Seirin no Basket [HIATUS] escrita por Nanahoshi, Heisenberg24, Rayel


Capítulo 5
Período 4 - Por que você começou a jogar basquete?


Notas iniciais do capítulo

VOLTEEEEEEEEEEEEEEI MEUS LINDOOOS! Tudo bem com vocês???
Primeiramente queria pedir desculpas pelo sumiço do Nyah! UAHSAUHS eu andava meio enrolada com umas coisas então só entrava rapidamente pra ver o que havia de bom e saía em no máximo dois minutos t.t
Segundo: miiil perdões pelo atraso 3 A produção anda meio comprometida por causa das minhas aulas ( dos meus bloqueios criativos terríveis argh) pq eu não fui agraciada pela benção suprema das férias. Mas podem ficar tranquilos que eu não vou parar com essa fanfic de jeito nenhum, e se Deus ajudar eu publico com mais frequência quando as minhas férias chegarem ♥
E queria deixar UM SUPER ABRAÇO APERTADO DE URSOS JOGADORES DE BASQUETE A CADA UM DOS NOSSOS LINDOS LEITOREEES! Vocês arrasam e eu estou in love com cada um de vcs ♥ Muitíssimo obrigado pelos favoritos e pelos comentários MARRAVELHOSOS E FABULOUS! Vcs arrasam!
Espero que gostem do capítulo que dá uma trabalhada um pouquinho melhor nos calouros e numa relação chave da história :3 E segura esse forninho que tá vindo personagens novos e personagens bombásticos aí pela frente!!!
Sem mais delongas, boa leitura!



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—Então... – disse Riko varrendo a mesa com os olhos. – Que tal os calouros se apresentarem com mais detalhes?

A treinadora percebera a inquietação de Kazuki desde que ela anunciara sobre o amistoso contra a Shutoku, e por mais que a conversa estivesse animada, a menina não conseguia mais se envolver com seus colegas de time. Seus olhos heterocromáticos permaneciam levemente arregalados e ela torcia os dedos de forma nervosa. Várias vezes sua mão subira até a altura do rosto buscando suas mechas negras que não existiam mais. Felizmente, a pergunta de Riko teve o efeito que ela queria.

Kazuki saiu de seu transe nervoso e olhou surpresa para ela.

—Apresentar? – ela perguntou num tom inseguro.

A treinadora assentiu com energia.

—Sim! Vamos começar pelo Kashka-kun, que tal?

O nigeriano arqueou as sobrancelhas escuras e piscou atônito. Marcus permanecia calado na cadeira mais afastada da mesa, o queixo apoiado na palma de uma de suas mãos. Como esperado, a sugestão de Riko apenas fez com que sua expressão de tédio se intensificasse.

—Ahm... – Kashka parecia meio inseguro, mas o sorriso não deixara seu rosto. – Como eu deveria me apresentar, treinadora?

A terceiranista meneou a cabeça e refletiu por alguns instantes.

—Ah, diga o que quiser. Fale do que te deixar mais confortável.

Kashka entortou as sobrancelhas girando os olhos para o alto enquanto ordenava as informações.

—Bom, eu tenho quinze anos, e quando ainda estava em Abuja, vivia com meus pais e meus dois irmãozinhos. – Kashka abriu um enorme sorriso quando os rostos de seus familiares surgiram em sua mente. – Zulai é a segunda mais velha. Tem doze anos e é bem esperta. O mais novo é o Enzi. Ele só tem seis anos. Meu pai é tão alto quanto eu e foi ele que me iniciou no basquete. Minha mãe sempre me apoiou porque, além de ser um esporte que ela adora, foi assistindo jogos de basquete de rua que ela conheceu meu pai.

Ele interrompeu o discurso pensando ter falado demais. Kashka baixou os olhos e fitou seus colegas de time esperando alguma reação que indicasse se ele podia continuar. Izuki percebeu o embaraço do novato e perguntou:

—E o que você faz no tempo livre?

Kashka olhou agradecido para o veterano.

—Eu gosto muito de ouvir música, principalmente rap e hip hop. Quando animo, até canto e danço. – assim que essas palavras deixaram os lábios de Kashka, Kazuki endireitou-se em sua cadeira e olhou-o com os interesse. Riko percebeu o movimento da amiga e sorriu. Pelo visto, ela se daria muito bem com o nigeriano.

