Um Rei para Hawktall escrita por Loba Escritora


Capítulo 13
Capítulo XII




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Marey

Havia colocado um belo vestido creme e uma tiara em pedraria simples no topo da cabeça, deixando os fios negros descerem livremente pelas costas, olhou-se no espelho e se sentiu bela. Era realmente uma pena que não poderia exibir a agradável aparência, mas não deixaria que isso tirasse o sorriso de seu rosto. Afinal, o pai permitiu que assistisse às competições da janela da Torre Central e ainda que ninguém a pudesse ver, veria a todos. Isso era tão excitante! Nunca antes vira um torneio... nunca antes vira nada. Lera sobre muita coisa, achava que era bem capaz de ter lido todos os livros do reino desde que aprendeu a reconhecer as palavras, mas nunca vira nada.

Estava transbordando de felicidade, quando Cecil abriu a porta do quarto.

— Está pronta, princesa? — a dama de companhia estava tão bela quanto ela, em um vestido rosa muito claro, e os cabelos loiros presos ao topo da cabeça, deixando cair alguns cachos ao redor do rosto. — Já prepararam uma mesa na torre, caso tenhamos fome.

— Oh! Eu acho que já estou com fome, por sinal — Marey lembrou-se de que a ansiedade fora tamanha, que mal tocou no café da manhã. — Então, vamos?

As duas subiram juntas, vencendo o pandemônio que estava no castelo naquele momento. A criadagem ia de um lado a outro, tão apressados que sequer a viram ali. O pai receberia alguns barões, juntamente com o Duque da Ilha dos Tritões, o senhor Beorth, e Vynnel Snotra, o Alto Juramentado do Rei, para assistirem juntos o primeiro dia do torneio, isso fez com que os serviços por ali duplicassem.

Chegando ao topo, ficou muito satisfeita. A quarto da torre estava arejado, havia peônias por toda a parte, o que tornava o cômodo belo e perfumado, além de serem suas flores favoritas. As grades das janelas se mantinham fechadas, mas eram suficientemente espaçadas, sem atrapalhar sua visão. A mesa fora servida com um pequeno banquete. Havia bolinhos de milho, vinho doce, leite com mel, uma caça recém preparada só para ela e Cecil, e várias frutas. Se serviram e foram se sentar no momento em que um grande tambor soou.

 — Está anunciando o início da fanfarra — explicou Cecil. — São os melhores músicos do reino!

Seguiu-se uma marcha da torre leste à oeste, Marey tentava ver cada rosto que passava pela torre central. Eles tocavam divinamente bem! Havia homens e mulheres, jovens e velhos, mas todos em perfeita harmonia. Ficou com os olhos e ouvidos pregados a eles, do início ao fim da marcha, apreciando cada canção que nunca antes ouvira. Quando acabou, perguntou à Cecil:

— E agora? Eles já vão embora?

— Agora eles se recolherão à ala dos músicos, e se apresentarão novamente à noite, durante o grande jantar — respondeu a amiga.

Um trompete soou e mais uma vez Cecil estava pronta para explicar:

— Agora é a hora da entrada da nobreza, Vynnel encabeça a fila, atrás dele o duque e os barões entrarão acompanhados de suas esposas para saudarem o Rei e serem acolhidos em sua mesa.

O duque e a duquesa eram garbosos em seus trajes verdes com tritões dourados, o mais adequado brasão para os governantes da Ilha dos Tritões. Aloys entregou o posto de Duque ao senhor Beorth nas primeiras semanas de seu reinado, após o mesmo mostrar-se um excelente e fiel general, tendo sido um dos melhores comandantes na conquista da coroa.

Os barões que se seguiram de braços dados com suas baronesas não ficavam muito atrás. As melhores sedas se apresentavam ao longo do cortejo, decoradas com ornamentos ricos em pedrarias e ouro. As modistas do reino sem dúvidas estavam muito satisfeitas com a comemoração.

— Por que aquele senhor de azul segue sozinho, Cecil? — indagou Marey, ao perceber um barão de presença solene caminhando ao fim da procissão sem ninguém de braço atado ao seu.

— Aquele é o Barão Donoghan — Cecil pareceu esquecer que estavam à sós, pois fez da voz um sussurro. — Ele é viúvo. A filha mais velha já é casada e mora no litoral, e a outra é uma bastarda, nunca é mencionada. Ele tem um filho, mas o rapaz está junto com os competidores.

— Oh! O filho do barão competirá? — Marey arrumou a postura na cadeira, empolgada.

