Laranjeira escrita por Felipe Martins
Notas iniciais do capítulo
O capítulo não foi betado, então caso vocês encontrem algum erro, é só me avisar! :D
O texto talvez esteja um pouco complicado de ler, então peço paciência: é meu primeiro yuri (>//////<), então sou muito inexperiente nessa área DDD: Mas isso não significa que vocês não possam reclamar do que eu fiz
— Mamãe, o que é isso?
Estavam limpando a casa quando sua filha fez aquela pergunta. Não é como se ela não tivesse esse hábito — pelo contrário, ensinara suas três filhas a arte empoderadora.
Terminou de limpar um vaso indiano com Ganesha estampada no centro, cores emanando de si, e observou o pequeno objeto: um anel escrito “Orei por ti” na parte interna.
— Não somos evangélicos nem nada, então por que um anel citando orações está com você?
Olhou pensativa a palma que o guardou por tanto tempo e permitiu mostrar-se brevemente:
— A breve eternidade de nossos dias, filha, carrega uma infinidade efêmera de pessoas. Algumas sobrevivem em ti em fotos, lembranças, sentimentos e objetos.
Perdeu-se na confusão da adolescente, vendo o dia anelar passando num flashback sutil, oculto, célere.
— Eu sempre gostei dessa árvore.
Caminhavam, como sempre, sintonizando a música da vida e observando-a compondo-se no reger suave das árvores, surgindo de instrumentos aéreos e terrestres por e para todos. Próxima da periferia do parque, uma laranjeira coloria o trajeto de corredores e crianças curiosas, atentas a qualquer possível brinquedo natural. Não era a mais alta, ou a mais formosa, ou a mais colorida: num canto, a singeleza era a sua arte de infinita beleza.
— Mas ela é tão simples, Nilla. Há tantas árvores maiores e melhores por aí, por que justo essa?
Sorriu.
— Porque foi aqui que eu te vi pela primeira vez.
Achava aquilo demência
Eu, você e a inocência
de se apaixonar por ti,
justo por ti, garota
cheia de rudez.
— Como se você não gostasse disso, né, Nilla?
— Claro que gosto da poesia.
Cenho franzido. Fachada, claro.
— Você sabe bem do que eu estou falando, desenganada.
Uniram-se: dedos entrelaçados, braços conectados, um círculo perfeito demais até para elas. Mas isso não importava, nada importava quando o assunto era Nilla e Ashley — o casal 20 ao estilo anos 80, “sem ter exageros.” Ao menos era assim que transcorriam-se os dias e o círculo se adornava de outras roupas, cores, comprimentos e louvores àquele casal tão comum quanto água em deserto.
Porém, somos todos estranhos alheios. Para o outro, nada mais seremos até que se prove o contrário. Um único sorriso ou afetos disfarçados não são o suficiente quando a diferença é demais — para o bem e para o mal.
Brincara com fogo e se esquecera de que ele podia queimar. Debaixo de uma laranjeira, sob o diálogo corporal, uniram-se em carne e em espírito ad æternum, valsaram infinitamente e então, num súbito de paixão, desenlaçaram-se.
Um símbolo era necessário.
De Nilla, um colar com o seu nome foi o suficiente; para Ashley, seu amor infinito não tinha início ou fim — “Orei por ti.”
Separadas, representavam o finito — semirreta perdida no vazio cartesiano. Unidas, poderiam ser o mesmo, não fosse a árvore circunscrita à união delas. Foi ali que a paisagem simples, periférica e por vezes recusada criou a perfeição imensurável.
Não fosse aquele infinito: Pietro.
O ideal paterno, assim como a divindade, é impossível de se alcançar e nem sempre há um esforço dos interessados em fazê-lo. Imperfeições cancerígenas espalham-se em seus vereditos e sua sentença incrimina a todo o réu, inocente ou não. Convencer o júri popular também é, por vezes, impossível — principalmente com eles vestindo batas e fones de ouvido.
O “que assim seja” que todos esperam nesse momento é o impronunciável. Amém?
Na laranjeira, consumaram seu amor: nela, o desorgulho a refutou. Provar seu amor a eles era crime impossível — afinal, é possível matar a opinião daquele que já morreu?
Na infinidade de suas curvas, Ashley repousou. Na efemeridade daquele amor, Nilla se apoiou.
Não se lhes via início, meio e fim: orgulhosamente, soltaram-se para traçarem retas distintas. Com a perpendicular alaranjada, conviveram para sempre com um nome e um anel.
— Mãe? Mãe, cê tá aí?
Nilla despertou de seus devaneios ao ver sua filha estalando os dedos. Arqueou os lábios.
— Desculpa, filha, eu me distraí. Onde estávamos?
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E então, o que acharam? :3