—Lá em Abuja, eu também costumava ser voluntário para cuidar de idosos. Eu sempre gostei de conversar com pessoas velhas, e eu sinto muito a falta dos meus avós, que já faleceram. Por isso pensei que seria legal fazer isso. – ele fez uma pausa tentando se lembrar do que estava faltando. – Ah, é! Sobre o basquete, gosto de jogar como central, mas já joguei muito como small foward... Se bem que meu estilo não é muito ofensivo.

A treinadora assentiu satisfeita e dirigiu seu olhar para a amiga sentada ao seu lado. Ela parecia um pouco mais relaxada depois do depoimento de Kashka, mas ainda era possível perceber certa tensão em seus ombros.

—Próximo? – ela perguntou encarando Kazuki e depois girando os olhos para fazer o mesmo com Marcus. O calouro sequer piscou.

"Vamos deixar ele por último.", pensou Riko suspirando conformada e um pouco nervosa. "Melhor deixá-lo sem opção do que forçá-lo a falar."

A treinadora então voltou a fitar a amiga. Kazuki ainda mantinha um pouco da sua postura acuada, os ombros curvados e os olhos evasivos. Se ela não relaxasse de vez iam começar a estranhar. Onde estava o Kazuko que aparecera tagarelando alegremente no treino?

Decidida a quebrar de vez o gelo que se formara entre a garota e o resto do time, Riko ergueu a mão e acertou um belo tapa na nuca da menina.

—Acorda, Kazuko! É sua vez, baka.

A menina olhou atônita para a treinadora e piscou algumas vezes. Enquanto massageava o local da pancada, Kazuki remoía internamente as hipóteses do motivo de Riko ter lhe dado um tapa. Ela tinha feito algo de errado? Ou algo suspeito?

—Ahm... - ela fez baixando os olhos para seu colo enquanto suas bochechas esquentavam.

Foi aí que ela percebeu o quanto estava encolhida.

Flashes de cenas do treino, e depois de lembranças do riso e da postura enérgica e travessa do irmão se enfileiraram em sua mente. Ela tinha feito uma boa atuação até aquele momento, mas a descoberta de seu disfarce por Kuroko e Kagami drenara sua coragem e ânimo. E ela estava permitindo que aquilo afetasse seu disfarce de forma alarmante. Se ela continuasse daquele jeito, com certeza o resto do time suspeitaria de algo.

"Murakami-kun, tente agir naturalmente até irmos embora. Se você continuar encolhido desse jeito, com certeza vão desconfiar que alguma coisa aconteceu.", a voz de Kuroko soou sutilmente em sua mente.

Nesse instante, ela entendeu o gesto de Riko. A amiga estava tentando quebrar o gelo, trazê-la de volta para a identidade do irmão.

Piscando, a menina se endireitou na cadeira e lentamente varreu com os olhos seus novos colegas de time. Felizmente, apenas alguns segundos haviam se passado desde que Riko lhe acertara com um tapa. Ninguém percebera sua luta interna.

—Itê...– ela massageou um pouco mais a nuca e amarrou a cara para Riko com um riso preso entre seus lábios. Tanto ela quanto seu irmão eram horríveis em fingir raiva – Eu tinha esquecido do quanto seus tapas doem...

E dizendo isso, Kazuki riu, uma imitação muito boa da risada original do irmão, e Riko acabou acompanhando-a contra sua vontade. Kazuko nunca dera tantos motivos para receber uns corretivos por parte dela, mas ele não fora um menino que se podia chamar de comportado.

Lembranças aleatórias inundaram a mente de ambas, o que apagou os últimos resquícios de nervosismo de Kazuki e fizeram um sorriso genuíno surgir no rosto da treinadora.

—Pois é. - comentou Riko segurando o riso. - Como a Kazuki não está aqui, não vai ter ninguém pra ter dó de você e me impedir de te dar uns corretivos.

A garota travestida de menino soltou uma risada nervosa e coçou o topo da cabeça.

—Bom... - Kazuki mudou sua expressão para uma pensativa. - Eu tenho quinze anos, e estou morando sozinho aqui em Tóquio. Eu morava em Osaka com meus avós e minha irmã gêmea, a Kazuki. A Riko morou um tempo em Osaka, era nossa vizinha. Nos conhecemos porque o pai dela tinha um ginásio pequeno lá, e ele cedia para as crianças da vizinhança usarem no inverno.

