Seirin no Basket [HIATUS] escrita por Nanahoshi, Heisenberg24, Rayel


Capítulo 2
Período 1 - São só vocês?


Notas iniciais do capítulo

OLÁÁÁÁÁÁ GENTEEE!
Sim, é isso mesmo que vocês estão pensando: CAPÍTULO NOVOOO! Weeeee!
Nossa Nana-chan! Por que tão rápido?
Eu tô de férias hihi e super empolgada com a história! Sempre acabo publicando mais rápido no começo depois vou regularizando intervalos maiores... E agora eu tenho a ajuda da maaaaaaaaaaravilhosa, diva, felomenal PixelTyller-chan! Podem ter certeza que essa fanfic vai ser maravelhosa!
Espero que gostem desse capítulo, onde entramos na história propriamente dita. Talvez o próximo demore mais pra sair porque vou ter que estudar um pouquinho sobre as jogadas e tal.
Sem mais delongas, o capítulo!
Boa leitura!



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—Dormiu.

Uma cadeira foi afastada de leve. Passos muito leves ressoaram no assoalho do quarto e se dirigiram para a lateral da cama. Uma mão se estendeu silenciosamente e tocou uma outra que estava pousada sobre o lençol.

—Volto assim que puder, está bem?

O barulho seco de lágrimas caindo no colchão foi o único som que se ouviu por alguns instantes.

Os passos soaram de novo. Uma fresta de luz incidiu sobre a cama quando a porta foi aberta, e depois diminuiu gradativamente de tamanho até sumir.

Click.

Pronto. Estava feito.

O piso do corredor rangeu sob o peso do transeunte que tinha o rosto manchado de lágrimas amargas.

—Por quê? Por quê? –a voz murmurou com amargor, tristeza e dor lancinantes.

Em seguida, foi a escada que protestou. Os passos seguiram em direção à porta da casa.

Lá fora, o vento frio do crepúsculo varria as ruas movimentadas na hora do rush. O barulho dos sapatos solitários que batiam contra o concreto se perdeu no zun-zun das ruas de Osaka. Entretanto, não foi possível apagar o vazio que eles arrastavam consigo como uma sombra terrível.

Por quê? a pergunta soou ecoando.

Buzinas, carros, pessoas, gritos, anúncios, semáforos, faixas... Por que a cidade parecia estar tão zombeteira? Tão... viva e arrogante?

Um anunciante exótico barrou o caminho.

—Oi, oi! Venho aqui como mensageiro de Kami-sama! Gostaria de enviar algum recado ou pergunta para ele!?

Silêncio. O homem vestido de forma extravagante piscou sem graça.

—Por quê? Por quê não foi comigo?

*

1 de março, Abuja, Nigéria

Passageiros do vôo 2778, com destino a Tóquio, escala em Paris, embarque imediato pelo portão M.

A senhora alta vestida com um lindo vestido amarelo tomara-que-caia fungou pela milhonésima vez aquela manhã. A bela pele negra reluzia lindamente com as luzes do aeroporto. Embora tivesse nos lábios um sorriso orgulhoso, ela ainda tinha no coração a tristeza de deixar um filho ir embora. Era importante, era por estudos... mas como uma mãe conseguiria dormir todas as noites indagando se o filho já tinha comido, se estava dormindo direito, se nada faltava... sem estar perto para perguntar?

—Não quero deixar meu bebê ir –ela disse, usando um tom de voz entristecido.

—É o melhor pra ele, Jamelia – disse o homem ao seu lado. Ele devia ter mais de dois metros de altura, e seu rosto de pele escura cromada já trazia leves sinais de idade.

—Eu sei – ela pegou um lencinho em sua bolsa e assoou o nariz.

Uma menina que não deveria ter mais de doze anos de idade deu tapinhas no ombro da mulher. Era bem parecida com a mulher, tinha as mesmas feições e pele de chocolate bem hidratada e macia. Também estava orgulhosa, e embora não conseguisse esconder a tristeza, tinha que se manter firme para apoiar os pais.

—Tá tudo bem, mãe. Ainda tem eu e o Enzi para dar trabalho pra você.

Ela soltou um riso que denunciou o choro que ela segurava. Era difícil para todos.

