Um Rei para Hawktall escrita por Loba Escritora


Capítulo 16
Capítulo XV




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Hudde

Hudde pretendia ter saído logo após o amanhecer, de modo a evitar o Sol escaldante que fazia nos últimos dias, mas uma conversa com o pai o atrasara. E o irritara também. Não conseguia tirar as palavras da mente. “Devíamos ser gratos por Rei Aloys ter perdoado nossa família, e você mostra gratidão trapaceando no torneio em nome da Princesa? ”, Marelf havia dito. É claro que o pai o conhecia o suficiente para não acreditar que o escudeiro se enganou sobre as lanças, mas não era isso que o incomodava. Por que diabos ele espera que eu seja grato ao assassino do meu irmão? Ao assassino do meu Rei?, sentia as mãos se fecharem em punho quando pensava nisso.

Quando finalmente chegou ao armeiro, o sangue fervia tanto quanto sua pele, mas não era de calor e sim de ódio.  Assim como ele, vários cavaleiros e outros competidores estavam ali, afim de reabastecerem suas flechas para a próxima prova, menos é claro, Giuseppe. Isso o ajudou a acalmar os ânimos. Aposto que deve estar chorando nos braços da mãe, se é que tem alguma, disse a si mesmo, orgulhoso por ter mandado o vendedor e toda sua petulância de volta para o lugar aonde pertenciam.

Foi então que avistou Dyrk ao fundo da loja. Embora ungido cavaleiro, o filho do Duque Beorth comportava-se mais como um pirata. A família governava a Ilha dos Tritões, província de Hawktall, sendo todos juramentados ao Rei Aloys. Mas o verdadeiro lar de Dyrk era seu navio, a elegante escuna com suas velas esverdeadas e o garboso tritão dourado em sua proa, ostentando o poderio dos Beorth.

Dyrk conversava animadamente com Kazimir, provavelmente contava-lhe mais uma de suas histórias sobre sereias, ou dragões dos mares tão grandes quanto navios de guerra. Quando o menino percebeu que se aproximava, se despediu do cavaleiro e saiu sem ao menos cumprimenta-lo. Não que isso fizesse alguma diferença, mas o pegou de surpresa que um covarde como Kazimir demonstrasse um pouco de personalidade.

— O que ele fazia aqui, Dyrk? — questionou o velho conhecido.

— Parece que o rapaz que você acertou ainda está de repouso, como escudeiro, Kazimir veio buscar um arco e algumas flechas para ele — Dyrk o encarava, procurando algum vestígio de frustração em seu rosto.

— Oh, sim. Por um instante achei que ele não fosse competir mais — obrigou-se a sorrir, não daria ao cavaleiro a satisfação de vê-lo desgostoso. — Que bom que não foi nada tão grave a ponto de fazê-lo desistir.

— Muito bom, mesmo — o sorriso de Dyrk era provocador. — Ele parece ter potencial, será interessante continuar vendo-o nas competições.

Hudde perdeu a paciência.

— O que te agrada nele é o potencial os olhos azuis, meu caro? — conseguiu. O sorriso no rosto de Dyrk desapareceu. — Ou será seu escudeiro? Não sabia do seu gosto por rapazes mais jovens…

— O que me agrada nele é a capacidade que possui de incomodar você, Hudde — dizendo isso, se retirou em passos firmes. — Tenha uma boa tarde.

Não era segredo para ninguém a reputação de Dyrk. A população, desde Hawktall até a Ilha dos Tritões, comentava sobre sua tripulação ser sempre composta por homens e nunca por prostitutas, embora já beirasse os vinte e cinco anos, não havia nenhuma aliança de casamento feita entre sua família e qualquer outra… Além disso, com certeza Hudde sabia mais do que os pequenos rumores que chegavam à maioria dos ouvidos, uma vez que já haviam se cruzado em bordéis de reinos longínquos e não se lembrava de ter visto mulheres deixarem os quartos após Dyrk se retirar deles.