Riko sorriu quando se lembrou do primeiro dia que vira os gêmeos jogando. A energia e os rostos radiantes haviam cativado a garota desde o começo.

Ninguém percebera o pequeno gesto da treinadora, já que todos prestavam atenção em Kazuki... Exceto uma pessoa. Hyuuga olhara de relance para Riko e vira seu sorriso, e o incômodo já presente em seu peito aumentou drasticamente.

Tudo naquele garoto o incomodava. Sua aparência exótica, seu talento no basquete, seu tom simpático e um tanto zombeteiro e, principalmente, sua relação com Riko.

Ele se sentia seguro entre os colegas de time porque era ele quem conhecia Riko há mais tempo. Porém, quando ela começara um relacionamento com Teppei, sua segurança minguara dolorosamente. Hyuuga se viu escanteado e sem saída, já que ambos eram seus melhores amigos.

Quando Riko e Teppei terminaram, sua esperança de um dia ser correspondido pela amiga finalmente retornou, principalmente pelo fato de ter sido aquele que escutara os dois lados. Ambos haviam concordado que haviam se precipitado sobre o sentimento que sugira entre eles. Com o prolongamento do namoro, Kiyoshi e Riko perceberam que o que sentiam um pelo outro era um sentimento fraterno muito forte.

É claro que ele havia respeitado o tempo da garota e dado todo o apoio possível depois do término. Só depois de um ano ele tentara avançar além do seu costumeiro espaço na vida de Riko. Mas ele sabia que não seria fácil. Por terem crescido juntos desde os nove anos de idade, ele sabia que a chance de Riko vê-lo apenas como um irmão ou como um grande amigo era muito alta. E ela com certeza não entraria num relacionamento que corresse o risco de acabar como o anterior.

Porém, por mais que houvesse esse risco, Hyuuga estava satisfeito com seu lugar na vida de Riko. Mas tudo havia sido colocado em cheque quando aquele calouro irritantemente carismático pusera os pés no ginásio. Ela nunca havia contado sobre seus amigos de Osaka, e Hyuuga nunca sonhara que ela tinha um amigo de infância de tão longa data.

Definitivamente, Hyuuga não gostava de Murakami Kazuko, e faria questão de deixar isso bem claro.

—... Toco baixo como hobbie. - ele ouviu a voz do garoto assim que despertou de seu fluxo de pensamentos. - Eu costumava fazer aula de dança com minha irmã, mas não deu muito certo. Prefiro basquete um milhão de vezes. Jogo como small foward, mas estou treinando para jogar como shooting guard.

Aquilo fez uma veia saltar da testa de Hyuuga. Além de chegar todo íntimo de Riko, agora queria roubar sua posição em quadra?

A lembrança do arremesso de três que o calouro fizera mais cedo naquele dia não ajudou o capitão da Seirin a se acalmar.

—E você, Marcus-kun? - perguntou a treinadora arrancando Hyuuga de seu frenesi raivoso.

O capitão piscou e voltou os olhos para o loiro de piercing. Naquele ano, realmente, os calouros eram bem problemáticos.

Marcus bufou e se endireitou na cadeira, os olhos opacos varreram os companheiros de time com tédio. Estava claro em seu rosto que, se pudesse, ele se levantaria naquele instante e iria embora.

Suspirando, o garoto começou:

— Tenho quinze anos, moro com meus pais aqui em Tóquio. Eu nasci no Brasil e vim para o Japão com sete anos de idade. Todo ano, em dezembro, eu volto para visitar a família da minha mãe.
        — Oh! - exclamou Kazuki arregalando os olhos. - Como é lá?

Marcus dirigiu um olhar gélido e ausente para a garota. Todos os outros prenderam a respiração imaginando que o novato ia dar uma resposta não muito agradável.

— É legal. Adoro o Brasil, pra falar a verdade. Daria qualquer coisa para voltar. Eu morava numa cidade chamada Goiânia. Jogava basquete quase todo dia no ginásio da escola e participava de um monte de campeonatos interescolares e informais.

