Mudblood escrita por Ella


Capítulo 10
Barulho


Notas iniciais do capítulo

Oieeeeee, moços e moças ♥
Bom, dessa vez vim sem desculpa e isso quer dizer que vocês podem me jogar algumas pedrinhas, tá? Mas esperem eu agradecer pela recomendação (sério, cês acreditam???????) que eu recebi da DIVA, LINDA, PERFEITA DA ALEX, que só de lembrar já fico com um sorriso bobo no rosto.
Sério, super obrigada ♥
Chegamos no capítulo 10 e se estivéssemos no planejamento original da fic, a fic acabaria aqui. Era pra ser uma short fic sem compromissos. Mas como a autora que vos fala é bem merda em planejamento, a fic se estendeu por mais seis capítulos. Cês me aguentam por mais seis capítulos?
E desculpinha pela demora em responder alguns comentários, a chuva é ótima pra escrever mas é péssima pra entrar na internet.
Okay, vão ler os capítulos e depois escolham as pedras.
Beijos ♥



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   A verdade é que eu não odeio Natal. Isso é seletivo demais. Eu odeio toda e qualquer data comemorativa, qualquer coisa que dê uma brecha para encontrar quem eu evito todo o ano, qualquer dia que me obrigue a colocar um sorriso no rosto.

   Neal não sabe disso. Deve ter algo a ver com o fato de que ele não estar presente em nenhum dos meus dezoito dias de vida. 

   Ou talvez tenha outro motivo, quem sabe.

   Acontece que ele resolveu me mandar uma carta. Meu primeiro impulso foi jogar na de lixo ao lado. Eu não sou o ser mais racional, se surpreenda. Mas como curiosidade eu tenho sobrando, voltei lá e peguei.

   Odeio o sentimento de culpa que anda comigo quando faço isso. É tão errado querer Neal? Melhor formulando, é tão errado querer a ideia que Neal representava? A de um possível pai presente, alguém que me chamaria de princesa ou que me daria bronca quando visse minhas notas?

   Basicamente, sim. É errado.

   Por isso assim que entro no quarto me sento na cama e fico olhando para o papel por segundos, minutos, horas. Tanto faz.

   Quando enfim me levanto e vou até ela, me sinto mal. Leio e releio o nome dele várias vezes, anoto a rua na qual ele está morando, analiso a letra apressada dele, me pergunto se era assim que ele escrevia as entrevistas. Minha letra também é ilegível. Isso se passa hereditariamente?

   Deito-me dessa vez, chorar em pé é desconfortável. Rasgo a parte de cima do envelope e quando o viro, uma pulseira de prata cai na minha perna. O metal não é mais tão brilhante e uma das pedras está faltando. É irrelevante, coloco embaixo travesseiro.

   A carta não posso ignorar, ela é grita demais.

 

 

 

   — Tem certeza de que essa é uma boa ideia? – Jenn tenta argumentar enquanto a empurro porta a fora. Claro que ela não consegue fazer isso enquanto consigo ver todos os dentes dela formarem um sorriso.

   — Claro que sim. Não existe presente melhor pra mim que a sua felicidade. – Meu olhos reviram enquanto digo a frase. Muito piegas.

   Mesmo que ver ela contente valesse muito pra mim, claro que o meu presente não seria aquele, eu daria um jeito de extorquir um Notebook novo dela depois e umas aulas de direção com ele. Mas hoje seria um dia especial, se não pra mim, pra eles.

   O Kurt parece tão feliz quanto ela. Na verdade, todos estão felizes por eles, menos a pequena megera. Mackenzie está bufando em um canto da sala, parecendo querer jogar a sua boneca-unicórnio diretamente na cabeça de Jenn. Mesmo que a pequena goste de Jennevive, odeia ver os dois juntos. Elliot, Alex, Taylor e Norrie que cuidassem dela.

   Momento do senso comum: O dia de seu aniversário é o dia em que você tem mais poder de manipulação. Eu acabei de conseguir fazer Jenn e Kurt irem num encontro, em vez de ficarem comigo reclamando por eu não querer cantar parabéns ou comer o bolo vegano horrível dela.

