Diário de Uma Vela escrita por Mila Karenina


Capítulo 3
A BV e o cobra?


Notas iniciais do capítulo

Olá, amores! Primeiramente, queria pedir desculpas pela demora e pedir que não desistam da história. Tentarei atualizar mais rápido, isso é uma promessa.
Depois, também gostaria de agradecer aos que acompanham a história, o número de leitores é muito expressivo, estou lisonjeada :)
O capítulo foi escrito com muito amor e espero que curtam.



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Como lidar com fofocas descabidas? Essa era uma boa questão.

Minha mente estava trabalhando incessantemente atrás de respostas para a origem do gostoso do trailer, o seu nome e sobretudo, sua idade. Precisava saber se ele estudaria na escola, daí poderia fazer aquela linda cena clichê de deixar meus livros caírem e esperar que ele os pegue pra mim. Com minha aparência de garota skatista ou uma Avril Lavigne que não deu certo, ele correria com toda certeza.

O meu atual problema não era com o bonitinho dos olhos claros, mas sim com Artur. Sim, o cobra. Ele sempre me trazia problemas, isso era de praxe.

Estava deitada sobre meus próprios braços em cima de minha carteira, quando ouvi os primeiros comentários ridículos. Talvez a pessoa não tivesse notado minha presença ou simplesmente fosse tola o suficiente para falar na minha frente.

— Soube da BV e do cobra? Falaram comigo que pegaram os dois no maior amasso atrás da escola — Uma voz estridente anunciou. — Fiquei sabendo até que a Mayara tava com gosto de maionese caseira na boca.

E foi aí que me levantei com rapidez.

O que aquela merdinha estava falando? Eu ficando com o Artur? Isso só podia ser brincadeira, ninguém em sã consciência criaria um boato tão idiota. Eu era BV, todo mundo sabia disso e era uma fama que odiava ter, mas aquela ali seria pior: peguete do cobra.

— Você está louca? — perguntei. — Isso é estupidez!

A garota me olhou de cima em baixo. Quem era ela? Calma que te conto.

Dolores dos Santos, também conhecida como Dollinha. Para mim, ela realmente era uma Dolly, mas que tal uma Dolly Guaraná? Embalagem feia e comercial chato, além de ser inexpressiva. Odiava Dolores, ela era idiota e fofoqueira como ninguém.

A garota era baixa, não devia medir mais de um e sessenta e tinha cabelos cacheados e oxigenados, ou melhor, loiros. Todo mundo sabia que seu cabelo era pintado, suas sobrancelhas eram pretas. Ela tinha um cheiro bem peculiar, parecia misturar creme de cabelo com falta de desodorante, daí tínhamos aquele odor quase tão bom quanto um perfume da Chanel.

— Ah não acredito! A BV, ou melhor, ex BV está aqui! Você é tão insignificante que não notei sua presença! — Sua amiga a defendeu.

Clarice era quase tão estúpida quanto Dolores, mas acredito que conseguia ser menos pior. Seu nome era menos brega, seu cabelo mais escuro e seu cheiro menos desagradável. Talvez o cheiro dela fosse equivalente a um cabelo bem oleoso. Não chega nem perto ao cheiro de Dolores.

— Cale a boca ou eu mesma vou calá-la! — ameacei. — Todo mundo sabe que eu nunca ficaria com o Artur.

— Todo mundo sabe que está desesperada para perder o BV, não sei como ele conseguiu encarar, mas ele fez e todo mundo sabe disso. Nós até sabemos que você depois deu uma crise de ciúmes e partiu para cima do garoto, coitado! — Dolores foi contando a fofoca e só pude abrir a boca, estava chocada. — Olhe pelo lado bom, pelo menos agora não é mais uma BV.

Minha paciência estava chegando ao limite. Não apreciava bater em mulheres, mas estava cogitando a ideia de partir aquelas duas no meio. Como faria isso sendo uma magrela? Essa é mais uma questão difícil de ser respondida.

Por sorte ou força de pensamento, Laís chegou na sala e ouviu toda a fofoca.

— Isso é ridículo! A May não ficou com ninguém! Dá onde veio essa bosta? — Laís não costumava falar besteiras, isso mostrava o quanto estava enfurecida. — Aposto que foi o próprio Artur que saiu dizendo isso!

Provavelmente tinha sido mesmo. O que fazia meu ódio por ele subir para 250%. Ele estava em que lugar da minha lista de coisas odiadas mesmo? Com certeza tinha subido uma ou duas posições.

— Ele nos contou que você bateu nele depois que se beijaram porque ficou com ciúmes dele olhar para uma menina passando na rua — Clarice disse abrindo bem os olhos.

— Deixe que vou resolver isso agora! — afirmei e saí.

*/*

Sabia onde encontraria Artur, mas não sabia o que falaria com ele. Talvez apenas socasse seu rosto com toda força, em seguida subisse em cima dele e lhe desse mais uns tapas. Quem sabe uns chutes no fim, ou eu simplesmente deveria botar fogo nele? As opções eram ótimas.