Enquanto Marcus falava, todos se surpreenderam ao ver um pouco de calor tomando conta de seu olhar e um leve sorriso de delineando seus lábios. Porém subitamente, seus olhos se endureceram e sua expressão se esvaziou novamente.

— Então eu tive que me mudar por causa dos negócios do meu pai.

Um silêncio desconfortável se instalou na mesa. Todos se remexeram desconfortáveis, os olhos giraram para todos os lados menos para onde estava Marcus. Felizmente, com seu tom sempre animado, interessado e completamente à parte do desconforto dos colegas, Kazuki interferiu mais uma vez:

— Ah, que pena, Marcus-kun. - ela abriu uma cópia perfeita do sorriso travesso do irmão. - Pelo menos vai poder jogar basquete pela Seirin. E nós definitivamente vamos para o Interhigh e para WinterCup.

O comentário pareceu encher todo o grupo de energia. Vários sorrisos de desafios se esboçaram nos rostos antes tensos, inclusive no rosto normalmente inexpressivo de Kuroko. Kagami, que estivera acompanhando tudo com um olhar ausente enquanto degustava sua segunda pilha de hambúrgueres, arregalou os olhos escarlates para Kazuki e depois franziu a testa. Até mesmo Hyuuga erguera as sobrancelhas diante da fala da garota e depois sorrira.

— Mas é claro que nós vamos para os campeonatos nacionais. Não precisa nem falar.

Riko sorriu satisfeita e balançou a cabeça.

—Ah, verdade! - exclamou Kazuki virando-se para Marcus. - Você não disse em qual posição joga, nem do que gosta de fazer.

O calouro vincou a testa e encarou Kazuki com apreensão. Geralmente, pessoas tagarelas como aquele garoto o irritavam profundamente. Porém, Marcus não conseguia sentir raiva dele. As falas do garoto tinham se encaixado perfeitamente em sua apresentação, fazendo com que sentisse menos vontade de levantar e ir embora. E desde o momento que o encontrara, Marcus tinha a impressão de conhecê-lo de algum lugar, ou talvez ele o lembrasse alguém.

Sem retirar a expressão apreensiva do semblante, o garoto de cabelos tingidos mudou de posição na cadeira e respondeu girando os olhos para a parede.

— Nas horas vagas eu desenho ou pinto quadros. Mas gosto mesmo é de jogar truco.
— Truco? - perguntou Koganei entortando as sobrancelhas.
— É um jogo de cartas. - Marcus respondeu encarando o veterano, o que provocou um arrepio na espinha de Koganei. Como alguém podia ter um olhar mais vazio que o de Kuroko?
— Sobre o basquete, jogo em qualquer posição.

Todos na mesa o encararam com os olhos arregalados, com a exceção de Riko. Sua testa se vincara profundamente e ela encarava o calouro com um olhar apreensivo. Se ele fosse um jogador normal ela acharia bastante presunção por parte dele anunciar algo como aquilo. Contudo, ela, mais do que ninguém, sabia que as chances de ele estar falando a verdade eram muito altas. Ela o vira jogando como armador, e por algum motivo poderia afirmar sem pensar muito que ele não jogaria em outra posição com uma qualidade muito inferior ao que ela vira. Além disso, Riko jamais havia visto um jogador com dados tão instáveis. É como se seu corpo se adaptasse de acordo com o que ele queria e durante o repouso travasse uma batalha interna com suas capacidades.

—Achei que jogasse como point guard. – comentou Kashka olhando para o colega com as sobrancelhas arqueadas.

—Eu prefiro. – Marcus disse fixando seus dedos flexionados sobre a mesa, como uma criança que pede um presente que quer muito aos pais e sabe que a chance de receber um 'sim' é muito baixa.

Riko sorriu enquanto várias ideias para formações novas pululavam em sua cabeça.

—Vamos ver o que você pode fazer como armador. - ela disse por fim se levantando. - Bom pessoal, já está ficando tarde e eu não quero ninguém com problemas de sono. Todos pra casa.

— Hai. - o time fez em uníssono, com exceção de Marcus e Kashka. Ambos não estavam acostumados com a postura maternal, mas rígida, da treinadora. Eles apenas piscaram e olharam atônitos para Riko, e Marcus completou com um revirar de olhos.

A terceiranista olhou significativamente para Kazuki, que já se levantara e aguardava seus colegas de time seguirem na frente.

