Mudblood escrita por Ella


Capítulo 3
Razões


Notas iniciais do capítulo

Heeeeeeey, moços e moças
Aqui estou eu, radiante depois de reler os comentários. Depois de tirar uma nota horrível num teste de desenho geométrico, só vocês pra me botarem pra cima. Mas como diria a rainha Inês Brasil, é aquele ditado né: Vamo fazer o que.
Espero que gostem do capítulo ♥



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   Quando ele disse que não me deixaria em paz, ele estava falando sério. Muito sério.

 — Meu amor por você é como Pi; irracional e interminável.

   Sério? Sério? Não, tipo, sério? Quando o destino estava lá decidindo os casais, escrevendo fanfics e tal, ele achou que aquele cara feito pra mim? Que era minha cara metade? Que Taylor Fucking Darling era a minha alma gêmea? Seria insultante se eu acreditasse nessa idiotice.

   — Você não me ama, a gente se conheceu semana passada – rebati.

   — Ainda.

   Uma semana tinha se passado desde o fatídico dia em que conheci Taylor. Minha vida tinha se transformado num inferno desde então. Eu não tinha paz. Ele sentava no meu lado nas aulas e usava aquele sotaque, que ele sabia que me afetava, pra me desconcentrar. Ele e a Norrie criaram uma aliança, provavelmente tentando me enlouquecer.

    Na Inglaterra devia ser normal seguir as pessoas, dar uma de stalker. Porque foi basicamente isso que ele fez na última semana.

   — Eu amo o Leopold – apelei. E por toda essa semana, eu vim tentando fazer ele entender o motivo pelo qual isso nunca daria certo.

   — Acho bem difícil.

   — Posso saber por quê? Ele é bonito, engraçado, inteligente e não fica debatendo o nome do nosso primeiro filho. – Okay. Talvez Taylor não debatesse, mas ele me olhava como se já tivesse planejado. Um olhar romântico demais, doce demais, verdadeiro demais. Amedrontador.

   — Claro que não, iria ser Leopold Jr. Jr. de qualquer jeito. Além do mais, Norrie me disse que não.

   Ah, claro que eu não podia esquecer o fato de que Norrie tinha achado um companheiro pra falar mal do Leopold. Enquanto ela fazia as piadas, ele garantia que Leo permanecesse pelo menos dez metros longe de mim. Taylor era um pé no saco.

   — Você vai com assistir com a gente hoje? – Nunca quis tanto ouvir um não na minha vida. Mas o destino era bem filho da puta.

   — Claro que sim – sorriu, provavelmente sabendo as coisas que estavam correndo minha mente. Norrie resolveu continuar com a ideia de assistir Harry Potter e insistiu para que o Taylor fosse. Não passava de um plano fajuto pra me aproximar dele.

   — Você nem gosta de Harry Potter! – Minha voz saía mais como “Por favor, não vá!”.

   — Nem a Norrie, nem o Alex, nem o Elliot. - Meus ombros se encolheram.

   — Eles eu sou obrigada a aturar.

   — Você também é obrigada a aturar o futuro amor da sua vida.

   — Espero que não esteja falando de si mesmo.

   — Quem mais teria a capacidade de transformar seu coração de gelo num lugar quente e amoroso?

   E ele era convencido. Sempre tinha uma piadinha pronta, uma resposta feita, uma cantada planejada, só esperando pra ser lançada. Ele conseguia ser mais irritante que Judith e seu grupinho. Ele ia além. Eu tinha uma lista ao lado da cama, onde eu listava todos os motivos pelos quais eu odiava ele. E era imensa.    

   Motivo 1: Ele era incrivelmente, loucamente, idiotamente sexy.

   E isso era ridículo. Se Deus nos mandou resistir às tentações, ok, mas que ele fizesse as coisas um pouco mais justas.

   Motivo 2: Ele realmente achava que existia algo entre nós.

   Pelo o que Elliot me disse, depois de eu ter ameaçado as cordas do violão dele com o meu dente, Taylor tinha conversado com Leo, falando sobre a sua relação comigo (?). Ele tentou intimidar o Leo, usando a habilidade de Neandertal para fazê-lo ficar longe de mim. Qual era o próximo passo? Fazer xixi em mim para marcar território?

    Motivo 3: Estava roubando meus amigos de mim.

   Eu era possessiva com meus amigos. Fomos sempre o trio de ouro – Alex era a Hermione, Norrie era o Rony e eu o Harry -, e eu não queria que mudasse. Viramos um trio de quatro depois do Elliot. Eu o chamava de Neville, mas o Alex gostava de dizer que continuávamos um trio, já que ele e o namorado eram um só. Pausa pra bocejar.

