Coffee Breaks escrita por Kira Queens


Capítulo 19
Who's Your Daddy?


Notas iniciais do capítulo

E aí rapaziada?
Sei nem o que dizer, sério, to até com vergonha. Gente, esse ano foi muito pesado pra mim, sério mesmo, tenham piedade de uma pobre alma que esse semestre teve que conciliar cursinho e escola e não teve tempo pra mais nada!!!
Desculpa a demora, de coração. Mas um Lannister sempre paga suas dívidas e eu prometi que não ia abandonar a fic, ok? Ela fica um tempo abandonada? Fica, mas eu nunca abandono definitivamente, é o que vale, eu sempre volto, belezinha? kkkk
Boa leitura!



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A camada de gelo que antes cobria toda a superfície do solo agora estava quase toda derretida, enchendo as folhas da vegetação com inúmeras gotículas de água. As flores voltavam a nascer, por enquanto só pequenos brotinhos, mas que em breve se tornariam pétalas grandes e coloridas.

Estava sentada em um banco de madeira debaixo de uma árvore, mesmo que eventualmente algumas gotas de água caíssem em minha cabeça. De olhos fechados, eu respirava fundo, tentando controlar meu coração. Logan estava explorando o centro da pequena cidade enquanto me esperava. Eu sei que deveria tentar ser breve para não incomodá-lo ainda mais, no entanto, eu não era capaz nem sequer de fazer minhas pernas se moverem.

Acontece que Logan era realmente muito bom na profissão dele. Ele não só encontrou todas as informações que eu desejava, mas também encontrou um endereço. Eu tinha que vir. Eu precisava encontrar as respostas para as perguntas que me perseguiram durante toda a minha vida. Eu nunca tinha tido essa oportunidade antes, mas agora eu tinha um endereço e tudo o que eu precisava fazer era ir até ele. Eu me senti empolgada diante da expectativa, afinal, era algo que poderia mudar tudo. Mas agora que estava ali, tão perto, apenas a alguns passos das minhas tão desejadas respostas, eu não sabia se conseguiria.

Charles Berger viajou o país tocando em bares durante toda a sua juventude, mas nunca conseguiu a atenção de nenhuma gravadora. Ele já cantou e tocou em algumas bandas, já se dedicou totalmente a sua carreira solo, mas todo o sucesso obtido por ele sempre foi meramente local. Quando ele ficou velho para o visual despojado de astro de rock revolucionário e melancólico, Charles parou de viajar, comprou uma pequena propriedade numa cidade pequena e construiu seu próprio bar chamado Old Charles’. Não era grande coisa, mas tinha uma ótima reputação na cidade e dava para sustentá-lo, o que parecia ser suficiente para ele.

Logan descobriu tudo isso em alguns meses, algumas pesquisas na Internet e muitas ligações. Eu poderia me satisfazer com isso e seguir em frente, mas não parecia certo. Eu havia chegado longe demais para não conhecê-lo. E além do mais, eu ainda não conhecia as respostas para as perguntas que realmente importavam. A Internet simplesmente era incapaz de me explicar como ele se sentiu ao acordar e perceber que minha mãe havia ido embora. Nenhuma outra pessoa saberia me contar como ele seguiu sua vida desde então, se ele era feliz, se lhe faltava algo, se lhe iria gostar de saber que tem uma filha. E também parecia injusto ele não saber. Era meu dever contar, já que minha mãe nunca o fez.

Forcei minhas pernas a se erguerem e caminhei rumo à casa que eu passara os últimos minutos observando a distância. Senti minhas mãos suarem frio e meus pés hesitarem, mas não parei de andar até estar em frente à porta. Dei duas leves batidinhas e aguardei. Eu havia ensaiado o que dizer, mas agora não me lembrava mais de nada. A única coisa em minha mente era a ansiedade por não saber como ele iria reagir.

A porta se abriu após certo tempo e um homem surgiu em minha frente. Ele tinha o cabelo castanho e já era possível notar alguns fios brancos na barba sem fazer. Suas roupas eram casuais e seus olhos claros expressavam curiosidade e desconfiança, provavelmente por não estar esperando visitas e receber uma desconhecida em sua casa.

— Posso ajudar? — ele perguntou, com a voz gentil, mas deixando evidente certa relutância. Pigarreei para fortalecer minha voz.

— Charles Berger? — perguntei, torcendo para eu não estar parecendo tão ansiosa quanto eu me sentia.

— Sou eu — ele confirmou. Era ele. Meu pai. Não havia nenhum pingo de reconhecimento em seus olhos, enquanto ele parecia me analisar, procurando-me em sua memória, mas não encontrando nada. Ele esperou que eu dissesse alguma coisa e, quando eu não disse, continuou: — Você não é daqui, certo? Precisa de direções ou de alguma recomendação? Vou abrir o bar daqui a pouco, se quiser dar uma passada e comer alguma coisa...