— Será um escudeiro, Marey — respondeu Cecil, aos risinhos. — Ele é muito jovem ainda, mas o cavaleiro que ele servirá deve ser importante, o barão não permitiria que o filho fosse escudeiro de um qualquer.

— Você conhece os cavaleiros? — a Princesa tentou, ainda que inutilmente, disfarçar seu entusiasmo.

— Não todos, princesa — Cecil viu o desapontamento no rosto de Marey. — Sinto muito. Mas todos que conhecer, contarei tudo o que souber para você, está bem?

Marey sorriu e assentiu com a cabeça.

A marcha acabou e finalmente os competidores se encaminhariam a seus lugares. Marey notou que eles olhavam para a torre repetidas vezes, buscando enxergar algo. Cecil, reparando o mesmo, disse:

— Algum criado deve ter deixado escapar que estaria aqui, devem estar enlouquecidos por um vislumbre seu — Cecil apontou um belo cavaleiro em armadura bronze. — Aquele é Dyrk, filho do Duque Beorth. Esse ano comemorará o vigésimo quinto dia de seu nome — agora apontava para um cavaleiro de armadura negra. — Aquele é Hudde, filho do Barão Arkalis. Dizem que é o cavaleiro mais temido do reino.

— E com certeza um dos mais bonitos — Marey não conseguia parar de olhar para os cabelos negros que moldavam seu rosto como se ele fosse uma obra de arte. — Mas os Arkalis não são amigos de minha família, são?

— Eles lutaram por Komur, Princesa — explicou Cecil, com a voz embargada. Falar da antiga guerra a lembrava da tragédia que acometeu sua família. — Mas seu pai concedeu-lhes o perdão real, e desde então eles nunca mais deram nenhum problema. Ao contrário, até ajudaram a inibir a rebelião dos homens da costa há alguns anos.

Cecil apontou mais uma dúzia de cavaleiros, até que indicou um dos escudeiros.

— Aquele é Kazimir. Ele é o filho do Barão Donoghan do qual acabei de lhe falar.

— Ele parece se dar bem com o cavaleiro, não acha? — Marey observou.

Os dois sorriam lá embaixo, aparentemente comentando sobre os demais cavaleiros que se juntavam a eles.

— Parece que sim — concordou Cecil. — O que achou do cavaleiro a quem ele serve?

— Tão belo quanto o de armadura negra, ele... — sua voz sumiu. Por um instante podia jurar que ele havia lhe mandado um beijo com as pontas dos dedos. — Ele... ele me...

— Te mandou um beijo — a amiga parecia tão surpresa quanto ela. — Que ousadia!

Trocaram um olhar e riram juntas até quase perderem o ar.

— Gostei dele... — Marey disse por fim, recuperando o fôlego.

— E quem não haveria de gostar? — Cecil exibia um sorriso nada recatado.

— Recomponha-se! — Marey fingiu estar zangada. — É meu futuro noivo e eu exijo respeito.

— Se ele perder o torneio, será uma pena... para você! Eu adoraria!

E caíram na gargalhada outra vez.

A primeira justa do dia seria entre o misterioso cavaleiro a quem Kazimir acompanhava e o cavaleiro de armadura negra. Os cavalos foram postos de frente um para o outro na arena improvisada diante da torre, um garanhão malhado em marrom e branco, com as crinas trançadas, e outro um garanhão preto, de rabo e crina perfeitamente escovadas para esvoaçar. Eles estavam montados e seguravam suas lanças de torneio.

Ao sinal, ambos esporearam as montarias e foram ao confronto. Cruzaram-se uma vez, as lanças bateram uma na outra e ambos permaneceram firmes. E mais uma vez, e outra... até que, de repente, o cavaleiro negro abaixou sua lança e seu tronco, esquivando-se da lança do cavaleiro misterioso e acertando em cheio a sua perna e a pata traseira de sua montaria. O cavalo subiu e desequilibrou-se, ouviu-se um baque forte no chão, o cavalo havia caído em cheio por sobre o cavaleiro misterioso, e o cavaleiro negro ia para sua volta da vitória quando um grito ecoou pela multidão.

— O que é aquilo, Cecil? — Mary sobressaltou-se. — Aquilo é sangue?

A macha no chão ficava cada vez maior.

— Não pode ser... — Cecil estava confusa e assustada. — As lanças de torneio não são afiadas!

Mas aquela era.

Viu quando Kazimir pulou na arena e foi de encontro ao cavaleiro, e quando os médicos se aproximaram. Era mesmo sangue, e poça continuava a crescer...


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