   Eu não queria nada disso, não é mais um desses momentos que vocês diz "Andy Hill odeia tudo e todos", apenas não estou nem um pouco animada pra fazer dezoito. 

  Minha infância não foi do jeito que os filmes retratam, minha adolescência também não. Completar a maioridade não é tão interessante quanto você acredita que seja.

   Não é “Eu tenho dezoito anos agora, wow. Já sinto as minhas espinhas diminuírem, o senso de responsabilidade tomar conta de mim, a vontade de sair de casa, de trabalhar.”, é mais “Merda, agora eu posso ser presa”.

   — Se comportem, crianças – grito enquanto Jenn e Kurt sobem na moto. Eles parecem dois adolescentes dos filmes dos anos noventa. O vestido amarelo de bolinhas é o preferido dela, e ficaria horrível e brega em qualquer um, mas nela parece certo. Eles parecem certos.

   Ela está radiante e eu me pergunto como vou contar sobre Neal. Qual a melhor opção: Explicar tudo pra ela o mais rápido possível e destruir toda a felicidade que ela tem agora ou esperar o meu prazo de um mês acabar e ver ela com raiva de mim por esconder isso por tanto tempo?

 

 

 

   — Andy roubou a minha hipoteca – a menina resmungou num gemido infantil e apontou para mim, seus olhos puxados se apertando mais ainda numa expressão enraivada.

   — Eu já tenho idade pra processar alguém por calúnia, sabia? - Mas eu não acho que um dia colocaria um processo em alguém. Minha mãe tentou fazer isso uma vez, mas demorou tanto que desistiu.

   — Andy, devolve as hipotecas da Mackenzie.

   — Foi o Alex que roubou.

   Eu sempre venço no Monopoly, as pessoas não conseguem lidar com isso.

   — Eu sou o banco, do que você tá falando?

   — Não precisa ter vergonha de perder pra mim num jogo infantil, Hill – Taylor intervém. Ele provavelmente tem no rosto a feição de quem quer me dar um conselho sério, quando por dentro está rindo de mim.

   Algo que não está na lista e que é o motivo de eu querer bater no lindo rosto simétrico dele cinquenta por cento das vezes, com certeza é a facilidade com a qual ele consegue me entender. Ele lê meus pensamentos, eu sei disso. Ele sabe que eu sinto coisas estranhas por ele. Ele sabe que ocupa 98% dos meus pensamentos. Ele sabe que eu estava errada e que estava certo esse tempo todo.

   Nem mesmo olho para Darling, em vez disso, conto o meu dinheiro mais uma vez.

   Estou ignorando Taylor. Esse é o meu plano até que eu descubra o que fazer em relação ao que sinto. Ele já deve ter percebido. O único problema é que não estava dando muito certo.

   — Você vai comprar a Avenida Mediterrânea ou não?

   — Eu devia comprar a Avenida Mediterrânea?

   — Não é uma decisão tão complicada, Hill.

   — Comprar a Avenida Mediterrânea é arriscado e não estava nos meus planos. A Carolina do Norte é muito menos complicada – olho pra Elliot. Ele assume a mesma cara confusa dos outros por um tempo, mas depois parece entender do que eu estou falando. Elliot é estranho, se você não percebeu ainda.

   — Compre.

   — Por que arriscar e apostar tão alto se eu já tenha a Carolina, que é segura e estável?

   — A Carolina do Norte não vai te fazer feliz do jeito que a Avenida Mediterrânea faria. É muito fácil.

   — Só porque é mais fácil não quer dizer que é errado.

   — Nesse caso, é.

   — Como você pode saber? Eu consegui jogar esse tempo todo sem ela. Não vai me fazer falta.

   — O quê? – Norrie interferiu.

   — Você quer a Avenida Mediterrânea?

   — Sim? – Suas sobrancelhas se arqueiam. — Sim.

   — Então compre a Avenida Mediterrânea sem se preocupar com o preço.

