Brilho nos Olhos escrita por Bacon


Capítulo 5
Branco no preto


Notas iniciais do capítulo

oi tudo bom
eu n tô morta n viu, e essa fic tbm n

Só queria dizer que sinto muitíssimo por essa demora absurda na postagem (me explico nas notas finais) e que vou tentar a todo custo fazer com que ela não se repita. Mas, mais importante que isso, MUUUUUITÍSSIMO obrigada a todo o apoio que vocês vêm me dando com essa fic, seja com favoritos, comentários, recomendações ou acompanhamentos! ❤ Chegamos a 95 acompanhamentos e superamos as 2.500 visualizações, eu tô mt feliz asgdfvbncds ❤❤❤

Welp, sem mais delongas

Boa leitura! ❤

(P.S.: ABAIXA QUE É TIRO)



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/684296/chapter/5

Nicholas não soube bem como agir na próxima vez que se encontrou para fumar com Theodore. Gaguejou algumas baboseiras na tentativa de dizer algo inspirador e logo desistiu, sentindo-se patético. Theodore bufou e revirou os olhos para ele. Nicholas não sabia se deveria sentir-se ofendido ou se deveria fazer o mesmo.

— Só finge que nada aconteceu — resmungou Theodore, jogando o isqueiro para Nicholas.

E foi o que fizeram, com exceção de que Nicholas não estava muito a fim de fumar naquele dia. Estava ficando cada vez mais comum que ele começasse a pensar demais naquelas horas de silêncio ao lado de Theodore, e aquele não era exatamente o melhor momento para suas reflexões profundas e depressivas. Por isso Nicholas preferiu apenas sentar-se no chão e fechar os olhos. Não ficou surpreso quando sentiu Theodore sentando-se também, ao seu lado.

Para a surpresa de ambos, suspiraram ao mesmo tempo — puxaram o ar, seguraram-no e exalaram-no de modo perfeitamente sincronizado. Pelo que parecia ser a milionésima vez, encararam-se um ao outro, Theodore sacudindo a cabeça como se não estivesse acreditando.

— Isso é ridículo.

— É mesmo.

Continuaram se olhando e Nicholas se levantou.

— Vou voltar pra aula. — Não quebrou contato visual. Já fazia algum tempo que ambos começaram a brilhar, mas nenhum dos dois tinha a disposição para se importar. — Acho que você deveria voltar também; se eu já tô quase ficando encrencado por causa de faltas, imagino você.

— Nah, eu não ligo. Se tem alguém que consegue me odiar tanto quanto você, é o professor de Biologia.

Surpreendendo tanto a si mesmo quanto a Theodore, Nicholas corrigiu:

— Eu não te odeio tanto assim. — E não sabia se era verdade ou não. Não sabia qual das opções preferia, também.

Theodore, por outro lado, sentiu como se tivesse acabado de receber o maior elogio de sua vida. Ficou um pouquinho vermelho, até. Fechou os olhos, abaixando a cabeça, e soltou o ar rispidamente no que poderia ter sido uma risada incrédula. Mexeu no cabelo e, com a mão livre, acenou para Nicholas, mandando-o embora.

— Tchau, nerd.

— Tchau, babaca.

***

Era difícil fingir que nada havia acontecido.

Um relato de violência doméstica não era algo a ser esquecido assim tão facilmente; muito menos ignorado. Nicholas queria fazer alguma coisa, tomar uma atitude sobre toda aquela situação, mas ele simplesmente não tinha ideia do que fazer.

Era frustrante e aterrorizante. Nicholas se perguntava o que aconteceria se ele denunciasse o caso para a polícia. Os pais de Theodore seriam presos, não seriam? Quer dizer, tinham de ser. Mas para onde o filho iria? Nicholas não sabia se ele possuía outros parentes próximos. Se fossem do tipo distante, como ele se adaptaria? Diabos, e se Theodore não tivesse ninguém e fosse colocado num orfanato? Ele já era velho demais para aquele tipo de coisa — e se fosse jogado na rua? E tudo por culpa de Nicholas. Era uma decisão grande demais para ele; talvez uma decisão que não coubesse a ele. Nicholas estava perdido.

E foi por isso que, dias depois, explodiu:

— Eu não consigo fingir que nada aconteceu, Theodore.