   E então, Malfoy chega e tenta arrancar eles de mim. Discute sobre filmes românticos com a Norrie, falando sobre a porta também caber o Dicaprio. Falava sobre teorias da conspiração com o Elliot, como se o Triângulo das Bermudas fosse o lugar mais interessante do mundo. O Alex também o adorava, finalmente tinha encontrado um louco que gostava de jogos tanto quanto ele.

   Motivo 4: Ninguém odiava ele além de mim.

   Todos pareciam armar um complô contra mim. Minha mãe, meus amigos, os professores, meus colegas e até as moças da cantina pareciam amar ele. Nem preciso dizer que Judith tinha feito dele o seu mais novo alvo. Que fizesse bom proveito.

   Motivo 5: Blindado contra as minhas tentativas de irritar ele.

   Eu nunca falhava nesse quesito. Era um super poder. Quando eu queria irritar alguém, eu conseguia. Falar sobre meu pai com minha mãe, sobre meu desprezo por Crepúsculo com a Norrie, sobre plásticas de nariz com Judith e sobre política com o Alex. O Elliot eu nunca tinha tentado irritar, era a exceção. Não se começa uma guerra quando se está ciente de que o oponente é mais forte que você.

   Mas Taylor era extremamente calmo. Era anormal. Eu reclamava do gosto dele pra música, mesmo que eu tivesse uma ou duas músicas do Arctic Monkeys no celular, mas ele apenas dizia que Mardy Bum tinha sido feita pra mim. Falei dos cabelos platinados dele, do quanto aquilo era estranho, ele riu e disse que gostava do jeito que eu falava Malfoy. Eu falava que o sobrenome dele era estranho e engraçado, ele dizia para não zombar porque um dia seria o meu também.

   A lista tinha muitos outros motivos, mas não conseguia pensar direito quando Malfoy analisava a minha marca de nascença na nuca, sua respiração batendo em minha orelha.

   Ele podia ter o sorriso do Coringa, o cabelo do Draco e o olhar do Hannibal Lecter, mas, definitivamente, ele tinha a respiração do Darth Vader.

   — Será que dá pra respirar mais baixo? – sussurrei irritada. Toda pele do meu pescoço estava arrepiada, por isso ele tirou os dedos de lá, soltando um riso sussurrado.

   Babaca idiota.

   O sinal tocou lá fora e todo mundo ignorou os avisos da Sra. McAllan. Taylor parou pra conversar com ela sobre o assunto de hoje, parecendo sinceramente interessado na história de Kentucky. Ela parecia radiante por alguém finalmente se importar com a matéria dela.

   Arrumei meus materiais o mais rápido possível, tentando fugir dele enquanto dava tempo. Taylor leu meus pensamentos, olhando pra trás e me vendo correr pra fora da sala. Em segundos ele já estava do meu lado.

   — Fugindo de mim, Winnifred? – A leve menção do meu segundo nome fez todos os fios de cabelo do meu corpo se arrepiarem.

   Ele sorriu pra mim, algo do tipo “Eu sou um demônio e farei da sua vida meu inferno particular”. Talvez fosse por isso que ele estava sempre rindo; ele sabia meu nome inteiro. Claro que algum dos desertores que eu chamo de amigos havia falado.

   — Claro que não, Darling. Por qual motivo eu faria isso? – Ignorei a provocação dele. Se achava que me chamar de Winnifred me irritava, ele estava completamente certo, mas eu não ia deixá-lo saber disso.

   — Ás vezes tenho a impressão de que você realmente não gosta de mim – aquilo não soou como uma piada pra mim. Ele parecia triste. Talvez meu coração de gelo tenha sentido um pouco de culpa, mas ignorei. Eu estava certa, não é?

   O silêncio permaneceu.

   — Coisa da sua cabeça, claro. – Ele percebeu o sarcasmo. Passou a mão pelos cabelos, tentando alinhar ainda mais os fios loiros, parecendo desconfortável. Me afastei, antes que ele fizesse com que me sentisse realmente culpada.

   É melhor assim, Andy, eu repetia em minha cabeça.

   Diferente das outras vezes, ele não tentou ir atrás ou me fazer ficar.

 

 

 

 

   Apertei a campainha mais uma vez, o som já tinha começado a me irritar também.  Um Taylor risonho apareceu na porta com a boca cheia de pipoca.