Artur sempre tivera uma quedinha por mim, desde que éramos bem pequenos, mas simplesmente não conseguia corresponder. Ele não era um garoto feio, tinha que admitir que ele era até bonito, mas sua infantilidade me fazia ter ânsia de vômito ao pensar em nos dois… Não, simplesmente não rolava.

Depois do ensino fundamental, mudamos um pouco. Enquanto eu continuei grudada com Laís e às margens da sociedade escolar, ele se juntou com Henrique e os garotos mais legais e montou o seu próprio clubinho: o time de futsal da escola. Eles até eram bons jogadores, mas nada atraentes. Henrique era muito interessante, mas quando ficava com Artur adquiria a mesma ignorância e estupidez do amigo.

Não via necessidade alguma em Artur inventar uma coisa dessas sobre mim, mas não podia só deixar pra lá, precisava mostrar pra ele que não se deve mexer com Mayara.

Encontrei com o babaca bem no centro da quadra. Outros meninos estavam com ele, mas não disse absolutamente nada a nenhum deles. Apenas entrei com minha mochila nas costas e me posicionei bem à frente de Artur, que franziu o cenho.
— O que tá fazendo aqui, mulher? Isso aqui não é lugar para menininha! — Artur afirmou.

Sem responder, fiz a minha cara de megera e bati com tudo em seu rostinho bonito. Ele não se mexeu com meu tapa, esperava que seu rosto virasse e algum sangue surgisse em nele. O alvo rosto do moleque apenas avermelhou e ele olhou para mim com raiva.

— O que pensa que está fazendo, sua idiota?

— Esse tapa foi por ter dito para as pessoas que nos beijamos! — Chutei suas partes íntimas, o imbecil caiu no chão, contorcendo-se. — Artur, querido, se você quer mesmo ficar comigo, que tal me drogar primeiro? Essa é a única forma que conseguirá! Idiota de merda! — Chutei-o novamente, seus amigos estavam rindo. — Faça isso novamente e arranco essa ameba que chama de pênis.

Não disse mais nada e virei-me de costas para o garoto.

Foi aí que ele levantou-se de repente e me puxou para si, me apertando contra si. Aquilo era um absurdo, ele estava abusando sexualmente de mim, certo?

— Tire as patas de mim, animal!

— Agora quem vai me escutar é você! — Ele continuou me apertando. — Eu não inventei nada e você sabe disso, nós realmente nos beijamos e você adorou na hora. Fico feliz em ter tirado o seu BV.

Os garotos olharam para mim, pareciam tensos com a cena. Por que nenhum deles me tirou das garras de Artur? Aquilo estava tornando-se um pesadelo.

— Antes de vir até a minha área, acho melhor estudar! Eu poderia facilmente te jogar naquela parede e mostrar para todo mundo como você adora quando te toco, mas não vou fazer isso porque te respeito e não quero que saibam a grande vadia que você é!

— Vá para o inferno, cobra! Eu te odeio! Nós nunca tivemos nada e nunca teremos, o Henrique pode confirmar isso.

Henrique deu alguns passinhos para trás, seria possível que ele também ia mentir? Podia facilmente ser um complô para me arruinarem.

— Você está mentindo — ele afirmou. Como ele podia ser tão descarado? — Quer dizer, você está mentindo, cobra, não aconteceu nada disso.

A cara de Artur foi no chão, estava impressionada com sua babaquice. Inventar uma fofoca daquelas? Parecia até coisa de novela mal feita da Globo!

— Você é a droga de um mentiroso! — Artur acusou o amigo, que balançou os braços. — E você, Mayara, saiba que te fiz um favor! Duvido que consiga perder o seu BV, ninguém te quer, é uma garota totalmente sem graça.

Eu poderia dizer que aquilo não doeu e que me virei e fui embora, mas doeu e sabe por que? Porque bem, eu sabia que era verdade. Não conseguia chamar a atenção de ninguém, quer dizer, de ninguém realmente legal. Artur era um idiota, mas era um idiota sincero.

Senti as lágrimas formarem-se em meus olhos, mas não deixei que elas caíssem, não na frente de Artur.

Seus amigos não lhe recriminaram por ter inventado uma fofoca, o que achei absolutamente normal, visto que todos eram perfeitos imbecis sem nada no cérebro.

Com a mente com milhões de pensamentos ruins sobre mim mesma e um coração vazio, saí da quadra chateada e segui meu caminho para o pátio, tentando esquecer das palavras de Artur.

*/*

Naiara Azevedo tocando no volume máximo em meus fones de ouvido, estava em pedaços. Saí da escola um pouco mais cedo, forjei uma dor de cabeça e estava caminhando livremente para minha casa. Nada é mais doce que sua casa quentinha depois de um dia péssimo, talvez até assistisse algum Dorama ou quem sabe, um anime fofinho.