—Está tudo bem? Pode ir pra casa sozinha? - ela sussurrou com um tom preocupado.
— Uhum. - ela agitou a cabeça energeticamente na tentativa de demonstrar que já havia voltado ao normal.

Nesse instante, um vulto projetou sua sombra sobre Kazuki, interrompendo sua caminhada ao lado de Riko.

— Vamos, Riko? - chamou a voz dura e fria de Hyuuga, e seus olhos esverdeados cravaram-se na silhueta baixa do calouro.
— Vamos sim, Hyuuga-kun. - ela sorriu de forma um pouco embaraçada por causa da tensão no ar. - Até amanhã, Kazuko-kun.
— A-Até. - respondeu a garota acenando timidamente com a mão e engolindo um seco diante do olhar intimidador de seu capitão. - Boa noite, Hyuuga-senpai.

O veterano apenas acenou friamente com a cabeça e seguiu para fora do Maji Burguer ao lado de Riko. Os outros já haviam se dispersado.

"O que foi isso?", perguntou-se Kazuki internamente. "O Hyuuga-senpai parecia..."

— Murakami-kun, pra que lado é sua casa? - uma voz soou subitamente atrás da novata, fazendo-a saltar para frente.
— Uah! - ela exclamou virando-se com os braços na altura do rosto. Kuroko e Kagami fitavam-na, um com sua típica expressão vazia e o outro parecia contrariado.
— Ahm, eu vou seguir a rua pela direita...
— Nós te acompanhamos. - ofereceu o garoto de cabelos azuis. Baixando a voz, ele completou - Assim você pode explicar a história para o Kagami-kun.

Kazuki virou os olhos lentamente para o ruivo parado a alguns passos do jogador fantasma. Sua expressão frustrada permanecia, e ela não o culpava. Ter escutado uma história mirabolante horas mais cedo e ser obrigado a não dizer absolutamente nada sobre, sem nem mesmo receber uma explicação decente, deixaria qualquer um contrariado.

— Hai. - ela murmurou tristemente olhando para seus tênis.
— Vamos. - Kuroko foi na frente e aguardou que os outros dois se juntassem a ele.

A garota ficou no meio, e a proximidade com o ás da Seirin contrariado fez com que ela tornasse a se encolher. Repetindo o que fizera mais cedo no almoxarifado, ela ordenou os acontecimentos em sua cabeça e ergueu o rosto de forma tímida para Kagami.

— Desculpe por não ter explicado mais cedo, Kagami-senpai. É uma história meio complicada.

O ruivo sentiu um desconforto no peito diante da expressão tristonha da garota.

—Ahm... Não precisa se desculpar. – ele disse virando o rosto para o outro lado e esfregando a base do pescoço. Se sentiu mal por ter deixado a novata tão acuada.

Ela ergueu as sobrancelhas, surpresa, e depois sorriu agradecida para o jogador, fazendo o ruivo sentir um pouco de ardência nas bochechas. Ele definitivamente não sabia lidar com garotas, emocionalmente falando.

Kuroko seguia em silêncio, apenas aguardando caso Kazuki precisasse de ajuda na explicação.

—Então... Como eu citei lá no Maji Burguer, eu me chamo Murakami Kazuki, e sou irmã gêmea do Kazuko...

A garota mergulhou numa narrativa objetiva, porém tensa, do que acontecera com o verdadeiro Kazuko. Depois, explicou para o ruivo os motivos que a levaram a concordar com o plano do irmão. Kuroko aprumou-se nessa parte, demonstrando atenção, já que no almoxarifado ela não havia contado essa parte. Enquanto contava, Kagami prestou atenção em seus traços pela primeira vez desde que ela aparecera no ginásio naquela mesma tarde. Realmente o disfarce era bom. O corte curto do cabelo, a ausência de detalhes femininos e as expressões da garota fazia com que ela parecesse mesmo um menino, mas levemente afeminado. A forma como ela falava também ajudava muito. Contudo, se olhasse com mais atenção, perceberia que a curva da mandíbula da garota era anormalmente suave para um menino. Além disso, o contorno da boca da garota denunciava um traço feminino característico, e seus olhos heterocromáticos coroados com cílios negros também delatavam de uma forma exótica quem ela realmente era. O último detalhe que ameaçaria seu disfarce caso alguém percebesse eram os dois furos nos lóbulos de suas orelhas. O Kazuko apresentado à Seirin não parecia ser do tipo que usaria brincos como o tal de Marcus, então a presença dos furos seria bastante suspeita.