Mas admitir uma coisa dessas em público colocaria Dyrk em perigo, afinal, sodomia era crime perante os olhos de Prussiya, uma vez que a fertilidade era seu principal poder, a procriação era o mínimo que seus filhos terrestres poderiam ofertar a ela. Ser pego em tamanho pecado, faria com que o cavaleiro perdesse sua cabeça, e seu corpo apodreceria sob o solo, jamais voltando ao mar que tanto amava. Por isso, era bom lembra-lo que deveria tomar cuidado com as provocações, Hudde não era conhecido pelo ótimo senso de humor.

No caminho de volta à casa, pensava em visitar Cateline. Ela havia ido embora sem avisar ninguém depois do jantar, e nem ao menos chamara o cocheiro para leva-la. Já haviam se passado três dias e não havia nenhum sinal dela, o que o deixou preocupado. Tinha excedido seu limite ao beber e temia tê-la magoado de alguma forma.

Decidiu que iria visita-la antes da próxima prova, talvez passasse na modista a fim de comprar-lhe mais algum vestido, ela ficara absurdamente deslumbrante no vermelho, e vê-la tão linda, era para ele um deleite.

Cateline foi afastada de seus pensamentos quando passava pelo casarão dos Donoghan. Enquanto o velho jardineiro no topo da escada aparava uma cerejeira, um menino observava atentamente, sentado nas sombras abaixo dele. Será que o Barão desistiu de vez de Kazimir e assumiu algum bastardo desconhecido?, indagou-se enquanto se dirigia às grades.

— Olá — deu ao menino um sorriso, tentando parecer simpático.

— Oi! — o menino o retribuiu com um sorriso doce. — Você é amigo do Kaz?

— Sim, há alguns anos — pelo visto, era uma criança tagarela, isso facilitara as coisas. — E você?

— Sou o novo irmão dele! — respondeu com orgulho. — Quer que eu o chame para você? — perguntou já de pé.

— Não, não — respondeu depressa, antes que o menino corresse para dentro. — Estou com um pouco de pressa. Não sabia que o barão tivesse mais algum bastardo além…

— Eu não sou bastardo! — foi interrompido. O rosto do menino enrubesceu. — Não sou filho do barão, sou irmão de Giuseppe, mas o Kaz também é nosso irmão agora.

Oh, sim, Hudde o analisou. Agora podia notar o mesmo brilho arrogante nos olhos, o mesmo nariz altivo como se fosse alguém que valesse alguma coisa… A própria miniatura daquele vendedor que queria brincar de ser cavaleiro.

— Perdoe-me o engano, não quis ofendê-lo — o menino abaixou a cabeça, aceitando as desculpas. — Então você está visitando seu irmão? Soube que está doente.

— Ele machucou a perna, mas foi só um arranhão — deu de ombros. — Vim ficar com ele para não atrapalhar a minha mãe.

— Oh, então você é uma criança arteira?

— Não sou criança, já tenho dez anos! — o pirralho era mesmo como o irmão. — E sou muito obediente, mas mamãe precisa cuidar de papai, então é Giuseppe quem cuida de mim.

Era bom saber, mas disfarçou: — E você se interessa por cerejeiras ou o quê? — fingiu interesse.

— Não posso aproveitar da hospitalidade sem oferecer nada em troca, Giuseppe disse que isso seria mal educado da minha parte — apontou para o jardineiro. — Então o senhor Ribert vai me ensinar algumas coisas para que eu possa ajudá-lo com o jardim.

— Está certo — um brilho acendeu nos olhos de Hudde, como uma fogueira. — Talvez qualquer dia você possa ir lá em casa me ajudar também, o que acha?

— Vou pedir para Giuseppe e… — o menino começou a dizer.

— Não precisa — o interrompeu. — Deixe que eu pergunto a ele, assim ele não vai achar que você me incomodaria. Qual é mesmo seu nome?

— Louis — sorriu.

— Certo, Louis. Qualquer dia desses venho busca-lo — e saiu, antes que o menino pudesse perguntar seu nome.

E viria, mesmo. Seria um dia interessante.


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