Naquele dia, Nicholas estivera esperando por Theodore durante todo o almoço, andando para lá e para cá incansavelmente atrás das arquibancadas — mais um pouco e suas pegadas ficariam permanentemente impressas na grama, tinha certeza. Mal tivera apetite para comer e, quando o loiro finalmente apareceu, durante a primeira aula da tarde, Nicholas quase suspirou de alívio.

Já Theodore, que por um momento aparentara estar de bom humor naquela tarde, mudou instantaneamente sua expressão desligada para uma sombria assim que ouviu as palavras do moreno. Já tinha um cigarro nos lábios e estava na metade do caminho para pegar o isqueiro no bolso das calças quando parou seus movimentos e apenas levantou os olhos para Nicholas. Então esperou. Não fez ou disse nada, salvo pelo cigarro que recolocou no maço.

Nicholas respirou fundo e insistiu:

— Isso é ridículo. Você não pode esperar que eu fique aqui sem fazer nada, de braços cruzados!

— Então o que você quer fazer, Nicholas? — Theodore perguntou, impaciente. Sua voz, apesar de tensa, era firme e continha uma nota de ameaça. Cale a boca, parecia querer dizer, mas Nicholas o ignorou.

— Eu não sei, droga! Talvez chamar a polícia ou... Ou–

— Você não vai chamar a polícia porra nenhuma! — gritou o maior, apontando o dedo na direção do outro, furioso. — Isso não é da sua conta e você vai ficar na sua. Nem sei por que te contei disso, em primeiro lugar.

Com um resmungo, Theodore chutou um pedaço inocente de grama e recostou-se brutamente contra um poste de luz, com um tum que fez Nicholas torcer o nariz — apenas ouvir o som já era doloroso. Mas foi como se Theodore não se importasse ou mesmo sentisse qualquer dor que fosse, a carranca fixa no horizonte e os braços cruzados. Parecia pensar sobre algo.

Nicholas não disse nada e permaneceu em pé. Continuava irrequieto, tenso, tentando dizer ou fazer alguma coisa. Mas não sabia o quê, é claro. Sentia um desgosto cada vez maior pela sensação.

— Bem, talvez–

— Por que você se importa, caralho?! — vociferou Theodore, desencostando-se e jogando ambos os braços e punhos fechados ao lado do corpo. Nic instintivamente encolheu-se todo, e odiou-se por isso. — Esquece, Nicholas! Esquece! Isso não é assunto seu e você não precisa fingir que se importa!

— Eu não estou–

— Ah, não me venha com essa. — Theodore encarou-o de cima, cobrindo o sol e fazendo sombra sobre Nicholas. Suas sobrancelhas grossas estavam tão juntas que pareciam uma única, e Nicholas poderia ter achado graça caso a situação fosse diferente. Não sabia qual expressão, a de Theodore ou a sua própria, poderia ser mais desgostosa.  — Nós dois sabemos que você não ligaria pra porra nenhuma do que acontece comigo se não fosse por essa merda aqui. — Theodore bateu uma das mãos contra o próprio peito. Este tum, ao contrário do outro, ressoou para Nicholas como se não houvesse nada lá dentro. Como se Theodore fosse oco. Vazio. — Então para de fingir, não tem por que gastar seu tempinho e neurônios preciosos com isso. Vai estudar geometria analítica ou qualquer uma dessas matérias pras quais você presta.

Nicholas nem se deu conta da tentativa de insulto. Sua atenção já estava longe disso, focada em algo muito mais importante. Será que ele realmente só se importava com Theodore porque ele era aquilo que as pessoas chamavam de alma gêmea? Jamais havia pensado sobre isso. Era como se, de repente, seus olhos tivessem sido abertos para os seus próprios motivos. Por que, afinal, ele se importava com Theodore? Logo Theodore, que durante tanto tempo importunara-o, infernizara-o, ao ponto de fazê-lo chorar? Ao ponto de deixar seu corpo dolorido, roxo, quebrado? Por que diabos ele se importava? Parte de si concordava com o loiro; Nicholas não deveria dar a mínima — Theodore poderia fazer o que quisesse e Nicholas não iria ligar.

A outra parte não entendia.