—Murakami-kun, com licença. – Kuroko interrompeu o relato da garota educadamente e estacou.

Kagami e Kazuki imitaram-no e encararam o jogador fantasma.

—Eu vou subir a rua. Minha casa é pra lá. – ele começou a se afastar para atravessar a faixa de pedestre. – Até amanhã, Kagami-kun, Murakami-kun.

—Até! – despediu-se Kazuki acenando com energia. – Muito obrigado por tudo, Kuroko-senpai!

—Jyah nah! – Kagami acenou com a cabeça e três de seus dedos da mão que seguravam a alça de sua pasta acompanharam o movimento.

Os dois observaram o segundanista de cabelos azuis se afastar por alguns instantes num silêncio que, aos poucos, começou a pesar.

—Então... – Kagami começou olhando para o caminho que seguia diante deles. – Você continua por aqui?

—Uhm. – ela assentiu um pouco tímida.

Os dois retomaram a caminhada em silêncio. A parte mais importante da história Kazuki já contara, então ela ficara completamente sem ideias do que falar para o camisa dez. Percebendo o desconforto da garota, Kagami coçou a bochecha com o indicador tentando pensar em alguma coisa para perguntar. Repassou mentalmente o que ela dissera no Maji Burguer, mas subitamente lhe ocorreu que as respostas que ela dera não tinham sido de acordo com sua verdadeira identidade, e sim com a do irmão. Curioso, o ruivo pigarreou e olhou para Kazuki pelo canto do olho.

—Hmm. – ele fez tentando formular a pergunta. – Por que você começou a jogar basquete?

Pega de surpresa, a garota fitou o ás da Seirin com as sobrancelhas arqueadas enquanto processava a informação. Instantes depois ela piscou e sorriu de leve, lembrando-se do que falara sobre basquete no Maji Burguer. É claro que ela falara como Murakami Kazuko, afinal o disfarce deveria ser legítimo. O que fascinava o irmão gêmeo no basquete não era o mesmo que a fascinava.

—É... – ela girou os olhos para cima tentando se lembrar de sua infância com mais detalhes. – Quando eu comecei a jogar, o Kazu-nii já jogava há um tempo. Lembro que ele insistiu muito para que eu jogasse. Queria que jogássemos juntos.

Ela sorriu ainda mais com a lembrança e continuou:

—Eu costumava assistir aos jogos que aconteciam na quadra do nosso bairro, lá em Osaka, e eu sempre fiquei fascinada com os movimentos e a sincronia das jogadas. Quando chegava a vez dos adultos, eu e Kazuko sempre ficávamos para assistir, os dois com cara de quem tinha visto um fantasma de tão maravilhados.

Kagami sorriu um pouco. Ele conhecia aquela sensação.

—E toda as vezes que eu assistia um jogo, eu sempre pensava: "puxa, basquete parece ser tão divertido!". Daí imaginei que seria ainda mais legal jogar junto com meu irmão e com meus amigos. Então comecei, e descobri que o basquete era muito mais do que eu tinha imaginado.

Kagami abriu um sorriso genuíno para a garota. Sabia exatamente do que ela estava falando, e essa correspondência de sentimentos com relação ao basquete fez com que ele se sentisse mais próximo de Kazuki. O disfarce da garota amenizava uma leve sensação de estranhamento, já que Kagami nunca imaginara que conheceria uma menina que gostasse de basquete como ele.

—É, eu entendo bem essa sensação. – ele disse ainda sorrindo.

Ela espelhou o sorriso do ruivo, e o constrangimento que sentira mais cedo por ter sido descoberta diminuiu consideravelmente.

—Daí pra frente, – ela continuou animada com o rumo da conversa. – minha paixão pelo basquete só aumentou. Demorei um pouco para descobrir meu estilo, mas depois que conheci o Shin-kun, finalmente descobri que tipo de jogada me fascinava.

—Shin-kun? – Kagami perguntou entortando as sobrancelhas pra garota, que imediatamente arregalou os olhos e encolheu os ombros.