O “bebê” de quem eles falavam observava os pais com um olhar terno e profundo. Ajeitou a mochila que trazia nas costas e conferiu seu ticket de embarque. Era igualmente moreno como os pais, alto e musculoso. Um adolescente enorme e com as perfeitas características de um prodigioso atleta.

—Acho que eu vou indo então, mãe, pai.

Jamelia se aproximou. Esticando os braços para cima, enlaçou o pescoço de seu filho mais velho e soluçou contra seu ombro enorme. O menino teve que se curvar muito para abraçar a mãe, pois era quase tão alto quanto seu pai.

—Por favor, meu filho, tome cuidado, cuide-se, alimente-se direitinho, durma todos os dias pelo menos oito horas, não abra a porta de seu apartamento para estranhos...

—Mãe, pelo amor de Deus – a menininha em seu encalço voltou a retrucar – Ele já tem quinze anos.

O pai soltou uma gargalhada.

—Você fala como se ele já fosse adulto, Zulai.

—E não é?

Todos riram em uníssono, até o mais novo, Enzi, que não entendia absolutamente nada do que estava acontecendo. Zulai fez um biquinho.

Jamelia soltou o filho sem vontade. Se pudesse teria permanecido agarrada a ele. Era seu filho mais velho e estava prestes a ir para longe deles, saindo debaixo das asas dos pais para estudar em um bom colégio e fazer o que mais amava: jogar basquete. Era o orgulho da família, mas até o maior dos orgulhos gerava preocupação. Porém, notando o olhar resignado e forte do filho, a mulher confiou. Ele era responsável e ele saberia se cuidar.

—Nunca se esqueça, meu querido: sua maior dádiva é ser um menino gentil. E a gentileza abre qualquer porta.

O garoto assentiu sentindo as lágrimas acumulando-se no canto de seus enormes olhos negros. Feito isso, agachou-se para poder olhar seus irmãos nos olhos. Os pequenos diante dele logo mantiveram um olhar cheio de admiração. Sorriam, embora a pequena irmãzinha dele tivesse olhos vermelhos por ter guardado o choro até o momento. Partia o coração dele... e ele sabia que sentiria muita falta.

—Não deem muito trabalho pra mamãe, está bem? E tratem de se esforçar na escola! E aí um dia vou vir buscar vocês para estudar no Japão!

Zulai agarrou-se ao irmão rapidamente e depois o soltou, desviando os olhos. Enzi, o mais novinho de seis anos, olhava atônito para o irmão mais velho. Estava de mãos dadas com a mãe, e na que estava livre, trazia uma pelúcia de leão. Ele piscou três vezes para o homenzarrão agachado diante dele, e sem aviso, estendeu os bracinhos e agarrou o pescoço do menino, batendo o leão felpudo em suas costas. Surpreso, ele demorou alguns segundos para retribuir o abraço. Assim que seus braços enormes envolveram o caçula, lágrimas grossas pingaram no chão embaçado que o garoto nigeriano via.

Ficou ali agachado abraço com o irmão por longos segundos, mas ao ver que a fila do portão diminuía rapidamente, ele se levantou e enxugou o rosto com a manga de seu casaco. O último que faltara era seu pai, que estava de pé diante dele. Se crescesse mais alguns centímetros, superaria os incríveis 2,12m de altura de seu velho.

—Acho que o que sua mãe disse é mais do que suficiente. Mas eu tenho uma coisa para acrescentar.

O jovem engoliu em seco e estreitou os olhos para espantar mais lágrimas teimosas que insistiam em querer cair.

—Se você quiser ir rápido, vá sozinho, filho. Mas se quiser ir longe... Vá em grupo.

Uma teimosa lágrima escorreu pela bochecha do garoto. O pai se adiantou e abraçou-o com força.

—Sei que você vai ser incrível. Estaremos torcendo por você daqui... Kashka.

Soluçando, Kashka estreitou o abraço entre ele e seu velho, e logo em seguida o soltou.

—Obrigado, pai.

Passageiros do voo 2778, com destino a Tóquio, escala em Paris: embarque imediato pelo portão M— repetiu a voz feminina dos alto-falantes. 

—Até mais, pessoal! Vejo vocês em dezembro! – e tirando os documentos do bolso, o jovem seguiu para a fila com suas passadas longas. Ele apresentou o ticket e seguiu para o corredor do finger¹ que o levaria ao avião.

