P.O.V Matt

Acordei dez minutos antes de o despertador tocar (sim programo meu aparelho mesmo aos fins de semana para não perder o ritmo) e aproveitei para me adiantar, John já tinha levantado e estranhei isso, afinal um dos dois acordar mais cedo é difícil, os dois acordarem antes do barulho infernal soar e no mesmo dia, é quase impossível, acontece uma vez por ano e olhe lá.

Minha manhã já começou me deixando estressado, porque senti que algo iria acontecer, sei lá, acho que intuição de gêmeos, porque meu irmão me viu na cozinha e não me acalmou ao me dar “bom dia”, muito pelo contrário. Deixo vocês com suas belas palavras. 

— Oi maninho, to sentindo que algo vai acontecer hoje e, por mais que queira dizer que é bom, não posso mentir. Me fala que não sentiu o mesmo, porque aí eu desencano.

Não o respondi, apenas apoiei minha xícara de chá na bancada da cozinha e suspirei pesado olhando a janela e vendo o sol brilhar do lado de fora, Londres, fala sério, nem você me ajuda dessa forma. Eu sei que estamos na primavera, mas custava estar levemente nublado? Minha expressão de frustação diz tudo a John.

Ele também apoia sua xícara e encara o céu, bufa em sinal de impaciência e pisca três vezes seguidas, ele só pisca assim seguidamente quando está ou com medo, ou nervoso. Opto pelo nervosismo e vou me trocar, afinal querendo ou não, era uma bela manhã de domingo ensolarada para ficar em casa. Coloco minha bermuda azul, uma camiseta branca e um sapa tênis cinza, não sou muito fã de cores chamativas. John está igual a mim, porém sua bermuda preta e com seu típico converse branco.

Resolvemos ir até o Hyde Park e mando uma mensagem para Clara, mas não chega em seu celular, deve estar desligado ou no modo avião, mas me preocupa. Se fosse outro dia, estaria calmo, mas hoje isso não é um bom sinal. Mesmo assim tento afastar esses pensamentos de minha mente e aproveitar a tarde apenas eu e meu irmão, coisa que fazia tempo que não fazíamos.

—Tá tudo bem com ela, se não estivesse, ela com certeza te mandaria mensagem. – Smith lê minha mente.

— Eu sei. – minto, porque é nisso que quero acreditar e dizem que: uma mentira contada várias vezes, se torna uma história real.

— Trouxe um livro e você também, mas te conheço bem o suficiente para saber não pretende ler. Não hoje, então como o irmão perfeito que sou, vou conversar com você. – fala e eu rio.

— Não é uma má ideia, mas não sei sobre o que podemos conversar.

— Conta outra, qualquer coisa e sabe disso. Universo, espaço, tempo, relacionamentos, medos, planos futuros, férias, família, amizades, animais de estimação, clima, política, séries de TV, filmes, livros e... – ele continuar disparando as palavras se não o cortasse.

— Relacionamentos e planos futuros. – respondo antes que ele me leve a loucura, não é possível que seu pulmão não clame por ar.

— Tão previsível. – rola os olhos e eu o ameaço com meu olhar.

— Vai me deixar falar ou não? – ralho com ele, mas não o deixo de fato responder. — Não precisa me entender, nem tentar achar uma solução para o que vou te falar, só peço que me ouça sem interromper. Acha que pode fazer isso por mim?

— Claro maninho, o que precisar para te deixar mais tranquilo e calmo.

— Você me conhece e sabe que eu sempre penso no futuro, quer dizer no passado e presente também, bem na verdade estudo o tempo e sua relatividade, mas isso não vem ao caso agora. O que quero dizer é que penso no futuro que conhecemos, a construção humana e linha temporal óbvia. O que faremos depois da escola, do trabalho etc. Bom, meu medo é que eu e Clara terminemos depois de formados, porque cada um irá seguir um caminho e eu a amo demais para terminar por uma bobagem como essa, mas eu também tenho medo de ficar apenas com ela e me tornar aquela pessoa chata que reclama que deveria ter feito outras coisas com outras pessoas. O problema é que não me imagino ficando com mais ninguém que não seja ela. Eu só estou confuso e com medo do que o futuro nos reserva, ela é uma garota incrível e que eu não quero perder. – desabafo e vejo que meu irmão está olhando o horizonte, certeza que não prestou atenção a nada do que eu falei.

— Posso até te dizer para relaxar e ficar calmo, mas não vai adiantar. O que te afirmo com 100% de certeza é de que não adianta sofrer por antecipação, eu sei que é difícil, ainda mais para pessoas ansiosas como nós, porém tentar controlar o futuro só vai estragar o presente, além do mais, há tantas possibilidades para um mesmo futuro... – para de falar e dá de ombros, entendo esse sinal como algo do tipo “nem tente entender”.

Voltamos para casa e assim que entro em meu quarto, recebo uma mensagem de minha namorada. Ela me disse que algo havia acontecido e que precisava conversar comigo, mas que teve um dia complicado e corrido demais para me ligar naquele momento, por isso pediu para nos encontrarmos mais cedo na manhã seguinte. Assim poderíamos conversar antes da aula começar, só espero que não seja nada grave e que eu não precise ameaçar ninguém, nem brigar com a pessoa.

Porém, essa mensagem só me fez pensar que realmente algo iria acontecer durante o dia e ao analisar minha tarde, foi tudo tranquilo demais. Como disse mais cedo, até o céu estava calmo e como minha avó costumava dizer: antes da tempestade vem a calmaria ou seria antes da calmaria vem a tempestade? Já não me recordo tanto, mas o fato é que quando o mar está calmo demais, todos desconfiam. E o meu “mar” estava quase parado de tão tranquilo. A respondo e coloco o aparelho para carregar, só para então virar de lado e fechar os olhos.

Durmo rápido, porque sei que quanto mais rápido dormir, mais rápido eu acordo e mais rápido descubro o que houve com minha garota impossível e quais medidas teremos que tomar para ajudá-la.