A parte mais difícil de ser BV não era o fato de nunca ter beijado na boca, mas os rótulos que isso trazia. Ser BV fazia com que pensasse que era o ser menos sexy que já caminhou sobre a terra. Fazia eu pensar que era a pessoa mais azeda da face da terra, fazia eu pensar muitas coisas terríveis sobre mim. Sabia que aquilo não era nada saudável.

O sertanejo em meus ouvidos não tinha a melhor letra do mundo, mas a voz da mulher era muito boa. Talvez com um novo compositor, ela pudesse destronar esses cantores de arrocha metidos a mulherengos. Sejamos sinceros, todos parecem o mesmo.

Quando entrava em um conflito mental tentando escolher entre Maiara e Maraisa e Simone e Simaria, tropecei em um filhote de cachorro e bati de cara no chão. Droga, meu dia não podia ficar pior. Senti que cortei o lábio e o gosto de sangue inundou minha boca.

— Caralho! — gritei. — Minha vida é uma merda!

Minhas narinas foram inebriadas por um cheiro de cigarro forte, talvez tivesse algo de diferente naquela merda de nicotina, o cheiro não era ruim. Fui subindo a cabeça aos poucos e notei um tênis preto e branco, na verdade era um sapatênis. Continuei com minha descoberta quando notei que o garoto tinha pernas longas e um peitoral bonito, logo dei conta dos cabelos louros em cima do ombro e paf! Os olhos claros. O bonitinho do trailer estava diante de mim. E olhem que incrível, eu estava com sangue na boca e ódio no coração.

— Quer ajuda, mocinha? — ele perguntou, sua voz saiu tão aveludada.

— Não, obrigada — Rejeitei sua mão estendida e apoiei-me em minhas próprias, que ralaram-se e levantei.

O garoto vestia calças escuras no dia, que estava muito quente; tinha uma blusa branca colada ao corpo bem construído. Os cabelos loiros pareciam o próprio sol e os olhos claros me lembraram que ele não era desse mundo. Só podia ser um deus grego.

Eu não era baixa, tinha uma altura mediana, mas do lado do garoto parecia bem pequena. Ele também tinha um sorriso tentador e uma cara de mau, nem preciso dizer que me derreti toda. Ele não fazia nada o meu tipo, mas desconfiava que era algum tipo de mercadoria universal. Sabe quando sua mente te alerta com coisas do tipo “tão lindo que só pode ser o demônio”? Bem, eu tinha a resposta perfeita, ele era realmente o demônio: quente como o inferno e gostoso como um pecado bem-feito.

Estava em dúvida sobre o que fazer: poderia continuar caminhando ou quem sabe, puxar um assunto. Levando em conta minha capacidade de parecer simpática, preferi continuar caminhando, mas o garoto me seguiu. Estava começando a acreditar que ele era um psicopata.

— Teve um dia ruim? — ele perguntou educadamente.

— Sim, terrível — disse, encostando a mão em minha boca machucada. Minha mão ardia, estava doendo. — Me machuquei.

— Eu vi você caindo, você tá bem?

— Mais ou menos — respondi nervosa.

Ele olhou em volta, em seguida continuou a caminhar. Ele era mesmo estranho.

— Então, o que aconteceu? — ele questionou.

— Não acho de bom tom abrir minha vida pessoal para um completo estranho.

O garoto pareceu bem assustado com minha resposta.

— Não sou tão estranho quanto pensa.

— Não me diga que minha vida deu um plot twist e você é meu irmão perdido! — Senti meu senso de humor voltar.

— Não, não somos irmãos — Ele riu. — Mas digamos que você vai me conhecer de forma formal…

— E como sabe quem sou eu? — Balancei os cabelos.

— Alguém me mostrou uma foto, seu corte de cabelo é inconfundível.

Gelei. Ele deveria ser mesmo um psicopata.

— Pode falar comigo, juro que não mordo — ele tentou me convencer. Deu certo.

— Um garoto idiota inventou uma fofoca sobre mim e eu fiquei chateada.

Ele acendeu outro cigarro.

— Temos duas formas de lidar com a fofoca: ou você segue as regras e não permite que falem absolutamente nada sobre você, o que é difícil pra caraca, ou você simplesmente manda todo mundo se danar e faz o que quer, mas sabendo dos comentários. A segunda opção requer tempo para adaptação, mas acredito que depois de um período bebendo todas, você deixa para lá a opinião alheia e foca na sua vida. A primeira é difícil, na verdade, quase impossível.

Ele me pareceu bem inteligente para uma pessoa tão bonita. Além de Laís, não conhecia ninguém bonito e genial.

— Obrigada, as opções são animadoras! — ironizei. — Sinto lhe deixar só nessa incrível caminhada, mas cheguei à minha casa.

— Tudo bem — ele falou. — Agradeço à companhia, querida dama. Diga ao seu pai que o Daniel mandou um abraço.

Então esse era o seu nome: Daniel vindo do céu. Mas como ele conhecia meu pai? Logo eu teria minhas respostas.


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Notas finais do capítulo

Críticas são sempre bem-vindas, adoro saber o que acham da história ;)