Enquanto dobrava o pedaço do ticket que ficara consigo, Kashka percebeu que havia outro papel entre seus documentos. Ele desdobrou a folha e encarou o texto com um olhar desafiador. Em letras pretas e garrafais lia-se:

“COMPROVANTE DE MATRÍCULA – COLÉGIO SEIRIN”

***

—E eu vou querer suco de laranja.

A aeromoça sorriu e continuou seu caminho pelo corredor da aeronave.

O estudante de cabelos rebeldes de um tom loiro escuro, cujas pontas estavam tingidas de um rosa salmão, ajeitou-se em sua poltrona e procurou seu iPod para trocar de música. Enquanto se remexia, acabou acertando uma cotovelada em sua mãe, que lia um jornal ao seu lado.

A mãe era dona dos mesmos cabelos que ele, até tinha a mesma expressão, só que com um pouco mais de vida. Ela torceu o nariz para o garoto.

—Ai, filho! Cuidado com o cotovelo.

—Desculpe.

Finalmente ele conseguiu tirar o aparelhinho que estivera espremido entre uma poltrona e outra e apertou o botão para trocar para a próxima música. Sua mãe deu um suspiro.

—Tsc, o que mais se fala nesse país é corrupção, credo. Ainda bem que saímos de lá faz tempo.

—Eu não queria ter saído – observou o garoto apertando o botão mais uma vez.

—Não comece outra vez, Marcus Vinicius. Já te explicamos um milhão de vezes que foi pensando no seu futuro que nos mudamos para o Japão – seu pai estava à sua esquerda assistindo a um jogo de basquete que passava na telinha embutida na poltrona da frente.

O pai de Marcus era grande e musculoso. Não era tão mau humorado quanto a esposa, porém era distraído quando o assunto era basquete. Vidrou os olhos na telinha e não parou até que o jogador da NBA acertasse uma enterrada milagrosa nos últimos minutos de jogo. O homem soltou um urro, batendo o punho fechado no encosto do braço da poltrona, atraindo um olhar reprovador da esposa.

O adolescente bufou.

—Você não quer ser jogador de basquete? – o pai alfinetou voltando o foco da bronca para o filho – Me diga se você ia conseguir alguma coisa ficando no Brasil. Lá não se dá o devido valor para o esporte.

Sua mãe suspirou outra vez e virou a página do jornal.

—Falando em basquete – ela falou olhando para o filho. – A escola que você se matriculou, a Seirin... não foi essa escola que ganhou a Winter Cup ano passado?

—Foi sim – o garoto de cabelos pintados respondeu com seu costumeiro tom inexpressivo, prestando atenção nas nuvens pela janela do avião.

—Oh, já está pensando alto, hein? – a mãe comentou animada. – Quem sabe esse ano você não os ajudará a ganhar o Intercolegial também... Imagina só! Intercolegial e Winter Cup!

—Alessandra, para de encher a cabeça do menino de sonhos mirabolantes – resmungou o pai de Marcus sem despregar os olhos do jogo.

—Ah, querido! Estou tentando animar nosso menino, poxa! Ele tá sempre com os olhinhos tão vazios...

Enquanto seus pais discutiam, o menino encarava suas unhas. O nome de sua futura escola ressoou em sua mente.

Seirin... Será?

Ele virou a cabeça e olhou através da janelinha oval do avião. Estavam muito alto, bem acima das nuvens.

Intercolegial e Winter Cup? Parece divertido...

***

A porta do metrô se abriu e o colegial seguiu a multidão. Ao passar para a plataforma, tropeçou nos calcanhares de alguém e quase se estatelou contra o piso.

—Desculpe, desculpe – ele falou apressado, mas quando ergueu o rosto, percebeu que ninguém olhava de cara feia para ele.

Suspirou.

Mesmo tendo morado sua vida toda numa das maiores cidades do Japão, Tóquio sempre o deixava nervoso. Perdera as contas de quantas vezes visitara a capital, mas nunca conseguira se acostumar com a atmosfera da cidade.

Entretanto, naquele dia, o menino não fazia apenas uma visita. Trazia consigo sua última mala que ficara em Osaka no processo de mudança.

Sim.

Estava finalmente se mudando para Tóquio.

Flashes embaçados das cenas de sua despedida da família turvaram sua visão por alguns segundos. O adolescente balançou furiosamente a cabeça para espantá-las.