Uma terceira parte dele, ainda, perguntava-se se toda aquela preocupação não se dava pelo desejo de consertar as coisas para si mesmo. De, talvez, como num conto de fadas, fazer com que tudo se ajeitasse e a realidade finalmente se tornasse algo bom para ele. Algo bonito. Iluminado, ora essa. A possibilidade de um final feliz era tentadora. E não era isso o que ele estava fazendo? Caçando seu final feliz? Que Theodore fosse para o inferno — Nicholas só estava cuidando para que as coisas acabassem bem para ele mesmo.

Será que ele era assim tão egoísta a esse ponto?

Não sabia.

E isso também o assustava.

O que ele sabia era que já estava quieto por bastante tempo, quase um minuto, apenas encarando Theodore com olhos surpresos e confusos, lábios apertados numa linha fina. Nicholas não tinha o que responder e Theodore continuava a encará-lo com aquele olhar sentencioso de antes. Então Nicholas apenas murmurou um ok e foi-se embora.

E, como se não bastasse a fuga, ainda teve dificuldades em não olhar para trás.

***

Aquelas perguntas continuaram em sua mente por um bom tempo. O mais comum era que se pegasse pensando sobre o assunto durante as aulas ou que ficasse refletindo sobre isso antes de dormir. Céus, como era irritante. Nicholas às vezes chegava ao ponto de esconder o rosto nos travesseiros e gritar para aliviar a frustração. Não dava muito certo. Mas pelo menos o barulho era suficientemente abafado pelas almofadas de forma ninguém era capaz de ouvi-lo.

Ele simplesmente não conseguia chegar a uma resposta. Por que se importar? Por que não deixar para lá? Nicholas se recordava de seus antigos relacionamentos e avaliava suas memórias à procura de alguma coisa que ajudasse. Não que tivesse se envolvido em muitos relacionamentos ou que eles tivessem durado mais que poucos meses. Mas, ainda assim, eram algo em que se pensar.

Nicholas ainda teria se importado se Theodore não fosse a pessoa que lhe fora predestinada?

Encontrar o seu Brilho não era uma tarefa fácil hoje em dia. Muitas pessoas jamais o encontravam, e havia também a grande parcela daqueles que apenas o encontravam no fim da vida. Num mundo tão cheio e tão movimentado, a busca pela alma gêmea se fazia imensamente mais difícil. O facilitador visual do Brilho várias vezes não passava de um privilégio de poucos. Nicholas achava surpreendente que o fenômeno não houvesse adquirido o caráter de mito ainda.

Enfim — com ou sem Brilho, as pessoas não deixariam de se relacionar umas com as outras. Casamentos entre duas pessoas teoricamente não destinadas eram os mais comuns — ora, seus próprios pais não brilhavam —, e isso não significava que os casais não seriam felizes. Havia até os raros casos de pessoas que, mesmo brilhando, preferiam não permanecer juntas.

Nicholas já tivera, ao longo de seus suados dezessete anos e meio, três namorados e uma namorada. O namoro com a menina não durara mais de três semanas, quando aconteceu no primeiro ano — foi aí que Nicholas teve certeza de que não se interessava por garotas. Mas mesmo os outros rapazes não lhe foram excitantes, muito menos duradouros; o namoro mais longo atingiu a marca dos seis meses, mas não conseguiu perdurar muito além disso. Nicholas não se sentia muito mais que indiferente sobre eles também. Ele sempre fora do tipo resignado com o fato de talvez nunca encontrar sua alma gêmea — ele parecia ter mais medo de encontrá-la do que de não encontrá-la, ora essa —, mas também sempre sentiu como se não precisasse realmente de alguém para fazê-lo feliz. Nicholas não queria viver romances ferventes ou aventurar-se em paixões loucas.

Então, depois de um tempo, desistiu de se forçar a querer.

Com Theodore não era diferente: Nicholas não queria nada com ele, e Theodore — ainda bem! — parecia não querer nada com ele também. Mas eles eram almas gêmeas, malditas fossem; eles haviam brilhado um para o outro. Nicholas não tinha ideia do que deveria fazer sobre o assunto. Odiava pensar sobre aquilo. Mas deveria, e o assunto não lhe saía da mente.

