua fissura com ela, Guinevere.

—Eu também não sei, Kyohei. Me identifico com ela. Consigo ver algo semelhante entre nós. Talvez seja a juventude, a vontade de fazer algo nesse mundo hostil que vivemos. A Super Gata pode ser qualquer garota. Até eu!

—Quer dizer que você é a Super Gata?

—Claro que não! O que eu quero dizer é que cada um de nós pode fazer o que está a nosso alcance para melhorar as coisas. Não é necessariamente preciso ter superpoderes. Mas, em alguns casos, ele faz toda a diferença. Ainda não entendo os motivos da Super Gata, mas sei que ela faz algo bom.

—Eu te entendo, querida. Agora podemos dormir?

—Vai na frente, irei depois.

—Só não demore!

Ouvir aquela conversa me fez pensar um pouco melhor sobre todo o significado do que eu faço. Sempre foi meio inconsciente, acho que permiti ser assim, mas tudo isso tem um propósito.

Resolvi passar na frente daquela janela e qual não foi a surpresa da moça ao me ver.

—Su... Super Gata?

—Olá! Sim, sou eu! Desculpe, mas ouvi a sua conversa com o seu...

—Meu marido! - completou

—Só quero te esclarecer uma coisa: nem eu sei os motivos que me levam a fazer o que faço. Uma característica no meu nascimento me levou até aqui.

—Tenho certeza que um dia vai compreender. Tem coisas na vida que começam sem motivo aparente, mas logo você os descobre. Só continue!

—Muito obrigada! - sorri – Quando souber, eu te conto. Acho melhor ir dormir, não deixe aquele seu marido lindo esperando.

Ela riu, se despediu de mim e fechou a janela. Continuei o meu caminho.

***

Sabe, ainda não sei os reais propósitos que me fazem ser a Super Gata. Nem sei uma real explicação para existência de meus poderes e minha estranha habilidade de fala. Andei pensando... Talvez seja para manter a esperança das pessoas de que tudo correrá bem. Que todos podem fazer coisas boas, mesmo que no anonimato. Que cada um pode fazer sua parte!

Uma coisa que eu também ainda não entendo é o porquê de eu insistir em passar diante daquela janela toda noite e observar aquela moça. Parece que eu a conheço de uma outra vida. Não sei! Ela parece uma amiga distante, uma parceira. Talvez até uma heroína como eu!

Durante o dia sou uma gata comum, que mia para enganar os outros quanto a sua habilidade de falar. Durante a noite eu sou a poderosa Super Gata!


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Notas finais do capítulo

Comentem e façam a autora feliz! :3