Não posso me debulhar em lágrimas aqui. Vou pro apartamento, lá dá pra chorar à vontade, pensou o rapaz, saudoso.

Apressou-se em subir as escadas que levavam à superfície e seguiu o fluxo de pessoas que viravam à direita. Caminhou a passos rápidos pelas ruas barulhentas cheia de luzes, tomando cuidado para não esbarrar em ninguém. Saindo da avenida principal, o estudante seguiu por avenidas menores. Era quase noite, então tratou de não se demorar nas ruas mais vazias. Por fim, dobrou uma esquina para a esquerda e entrou numa rua larga e bonita, com várias cerejeiras florescendo dobrando-se suavemente sobre o asfalto. Elas foram plantadas rente a um muro feito de uma pedra avermelhada cuja textura lembrava o mármore. Ao passar pelos portões, o garoto girou o pescoço e diminuiu o passo. Mesmo com a luz tímida do crepúsculo, seus olhos bicolores conseguiram ler os ideogramas da placa grudada na parede avermelhada que sustentava o portão do lado direito.

“Colégio Particular Seirin”

Desviou o olhar e baixou a cabeça. Seus lábios se apertaram numa linha reta.

Em um mês... estarei passando por aquele portão como um aluno oficial da Seirin. E com sorte... Sairei no primeiro dia como membro do time de basquete da Seirin.

***

2 de abril, Tóquio, Japão.

Aida Riko saltitava cantarolando baixinho na direção do ginásio. Koganei e Mitobe haviam ido na frente para separar os materiais para o primeiro treino depois das férias de março. Estava tão animada que mal percebeu quando alguém cruzou seu caminho. Distraída, ela acabou esbarrando em cheio com o aluno. Quando achou que ia despencar com sua prancheta, caneta e apito, mãos firmes a seguraram e puxaram para cima. A treinadora do time de basquete da Seirin piscou com um ar perdido e olhou para cima.

—Oh, Hyuga-kun! – ao perceber o quão próxima estava do capitão do time, suas bochechas assumiram um forte tom avermelhado.

Ele por sua vez, demorou um segundo a mais para perceber, mas assim que o fez, corou ainda mais que a garota.

—D-devia prestar mais atenção, Riko – ele gaguejou colocando-a de pé.

Ela ajeitou sua saia que se levantara um pouco e bateu a mão em seu casaco que usava sobre o uniforme. Estava constrangida, afinal a presença de Hyuga se tornou um pouco diferente para ela após algum tempo. Alimentava algo novo, algo que a confundia as vezes. Por que não se sentia daquela forma diante de outros jogadores do time? O que era aquilo afinal e por que era tão... agradável?

—Foi você que entrou no meu caminho – ela retrucou virando a cara, fingindo aborrecimento para se livrar do constrangimento – Onde estão os outros?

—O Izuki já estava vindo. Foi resolver algo na coordenação. O Tsuchida disse que foi checar o telhado para ver se continuam vigiando. E nem me pergunte dos segundanistas que eu não sei. Não vi nenhum deles hoje.

—Tsc – Riko bateu o pé no chão, irritada. – Bom, vamos pro ginásio. Os calouros já devem estar chegando.

O capitão da Seirin seguiu sua treinadora. Enquanto andava, seus olhos vagaram pelo cenário, e sem perceber, fixou seu olhar em uma mecha do cabelo de Riko que balançava na lateral do rosto. Ela deixara o cabelo crescer desde o último jogo da Winter Cup, e agora já estavam relativamente compridos para o seu padrão.

Eu gosto do cabelo dela, pensou o jogador devaneando. Será que ela vai pedir para que eu corte de novo?

Esse pensamento trouxe de volta as lembranças daquele dia fatídico que a Seirin conquistara a Taça do Campeonato de Inverno. Na manhã daquele dia, Riko pedira para que Hyuga cortasse seus cabelos, cumprindo a promessa que fizera de deixá-los crescer até que o time chegasse à final. Depois do corte finalizado, o garoto se lembrava de se perder completamente no movimento do pescoço que a treinadora fez para admirar seu trabalho. Fora nesse momento que ele reunira coragem para finalmente chama-la para sair... Que acabou em uma crise de espirros de Riko antes que ele conseguisse concluir.

