My Impossible Girl escrita por Doctor Alice Kingsley


Capítulo 26
Porque rosas também têm espinhos


Notas iniciais do capítulo

AVISO DE GATILHO: ABUSO
Mais uma vez quero agradecer aos comentários que recebi essa semana, fico muito feliz com cada um deles. Esse capítulo em específico, escrevi pensando no título. Geralmente, escrevo primeiro e depois escolho o título. Porém, dessa vez tive a ideia de uma pequena coisa, logo veio o título na minha mente e eu escrevi o capítulo. Só queria compartilhar essa curiosidade mesmo com vocês hahha. Espero que gostem e nos vemos lá embaixo.



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                                      P.O.V Clara

 Estou em meu quarto aproveitando as últimas horas do domingo, porque sei que no dia seguinte terei que acordar cedo. Olho para meu criado-mudo e vejo meu diário, resolvo ler o que documentei de minha vida e quanto mais leio, mas custo a acreditar que daqui um mês estarei de férias.

As férias de verão sempre foram as minhas preferidas, mas confesso que estou um pouco triste com isso dessa vez, já que significa meu último ano na escola. Por mais que eu diga e repita que odeio a escola, sei que sentirei falta do ambiente, das pessoas e dos professores quando me formar.

Folheando as páginas de meu próprio livro vejo como tudo mudou. Minha mãe se foi, eu comecei a namorar o irmão do amor da vida da minha melhor amiga, Rose começou de fato a namorar John, Jack e eu nos aproximamos, Alice veio morar conosco, Amy e Rory vão começar o Fundamental II e papai está passando cada vez mais tempo em casa com a família.

365 dias podem parecer passar rápido, mas quando paramos para analisar tudo o que de fato aconteceu e o quanto crescemos/amadurecemos, então esse 1 ano parece ter sido composto de, no mínimo, mais 3 anos. Como todos sabemos, o tempo é relativo, mas todos concordam que ele passa tão rápido quanto lento, porque o tempo é a coisa mais paradoxal que existe.

Não consigo evitar pensar no que Matt me disse logo no primeiro dia em que nos conhecemos, ele me disse que quando menos esperasse estaria andando de mãos dadas com ele pelos corredores do colégio. Ele estava certo.

Mas é essa declaração que me faz pensar que, desde o primeiro momento em que ele pôs os olhos em mim, achou que eu poderia ser sua namorada e isso me deixa extasiada, porque, no fundo, eu queria muito saber como era beijar aqueles lábios e como seria me relacionar com ele.

Depois de sete meses de namoro, eu posso afirmar com todas as letras que eu amo esse garoto e que jamais me cansarei de seus beijos. Que me sinto protegida e segura ao seu lado e que adoro caminhar de mãos dadas pelas ruas com ele. Nunca pensei que fosse me tornar alguém tão sentimental e que é apaixonada por cada detalhe do relacionamento.

Porém, acho que é isso que faz com que eu o ame cada vez mais e o respeite como o homem, o amigo e o namorado que é. Sempre há algo novo para se descobrir ou uma pequena mudança na rotina para realizar.

Como disse antes, meu pai resolveu passar mais tempo com a família e decidiu sair uma vez por mês com um filho, ou seja, esse mês era a vez de Amy e Rory, no próximo seria a vez de Jack, daqui dois meses a minha e assim por diante.

Por isso, nessa linda tarde de primavera eu estava sozinha em casa com o casal “não somos um casal, mas somos um casal” Jack e Alice. Já que meu papel não é ser vela e muito menos o Lumiére, me tranquei em meu quarto para não ter que presenciar nenhuma cena que eu não queira.

Ligo minha TV e coloco no Netflix, antes de dizer qual filme eu vou ver, gostaria de deixar aqui meu mais sincero “obrigada” para quem quer que tenha inventado esse streaming maravilhoso. Agora sim, o filme que vou ver é High School Musical 2. Eu poderia assistir O Jogo da Imitação ou Roma, mas a minha criança interior clama pelo segundo filme da trilogia.

