Um Rei para Hawktall escrita por Loba Escritora


Capítulo 1
Prólogo


Notas iniciais do capítulo

Boa noite para os leitores mais queridos do mundo... os meus. ♡
Como algum de vocês já sabem, há alguns meses estava sendo postado o meu conto original, "Um Rei para Hawktall", mas devido há alguns problemas pessoais acabei por passar por um imenso bloqueio criativo, que refletiu diretamente em minha escrita, o que me fez abandonar a obra por uns tempos.
Finalmente voltei à ativa, e trago à vocês uma surpresa!
Não irei apenas continuar a postagem, mas reformulei todo o conto, visando melhorar ainda mais a experiência de vocês. A história central continua a mesma, os personagens já conhecidos por vocês permanecem e os plots já apresentados também. Mas mais personagens e plots foram inseridos, por isso, reescrevi tudo desde o início, anexando mais detalhes em cada capítulo. Espero que gostem!
Se você está chegando agora e ainda não conhecia "Um Rei para Hawktall", deixo aqui um convite pra que embarque nessa viagem comigo.
Os primeiros cinco capítulos já estão disponíveis.
Boa leitura! ♡



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ALOYS

Não sabia dizer se a febre da esposa havia se impregnado nele ou se a fúria fazia com o que o sangue fervesse por sob sua pele, mas até mesmo o fino linho ardia ao lhe tocar. A passos largos, cruzou o quarto em direção ao criado que, cuidadosamente, desdobrava seu gibão de arminho negro.

Poderia ter caçoado dele pela extrema concentração em uma tarefa tão simples, se o real motivo não fosse claro em sua mente. Maldição! Não se pode nem ao menos entristecer-se em paz, sem causar lástima até mesmo na criadagem. Lembrou-se de Kahandre e um dos seus principais ensinamentos, dado a ele enquanto ainda exercia sua função de Alto Juramentado do Rei: um homem que causa piedade não pode impor respeito. Se homens comuns já não podiam se dar a esse luxo, quem dirá um Rei?

— Há nós entre as dobras, rapaz? — Aloys disse em tom cortante.

— N-não, Majestade — a voz era não mais que um sussurro.

— Talvez devesse ordenar que lhe quebrem os dedos de uma mão, assim ao menos poderia justificar tamanha demora — rapidamente o criado, um garoto que devia ter visto não mais do que doze primaveras, passou a vesti-lo de forma hábil.

Após abotoar o cinto, o pequeno rapaz encaminhava-se até a coroa. O ouro retorcido como belos cachos loiros, decorado com grandes rubis, era algo que proporcionava verdadeira contemplação. Tão bela… tão pesada. Já preciso suportar mais peso do que meus ombros aguentam por hoje.

— Guarde isso — o garoto o olhou, confuso. — Um homem que força seus limites de forma imprudente torna-se fraco, aprenda isso.

Sem se preocupar se o garoto havia de fato aprendido a lição, virou-lhe as costas e saiu.

A porta que procurava ficava a poucos metros da sua, mas a caminhada parecia ser longa demais, fazendo sua respiração oscilar e suas pernas ficarem trêmulas. Ao empurrar a madeira bem talhada para adentrar o cômodo, o mal cheiro invadiu suas narinas.

Rainha Aldith encontrava-se deitada sobre vários travesseiros de penas de gansos, com a aparência muito frágil. Enquanto uma criada depositava unguentos em sua testa, a outra tratava de limpar o tapete, aonde aparentemente ela havia acabado de vomitar o pouco da refeição que conseguiu ingerir durante a noite.

— Deixem-nos — não podia ter certeza se a voz havia saído firme como planejou, mas ao menos as criadas se apressaram em deixar o quarto. — Sente-se melhor, Aldith?

— Meu Rei — sua esposa começou a falar, enquanto Aloys abaixava-se para beijar-lhe a face. — Senti tanto medo de não o ver antes de partir.