Por que será que ela fez aquilo? Será que ela entendeu as minhas intenções e me interrompeu daquele jeito para não ter que dizer um “não” na minha cara?

Interrompendo seu fluxo mental, o som de algo metálico rangendo estalou em seus ouvidos. Tinham chegado ao ginásio. Riko estava parada no centro do portão, e olhava super satisfeita para o centro da quadra. Com um arrepio na espinha, Hyuga se lembrou que encontrara-a saltitando, o que não era um bom sinal na maioria das vezes.

O jogador seguiu seu olhar e fixou os vultos alinhados paralelamente à lateral maior do ginásio.

Os calouros já tinham chegado.

E eram só quatro.

O capitão passou adiante da treinadora e seguiu de encontro aos calouros. Koganei arrastava uma armação de metal onde guardavam as bolas. Mitobe separava os coletes.

—Yo, Hyuga!

—Koganei! – ele cumprimentou com um aceno.

Um pouco mais afastado, Mitobe fixou seus olhos arrastados em Hyuga e fez uma reverência com a cabeça. Era o seu típico “olá” mudo. Dando meia volta, o aluno do terceiro ano encarou seus candidatos para o time de basquete da Seirin.

—Olá! Sou Hyuga Junpei, capitão do time de basquete. Prazer em conhecê-los!

Foi aí que ele reparou nele.

Ele o vira de longe, mas jamais imaginara que fosse tão alto. Como diabos aquele garoto de quinze anos podia ter aquela altura? Lembrava muito a figura de Murasakibara, jogador da Yosen da Geração dos milagres. Aquele porte físico era raro, e assustador.

Passaria fácil dos dois metros, e tinha membros extremamente longos. Seus membros escuros eram marcados com as linhas bem definidas de seus músculos. O rosto era longo, a mandíbula era angulosa e bem marcada e seu queiro era quadrado e forte. Os olhos grandes e absurdamente negros carregavam uma gentileza que contrastava com seu corpo intimidador. Usava o cabelo raspado praticamente no zero.

—Olá! – o gigante de pele escura e cromada disse numa voz grave e musical – Prazer em conhecê-lo, Hyuga-senpai. Sou Kashka Buttenbender.

Educado! exclamou mentalmente o garoto de óculos.

—Oi – o que estava à direita do garoto enorme falou tão baixo que o capitão mal pôde distinguir o tom de sua voz.

Hyuga o encarou.

Meu Deus... Esse cara é algum tipo de delinquente!?

O calouro era relativamente alto. Devia passar dos 1,80 de altura. Seu cabelo tinha um tom loiro escuro, e era completamente repicado, sem nenhum padrão aparente. A ponta de suas mechas rebeldes tinham um forte tom salmão, que combinava com sua pele clara e rosada. Ele tinha um piercing de metal escuro logo abaixo de seu lábio inferior, e por algum motivo aparentava usar lápis de olho. Ao constatar esse detalhe, o capitão prestou atenção nos olhos do garoto.

Um arrepio correu sua espinha novamente.

Esses olhos... São mais inexpressivos que os do Kuroko. Não... tem alguma coisa diferente. Parece até o olhar de um psicopata! Esses calouros parecem perigosos.

O capitão se empertigou onde estava e engrossou o tom da voz.

—Nome – exigiu.

O garoto virou seus olhos vazios que tinham um tom arroxeado sombrio. Odiava apresentações.

—Marcus Vinicius.

Os dois são estrangeiros?, o capitão franziu a testa. Não era muito comum em um time japonês que dois estrangeiros chegassem ao mesmo tempo. Isso seria interessante, pois cada país tinha seu estilo, e uma mescla poderia diferenciar de uma forma bastante positiva o ritmo da Seirin.

Riko surgiu ao lado de Hyuga, interrompendo suas ponderações mentais. Logo atrás dela estava Tsuchida. Eles analisaram os calouros com cuidado.

—Muito bem, acho que esse ano poderemos dar continuidade à nossa tradição –comentou Riko sorrindo de forma maliciosa - Tsuchida foi checar como está a entrada para o terraço. Eles pararam de vigiar.

O veterano confirmou a fala da treinadora com um aceno da cabeça. Ela, por sua vez, andou até ficar entre Marcus e um outro calouro.

—Olá pessoal! Sou Aida Riko, técnica do time de basquete da Seirin. Prazer!

