Um Rei para Hawktall escrita por Loba Escritora


Capítulo 18
Capítulo XVII




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Cateline

O Sol mal havia tido tempo de aquecer o mundo sob ele, e Cateline já estava de pé, trajando uma túnica de seda púrpura e o costumeiro cinto de prata, pronta para cavalgar até o casarão dos Donoghan e visitar Giuseppe. Hudde tinha o hábito de acordar bem cedo para treinar, não sabia se continuava indo à Pedra Rachada agora que não era mais mestre de Kazimir, mas para prevenir um possível encontro teria que chegar antes do horário no qual ele costumava sair, afinal, os casarões eram muito próximos um do outro.

Havia acordado de péssimo humor, não conseguia tirar a prova anterior da cabeça. Giuseppe desfilou por toda a arena com aquele broche de lobo pregado no peito. Não se falava em outra coisa, certamente a Princesa Marey possuía um favorito nas competições. E era ele, o seu Giuseppe. Isso a deixava tão enfurecida que lhe dava náuseas, havia acordado no meio da noite e posto todo o jantar para fora.

Ao passar pelo casarão dos Arkalis, pôde notar um profundo silêncio e as cortinas ainda fechadas. Muito bem, Hudde ainda dorme, pensou com alívio, enquanto desmontava diante do portão dos Donoghan.  Uma das criadas, uma bela moça de cabelos acobreados presos em uma trança bem-feita, colhia algumas maçãs quando a notou.

— Bom dia, senhorita — deu-lhe um sorriso gentil. — Posso ajuda-la?

— Bom dia! — forçou-se a deixar o mal humor de lado e retribuir o sorriso. — Você teria a gentileza de verificar se Kazimir já está acordado e se poderia me receber?

— Ah, o jovem senhor acorda muito cedo, já está na mesa. Vim apanhar as maçãs para seu café da manhã. Me acompanhe — abriu o portão. — Vou avisá-lo que tem visita.

Cateline acompanhou a criada, satisfeita por não ter sido o jardineiro a tê-la atendido. Não estou nenhum pouco disposta para aguentar gente rabugenta hoje, pensou, revirando os olhos sem que a criada pudesse ver.

Sentou-se no assento indicado por ela e pôs-se a esperar. Não demorou muito até que a criada voltasse.

— O senhor a convidou para se juntar a ele na mesa, senhorita — indicou o caminho, apontando o corredor. — Queira me seguir, por favor.

Cateline levantou-se de imediato e pôs-se a andar atrás dela. Por um instante pensou em como Kazimir sempre era tão gentil, mas assim que avistou seu semblante, percebeu que a última coisa que podia esperar dele naquele momento, era gentileza.

— Bom dia, Kaz — tentou um sorriso para cativa-lo.

— Sente-se, Cateline — claramente a tentativa falhara. — Gostaria de comer algo? Algumas frutas? Pão? Talvez alguns ovos?

— Pão seria ótimo — respondeu, já se servindo. — Vim para visitar Giuseppe.

Evitou fitar-lhe os olhos, mas podia senti-los tocando sua pele.

— Deixe-nos à sós, por favor — imediatamente as criadas saíram da sala de jantar. E então ele continuou — Não sei se devo permitir que o visite novamente, Cateline — a voz era dura e firme, não parecia o doce menino que salvara no outro dia.

— Deixe-me lembra-lo, Kazimir, que está em dívida comigo...

— Não — a interrompeu bruscamente. — Não estou em dívida com você. Você me salvou uma vez. Uma! — com o cotovelo apoiado sobre a mesa, levantou o indicador. — Você está usando o nome da Princesa, o que acha que Rei Aloys faria se soubesse? Você está tendo um romance com Giuseppe, o que acha que Hudde faria se soubesse? Você mente para o Giuseppe à cada respiração que dá, o que acha que ele faria? — Kazimir respirou profundamente, tentando recuperar a compostura. — Eu não falarei nada, e guardando tal segredo, estou te salvando três vezes — com a outra mão, levantou três dedos. — Pelas minhas contas, já lhe paguei o que devia.

— Preciso vê-lo, Kazimir... Por favor... — Cateline se esforçava para que as palavras saíssem.

— Para quê? Para continuar enganando o rapaz? — dessa vez, Cateline não foi capaz de evitar a troca de olhares, e se surpreendeu com o que viu. Não era raiva ou desprezo, como esperava, era tristeza. Kazimir estava profundamente triste. — Olha, Cat... Eu não vou me meter nisso, acredito que as consequências que você sofrerá já serão bem severas sem a minha ajuda. Mas não tente me fazer mentir para ele. Não posso.

— Por que se importa tanto com isso? — o ciúmes havia a tomado com toda a sua força. — Vai me dizer que estás apaixonado agora? Achei que as coisas estivessem indo bem com Dyrk, não pensava que...

— Basta! — seu rosto estava tão rubro, que Kazimir podia transfigurar-se em uma chama. — Giuseppe é como um irmão. É honrado e bom. Não merece ser enganado assim. E tão pouco Hudde merece! Ele não possui o melhor dos caráteres, mas a idolatra! Isso está errado. Tudo isso está muito errado e não farei parte. Agora quero que saia da minha casa, Cateline.

Sentia as lágrimas vindo e não conseguia mais controla-las, deixou-as cair, na esperança de lavarem a vergonha em seu rosto. Kazimir parecia perdido ao vê-la chorar.