   Ninguém pareceu entender do que estávamos falando, a barriga de Mackenzie roncou, todos reclamaram de fome e Taylor foi pedir comida indiana. Elliot continuou me encarando, eu continuava a me perguntar se ele estava falando sobre Taylor assim como eu ou se era viajado o bastante pra abrir um debate sobre um jogo de tabuleiro. Peguei a hipoteca da Avenida Mediterrânea, só por precaução.

 

 

 

   Eu realmente esperava que mamãe não chegasse agora. Já eram nove horas, Mackenzie tinha ultrapassado a o horário de dormir e aqui estávamos nós brincando de princesa e cavaleiro. Taylor era uma Tartaruga Ninja, acredito eu, ou o Shrek, talvez, qualquer coisa verde. Bom, o menos eu tinha fotos da Mackenzie pintando o rosto dele.

   É uma pena que ele não fique parecendo um louco quando pintado de verde, assim como eu pareceria. Ele parece um desses adolescentes de catálogo de revista, curtindo a vida e tudo mais. Onda mental de ódio para Taylor.

   Alex era o dragão e Norrie e Elliot estavam brigando pelo cargo de fada madrinha, mas só porque junto com o personagem vinha a varinha que brilha quando é girada. Eu sou a princesa, naturalmente. Kenz é um sereia.

   O carpete estava sujo de verde-limão e a mesinha da sala cheia de embalagens de fast food mas ao menos nós conseguimos deixar ela exausta. Eu adorava Mackenzie mas eu estava envelhecendo e meus ossos estavam ficando fracos, correr atrás dela não era mais tão fácil como quando eu era adolescente.

   — A gente devia colocar ela na cama – Taylor sussurrou no meu ouvido. Não vou relatar o que essas sete palavras causaram em mim, vou me poupar dessa humilhação.

   Firme e forte, olhei para ele e encontrei a menina toda aninhada em seu abraço, sonolenta, mas se recusando a dormir. Peguei-a de seu colo e subi as escadas com ele atrás de mim.

   Taylor abre a porta do meu quarto e eu corro para a cama. Mackenzie estava crescendo rápido demais. Tento a colocar calmamente na cama e mesmo não dando muito certo, ela continua inconsciente. Seus dedos pequenos estão agarrados no colarinho da minha camisa e isso me faz deitar na cama também.

   Malfoy sorri pra mim e deita do meu lado. Nenhum silêncio conseguiria ser tão constrangedor quanto o som do meu coração batendo acelerado que soava no meu ouvido. Era impossível que ele não conseguisse ouvir.

   — Quando eu era menor, era mais ou menos meio apaixonado pela Mortícia Addams – ele sussurrou. Depois de fazer a revelação do ano, ele olhou pra mim e esperou uma resposta. Ela não veio até eu processar o que ele tinha acabado de dizer.

   — Hã?

   — Meu pai diz que o melhor remédio para momentos desconfortáveis é dizer algo estranho – ele estava evitando o meu olhar confuso, fitando o teto como se a resposta para tudo estivesse escondida lá.

   Eu tinha a sensação de que se alguém nessa relação devia ser odiado, esse alguém sou eu. Como eu poderia odiar ele, tão dedicado e insistente, tentando fazer tudo dar certo mesmo que eu faça tudo tomar caminhos errados?

   — Eu tinha uma aranha de estimação na sexta série, a Trixie, mas a Norrie matou ela. — Tentei ajudar. As batidas foram se abaixando.

   — Eu queria ser cantor de rap. – Dessa vez eu ri. A imagem simplesmente não encaixava na minha cabeça e parecia terrivelmente errada.

   — Esse “queria” não foi convincente, Malfoy. Pratique na frente do espelho, quem sabe um dia você consiga se convencer. – Pensei em algo pra falar antes que o silêncio voltasse. – Eu coleciono bolas de futebol furadas. O vizinho da rua de trás tem um quintal grande e os amigos dele tem pernas bem fortes. Maioria das vezes cai na casa do Kurt, mas de vez em quando eu tenho sorte.

   — Elas já caem furadas?