—O quê!? – os dois calouros que estavam à esquerda berraram em uníssono.

Não era comum para eles que houvesse uma garota comandando um time de basquete. Aliás, eles nunca viram aquilo em lugar nenhum. Até que isso era interessante... aquela era a treinadora do time vencedor da Winter Cup. Ela devia ser espetacular, e todos eles viram aquilo positivamente. Estavam mais ansiosos que nunca.

Marcus não exibiu reação nenhuma. Kashka apenas ergueu levemente as sobrancelhas grossas que eram um pouco mais escuras que sua pele.

—Muito prazer, Aida-senpai – o nigeriano cumprimentou.

—Oi – repetiu Marcus no mesmo tom monótono que usara com Hyuga.

—Bom... – ela ergueu a prancheta e checou a lista dos inscritos – Acho que daqui a pouco teremos o time completo. Enquanto esperamos... tirem suas camisas!

—O quêêê!? – exclamaram novamente os novatos da esquerda.

—Ai meu Deus... – suspirou Hyuga. Parecia um vídeo em replay do ano passado. Todos os calouros sempre esboçavam as mesmas reações – Todo ano a mesma coisa. Obedeçam!

O menino mais alto parecia surpreso, mas obedeceu prontamente, revelando um tronco torneado e extremamente definido. Marcus tirou sem cerimônia e continuou olhando para a frente com seu olhar vazio. Os outros dois pareciam bem nervosos. Riko seguiu a fila pequena de garotos, começando pelos novatos medrosos.

—Você tem bastante flexibilidade dos braços, mas ainda aproveitou muito pouco da sua força muscular. E você devia fazer mais exercícios aeróbios pra desenvolver resistência – dito isso ela fez anotações na prancheta.

—Eh? Como você sabe disso? – perguntou o da ponta. Seu olhar revelava seu total espanto com a análise da treinadora. Como ela sabia daquilo apenas com um olhar? Realmente, não fora à toa que a Seirin chegara tão longe.  

—O pai da treinadora é dono de um ginásio esportivo, e é responsável pelo treinamento de muitos atletas. Riko acompanhou o trabalho dele desde pequena, então aprendeu a enxergar dados ao olhar para um corpo – Hyuga sentiu uma leve sensação nostálgica, lembrando-se do dia que explicara a mesma coisa para Kawahara, Fukuda e Furihata.

A técnica estacou diante de Marcus. Os olhos vagaram pelos músculos do rapaz, passando por cada um deles, varrendo como uma especialista cada sombra do abdômen e dos braços. O que ela estava vendo parecia surreal, e ela não conseguiu esconder sua surpresa.

Mas o quê...?, seus olhos castanhos se arregalaram consideravelmente.

Ela piscou várias vezes, subindo e descendo pelos troncos e pelas pernas do novato. Do seu lado, Hyuga teve a mesma reação da última vez que ela agira assim: quando Kagami, Kuroko e os outros três calouros entraram no time. Ele ia interromper, mas esperou que ela analisasse o rapaz. Aquilo realmente parecia um replay do ano passado.

Tem alguma coisa muito estranha. Olhando para ele com a camiseta, jurei que os valores seriam abaixo da média. Mas todos os valores são ótimos, além do que eu julgaria ideal para um aluno do primeiro ano. E além disso... os valores não param de oscilar! É como se ele tivesse um físico completamente diferente de tudo o que eu já vi!

Riko franziu a testa, ergueu a prancheta e bateu a ponta da caneta três vezes contra o papel preso ali.

Isso não é normal. É como se eu não conseguisse ver do que ele realmente é capaz. É como se... seu próprio corpo tentasse esconder seu potencial!

Ainda incomodada com os valores do garoto de cabelos tingidos, a treinadora passou para Kashka, que esperava pacientemente balançando-se em seus calcanhares. Ao erguer os olhos para seu peito largo, Riko sentiu o corpo enrijecer. Foi a mesma sensação que teve ao olhar para Kagami no ano anterior, mas dessa vez, os valores de Kashka apontavam para um outro talento.

Meu Deus! Esses valores... São ainda mais altos que o do Kagami naquele dia! Além disso, ele não parece só ter talento bruto... Pelos valores ele trabalha seu corpo como um atleta já faz muito tempo! É como se eu estivesse olhando para uma outra versão do Murasakibara da Yosen!

