Thalia

Eu estava chorando.

Não. Eu não estava chorando de tristeza. E nem fazendo um escândalo (a não ser que socar uma árvore enquanto lágrimas silenciosas de ódio descem pelo seu rosto seja considerado um escândalo), do tipo soluçar que nem uma garotinha frágil. Longe disso! Estava chorando de raiva. Ódio. Ódio daquele maldito que se diz meu pai.

Claro, quando seu pai resolve que vai praticamente vender você para unir sua empresa com a de outro homem, qualquer pessoa acaba chorando. Principalmente se você tem um namorado com o qual possui uma relação perfeitamente saudável.

Talvez você não esteja entendendo nada... Então permita-me explicar o que acabou por me deixar naquele estado humilhante.

Eu havia acabado de voltar para casa depois de uma caminhada pelo parque, meu lugar favorito para fumar.

Mas Thalia... O cigarro é um veneno! Isso vai te fazer mal!

Eu sei. E tentei parar várias vezes. Ainda odeio e sempre vou odiar as malditas “amigas” minhas que enfiaram meu primeiro cigarro em minha boca. Querem um conselho? Nunca coloquem um cigarro na boca! E não aceitem cigarros de suas falsas amigas.

Depois de consumir quase metade da minha caixinha de tic-tac e mascar um Trident, entrei em casa, passando um pequeno perfume antes, para que ninguém sentisse cheiro de cigarro.

Assim que entrei em minha casa, encontrei meu pai e um homem. Ele tinha cabelos negros cuidadosamente penteados para trás e uma barba que, com certeza, fora feita há pouco tempo. E apertava a mão do meu pai com satisfação no olhar.

Meu pai sorriu ao me ver entrar.

— Thalia! Chegou bem na hora!

Ergui as sobrancelhas, curiosa.

— Cheguei?

O homem me avaliou de cima a baixo. Eu não o culpava por isso. Apesar de ser filha do homem mais rico do mundo, dono da maior empresa aérea do mundo, eu não me vestia como uma riquinha mimada e enjoada. E estava bastante acostumada a receber olhares tortos das pessoas. Não havia nada de errado com minha camiseta do Green Day, jeans rasgados, coturnos e, é claro, minha jaqueta de couro favorita. E também não havia nada de errado com meu cabelo (recém cortado por mim mesma) curto.

— Desculpe... – Pediu, estendendo sua mão. – Meu nome é Hades di Angelo.

Estendi minha mão também, cumprimentando-o.

— Thalia Grace.

Hades deu um pequeno sorriso.

— Quantos anos você tem, Thalia?

— Fiz vinte e um há duas semanas.

Ele sorriu novamente.

— É perfeita mesmo! – Ele encarou meu pai. Hein?— Nicholas completou vinte e dois no início do ano.

Meu pai também sorriu.

— Alguém pode me explicar?

Seu sorriso sumiu.

— Bem, Thalia... Depois de uma longa conversa, Hades concordou em unir a sua empresa com a nossa.

Sorri. Fazia dias desde que meu pai esteve tentando unir as empresas Grace com alguma outra.

— Isso é ótimo, pai... Mas o que tem a ver comigo?

Zeus e Hades trocaram um olhar.

— Bem... A família di Angelo tem um costume preservado há séculos... – Começou meu pai. – A união das empresas é selada através de um... De um...

— De um casamento.

Arregalei os olhos.

— Espere! – Encarei Zeus. Agora já não estava tão feliz assim. – Você vai me casar com um completo estranho para unir as empresas?! Sabe que está praticamente me vendendo?!

— Thalia... Você tem que entender...

— Eu não tenho que entender merda nenhuma, Zeus! – Joguei as mãos para o alto, bufando de ódio. – Vou tomar um ar. Com licença.

Fiz questão de bater a porta com força quando saí.

Agora tudo deve estar fazendo sentido para você. Aquilo não era justo! Meu pai não podia me vender assim! Ele não tinha o direito!

