Diário de Uma Vela escrita por Mila Karenina


Capítulo 2
O roubador de corações


Notas iniciais do capítulo

Hey, amores! Nossa, estou tão feliz pelo feedback que recebi ♥
Capítulo escrito com todo amor ^.^ peço perdão por possíveis erros.



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" Pain's more trouble than love is worth" Heart Attack, Demi Lovato.


— Meu namorado é maior otário, ele lava minhas calcinhas! — Cantarolei próxima à Laís, que sorriu.

— Como seu namorado é maior otário se ele nem existe? — Laís zombou.

— Shiu, isso é só minha alma lírica! — Me defendi.

Laís olhou pra mim com seu olhar mortal. Minha amiga era loira, alta e bonita. Não era difícil que ela recebesse olhares descarados enquanto caminhávamos pelo centro da cidade. Odiava aquilo, era tão difícil respeitar uma mulher assim?

— Acho engraçado o fato de você dizer que o funk denigre a imagem da mulher e blá blá blá e fica cantando essa música o dia todo! — Laís observou.

— Essa música é um hino, me respeita! — Empurrei minha amiga.

— Mudando de assunto, já resolveu se vai dar uma chance para o Artur? — Ela cruzou os braços.

— Eu já te respondi isso — Revirei os olhos. — Não quero nada com ele.

— Por que? Para com essa sua mania de achar que o Ian Somerhalder vai vir até o Brasil e vocês vão se casar! Isso é ridículo!

— Ridículo é eu ficar com o Artur, não gosto dele! Ele não sabe a diferença entre Coreia e Japão.

— Nem todo mundo é obcecado por bandas orientais como você! — Laís cruzou os braços.

Estávamos discutindo no meio da rua. Odiava fazer cenas, mas já estava acostumada com elas. Laís tinha uma perseguição comigo, ela achava terrível que eu não tivesse ninguém, porém amava me arrastar para seus encontros e me fazer de vela.

— É K-Pop, eu já te expliquei mil vezes!

— Ninguém se importa com isso! Quando você vai perceber que a vida é mais que apenas séries, animes e cantores coreanos? — A loira gritou.

— Não são todos da Coreia! — Fiz beicinho.

— Ai, May! — Ela me abraçou. — Você precisa de um namorado, e urgentemente!

— Talvez eu arranje um quando você me manter desocupada de segurar vela em seus encontros!

Minha amiga sorriu. O seu sorriso era muito bonito, tinha que admitir. Eu e Laís éramos completamente diferentes. Ela se vestia de forma bem feminina, com shorts bonitos e saias rodadas, enquanto eu me vestia com a primeira roupa que achava. Tinha dias que me vestia quase gótica, com a roupa toda preta; outros dias me vestia como um menino, com bermudas largas, moletons e tênis.

— Eu já te arranjei mil encontros e você nunca quis nenhum dos garotos! — Ela se queixou.

— Quando você parar de arranjar garotos com cara de sujos pra mim, quem sabe eu não goste de algum — Revirei os olhos.

Laís me abraçou apertado, mexendo em meus cabelos curtos.

— Enquanto não acho esse garoto, você quer ir comigo hoje encontrar o Henrique?

— Depende — Sorri. — Vai me pagar um X-bacon?

— Claro que vou! — Ela garantiu.

— Então fechado!

— Ah! Se vista direito, vá bem bonitinha! — Ela não conseguiu disfarçar o sorriso.

— Se você me aparecer com qualquer garoto burro, te mato!

Disse isso e caminhei para minha casa. Bem, eu tinha mais uma missão naquele dia: ser vela mais uma vez.

Cheguei à minha casa cansada. A praça não era tão perto assim e digamos que o clima amozonense não era o melhor. Já estava imaginando que fosse chover, mas estranhamente não foi o que aconteceu. Já estava acostumada a sair com Laís às Quarta-feiras, ela sempre tinha um encontro nesse dia e o daquele dia era com Henrique.

Henrique era um garoto da minha sala. Por incrível que pareça, ele foi meu namoradinho durante a alfabetização, mas o nosso namoro consistia em andar de mãos dadas. Laís costumava rir do fato, porém não gostava de falar sobre aquilo. Minha vida amorosa era inexistente, e lembrar de coisas daquele tipo, me faziam avermelhar no mesmo instante.

Meu pai não estava em casa. Ele trabalhava em uma loja e chegava tarde. Ele não se importava que saísse, na verdade torcia para que eu encontrasse um namorado logo. Internamente, eu torcia para o mesmo. Mas meus padrões eram altos demais para o lugar.

Ei, não me julgue! Quando você vê várias séries com atores maravilhosos, você simplesmente não consegue dar uma olhada no bonitinho do segundo ano. A única pessoa que mexia um pouco comigo, era o meu professor de Geografia.

João não era mais um novinho, mas seus cabelos cacheados chamavam minha atenção. Ele parecia um ator de filmes cult, era uma verdadeira fofura. O único problema era que ele era 30 anos mais velho. Além do fato de eu não ser lá muito atraente.