Satisfeita e deslumbrada, Riko sorriu e fez suas últimas anotações. Aqueles calouros realmente pareciam promissores.

Nesse momento, uma barulheira adentrou o ginásio. Fukuda, Furihata, Kawahara e Kagami conversavam entre si sobre alguma coisa que ninguém conseguiu entender. Kagami trazia consigo uma sacola cheia de hambúrgueres, provavelmente do Maji Burguer. Ao perceberem a presença dos calouros, calaram-se e juntaram-se ao resto do time.

—Onde vocês estavam!? – ralhou Riko batendo o pé no chão – Eu avisei que o treino era às duas! Já são duas e vinte! Só por causa disso vou colocar vocês pra correrem vinte voltas ao invés de dez!

—O QUÊ!? – berrou o time inteiro em uníssono, com exceção de Kashka e Marcus, o primeiro apenas fez uma careta de horror e o outro sequer esboçou reação.

—No primeiro dia!? – protestou Kagami.

—Quem mandou chegar atrasado?

—Kagami, até parece que você não conhece a treinadora... – Hyuga fez uma cara de derrota e irritação.

O ruivo enfim pareceu prestar atenção nos calouros. O primeiro que encarou foi Kashka.

Olha o tamanho desse cara! Parece ter o tamanho do Murasakibara!  mas será que é tão bom quanto? com esse pensamento, o ás da Seirin estampou um sorriso desafiador no rosto.

—Ei, você – ele apontou para o garoto nigeriano. – Qual o seu nome?

—Kashka – o moreno abriu um sorriso gentil. – Kashka Buttenbender. Prazer em conhecê-lo, senpai.

Quem diria que um sujeito desse tamanho fosse tão educado, exclamou Kagami mentalmente pego de surpresa pela gentileza na voz do garoto.

Ele se voltou seus olhos para o próximo, Marcus. Não viu nada de espetacular apenas com o olhar, afinal, ele não era como Riko. Pelo contrário: a aparência de Marcus lembrava a ele o pessoal da américa. Então era dois estrangeiros ao mesmo tempo no time? Interessante.

—E você, qual seu nome? – ele pediu. Continuava sério, os olhos escarlates se aprofundando no olhar inexpressivo do calouro.

—Marcus Vinicius – seu tom era invariável e monótono, o que irritou profundamente o ruivo.

Não parece ser grande coisa, mas esse tom de voz e esses olhos vazios... São irritantes.

Kagami inclinou a cabeça e estreitou seus olhos para o garoto de piercing.

Parece daqueles que não quer nada com nada... mas ele realmente não é normal. Assim, como aconteceu com o Kuroko, não consigo distinguir qual o cheiro dele.

—Tsc – ele se virou para o próximo. – Nome.

—Kimura Jun! –exclamou o outro calouro, enrijecendo o corpo diante do olhar intimidador do veterano.

—E-eu sou Inoue Tsuneo! – o outro soltou antes que Kagami olhasse para ele. O ruivo o encarou.

Dois que cheiram a fracos..., lamentou-se em silêncio.

—São só vocês? – perguntou o ás enfim dando alguns passos para trás.

Alguém se aproximou por trás e acertou um belo soco em sua nuca. Kagami se curvou protestando.

—O-oi!

—Idiota! – a voz do capitão soou irritada. – Você pode ser o ás do time, mas não é o capitão. Pare com essa intimidação ridícula!

Os outros abafaram risinhos, que foram respondidos com um olhar furioso do ruivo.

—Bom, respondendo à sua pergunta, Kagami-kun, não são só eles. Está faltando um – Riko ergueu os olhos para a entrada do ginásio, e suas sobrancelhas se abaixaram numa expressão preocupada.

—Só cinco!? Eu tava esperando uma penca de gente depois que conquistamos a Winter Cup! –murmurou o ruivo, dando de ombros.

—Acho que a nossa conquista pode ter gerado o efeito rebote – Hyuga ajeitou os óculos. – Nos tornamos um time com reconhecimento nacional, ou seja, não é qualquer um que vai entrar. Isso pode ter intimidado os calouros.

—Mas...!

Enquanto eles discutiam, Izuki chegou. Os cabelos negros estavam um pouquinho mais longos, e os olhos de águia varreram imediatamente todo o aposento, observando os novatos e já pensando em trocadilhos para soltar.