Olhei meu celular, fitando uma mensagem de Luke, meu namorado que não é um estranho com o qual meu pai quer que eu case.

“Estou aqui. Onde você está?”

Joguei o cigarro que comecei a fumar no chão.

“Estou socando árvores na entrada do bosque. Mas cansei de quebrar minha mão e estou fumando um pouco”.

"O que aconteceu? Seja lá o que tiver acontecido, não vale a pena se machucar por causa disso. Já estou chegando."

Desliguei a tela do celular e fechei os olhos, me permitindo apreciar o silêncio do bosque. Minha mente estava a mil por hora. Quem era Nicholas? Como meu pai pudera fazer isso comigo? Ele realmente me vendera para juntar duas malditas empresas?

Estava tão imersa em meus devaneios que nem percebi que Luke estava em pé de frente a mim. Ele pigarreou e eu pulei por causa do susto.

— Que merda, Luke! Quer me matar de susto? Meu Deus! — Coloquei a mão sobre o coração e respirei fundo, na tentativa de estabilizar meus batimentos cardíacos.

— Calma, linda. — Ele se sentou ao meu lado e me abraçou. — O que aconteceu?

Como diabos eu ia contar para Luke que eu ia me casar com Nicholas, o completo estranho? Obrigada, Zeus, seu merda.

— Eu vou me casar. — Soltei a bomba logo de uma vez. — Casamento arranjado para unir a empresa do meu pai e a de Hades Di Angelo.

Luke se afastou de mim.

— O quê?

— Eu vou me casar. C-a-s-a-r. União matrimonial. Eu vos declaro marido e mulher, sabe? Pode beijar a noiva e tal.

Ele se levantou, parecendo furioso.

— Você não vai se casar. Eu te proíbo! Você vai entrar dentro daquela maldita casa, vai arrumar suas coisas e nós vamos fugir se seu pai continuar com essa porcaria. Você não vai se casar com ninguém!

Me levantei, cheia de raiva. Não, não era só raiva que eu estava sentindo no momento. Era nojo, mágoa, decepção... Não sei ao certo como aconteceu, mas sei que um segundo depois Luke estava no chão se contorcendo de dor e segurando as "bolas".

— Vai se foder, Luke.

  Me segurei para não falar mais nada. Sabia que se falasse mais uma palavra, iria começar a chorar de novo e não valia a pena chorar pelo Luke. Me virei e comecei a refazer o caminho de volta para casa.

— Isso é só uma desculpa, não é, Thalia? Você está saindo com outro cara e está inventando essa história de casamento arranjado para se livrar de mim. Adivinha só! Você não me engana!

Você só pode estar brincando, pensei. Girei sobre meus calcanhares e fixei meu olhar no de Luke. Minha garganta estava fechando e meus olhos estavam ardendo, mas eu não ia permitir que nenhuma mísera lágrima escorresse.

— Você é um idiota! Quer saber? Eu vou me casar com Nicholas. Agora vai ser por livre e espontânea vontade. Posso não conhecê-lo, mas sei que ele é mil vezes melhor que você. Qualquer um é, na verdade.

Luke parecia ter levado um soco. Sorri, satisfeita, e voltei a fazer meu caminho de volta para casa novamente.

— Vai se arrepender disso, Thalia Grace. Vai se arrepender muito! Você fez sua escolha, agora vai sofrer com as consequências. Quer casar com o tal de Nicholas? Case então! Mas quando as coisas derem errado, não venha correndo atrás de mim.

— Não se preocupe, vou dar o máximo de mim para que as coisas não deem errado. - Gritei para Luke, sem olhar para trás.

Hades di Angelo continuava lá quando eu cheguei em casa. Ele e meu pai estavam sentados no sofá, parecendo ansiosos e tensos. Coloquei um sorriso no rosto, um sorriso genuíno e olhei para Hades.

—Thalia di Angelo... Isso não soa tão ruim assim.