Engoli em seco, surtando internamente e tentando pensar em qualquer coisa sensata para falar. Eu não podia dar uma de Darth Vader às avessas e soltar “Você é meu pai”, era capaz de ele achar que eu sou louca e bater a porta na minha cara ou ter um ataque cardíaco. Mas existe um jeito certo de dar esse tipo de notícia? Como explicar que vinte anos atrás, quando ele teve um caso com uma desconhecida, essa desconhecida acabou engravidando? Talvez ele nem se lembrasse disso mais. Pode ser que ele estivesse acostumado a esse tipo de coisa, considerando que ele viajava muito. Eu nunca tinha olhado por esse lado, porque minha mãe sempre dissera que eles tiveram algo especial, que uma fagulha se acendeu naquela noite, mas pode ser que isso tenha sido só a versão dela. Agora estava me ocorrendo a possibilidade de que para ele pode não ter significado nada. Absolutamente nada.

— Isso foi um erro — eu franzi a sobrancelha e balancei a cabeça, ansiosa para sair correndo dali e pedir desculpas ao Logan por tê-lo feito desperdiçar seu tempo — Eu não devia ter vindo — dei as costas sentindo seu olhar fixo em mim.

— Moça, você não quer uma água? Você não parece bem — ele falou hesitante, provavelmente com medo de que eu desmaiasse pelo caminho ou sofresse um acidente de trânsito e ele se sentisse culpado depois por não ter oferecido ajuda quando uma aparente doente mental bateu em sua porta. Parei de andar, tentando repensar. Respirei fundo, mantendo a calma o melhor que eu podia e virei-me novamente para ele.

— Vinte anos atrás, em uma de suas apresentações, você conheceu uma mulher chamada Courtney Cresta — comecei cautelosa, com a voz firme, contudo, as mãos suando. Eu tinha que contar de uma maneira em que ele percebesse que eu estava sendo honesta, mas sem matar o coitado de susto — Vocês acharam que tinha sido amor à primeira vista e combinaram de fugir juntos... — Charles estava boquiaberto e eu vi a surpresa em seus olhos enquanto as lembranças lhe atingiam. Percebi que ele se lembrava, que ele sabia do que eu estava falando — ...passaram a noite juntos, mas quando você acordou ela tinha ido embora, sem deixar nenhum sinal — minha voz estava tranquila e eu me surpreendi com o meu próprio controle emocional. Os olhos dele estavam fixos em mim e suas sobrancelhas grossas erguidas — Essa mulher é minha mãe. E você...

— Eu sou seu pai — ele completou num sussurro. Eu assenti discretamente e observei enquanto ele levava a mão até a boca num gesto de completa surpresa. Seus olhos se inundaram de lágrimas que não chegaram a escorrer.

— Acho melhor eu aceitar aquela água agora — minha intenção era rir, mas só conseguir mostrar um meio sorriso nervoso. Ele concordou, sem nem parecer ter escutado. Após alguns segundos, ele gesticulou para dentro de sua casa e deu espaço para que eu entrasse.

Escutei a porta se fechar e mais nada. A casa estava habitada por um silêncio mortal. Observei ao redor, notando que não havia fotos de família, apenas alguns poucos porta-retratos de Charles tocando violão ou cantando. A sala era aconchegante e bagunçada. Havia uma coberta jogada por cima do sofá vermelho e chinelos em cima do tapete. A televisão antiga estava desligada em cima de um raque sem decoração. No canto da sala, havia uma guitarra e um violão.

— Fique à vontade — ele disse tirando a coberta de cima do sofá — Desculpa, qual o seu nome?

— Annie — respondi, rindo diante da situação de me apresentar para o meu próprio pai — Que falta de educação, desculpe. Annie Cresta.

— Annie — ele repetiu baixinho, assentindo, sem achar a mesma graça que eu — Um instante — Charles murmurou e sumiu por um corredor, provavelmente indo guardar o cobertor. Sentei-me no sofá e coloquei as mãos no joelho, balançando a cabeça enquanto continuava olhando ao redor, procurando por algum detalhe que talvez eu não tivesse notado.

Quando ele voltou, segurava um copo de água que me entregou. Tomei um gole e cuidadosamente coloquei o copo no chão, encostado no sofá. Olhamo-nos em silêncio. Ele me fitava ainda com a mão na boca e eu mantinha meus lábios pressionados um com o outro, ainda mexendo a cabeça como se eu estivesse escutando uma música que ninguém mais estava.

— Aconchegante — comentei sorrindo.

— Se eu soubesse eu teria arrumado a casa, feito alguma coisa pra comer, mas eu... — ele ergueu o corpo, tirando a mão da boca, com a testa franzida — Eu não sabia.

— Culpa minha por não ter ligado, não é mesmo? — eu ri novamente — Mas eu pensei que esse não é o tipo de notícia que se dá por telefone. Você teria achado que era trote ou que eu era louca e teria desligado na minha cara. E além do mais, por telefone a gente ia perder esse momento delicado de ficar constrangido em silêncio sem saber o que dizer.

Por um momento, ele pareceu absorver minhas palavras e então deu uma risadinha da minha brincadeira.