— Oh, não — levantou e se aproximou dela, tocando-lhe os cabelos. — Por favor, não chore. Eu não queria fazê-la chorar.

— Não é sua culpa — sentia um martelo em seu peito, impiedoso. Doía. — Estou chorando porque você está certo. Tudo que disse é verdade. Eu não sei como... eu...

— Giuseppe me contou como se conheceram — Kazimir voltou a se sentar, dessa vez na cadeira ao lado dela, e segurava suas mãos. A gentileza dele parecia ter voltado. — Foi um engano dele, não foi sua culpa — tirou do bolso no colete um lenço branco e ofereceu a ela. — Mas por que não contou a verdade quando voltaram a se encontrar? Ele teria perdoado, Cat. Tenho certeza que teria.

— Eu também tenho essa certeza — tentava respirar profundamente, buscando a calma dentro de si. — Mas não pude e tão pouco posso agora, Kaz.

— Bobagem! Ele a ama, é visível em seus olhos quando fala sobre você. Ele entenderia — a voz de Kazimir era tomada mais por esperança do que por convicção. — Talvez se chateasse em primeiro momento, mas logo tudo ficaria bem. Por que não fala a verdade agora?

— Você sabe do pai dele? — ela o questionou enquanto secava o rosto com o lenço.

— Da doença? — Kazimir abaixou a cabeça. — Sei.

— E o que você acha que ele faria, me amando tanto como ama? — não era uma pergunta capciosa, ela realmente desejava saber a opinião do rapaz.

— Poderia desistir por você ou de você — Kaz ponderou por um momento. — Teria que escolher entre o pai e a mulher que ama.

— Não chegaria à decisão, afinal, com a pressão dos pensamentos perderia em breve a competição.

O silêncio se fez presente como uma adaga, atingia sua alma. Podia ouvir a respiração profunda de Kazimir, e não fazia ideia do que ele pensava. Talvez devesse se retirar, mas talvez ainda houvesse a possibilidade dele reconsiderar a visita.

— O que estava fazendo naquela torre? — ele perguntou por fim.

— Queria conhecer a princesa também — sorriu um riso triste, já mais calma. — Queria saber por quem Hudde havia me trocado.

— Hudde não a trocou, não é Marey que ele quer, é a coroa — ela assentiu com a cabeça, sabia que era verdade. — E por que foi ao encontro de Giuseppe? Podia não ter aparecido e evitado toda essa loucura.

Era aquela pergunta que temia, mas decidiu não tentar mentir para ele.

— Hudde sempre diz que, se vencer, eu serei sua verdadeira rainha. Achei que Giuseppe seria uma chance a mais — antes que Kazimir pudesse explodir, acrescentou: — Mas então eu me apaixonei por ele. E agora não faço mais ideia do que devo fazer.

— Você realmente o ama?

— Agora amo. Muito mais do que deveria, por sinal.

— E ele a ama mais do que você merecia, então estão quites — fez-se uma pausa. — Deveria se refrescar um pouco, eles já devem estar descendo.

— Eles? — Cateline ficou intrigada.

— O irmãozinho de Giuseppe também está aqui, irá adorá-lo.

Isso queria dizer que poderia ficar. O abraçou com toda sua força.

— Obrigada, Kaz!

— Ande logo. Se Giuseppe ver que estava chorando, eu me darei mal no treino.

Kazimir fez o favor de explicar sobre os presentes trocados entre Giuseppe e Marey, a princesa recebera a rosa e o bilhete, que com amor foram escritos para ela, e por cortesia, retribuiu com um broche dos Caillot. O mesmo que Giuseppe ainda exibia quando surgiu na sala acompanhado do pequeno Louis.

— Minha bela! — o sorriso dele fez um carinho em seu coração. — Não esperava que estivesses aqui.

Cateline se levantou e o abraçou, sentiu o calor dos braços ao envolve-la e o afagar dos dedos em seu cabelo.

— Esse é Louis, meu irmão — indicou o rapazinho que sorridente os olhava. — E essa é...

— A princesa! — Louis fez uma reverência exagerada e atrapalhada, Kazimir quase engasgou com sua maçã ao gargalhar.

— Olá, cavalheiro — Cateline se abaixou e beijou as bochechas, que estavam rosadas de vergonha após todos terem rido dele. — É um prazer conhece-lo.

Tomaram o café da manhã juntos e sorridentes, festejando a vitória de Giuseppe na última prova e ponderando se Louis poderia ou não assistir a próxima. Depois foram até o jardim, o menino estava animado para mostrar o labirinto verde. Eu já o conheço, pobre criança. Eu já estive aqui tantas vezes..., pensou em Hudde, e isso a deixou triste novamente.

— O que houve, majestade? — Giuseppe tocou-lhe a face com doçura.

— Por favor, não me chame assim — ela precisou pedir. — Já tive sonhos em labirintos... lindos sonhos... mas parecem ter sido há tanto tempo que me causaram um certo pesar recorda-los.

— Faremos novos sonhos, então — disse Giuseppe ao se levantar, ainda com a ajuda da bengala. Olhou para ela, estendendo a mão. — Vamos dar um passeio por ele?

Ela segurou sua mão e foram juntos para dentro do labirinto. Iria a qualquer lugar com ele, mas não conseguia parar de pensar... Até onde irá comigo, meu amor?


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