   — Oi – foi a única coisa que saiu da minha boca.

   — Oi – ele olhou pra mim por um tempo, parecendo esperar algo a mais sair da minha boca. — Quer entrar?

   — Claro – o clima era estranho. Eu queria dizer que a casa era praticamente minha, que aquela era uma pergunta idiota. Mas o clima estava esquisito. Ele parecia tímido, eu queria fugir do olhar dele o mais rápido possível.

   Coloquei o pote de sorvete de morango da Norrie no braço dele e fui direto pra cozinha. A bagunça era previsível, fazia parte da nossa rotina. Alex estava brigando com Norrie, tentando convencer ela a não colocar V de Vingança, já que ele queria assistir O Sexto Sentido. O combinado tinha sido Harry Potter, mas o que era mais uma traição no meio de tantas outras?

     Eu precisava comprar novos amigos.

   Me sentei na bancada, olhando eles brigarem. Elliot, o único ser racional do grupo, sugeriu uma votação. Elliot permaneceu firme e forte ao lado do namorado enquanto eu fiquei do lado da ruiva, mesmo que sem nenhuma vontade de ver ela recitar todas as falas do filme perto de mim.

   Ela andava um pouco pra baixo esses dias, falando um pouco demais sobre eu e Taylor, tirando a atenção de si mesma. Mais que o habitual. Ela parecia genuinamente feliz pra quem olhava de fora. Se eu não conhecesse ela mais do que conheço a mim mesma, diria que ela  estava bem.

   Taylor foi o último a escolher. Ele olhou pra mim por um tempo e finalmente escolheu o mesmo que Norrie e eu. A ruiva deu pulinhos e abraçou ele, depois correu e foi pegar a sua máscara assustadora de anonymous. Elliot riu da cara emburrada do namorado, beijou o canto de seu lábio e o seguiu para a sala. Desci para pegar o sorvete de chocolate da geladeira, tentando ignorar a presença do loiro do meu lado.

   — Ela realmente gosta tanto desse filme? – a voz rouca de Taylor fez cócegas na minha orelha. Juntei todo o auto controle que tinha para não derrubar o pote no chão.

   — Sim, mais por causa do Vee, gosta dele quase tanto quanto do Gerard Butler naquele filme onde ele tem a cara deformada.

   — Eu não gostaria tanto de filmes românticos se não tivesse uma marca. — Quis sair de lá assim que ele citou a última palavra. Não, sem covardia, Andy. — E você?

   — Ah, eu gosto do Gerard – desconversei, procurando colheres por toda a cozinha. Onde diabos elas foram parar? Eu simplesmente não conseguia me fixar em um pensamento com ele por perto.

   — Não, eu quero dizer se você fosse tipo ela, sem uma marca. O que você faria? – Ele me parou, me encurralando na pia. Tentei fugir do olhar inquisidor dele, desviando meu olhar para qualquer outro lugar. Ele fixou os olhos em mim e segurou meu queixo. Ele parecia saber que se me olhasse daquele jeito, iria destruir minhas chances de fuga.

   — Eu já ajo como se não tivesse uma marca, Malfoy.

   Atrás dele estava uma daquelas colheres gigantes que nunca descobri pra que servem. Me esquivei dele e peguei ela, indo pra sala e deixando Taylor pra trás.

 

 

   — Por baixo dessa carne existe um ideal. E ideias nunca morrem – Eleanor tentava dizer enquanto os soluços pareciam aumentar. Taylor parecia assustado, Alex parecia irritado, Elliot provavelmente estava questionando todo o sentido do filme, na metáfora por trás da sociedade distópica, ou qualquer outra coisa que envolvesse pensamentos profundos e questões existenciais.

   Eu estava rindo.

   Nada era mais engraçado do que Norrie limpando o nariz na capa preta que estava usando. Ok, talvez a cara do Taylor fosse um pouco mais. Ele parecia se arrepender totalmente de ter escolhido o filme. Não adiantava, ela também chorava com O Sexto Sentido toda vez que o personagem descobria que estava morto.

   Quando terminei de limpar as lágrimas de riso do meu rosto, comecei a citar as frases junto com Norrie, abraçando ela para tentar ignorar a mão de Taylor tentando segurar a minha numa parte romântica do filme.

   Norrie acabou tirando a máscara do rosto, ficando só com a capa. No final do filme, todo mundo acabou chorando. Menos Taylor. Ele parecia disperso demais, só olhava sem expressão para a televisão. E ficou lá, mesmo quando Alex e eu começamos uma guerra de milho de pipoca.

