— Isso é mesmo necessário?

Terminei de fechar a mala vermelha, em cima da cama, me sentando ao lado da mesma em seguida. Assenti unindo minha mão direita com a sua esquerda. Não haviam duvidas de que ficar longe dele seria a parte mais difícil de ir embora, mas era preciso. Sua pele quente ainda causava-me arrepios toda vez que por engano, ou não, nos esbarrávamos. Paul balançou a cabeça negativamente, soltando a minha mão da sua, e começou a andar pelo quarto, sem dizer uma palavra.

— Existem algumas boas faculdades próximas daqui – ele disse, bagunçando os cabelos. – Eu não entendo porque Nova Iorque.

Faculdade.

Era a desculpa que havia dado para poder ir atrás de Dean. Meu avô leu isso em minha mente, o que resultou em uma longa conversa entre nós. Ele não contou à ninguém, e apesar de contrariado, eu sabia que não contaria. Precisava desfazer a ligação. Tinha de encontrar Dean, mas ele saiu sem deixar rastros, e imaginei que estivesse longe o suficiente para que não conseguíssemos encontra-lo. Então eu tinha de ser encontrada. Criei redes sociais de todos os tipos, que agora eram atualizadas diariamente, na esperança de que ele soubesse onde me encontrar.

— Eu sei que existem. Mas, nenhuma delas é tão boa quanto as de Nova Iorque.

— Faz pouco tempo que tudo aconteceu – ele disse, fitando o chão. Sabia muito bem do que estava falando. – Não pode esperar um pouco mais?

Fazia exatamente quatro meses desde o conflito na floresta. Quatro meses que eu não sabia o que era ter paz. As noites, na maioria das vezes, eu passava em claro lembrando de cada pequeno detalhe daquela maldita noite. Todos estavam preocupados comigo por alguns motivos. Eu não conseguia mas me transformar em loba, pois pra isso exige concentração, e era uma das coisas que Dean levou consigo.

Algumas coisas mudaram na matilha desde então. Ocorreram novas transformações e todos eles eram treinados de uma maneira mais intensa, pois Sam cogitava que ele voltaria com reforços. Não voltei com Paul desde então, e também não ficamos. Mas, acabei deixando boa parte do orgulho de lado e voltamos a nos falar diariamente. Não sabia se existiriam outras oportunidades de estarmos juntos, então tinha de aproveitar cada segundo.

— Não – respondi com um sussurro. – Você vai ficar bem. Sei que vai.

Em questão de segundos estávamos em um abraço apertado e cheio de saudade, mesmo que eu ainda não estivesse ido embora. Eram um dos poucos momentos em que poderia ter paz. As coisas simplesmente saiam da minha cabeça, e tudo era sobre nós dois, e nada além.

— Kathe – minha mãe chamou na porta, fazendo com que eu me soltasse dele. Seus olhos estavam vermelhos, denunciando que havia chorado. – Está na hora.

Meus pais não iriam comigo, por um pedido meu. Sabia que também sofreriam com isso, assim como eu, mas não poderia deixar que se arriscassem dessa forma.

Dei uma ultima analisada no quarto, quase vazio, pegando a mala. A partir de agora eu precisaria da Katherine assassina de volta, aquela que matava sem pensar duas vezes, apenas por prazer, aquela da qual eu não tinha conhecimento.

Precisaria da Katherine sem coração, e o meu, havia sido largado naquele lugar.