—Ah... Eu sempre esqueço de não falar o apelido. – ela riu um pouco nervosa. – Você o conhece. É o Midorima Shintarou.

Os olhos escarlates do camisa dez se arregalaram.

—Agora sim aquele seu arremesso de três faz sentido. – seu olhar foi tomado pela apreensão. Se ela tinha jogado contra Midorima quando pequena, que tipo de habilidades ela teria além do que ele vira em jogo?

Ela estava bastante encolhida agora e o rosto moreno carregava um discreto rubor nas bochechas.

—É-É... – ela gaguejou. – O Shin-kun me ensinou a arremessar.

Kagami guardou silêncio enquanto digeria a informação. Nem em sonhos imaginaria encontrar alguém que tinha jogado com um membro da Geração dos Milagres antes que eles se tornassem monstros.

—Vocês se conhecem há muito tempo? – ele perguntou um pouco sem jeito, mas com interesse.

—Desde os seis anos de idade. – ela respondeu relaxando um pouco os ombros. – Nos conhecemos quando Kazuko viu ele jogando sozinho numa tarde e o desafiou para um mano-a-mano.

—E quem ganhou?

—O Kazu-nii. Na época, o Shin-kun estava começando a jogar basquete, então o Kazuko tinha um pouco de vantagem sobre ele. Só que o Shin-kun deu trabalho. Ele sempre foi muito bom. Não demorou muito para que ele ficasse no mesmo nível que o Kazu-nii e começasse a me treinar.

Mesmo nível...

—Então seu irmão é bom? – perguntou Kagami sentindo um arrepio na espinha ao imaginar alguém tão bom quanto a Geração dos Milagres escondido num bairro de Osaka.

—Uhm. – Kazuki sorriu tristemente enquanto assentia. – Você ia se identificar bastante com o estilo dele. Ele adora basquete de rua, e desde o começo criou seu estilo em cima disso. Ele era tão ágil quanto eu sou rápida. Nunca consegui parar um crossover dele.

Flashes do jogo-treino de mais cedo piscaram diante dos olhos de Kagami, e eles gradualmente se arregalaram. Alguém que conseguia superar a velocidade e a técnica de Kazuki a ponto de ela nunca ter impedido um crossover... Se ele levasse o julgamento da garota como verdade absoluta, não duvidava que o verdadeiro Kazuko tivesse um talento equiparável à Geração dos Milagres.

—Ah, é mesmo! – Kazuki exclamou subitamente girando o pescoço para encarar Kagami. – E você? Por que começou a jogar basquete?

O ruivo não esperava que a garota devolvesse a pergunta, por isso ficou olhando-a com um olhar atônito por alguns segundos antes de começar a ordenar as palavras em sua cabeça.

—Hm... Bom... – ele esfregou a base do pescoço ao mesmo tempo em que as lembranças de sua infância na América preenchiam sua mente. – Eu mudei para a América com oito anos de idade, por causa do trabalho dos meus pais. Como não sabia inglês, tive muitas limitações para fazer amigos. Daí um dia, um garoto japonês que morava lá me chamou para jogar basquete. Faltava uma pessoa. Seu nome era Himuro Tatsuya.

Kazuki arregalou os olhos.

—Oh! Aquele do Mirage Shot da Yosen?

Kagami assentiu.

—Quando o vi jogar, fiquei completamente fascinado. Além disso, percebi que era através do basquete que Himuro conseguira fazer amigos.

A garota observava o rosto do ruivo com os olhos heterocromáticos brilhando de excitação com a história.

—Então segui o exemplo. No começo, era apenas pra enturmar e pra me divertir, mas eu fui pegando gosto pelo jogo e decidi fazer do basquete meu estilo de vida.

—Ah! – exclamou Kazuki. – Que legal!

Kagami sorriu novamente, porém sua expressão alegre rapidamente foi substituída por uma de embaraço. Ele acabara de se abrir com uma garota, e ainda por cima com uma que tinha acabado de conhecer. Que sensação era aquela? Por que Kazuki o deixava tão... à vontade?