   Norrie foi para a cozinha e ele a seguiu, levando os pratos sujos. Elliot e Alex passaram a brigar com almofadas quando eu percebi que a mãe da Norrie chegaria a qualquer momento. O casal maravilha não parecia muito disposto a limpar a bagunça comigo. Em outro dia, eu teria feito eles limparem mas agora eu só queria ficar um pouco sozinha.

   Precisava da vassoura, que parecia não estar em canto nenhum da casa. Fiz questão de procurar em todos os lugares antes de ir pra cozinha, mas no final tive que ir até lá. Andei devagar, sem muita coragem de ir até. Quando cheguei, tentei tomar coragem e encostei a testa ao lado da porta. O sussurro de Norrie era tão baixo que me perguntei se não era algo da minha cabeça.

   — Ela só precisa de um tempo, sabe. Você é exatamente o tipo dela, exatamente o tipo de cara que ela precisa.

   — Eu realmente tento, ok? Eu pareço um bebê chorão, mas a verdade é que as coisas pioram. Se ela pelo menos gritasse, me empurrasse, me xingasse, sei lá. Mas ela parece achar que se ignorar minha existência eu vá sumir junto com a marca.

   — O que você esperava? Vocês se conheceram uma semana atrás, ela é teimosa, cresceu te odiando sem nem mesmo te conhecer. Dê um tempo á ela, Malfoy.

   — Malfoy? Você também? – ele riu fraco.

   — Malfoy... Darling... Tanto faz.

   Eles ficaram em silêncio por um tempo, enquanto a Norrie começava a recitar as frases do filme mais uma vez. Tirando isso, só o barulho dos pratos era audível.

   — Eu só... Ela age como se eu fosse o ser mais irritante e entediante que teve o desprazer de conhecer. Mas isso é impossível, não é? Ela me odiar? Eu também sou a alma gêmea dela.

   — Dê tempo ao tempo. Mas continue a nadar – aí ela começou a falar baleiês como a Dory de Procurando Nemo. Taylor riu e começou a falar junto com ela. Eles pareciam dois idiotas.

   — Mas, sabe, eu sinto o porquê de ela ser a minha alma gêmea – falou, um sorriso no canto da boca, parecendo ter milhares de entrelinhas.

   Me afastei da porta, me sentindo um monstro. Tudo bem, ele e eu realmente nunca ficaríamos juntos, eu não o suportava. Mas eu podia mostrar isso pra ele, não precisava ser tão insensível. Ele tinha me esperado por toda a vida. Eu nunca tinha visto as coisas por esse lado.

   Bem, talvez eu tenha visto, mas ignorado.

   Mandei Elliot pegar a vasoura na cozinha pra mim e esperei na sala. Depois de limpar tudo, todo mundo ficou conversando. Taylor parecia mais leve, fazendo tudo automaticamente ficar leve também. Peguei minhas coisas e me despedi de todo mundo. Quando eu fizesse o que tinha em mente, ninguém me impediria de correr pra casa.

   — Malfoy... Er... Darling? – minha voz soava firme e decidida. Bem diferente de mim. Ele virou o rosto pra mim, parecendo se perguntar se realmente havia me ouvido chamar ele. Indiquei a cabeça para a porta, chamando ele. O loiro se levantou prontamente, olhando pra Norrie antes.

   — Hã, oi? – ele perguntou incerto. Criei toda a coragem que havia em mim.

   — Sábado, sete da noite, sem jantar em restaurantes chiques, nem qualquer coisa que me force a usar um salto. Eu não gosto de comida chinesa e comida tailandesa me deixa enjoada. Boa noite.

   E com isso, abri a porta e saí correndo, sem coragem de olhar pra cara de perdida dele. Me arrependi do que tinha feito no minuto seguinte, quando já estava na esquina, com preguiça demais para voltar e fazê-lo esquecer.

   Eu tinha um encontro nesse fim de semana.


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Notas finais do capítulo

WOW! Antes que vocês achem que eu fui rápida demais, eu quero dizer que eu ainda quero que se estabeleça uma amizade entre os dois antes de acontecer um romance de fato. Eu vou tentar fazer isso em menos de quinze capítulos, então tenham paciência e me avisem se parecer corrido demais pra vocês.
Obrigada a todo mundo que comentou, acompanhou e favoritou. Obrigada aos fantasminhas também, só o fato de lerem já me faz feliz. Mas comentem, juro que não mordo ♥