— Você quer comer alguma coisa? Eu devo ter pão velho, umas torradas... Mas eu posso ir comprar alguma coisa. Acho que tem uma maçã. Tem leite... Mas deve estar azedo, é melhor eu ir comprar alguma coisa... — ele fez menção de levantar, mas eu gesticulei para que ele permanecesse sentado.

— Não se preocupe, eu não estou com fome, mas obrigada pela gentileza.

Ficamos mais um momento em silêncio. Agora eu já me sentia bem melhor, com sensação de dever cumprido e sabendo que a parte mais difícil já passara.

— Você disse vinte anos? — Charles indagou, assustado.

— Vinte anos — confirmei.

— Eu não sei nada sobre você! Eu perdi todas as partes mais importantes da sua vida.

— Ah, acredite, não tem tanta coisa assim pra perder — dei de ombros — Eu não fiz muitas coisas.

— Mesmo assim! — exclamou indignado — Como posso ter passado vinte anos sem saber que tenho uma filha?

— Não foi culpa sua, você não tinha como saber — tentei consolar — Minha mãe não quis ir atrás de você, ela não sabia onde você estava e você viajava muito e ela não sabia como você iria reagir. Saber era um direito seu, de fato, mas foi muito difícil pra ela. Mamãe não sabia ao certo o que fazer.

— Desde quando você sabe quem eu sou?

— Eu literalmente acabei de descobrir! — cerrei os olhos e balancei a cabeça negativamente — Não, não literalmente, óbvio — soltei uma risada debochada — Faz alguns meses que minha mãe me contou seu nome. Ela já tinha me contado tudo o que tinha acontecido, mas como eu era pequena ela não queria me confundir nem atiçar minha curiosidade mais do que o necessário, então disse que não lembrava seu nome, aí eu acabei não perguntando mais, até recentemente, quando eu perguntei e ela entendeu que eu já tinha idade para te procurar, se fosse esse meu desejo.

— Entendi — ele assentiu, absorvendo as informações.

— Você casou, teve filhos? — perguntei mais para puxar assunto, porque eu já desconfiava da resposta.

— Não — negou — Eu viajava muito quando era mais novo, agora eu só cuido do meu bar só.

— Parece uma vida solitária.

— É — concordou — Viajar pelo país te faz conhecer muitas pessoas, mas só de passagem. Eu tenho amigos aqui agora, fregueses fiéis lá no bar, é uma vida boa. Mas, o que você faz?

— Eu sou uma escritora — contei empolgada — Trabalhei num café nos últimos dois anos, mas agora voltei pra faculdade, estou terminando de escrever um livro.

— Isso é ótimo! Eu vou gostar de ler quando você terminar, se eu puder, claro.

— Claro! — confirmei sorrindo, satisfeita por ele estar se interessando por mim — Eu te mando um exemplar assim que for possível.

Charles Berger me perguntou mais sobre a minha vida e eu respondi a tudo empolgada. Sobre a questão do namorado, eu expliquei que é complicado no momento, porque ele está lidando com problemas familiares. Fiz perguntas sobre ele também, com medo de estar me intrometendo demais, mas ele foi bastante receptivo. Era estranho ainda, porque até pouco tempo nós nem se conhecíamos e agora éramos pai e filha, mas eu sentia que aos poucos nós íamos desenvolvendo essa relação. Não se pode construir laços familiares em um dia, mas eu achei que foi um bom começo, um bom primeiro dia.

Nós nos despedimos com um abraço e ele disse que ficou contente em saber que tinha uma filha e que eu parecia ser excelente. Charles me convidou para voltar mais vezes e disse que também me visitaria quando possível. Trocamos telefone, diversas informações, e ele também gostaria de conversar com a minha mãe qualquer dia, se ela concordasse. Ele disse que se eu precisasse de qualquer coisa que eu deveria pedir. Ele estava realmente disposto em compensar o tempo perdido.

Quando eu voltei ao local onde o carro de Logan estava estacionado, ele estava adormecido no banco traseiro. Algumas horas haviam se passado e eu contei tudo a ele na viagem de volta para casa. Eu estava realmente feliz e satisfeita por ter ido. Sabia que tinha feito a decisão certa, apesar de quase ter desistido várias vezes. Charles parecia uma boa pessoa e talvez agora ele não precisasse mais ficar tão sozinho. E quanto a mim, pela primeira vez na vida, agora eu tinha um pai.


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Notas finais do capítulo

Ai gente, eu fiquei tanto tempo pensando como que eu ia escrever esse capítulo mas achei que fluiu tão bem, fiquei satisfeita e esperam que vocês tenham gostado!! Novamente, desculpa a demora. Vou terminar a fic esse ano, ta? Só tem mais um capítulo por vir, talvez dois, desculpem por eu estar "correndo", mas é que quanto menos capítulos tiver pela frente menos eu vou demorar pra terminar. Não gosto de ter que deixar a fic parada tanto tempo. Masss, a conclusão da fic deve sair em dezembro, então fiquem ligados!



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