—Olá pessoal! – cumprimentou o vice capitão. -Ah, esses são os novos membros? São novinhos mesmo!

—Izuki, por favor, não comece com os trocadilhos... – lamentou-se Koganei antes que o capitão Hyuga, já visivelmente irritado, batesse no vice-capitão.  

Kagami seguiu a discussão da falta de membros novos.

O garoto com cara de gato percebeu que Mitobe, que estava mais afastado do grupo, olhava inquieto para os lados e parecia querer dizer algo.

—O que foi, Mitobe?

Ele sacudiu a cabeça.

—Gente, o Mitobe tá perguntando cadê o Kuroko.

Todos pararam de discutir e olharam para os lados. Era fácil não notar a presença do jogador fantasma, porém daquela vez ele realmente parecia não estar ali em lugar nenhum.

—Ele não estava com vocês? – quis saber Hyuga dirigindo-se aos alunos do segundo ano.

—Estava – Kawahara coçou o topo da cabeça, vasculhando o ambiente assim como seu time, buscando cabelos azulados pelos cantos.

—É, estava— enfatizou Fukuda.

Já é o segundo ano e ninguém se acostumou com a falta de presença do Kuroko, lamentou-se mentalmente o capitão do time.

Impressionante como ele ainda consegue sumir, Riko pendeu a cabeça para o lado inconformada.

Vozes soaram do outro lado do ginásio. O primeiro a aparecer foi Kuroko. Trazia um copo com um canudo, que provavelmente continha milk-shake de baunilha, seu preferido. Ele tomava enquanto ouvia seu acompanhante dizer algo animadamente.

Quando chegaram perto o suficiente, Riko reconheceu o recém-chegado e sorriu

—Finalmente! – ela exclamou animada.

Os dois pararam de conversar e voltaram seus olhos para a treinadora. O rapaz ao lado de Kuroko tinha cabelos tão negros quanto a noite, repicados acima da cabeça, lembrando vagamente os cabelos do jogador da Shutoku, Takao, só que eram mais ondulados e irregulares. Os olhos, um negro e outro verde acastanhado, eram tão chamativos que chegavam a intimidar até mesmo Kagami, que imediatamente lembrou-se de Akashi Seijuro. Não disse nada, apenas encarou-o, buscando entender a aparência e no mínimo compreender o cheiro daquele calouro... mas não conseguiu sentir nada.

—Desculpe o atraso, treinadora. A fila estava muito grande lá no Maji Burguer.  E no caminho encontrei esse calouro. Viemos conversando.

—Desculpe, Riko. Vai me matar por atrasar no primeiro treino? – o novato ergueu os olhos heterocromáticos para sua veterana. Coçou os cabelos negros e sorriu animado.

Riko!?, Hyuga se empertigou mentalmente. Que intimidade é essa!?

—Vou te perdoar só porque estou muito feliz de te ver de novo! – e dizendo isso, a treinadora correu até o jovem e o abraçou.

Todos olharam chocados para os dois. Hyuga sentiu o rosto ferver de raiva. As orelhas queimaram, mas ele apenas ficou calado, empurrando os óculos para perto dos olhos.

—Esse é um velho amigo meu. – explicou Riko. – Nos conhecemos desde pequenos. Finalmente o convenci a se juntar à nós na Seirin!

—Yo! – o calouro ergueu a mão direita. – Eu sou Murakami Kazuko, prazer em conhecê-los!


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Notas finais do capítulo

GENTEEE! O QUE VOCÊS ACHARAM? Gostaram? Opinem, critiquem, sugiram! A opinião de vocês sempre é muuuito importante *-*
Ah! E não se esqueçam da sessão PAN! (Pergunte à Nana-chan!) Responderei às perguntas de vocês, perguntem à vontade, e postarei as perguntas e respostas também no tumblr e futuramente na pagina do face *-*
Não sei se a PixelTyller-chan vai entrar nesssa UHASAUHSUH mas acho que ela vai achar divertido xD
Se quiserem acompanhar mais meu trabalho, sigam: @sayuuinanahoshi ou sayuuiandnanahoshi.tumblr.com ou no face, Sayuui e Nanahoshi!
Beijos meus leitores queridoooos! E até o próximo cap o/!