Cantar as músicas é inevitável, bem como dançar. Depois de alguns, muitos, anos assistindo a esses filmes fica impossível não decorar as letras e as coreografias e todos esses números são contagiantes, especialmente os números de dança em grupo. Como por exemplo, a coreografia de “I Don´t Dance”.

Aliás, pausa para falar sobre essa música. Chad: como você me diz que não consegue dançar enquanto dança? E já tendo dançado no anterior? Não faz o menor sentido, mas tudo bem. Seguimos em frente e deixemos a lógica de lado por um instante.

Assim que os créditos acabam, eu desligo a TV e desço para a sala. Jack e Alice estão sentados no sofá vendo uma série qualquer, ela diz que é a série preferida dela, mas eu não entendo nada, porque é brasileira. Tem até outro nome, acho que novela.

Jack também não deve entender muito bem, visto que está com o olhar perdido e com a expressão de “what the hell is going on?”, traduzindo livremente “que diabos está acontecendo?”.

Mesmo assim, me sento ao lado deles e começo a assistir o episódio de hoje. No final, entendi que novelas são como séries de apenas uma temporada só, dividida em capítulos e exibidas durante meses em três horários diferentes, porque são histórias diferentes. É divertido e ela, obviamente, colocou com legenda em inglês para que pudéssemos acompanhar.

O capítulo acaba. Alice sobe para meu quarto e diz que vai telefonar para a mãe, por isso me avisa que vai usar fones e não vai escutar nada. Jack lembra que precisa concertar o motor do carro (na verdade apensa parafusar um parafuso que soltou) e vai até o porão buscar as ferramentas, já avisa que pode demorar para encontrar e que dificilmente vai ouvir algo, apenas se for um grito muito alto.

Assim que os dois saem do recinto, a campainha toca e eu corro para a porta pensando ser meu pai e meus irmãos, mas me deparo com a última pessoa do universo que gostaria de ver hoje. Ele pede para entrar, porque quer conversar comigo e mesmo tendo sido muito clara com ele o deixo entrar, porque não quero causar confusão com seus pais, que diga-se de passagem, observavam a cena de longe.

Não me importo em esconder minha cara de insatisfação e deixo cristalino que preferia estar fazendo qualquer outra coisa do que conversar com ele, mas eu não tinha mais escapatória, era falar e colocar um ponto final ou arrastar ainda mais a situação. Querendo ou não, eu precisava ouvir sua versão.

— Sabe, você foi um pouco autoritária quando me disse para não falar mais com você sem nem ao menos uma explicação de minha parte. E é rude virar as costas para os outros quando estão querendo falar e novamente, você fez isso comigo. Eu não entendo o porquê de me odiar. – falou e me segurei para não revirar os olhos nesse momento. Autocontrole, você está de parabéns.

— Bom, você me chamou de “gatinha” em um jantar na frente da minha família, não me respeitou, insistiu em sair comigo mesmo sabendo que eu namoro e mais uma vez, porque é importante frisar: você não me respeitou. – falo olhando no fundo de seus olhos e desejando que ele vá embora.

— Me dá uma chance de te mostrar que sou melhor que o Matt. Nós poderíamos ser uma dupla incrível e um casal melhor ainda. – diz se aproximando de mim e eu o empurro para o afastar de mim.

Aparentemente ele não sabe ouvir um “não” como resposta, porque se descontrola e me pega pelos ombros, me joga contra a parede, joga o peso do seu corpo em mim e tenta me beijar a força. Eu desvio o máximo que posso, mas ele é mais rápido e coloca a mão por dentro de minha blusa e passa a mão por cima de meu situã. Finjo entrar em seu jogo e mordo seu queixo tão forte, que chega a sangrar. Ao mesmo tempo bato em seu braço e ele tira suas mãos de mim. 

