Era tarde, talvez umas 21h, e eu corria. Eu não sabia onde eu estava querendo chegar, mas eu sabia onde eu não queria estar. Chovia, o que diminuia minhas chances de ver alguma coisa na minha frente.

Mas eu precisava me afastar ao máximo daquela prisão. Muitos acham que é o melhor lugar do mundo, mas não quando você é ignorada por tudo e todos. 

— Eu não sou uma bruxa, eu não sou uma bruxa - Ficava repetindo para mim mesma. 

Não sei se eles estavam me seguindo, mas eu não iria parar para ver.

Tudo o que eu tinha agora era a presilha no meu cabelo, presente da única pessoa que me amou de verdade na minha vida. A última família que havia me adotado, mas então tiveram que me devolver, eles sempre tem. Eu não sou bem vinda lá, então não vou ficar. Preciso fugir, correr, me esconder.

Mas como sempre, nada nunca deu certo para mim. Eu tropecei e cai no chão das ruas da cidade iluminada. Eu odeio essa cidade. Eu chorei, eu chorei porque eu não tinha mais nada para fazer, chorei porque eu não tinha mais nada, chorei porque era a única coisa que eu ainda podia fazer.

Mas então, ela veio. Como estava de noite, foi difícil notá-la, portanto, foi difícil perceber a tempo para fugir. Eu sabia que por onde ela passava, algo de ruim acontecia, e eu não queria mais casos para me chamarem de bruxa.

A borboleta preta já havia pousado em minha cabeça antes mesmo deu perceber. E então, aconteceu, eu não lembro mais.

— Querida, eu percebo sua tristeza, acha que ninguém lhe ama? Eu amo. Pode ter certeza disso. 

— Você me ama?

— Sim, querida. Pode me chamar de papai. 

— Papai... Você é meu papai?

— Sim, de agora em diante, eu sou. Agora, que tal ajudar seu papai? Assim, eu posso ajudar você a conseguir o que você quer: vingança. O que acha disso, minha pequena Papillon?

— Eu... Eu acho ótimo, papai!

— Pois voe, minha pequena Papillon. Você sabe pra onde vir. Venha pra casa.