Vesti uma roupa simples: um short jeans desfiado, uma blusa de manguinhas com a estampa dos Targaryen de Game of Thrones, e meu amado all star preto. Eu parecia até aquelas personagens nerds clichês das fanfics, mas acredite em mim, de nerd só tenho a cara.

Peguei meu celular velho, a capa já tinha se despedaçado, e vi uma mensagem de Laís dizendo que me esperava na esquina.

Caminhei apressada, odiava esperar e fazer alguém esperar. Chegando no local, deparei-me com minha amiga. Laís vestia uma saia jeans curtíssima, uma blusa decotada bonita e pasmem, um salto alto. Dei a maior gargalhada da vida quando a vi. Que tipo de pessoa usa salto alto pra ir na praça de Clinelândia? Só uma pessoa problemática.

— Não acredito que você está usando esses tamancões! — Debochei.

— Cala a boca! Preciso estar bonita, do contrário o Henrique vai me trocar por outra! — Ela se defendeu.

— Ele não vai te trocar por outra por causa de saltos altos, ele vai te trocar quando achar uma garota mais bonita — Fui direta.

— Como você é incoveniente!

— Sou realista, querida. Mas pode ficar tranquila, é difícil ter uma garota mais bonita que você por aqui.

— Isso foi um elogio? — A loira levantou as sobrancelhas.

— Talvez.

Laís pegou em minha mão e caminhamos até o centro. Henrique já nos esperava lá. Ele era um garoto alto, devia ter quase 190 cm, mas não era muito bonito. Tinha cabelos curtos e espetados, um sorriso fofinho e um corpo magro. Não achava a mínima graça nele, mas Laís dizia que ele tinha "pegada". Nunca entendi muito o sentindo da coisa, então deixe meu julgamento de lado.

— Oi, Henrique! — Dei um soco no ombro do meu colega.

— Oi, BV do terceiro ano — Ele me provocou com meu apelido.

Além de ser vela, eu também era uma maldita BV. Ser boca virgem não era tão ruim quanto as pessoas pensavam, mas as zoeiras sobre isso não eram exatamente legais. Na minha escola, cada um ganhava uma alcunha; por exemplo, Laís era a bela, Luana era a nerd e eu? Bem, eu era a BV ou boca virjona, como quiserem chamar.

— Não chame-a assim! — Laís me defendeu.

— Não precisa me defender, Laís. Não levo a sério as coisas que o Henrique, o chulé diz.

— Isso é uma mentira, não tenho chulé! — Ele pareceu ofendido.

— Não é o que seus amigos do time dizem! — Debochei.

— Ele realmente tem chulé! — Artur deu o ar da graça.

Na lista das dez coisas que mais odiava, Artur devia estar no quarto ou terceiro lugar. O garoto era simplesmente insuportável. Simplesmente odiava-o com toda força que tinha. O motivo? Sua existência.

— Chegou Artur, o cobra! — Henrique zombou.

Artur era um garoto de boa aparência. Tinha cabelos castanho-escuros, olhos verdes e um corpo em dia. Ele até seria um bom peguete, se não fosse a coisa mais burra que conheço. O garoto era tão babaca, que chamá-lo de burro seria uma ofensa ao animal.

— Nunca entendi esse apelido do Artur! — Laís afirmou.

Artur deu um sorriso malicioso.

— Conta pra ela, Henrique! — O babaca pediu.

— Vá se ferrar, cobra! — Henrique disse.

— Ei, May! — Artur pronunciou meu nome. — Você engordou ou é esse short que deixa suas pernas mais grossas?

Avermelhei no mesmo instante. Odiava que falassem do meu corpo, realmente odiava. Eu era magra, mas não do tipo magra com curvas, era terrivelmente magra. Passei anos e anos ouvindo que deveria comer mais, porém não engordava por nada.

— Seu cérebro diminuiu ou é só você que continua um imbecil? — Perguntei.

— Esses dois vão acabar casando! — Laís zoou.

— Prefiro casar com um cachorro — Cuspi no chão.

— Esse seu jeitinho marrento acaba comigo! — Artur garantiu.

— E esse seu jeito babaca me deixa muito irritada!

— Calminha aí, minha marrentinha!

Aquilo foi a gota d'àgua pra mim. Se tinha algo que eu odiava um pouco menos que Artur, era Malhação. Achava a novela o cúmulo do absurdo, por isso odiava qualquer coisa que me fizesse lembrar dela. Fala sério, a novela banaliza a Aids, contribui para o machismo e o maldito do Artur ainda tem coragem de me chamar de marrentinha?

— Enfie esse apelidinho no malhação no meio do seu... — Laís me interrompeu.

— Parem vocês dois!

— Tire esse ser de perto de mim! — Já estava fora de mim.

— Qual é o seu problema com Malhação? A novela é muito boa! — Henrique deu sua opinião.