Por que, afinal, ele se importava com Theodore? A resposta do Brilho era absurda; aquilo não mudaria nada do que Theodore já havia feito com ele, tampouco como Nicholas se sentia sobre aquilo. A resposta de ser a coisa certa a fazer era ingênua: o que são o certo e o errado, inferno? A resposta de Nicholas ser uma boa pessoa era irreal. Porque ele não era. Nicholas era egoísta e rancoroso, tão longe do altruísmo quanto poderia estar.

Tão egoísta que estava completamente em dúvida sobre seus motivos para querer ajudar.

Nicholas era uma pessoa horrível e sabia — só não sabia por que tentava se enganar com tanto afinco.

Talvez ele estivesse, realmente, tentando fabricar para si mesmo um daqueles finais felizes que o mundo todo dizia ser o ideal. Aquele em que dois pares de olhos se encontravam e sorriam um para o outro, iluminados não apenas pelo dourado do pôr do sol, mas pelo colorido de seus corações. Eram visões tão lindas. Com certeza a materialização daquilo que chamavam de felicidade. Pois, veja bem, era isso o que todos diziam. Mesmo que Nicholas não quisesse nada daquilo, o drama, o romance, tudo o que ele mais queria era ser feliz.

Todos diziam que, para ser feliz, ele deveria ter alguém. Alguém perfeito, com um sorriso perfeito e uma vida perfeita, que faria das imperfeições algo tão insignificantes que seriam esquecidas. E era por isso que Nicholas tentava tanto.

Claro — era isso o que ele estava fazendo: construir em Theodore o seu alguém perfeito. Sem problemas. Sem tristezas. Para que então Nicholas pudesse aproveitar um romance perfeito.

Certo?

***

Nicholas estava saindo da aula de Física quando recebeu uma mensagem de um número desconhecido:

xxx-xxx-xxxx [3:42PM] : vai p quadra em 5

como vc conseguiu o meu número : [3:43PM]

xxx-xxx-xxxx [3:45PM] : perguntei p sam

como ELE tem meu número???? : [3:45PM]

Minutos depois, sua única resposta era Visualizado – 3:46PM, e Nicholas quis jogar o celular na parede. Em vez disso, apenas enviou uma nova mensagem para Theodore, mandando-o ir se foder.

***

Quinze minutos após a primeira mensagem, Nicholas encontrou Theodore sentado sobre um dos assentos da arquibancada.

— Caralho, qual parte do “cinco minutos” você não entendeu, Olhos Puxados?

— Qual parte do “não me chama mais assim” você não entendeu, Theodiota?

Theodore franziu o cenho.

— Essa é nova.

Nicholas bufou e não respondeu.

Queria que Theodore fosse direto ao ponto, falasse o que aparentemente estava aflito para falar. Nicholas não poderia mentir dizendo que não estava levemente curioso para o motivo de tê-lo chamado ali; era a primeira vez que algum deles quebrava o código invisível que haviam criado — aquele de aparecer porque queria, não por ter sido chamado. Numa observação mais atenta, Nicholas percebeu que Theodore tinha jogada ao seu lado uma mochila de aparência cheia, e com objetos que não aparentavam ser livros. Não precisou perguntar para que Theodore se explicasse:

— Eu vou fugir de casa. Sei lá. Só queria te avisar mesmo pra você não sentir minha falta quando não me vir mais por aqui. — Tentou abrir um sorriso para provocá-lo, mas não conseguiu mascarar o próprio nervosismo.

Nicholas só se deu conta do próprio grito quando o ouviu ecoar pela quadra de esportes:

— O quê?!

Theodore torceu o nariz e jogou a cabeça para o lado, mostrando os dentes numa careta descontente.

— Você me entendeu bem, saco. — Bufou e se levantou, puxando a mochila por uma das alças e colocando-a sobre o ombro esquerdo. — Não que alguém vá se dar ao trabalho de perguntar, mas, se perguntarem — deu de ombros —, diga que fui pra casa do caralho. Vai ser engraçado, se você não for parar na detenção.

Theodore desceu os degraus da arquibancada e começou a andar para ir embora — parecia desfilar, o filho da puta! — enquanto Nicholas encarava-o boquiaberto, completamente sem palavras. Theodore não poderia estar falando sério.