Queria poder abraça-la e dizer que tudo ficaria bem, que não partiria hoje, nem amanhã. Que viveria muitos anos felizes ao seu lado… Mas nunca foi um bom mentiroso, nem mesmo quando precisava ser.

— Eu deveria ter dormido contigo, não sei por qual razão dei ouvidos ao teu capricho de querer sair dos aposentos reais.

— Jamais me perdoaria se te contagiasse com esse mal que tomou meu corpo — ela sorriu, um riso doce, como quando sorria há quase duas décadas atrás, antes de outro mal levar-lhe toda a alegria. — Você merece longos anos de paz e saúde, meu amado.

— O que a faz pensar que você também não é merecedora, minha rainha? — afagou os belos cabelos, negros e brilhantes como ônix. Nem mesmo a doença foi capaz de arrancar sua beleza.

— Eu entendi o meu castigo, Majestade — era claro seu esforço para conseguir pronunciar cada palavra, mas não podia priva-la do desabafo. Não enquanto restava-lhe tão pouco tempo. — Cada ano que tomei de nossa preciosa princesa, foi descontado do meu próprio prazo nessa terra abençoada por Prussiya.

Era fato que os últimos dezoito anos foram de extrema tensão entre a esposa e a filha. Após a morte de Lenber, seu precioso filho e irmão gêmeo de Marey, Aldith aplicava cuidados à princesa com tamanho descomedimento que parecia estar beirando à loucura. Mas não era hora para amofinar a pobre rainha.

— Marey sabe que tudo o que fez foi para protege-la — Aloys segurou um pequeno pente de porcelana nas mãos, e dedicou-se a desfazer os nós que a febre atou nos cabelos da esposa durante a noite. — Não deve mais se preocupar com isso.

— Ela me perdoou, eu sei. Esteve aqui durante a madrugada, precisei insistir muito para se refugiar desse lugar repleto de doença — tossiu, fazendo com que sangue viesse até a boca. Aloys gentilmente ofereceu seu lenço para limpá-la. — Precisa me perdoar também, Majestade. Durante anos falhei com meu dever como esposa e rainha, deixando-me ser destruída pela dor da partida de nosso pequenino bebê.

Aloys já havia a perdoado antes mesmo que ela tivesse feito qualquer coisa, e a perdoaria mil vezes, quaisquer que fossem seus pecados. A amava com toda sua alma, e o que mais o amor era, senão uma sucessão interminável de perdões?

A tosse a castigou de novo, dessa vez ainda mais forte. — Perdoe-me, amado meu, por favor… perdoe-me.

— Está perdoada, por qualquer coisa que tenha feito ou não, eu sempre a perdoarei — beijou-lhe os lábios sem se importar com qualquer perigo. Tudo o que mais queria era partir com ela. Se a doença fosse um veneno, o tomaria sem pestanejar.

— Precisa prometer que cuidará dela, de nossa Marey. Ela precisa ficar longe daquele monstro. Prometa-me, Aloys… prometa-me.

— Monstro? Do que está falando?

Mas ela nunca o respondeu. Olhando para a outra extremidade do quarto, sorria de braços esticados.

— Meu menino… me deem meu menino… — segurando nada mais do que o vento frio que entrava pelas janelas, Aldith continuou perdida em seu último devaneio. — Ele não é lindo, Majestade? Qual será o seu nome?

— Lenber… Esse é Lenber, herdeiro de Hawktall — deu graças à Prussiya por estarem à sós, as lágrimas atacaram sua face sem nenhuma misericórdia.

— Posso leva-lo ao jardim? Gostaria de caminhar com ele — a rainha olhava o espaço entre seus braços de forma apaixonada, da mesma forma com que olhara o filho que lhe foi entregue há tantos anos.

— Pode, meu amor. Vá com ele… está tudo bem, eu cuido da pequena Marey. Pode ir com ele — a abraçou.

Quando finalmente seus braços soltaram o vazio e caíram por sobre a cama, Aloys usou os dedos de forma carinhosa para fechar-lhe os olhos. Descanse finalmente em paz, minha rainha.


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