   — Não exatamente – ele meneia a cabeça.

   — Eu também tenho uma coleção. Na verdade, tinha. De rolhas. Deve ser por isso que eu não tinha amigos no ginásio.

   — Ataque de soluço no primeiro beijo.

   — Já pintei o cabelo de castanho. Ficou horrível.

   — Eu tenho um começo de tatuagem nas costas. Não consegui terminar, doía demais. – Minha época rebelde nos quatorze anos foi a melhor, sem sombra de dúvidas. Fiz uma nota mental para pedir desculpas para Jenn por tudo que a fiz passar.

   — Só você e apenas você pode me chamar de Draco Malfoy.

   Alerta de brecha para romance sendo aberta.

   — Acho melhor a gente fazer silêncio para não acordar ela. – Apontei para a menina.

   — Claro. – E lá vem esse olhar. Já vi ele antes. Mais precisamente toda vez que ele iria tentar me beijar, ou ao menos quando queria fazer isso. As pupilas dele estão dilatadas, posso ver pela luz que entra pela fresta da cortina, e as piscadas dele são lentas, como se tivesse medo de perder algum detalhe do meu rosto.

   Os mapas de calor corporal do meu livro de ciência estão todos errados. Naquele momento, todo o meu ser é vermelho.

   — Quer ver algo bem mais estranho? – Não sei muito bem o que eu estou fazendo. É só mais uma das coisas que eu falo sem pensar e acabo me arrependendo depois. Quando percebo o que faço, já é tarde demais. Levanto o meu pulso direito e desamarro a pulseira que está lá.

   Não lembro da última vez que fiz aquilo. Era a minha pulseira da sorte. O tecido estava gasto e frágil e eu pretendia o deixar lá até que se soltasse sozinho. Havia se tornado parte de mim, querendo ou não. Chad havia me dado ele quando pediu para me levar no baile. Era uma lembrança boa, o que havia acontecido depois não afetava isso.

   — Eu prefiro Percy Jackson.— Taylor repetiu.

   Era uma frase barulhenta, até mesmo quando sussurrada.

   O polegar dele tocou a minha pele agora descoberta, fazendo-a formigar de um jeito bom. Eu me sentia exposta, me sentia nua. Eu gostei da sensação.

 

 

 

   Acordei com a vibração do celular soando no ouvido. Jenn estava me ligando, mas não atendi. Ela precisa esquecer um pouco da minha existência e dar um momento para si mesma. Eu ainda estaria aqui quando ela voltasse.

   Desci as escadas e encontrei Eleanor, Alex e Elliot dormindo amontoados. Desliguei a televisão e cobri eles direito. Fui para a cozinha procurar alguma coisa pra comer. Dentre meu vasto número de opções, frango curry e cereal, pra ser mais específica, preferi não comer nada.

   Não estava tão tarde, eram onze horas ainda. Se eu me apressasse conseguiria arrumar o rastro de bagunça que Mackenzie deixou.

   Primeiro recolhi os desenhos infantis e sem nexo, inclusive um onde tinham eu, Kurt, Jenn e ela de mãos dadas. Guardei esse no bolso. Depois peguei os brinquedos, tentando desviar de todas as peças de lego no chão. O carpete não iria limpar, depois mandaria a conta para Kurt. A gente estava precisando de um novo, de qualquer forma.

   Quando eu enfim iria sentar no sofá e assistir o filme que passava, a capainha soou.

   Coloquei o meu melhor sorriso no rosto, pronta para receber o casal mais feliz de Medford. Apenas para ver Neal.

   Saí de casa, fechando a porta atrás de mim, com medo de que alguém o visse.

   — Eu falei um mês, Neal – sussurrei.

   Tentei empurrar ele de volta para o carro e fazê-lo voltar para imediatamente de onde quer que ele tenha vindo, mas parecia que tirar a pulseira realmente dava azar.

   Bem no fim da rua, eu vi a moto de Kurt aparecer.


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Notas finais do capítulo

Sério, ouçam Oceans do Seafret, eu praticamente escrevo a fic inteira ouvindo essa música.



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