— Você está louco?! — Nicholas gritou por fim, saindo de seu estupor e empurrando o loiro para trás, espalmando as mãos sobre seu peito, antes que pudesse passar por ele. — Qual é o seu problema? Você não pode fazer isso!

— Eu posso e eu vou! — Theodore rebateu, desvencilhando-se de Nicholas, que parecia cada vez mais indignado.

— Não, seu energúmeno, isso não é o tipo de coisa que–

— Dá pra parar de falar desse jeito?!

— Não, não dá pra parar de falar desse jeito!

— Você acha que isso faz de você superior, é?

— Sim, eu acho!

Pela incontável vez, encararam-se. Mas não, Nicholas não queria que brilhassem dessa vez. Aquele não era o momento, e ele sabia que ele próprio e Theodore ficariam ainda mais irritados por isso. Então levou os olhos não para os de Theodore, mas para sua boca, entreaberta e vermelha por diversas mordidas nervosas de mais cedo. Como se fossem a mesma coisa, olhos e boca.

Theodore, por sua vez, baixou seus olhos também para mirar Nicholas, passando por todas as suas feições atentamente, como se o estivesse avaliando. Acabou por manter o foco também nos lábios de Nicholas, tensionados um contra o outro.

— Você só fala isso pra me irritar, né?  — perguntou Theodore, agora um passo mais próximo de Nicholas, a cabeça inclinada para que continuasse a olhá-lo no rosto.

Nicholas apenas grunhiu um Uhum como resposta, simultaneamente aproximando-se de Theodore até que ficassem a milímetros de se encostar. Ainda com os nervos à flor da pele, um com os punhos fechados, o outro apertando a alça da mochila como se a vida dependesse daquilo, ambos com os olhos queimando na face um do outro. Mas, subitamente e sem saber por quê, haviam passado a falar baixo, com o tom de voz quase sombriamente controlado.

— É ridículo como você consegue parecer ainda mais inteligente com essas palavras difíceis.

— É uma condição sine qua non para mostrar como você é estúpido.

Theodore puxou Nicholas pela gola da camiseta, e Nicholas teve de ficar na ponta dos pés mais uma vez. Os dois pareciam prestes a se socar.

E quando deram por si novamente estavam de olhos fechados, sem ver-se, tão próximos como conseguiam num beijo tão violento quanto a briga que estavam prestes a ter. Uma coisa agressiva, com dentes e mordidas, arranhões na nuca e puxões de cabelo. De repente não havia mais espaço entre eles, Nicholas jogando-se sobre Theodore, Theodore empurrando-se sobre Nicholas, e eles se beijavam com tamanha ferocidade que ninguém sabia quem primeiro beijara quem, ou quem primeiro se lançara sobre quem, ou por que, realmente, eles estavam fazendo aquilo. Mas não sabiam e não queriam saber, e beijavam-se agressivamente, saciando aquela vontade que não sabiam ter, sem pensar, só agir, sem respirar, só sentir e beijar e beijar e beijar e beijar e beijar e descontar um no outro aquela fúria por tanto tempo contida, Nicholas com os braços ao redor do pescoço de Theodore, sufocando-o se não fosse para puxar-lhe os cabelos, Theodore com os braços ao redor da cintura de Nicholas, puxando-o e puxando-o e sentindo-o tão frágil, quebrando-o se não fosse para sentir os dedos roçarem a pele fina. E beijavam-se e beijavam-se, como que para se vingar e desculpar e sentir e sentir e sentir que estavam ali, que eram reais, que estavam juntos, mesmo que ainda tão, tão sozinhos em meio àquele ósculo voraz que lhes arrancava o ar dos pulmões e acendia as chamas no peito, e Nicholas não conseguia respirar, e Theodore não conseguia pensar, e nenhum conseguia largar aquele beijo tão hostil e ao mesmo tempo tão acolhedor, tão amarelo e tão verde, tão paradoxal quanto eles mesmo, aquele beijo que era ao mesmo tempo tão tudo e tão nada, tão sempre e tão nunca.