Nesse instante, a garota travestida de menino interrompeu repentinamente sua caminhada. Ela fitou a fachada do prédio à frente deles e voltou a olhar para Kagami. Não era um prédio chique, e muito menos luxuoso. Tinha apenas dez andares, a pintura já gasta tinha um tom apagado de marrom avermelhado com detalhes em amarelo desbotado. A portaria se resumia à um cubículo de granito e vidro que escondia a figura curva do porteiro que assistia a um jogo de baseball numa televisão pequena. Algumas poucas plantas enfeitavam a fachada antiquada feita de pedra escura esverdeada e gesso da mesma cor que a pintura do prédio.

—Eu fico por aqui. Muito obrigado, Kagami-senpai. Por ter me acompanhado e... bem, por ter me escutado e entendido.

—Ah! – ele fez num tom envergonhado. Seu tique de esfregar o pescoço atacou novamente. – Não foi nada.

Ela sorriu e apertou o botão do interfone. Em questão de segundos ouviu-se um estalo vindo do aparelho e Kazuki disse:

—Aqui é Murakami Kazuko do 101.

O porteiro resmungou alguma coisa e o portão fez um barulho sinalizando que havia sido destravado. Kazuki saltou para dentro do prédio e voltou-se mais uma vez para Kagami.

—Até amanhã, Kagami-senpai! – ela acenou animada.

—Até! – ele ergueu o braço para imitar o gesto dela de uma forma um pouco desajeitada. Ainda estava meio zonzo por causa de tudo que acontecera naquele dia.

Sorrindo mais uma vez, ela girou nos calcanhares e saltou os degraus, desaparecendo logo em seguida ao entrar dentro do hall do prédio.

O ruivo virou-se novamente para a calçada e continuou seu caminho. Não estava muito longe de casa. Mais duas quadras e chegaria lá.

A conversa com Kazuki e tudo o que descobrira sobre ela retornaram com um zumbido alto juntamente com várias sensações. Tinha gostado da menina, por mais que ela tivesse parecido presunçosa durante o jogo. Ele imaginava que a garota tivesse se comportado daquela maneira para imitar a postura de Kazuko em jogo. Afinal, Riko estava lá assistindo-a jogar. Porém, no final, das contas, de nada tinha adiantado. Agora, o segredo de Kazuki estava guardado com ele, Kuroko e com a treinadora, e se dependesse dele, ninguém jamais saberia da verdade. Os motivos da garota eram os mais nobres possíveis, e ele até agora não conseguia acreditar como uma menina da idade dela tinha topado entrar naquele plano maluco.

E ainda havia o fato de Kazuki ter crescido treinando com o shooter da Geração dos Milagres, Midorima Shintarou. A lembrança fez o cenho de Kagami franzir-se numa expressão de desafio. Agora que parara pra pensar, era muita presunção imaginar que a Geração Milagrosa abarcava todos os monstros do basquete colegial japonês. Pelo pouco que ele vira, Kazuki tinha um talento nato para o basquete, e ainda estava em fase de intenso aperfeiçoamento. E, além dela, havia seu irmão gêmeo, Murakami Kazuko.

"Queria muito poder ver do que ele é capaz em quadra".

Refletindo sobre os gêmeos Murakami e Midorima, Kagami se lembrou do amistoso contra a Shutoku que se aproximava. Era um novo ano, e a probabilidade de não só a Shutoku, mas todos os outros times, terem colocado as mãos em novos talentos era muito alta.

Um arrepio de excitação percorreu a espinha do camisa dez da Seirin, e ele sorriu para si mesmo em desafio. O ano estava só começando, e a Seirin teria uma série de jogos pela frente contra adversários desconhecidos. Alargando o sorriso, Kagami Taiga murmurou baixinho:

—Que tipo de monstros vamos enfrentar esse ano? 

 


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Notas finais do capítulo

E aí galera, o que estão achando??? Quando o calouro preferido de vocês até agora???
Podem ficar tranquilos que as opções não irão se limitar à Seirin :v Tem personagens novos e bombásticos vindo por aí!
Estão prontos para a nova geração de adversários da Seirin???

Espero que tenham gostado do capítulo! Deixem nos comentários o que acharam do capítulo, sugiram, critiquem pq isso seeeempre ajuda a incrementar a história ♥
Muuitíssimo obrigada por todos os comentários foférrimos e perfeitos que recebemos até aqui, vocês são DI-VO-SOS! ♥ Sem você não teria animado para escrever uma fanfic tão ambiciosa! Um beijão e até o próximo capítulo!



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