— Prefiro ler hentai de Hitler com sua escova de dentes! — Revirei os olhos.

— O que? — Henrique e Artur se olharam.

Como pode existir pessoas tão burras? Fico impressionada com aquilo.

— Vocês não vão entender, é coisa da May — Laís entrou no meio da discussão. — May, por que você não beija logo o Artur?

— Prefiro comer merda de cavalo.

— Eu não sou feio! Por que fica fazendo cu doce? — Artur abriu a boca.

— Quer que eu soletre pra você entender? Eu te odeio, garoto! Te queria enterrado no cemitério mais próximo! Odeio essa sua cara de babaca, odeio essa sua burrice, odeio o seu cheiro, eu te odeio! — Gritei, estava nervosa.

O babaca começou a rir. Eu tinha sido o mais arrogante possível, queria que ele soubesse o quanto o desprezava, mas ele parecia cego. Era tão difícil entender um não? Por que meninos tem de ser tão babacas?

— Não é à toa que é BV! — Ele falou alto.

Minha raiva então aumentou consideravelmente. Eu era naturalmente agressiva, mas em situações assim, a coisa piorava. Fui até Artur e chutei o que ele tinha no meio das pernas com toda força que tinha.

O garoto gemeu de dor, Laís e Henrique estavam se dobrando de rir. Achei cruel da parte dos dois rir em vez de ajudar, mas fiquei em silêncio observando ele se contorcer de dor.

— Nunca mais abra essa tampa de esgoto para falar nada de mim! — Disse.

— Ai, gente! Parem com isso! — Henrique se aproximou de mim. — Porque você não dá um beijo nele? Só pra se divertir?

— Se eu quisesse me divertir, estava em casa jogando meu video-game! — Falei irritada. — Laís, me dá o dinheiro do meu X-bacon!

— Calma aí — Ela enfiou a mão no bolso. — Toma.

Laís me deu cinco reais. Devolvi o dinheiro e suspirei.

— Isso não dá para pagar!

— Toma dez então! — Ela me deu a nota com raiva.

— Isso aqui é o mínimo que pode me dar por aguentar essa coisa nojenta!

— Quanto mais você me maltrata, mais gamado fico! — Artur se pronunciou.

— Isso é normal pra quem não tem amor próprio! — Disse e me virei.

Fui até o trailer comprar meu lanche. O trailer da cidade vivia cheio, com música alta (forró e funk) e cheiros gostosos. Eu lanchava ali todas as Quarta-feiras, lanchava tanto que a dona do lugar já tinha decorado o que sempre pedia: meu X-bacon com bastante bacon.

Como morava no Amazonas, o estilo musical predominante era o tecnoforró. Não era algo ruim de se escutar, mas preferia minhas bandas orientais com gatinhos dos olhos puxados.

— O de sempre, May? — A dona do trailer perguntou.

— Sim, por favor.

Sentei em uma das cadeiras de plástico e comecei a mexer em meu celular. Tinha salvo uma fanfic para ler, era uma sobre Sor Jorah e Daenerys, meu shipp do momento. Na verdade, meu shipp máximo costumava ser Delena, porém acabei por me decepcionar e procurei outra coisa para shippar.

Levei o maior do susto do mundo, quando Laís pôs suas mãos em meu ombro. Virei-me rapidamente e encontrei a loira com o semblante triste.

— O que que foi? A troca de saliva já acabou? — Perguntei irônica.

— O Henri teve que ir embora.

— Aposto que ele tinha outro encontro e não quis falar com você, daí inventou uma desculpa idiota e você caiu direitinho.

— Nem sei como te aguento! — Laís bateu as mãos com força na mesa de plástico.

— Eu sei como, mas é melhor deixar quieto.

E foi aí que Laís paralisou. Um garoto caminhava em direção ao trailer. Ele era bonito, isso era inegável. Mas não era tanto quanto o Ian. Minha amiga começou a me cutucar várias vezes, como se estivesse vendo um ser de outro mundo. Revirei os olhos, ele não era tudo isso.

O garoto tinha uma beleza diferente, era verdade. Cabelos claros que desciam até seu ombro, olhos tão claros que pareciam uma estrela e um rosto lindíssimo. Mesmo assim não era tão bonito assim, tá, talvez fosse. Uma mochila estava em suas costas e ele calçava botas de couro. Nunca imaginei ver alguém como ele por ali, ele nem parecia brasileiro.

Ele então passou por nós sem ao menos nos olhar e sentou na mesa ao nosso lado. Foi possível escutar sua voz rouca pedindo por um copo de água com gás. Logo o forasteiro pôs seus olhos claros em mim.

Se você pensa que fiquei com vergonha, está enganado. Olhei para ele com a mesma intensidade que ele me olhou, então o garoto desviou o olhar.

— Quem diabos é isso? — Questionei.

— O cara que rouba corações de menininhas como nós — Laís respondeu.


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Notas finais do capítulo

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