Separaram-se tão abruptamente como se juntaram, trepidantes, sem ar, sem voz, sem foco. E ao passo que antes se espremiam um contra o outro tentando se livrar do espaço, agora se encontravam tão longe que se sentiram separados por um precipício. Nicholas não olhou para Theodore. Theodore não olhou para Nicholas. Ambos vermelhos como o céu ao sol que se punha, estavam mais preocupados em recobrar a razão do que tentar encontrar sentido no que haviam acabado de fazer. Nicholas se apoiou na grade para impedir que seus joelhos lhe falhassem.

E instaurou-se o silêncio.

Ficaram quietos por tanto tempo que Nicholas pensou que o nada — aquela falta de ação e nuvem de constrangimento — fossem engoli-lo. Não sabia o que Theodore estava pensando nem o que ele estava fazendo naquele momento, a dois metros de distância. Não tinha coragem de olhar. Nicholas queria falar alguma coisa (qualquer coisa, qualquer coisa!), mas o quê? Ele não sabia, não sabia, não sabia nada, que diabos estava acontecendo? O que ele estava pensando? O quê? O quê, o quê?

Ele queria um cigarro.

Ah, como queria um cigarro.

Theodore falou.

— Acho que não deveríamos ter feito isso.

A mente indômita de Nicholas conseguiu pensar um Sério, gênio?, mas ele não mais fez que concordar com a cabeça de maneira nervosa.

Estendeu-se o silêncio.

Após mais alguns minutos de vazio insuportável, Nicholas anunciou:

— Tenho que ir.

E foi.

Foi e não voltou por dias.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

ALÔ ALÔ DO WE HAVE AN AROMANTIC, GRAY-ACE BABY? YESSSSSSSSSSS, WE DO
um momento de atenção pfvr
assexualidade e arromanticidade existem e são orientações indiscutivelmente reais e válidas
amém
(sofri tanto tentando aceitar minha arromanticidade, foi tão bom poder me expressar com o Nic asdghvsdfhbjvdn *chora*)

*cof*
Enfim
Espero de coração que tenham gostado do capítulo! ❤ Sobre o que eu disse de me explicar pelo sumiço, é que, welp, esta moça que vos fala estava no 3º ano do ensino médio (me formei, AEHOOOOOOOOO) e este segundo semestre foi
sinceramente
UM PESADELO
e nem preciso dizer que a falta de tempo, somada à falta de energia, somadas à falta de disposição, somadas à ansiedade são uma péssima combinação no que diz respeito a conseguir escrever
e por isso eu passei meses sem conseguir escrever uma mísera palavra, seja pra BnO, seja pra qualquer outra coisa
haha
que os corretores estejam bem felizes e contentes quando forem corrigir minha redação do ENEM, porque olha
n tá fácil pra ngm
MAS ENFIM, NINGUÉM TÁ AQUI PRA ME OUVIR RECLAMAR, VAMOS FALAR DE COISA BOA, VAMOS FALAR DE SHIP, VAMOS FALAR DE BRILHO, VAMOS FALAR DE NICHOLAS E THEODORE (QUE EU ACABEI DE ME TOCAR QUE AINDA NÃO TÊM NOME DE SHIP, QUE TIPO DE AUTORA HORRÍVEL SOU EU QUE NÃO CRIEI NOME PRO SHIP---)
*cofcof*
oi tudo bom
eu juro que n enlouqueci, ok
bjo mãe

/chega

Bem, espero de todo o coração que tenham gostado! É bem possível que várias pessoas já tenham se esquecido de praticamente tudo o que estava acontecendo nessa fic, mas HGDVJBVJNCDMS I'm so, so sorry. Desculpem, de verdade.

Ah! Fiz algumas pequenas modificações em algumas passagens (mas nada que vá mudar o rumo ou entendimento da fic) e alterei o apelido que o Theoore dá pro Nicholas para "Olhos Puxados". Senti que ficou bem melhor assim.

Por favor, comentem com suas opiniões (e gritos e xingamentos e surtos) para que eu possa saber se está tudo certo, em que estou errando e em que estou acertando ❤ O próximo capítulo é último sem contar o epílogo e, uhuhu, vamos ver no que isso vai dar.

É isso. Até o próximo! ❤











(fun fact: nas minhas anotações de planejamento, o final desse capítulo é resumido por, and I quote:
"beijo awkward sem querer querendo"
I don't know you guys, but I think that's beautiful.)