Ele fica atordoado e aproveito para dar uma joelhada em suas partes baixas e cai no chão. Minha vontade é de espancar ele, mas aí eu perderia a razão e não poderia fazer o B.O.

—Saia agora da minha casa e não volte nunca mais! – grito — Some da minha vida, inferno! – ele continua parado e me olha desafiador. —Eu vou contar até três, se não sair, eu vou chamar a polícia!! 1, 2 – ele não se mexe e eu olho com raiva. — 3!

Pego meu celular e disco o número da Polícia de Londres e nesse momento, Jack aparece na porta da cozinha e vê Danny Pink com o queixo ensanguentado e deitado no chão. E meu irmão sabe que, se ele está assim, significa que precisei me defender. O pega pelo colarinho da camisa e o manda ir embora. Pink está correndo para fora de casa quando a polícia chega.

— Senhorita, recebemos uma ligação desse endereço. Está tudo bem? – a policial pergunta gentilmente.

— O homem que saiu correndo de casa é meu vizinho. Ele entrou aqui e abusou de mim. Disse coisas horríveis e chegou a me tocar. Gostaria de prestar um B.O. – respondo olhando apenas para ela, tamanha era a vergonha.

Depois de muitas horas sou liberada, já com o Corpo Delito feito e o B.O. prestado. Jack volta em completo silêncio e eu o agradeço mentalmente por isso, não quero ter que tocar nesse assunto. Não agora pelo menos, foram tantas vezes contando a história que não quero ter que repetir uma quinta vez.

Chegamos em casa e ele me coloca sentada no sofá. É só quando ele me dá um copo d´água que a ficha cai. Eu poderia ter sido estuprada na minha própria casa. A ânsia vem e corro para o banheiro vomitar. Eu tenho nojo dele, espero que seja deportado do país.

— Clara? – Alice entra no banheiro e segura minha mão.

Subimos ao meu quarto e ela deita comigo. Me abraça e eu me permito chorar, desabar em seu ombro. Passei o dia sendo forte e com a cabeça erguida, porque sabia que nada disso era culpa minha. Mas, como em qualquer situação de humilhação extrema, quis chorar assim que entrei em casa.

— Eu sei que já sabe de tudo o que vou te falar, mas não pense em nenhum segundo que a culpa foi sua. A sociedade tem essa mania horrível de culpar a vítima e vão usar qualquer argumento para fazê-lo. Não dê ouvido a essas pessoas, nunca. Você é forte. Você é linda. Você é dona de si. E pessoas assim, costumam deixar os outros com raiva e inveja. Não abaixe nunca a sua cabeça. Essa princesa não merece deixar a coroa cair por causa dos outros. – ela diz e eu sorrio com sua última frase. – Além do mais, ele só nos provou mais uma vez que toda rosa tem seu espinho.

— Você é incrível. Obrigada por me apoiar, de verdade. Pode dormir essa noite comigo? – digo a abraçando e ela faz que sim com a cabeça. Realmente, eu não poderia ter escolhido uma amiga melhor.

Durmo sem pensar no que havia ocorrido anteriormente, afinal chorei tudo o que tinha para chorar e eu sabia que as coisas iriam se acertar. Na manhã seguinte contaria tudo para Rose e daria um jeito de dizer a Matt e acalma-lo. Não precisava de mais alguém brigando com Pink pelo o que aconteceu. Eu sentia que no final, tudo daria certo e se há algo que nunca falha, esse algo é a minha intuição.


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Notas finais do capítulo

Diferente dos outros capítulos, nesse também vou deixar um lembrete. O que a personagem Alice disse é a mais pura verdade: a culpa NUNCA é da vítima, não importa o que tenha acontecido, ela NUNCA será da vítima.
Espero que tenham gostado, não se esqueçam de comentar e nos vemos no próximo capítulo. Beijos com gosto de cupcakes azuis.



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