Devaneios escrita por MB


Capítulo 7
Destruição de muitas coisas e o começo de algo


Notas iniciais do capítulo

Quero agradecer pelos comentários anteriores!
Espero que gostem desse e boa leitura!



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— É um pedófilo... - um dos policiais murmurou, com pesar evidente na voz. 

 - Além disso, mantinha um relacionamento abusivo. Com todas elas. - minha voz também era baixa e minha cabeça começava a doer por algum motivo. - Começa de modo sutil no começo das vezes. Ele quer ter o poder sobre a outra pessoa e tê-la para si no modo mais radical da expressão. 

— E isso não é comum, não quando o criminoso quer o que esse suspeito queria. - JJ concordou. - Chantagem emocional, muito menos. Eles conquistam a confiança da vítima e procuram fazer com que algum tipo de sentimento comece. Era óbvio que Lindsay e Kate começaram a ter medo do suspeito, ao invés de algum tipo de conexão.  

— E mesmo assim não pararam de falar com ele. - o mesmo policial franziu as sobrancelhas. - Se encontraram com eles. Sabiam que algo pior iria acontecer. Por que...? 

— Acharam melhor dar o que o suspeito queria do que ter suas fotos, conversas e pensamentos vazados, policial. - larguei as folhas com todas as conversas de Lindsay e andei até a janela, precisando de algum ar.  

— Pode ser complicado para um homem entender. - Garcia murmurou e eu só consegui sorrir ao ouvir aquilo. - Ele misturava promessas positivas com chantagem por pressão ou culpa para conseguir fotos íntimas e informações. Mostrava como ele ficaria feliz e como elas se beneficiariam com aquilo. 

— Com Kate ele dizia que se ela não mandasse mais fotos e vídeos, iria vazar os que já tinha. - JJ continuou. - Isso criou uma bola de neve que a garota não conseguiu parar. 

O policial iria abrir a boca quando a porta da sala se abriu e Spencer entrou com Hotch. 

— O que descobriram? - o mais velho questionou.  

— Conseguimos apenas as conversas de Kate e Lindsay. - JJ colocou as mãos nos bolsos. 

— Por que? - Reid se sentou em uma das cadeiras próxima à janela. 

— Não conseguimos contatar os pais de Katherine e não tinha ninguém em casa. - respondi. 

— Não consegui invadir o sistema. - Garcia murmurou. - O irmão de Katherine era um gladiador da internet. 

— O que descobriram no legista? - JJ questionou. 

— O suspeito as drogava, as estuprava enquanto dormiam e gostava de vê-las lutando. - Hotch respondeu. - Depois que acordavam, eram abusadas novamente. 

— Ele ficava excitado em ver o medo. - Reid continuou. - E mais ainda ao dar uma oportunidade em deixá-las lutar. 

— Senhor! - Garcia praticamente gritou. - Os vizinhos de John Smith o viram chegando em casa agora mesmo. 

— Katzen. - Hotch me olhou. - Rossi está indo falar com os pais de Kate, ele irá passar aqui e te deixará na casa dos Smith. Consiga os computadores e celulares da casa.  

 ~*~ 

Fiquei parada na frente da porta marrom por alguns minutos depois de tocar a campainha pela segunda vez. Ouvia passos lá dentro e no momento em que fui bater novamente na porta, ela se abriu. 

Um homem com 1,90 aproximadamente ficou parado a minha frente e não disse nada quando perguntei se ele era Robert Smith, pai de Katherine. 

— Preciso do computador e celular dela, senhor. - continuei com a voz firme. - Trabalho para o FBI e... 

— É, eu sei. - ele abriu mais a porta. - Viajei para ver minha família nesses últimos três dias. Minha mãe estava devastada quando soube da notícia. 

— Eu sinto muito, senhor, nós... 

— Pode me chamar de Robert. - ele me interrompeu. 

 - Robert, podemos ajudar se você ajudar também. Ajudar a achar quem fez isso. 

— Eu irei pegar as coisas dela. Se quiser esperar aqui dentro. 

Assenti e assim que entrei na casa, ouvi um barulho lá fora que demorei para identificar. Algo batendo. 

Um carro batendo. 

Eu iria me virar para saber o que havia acontecido mas a porta já estava fechada e o Sr. Smith subia as escadas. 

Eu sentia que algo não estava certo. Mas como sempre, decidi ignorar minha intuição e, como sempre, não me dei bem com essa escolha. 

Alguém batia incessantemente na porta e meu último pensamento foi abri-la, mas algo atingiu minha nuca, me fazendo cair desacordada no chão. 

~*~ 

A primeira coisa que fiz assim que acordei foi vomitar, aliviando o embrulho no meu estômago. A sensação de que tudo girava não ajudava em me fazer ficar melhor. 

Demorei alguns segundos para perceber onde estava. A decoração do porão era igual à do resto da casa. Tudo de madeira, em tons diferentes. 

Tentei me levantar, e consegui apenas cambalear e tropeçar na minha calça que estava jogada ao meu lado. 

Robert Smith estava sentado em uma cadeira à minha frente e aquele sorriso me deixava extremamente desconfortável e com mais raiva. 

— Você não quer fazer isso. - tentando ignorar o fato de estar apenas com minhas roupas íntimas, falei rapidamente assim que ele se levantou. Peguei minha arma e verifiquei se estava carregada, apontando rapidamente para ele. Não cheguei a questionar o porque dela estava tão próxima de mim.  

— Por que não? - o homem riu e, lentamente, pegou sua arma. Eu via tudo mais lentamente e levemente duplicado, tinha que me apoiar com força no chão.  

— Porque você vai pegar 15 anos. - respondi, engolindo em seco. - Se matar ou estuprar uma agente federal, mais... 16...? 

Eu falava informações aleatórias. Não conseguia pensar e sabia que ele não tinha o conhecimento necessário para me contrariar. 

— Mas o prazer que eu vou sentir... - e se moveu rapidamente, me confundindo ainda mais. Seu sorriso me fazia querer vomitar e fechar os olhos para sempre. 

— Quer algum tipo de prazer específico? - sua feição iluminou minha mente, o histórico que Garcia havia passado para nós fazia todo sentido agora.  

Smith tinha inúmeras queixas na policia por brigas com o pai e sempre dava entrada em primeiros socorros. Todos os meses desde que fez quatorze até os dezoito. Mas, de repente, as brigas param. 

— Como... Como seu pai sentiu, não é? - respirei fundo e tentei parar de cambalear. - Por quanto tempo ele abusou de você? 

Ele me respondeu com os olhos, que ficaram encharcados e cheios de desespero, mesmo que por alguns segundos.  

— Você quer vingança. - continuei. - E não vai parar até achar a pessoa certa. Mas a pessoa certa não irá aparecer. Seus familiares estão todos mortos. Você matou sua filha. A estuprou. Achou que iria trazer algum tipo de alívio, mas piorou as coisas. 

— Eu... 

— Não interrompa uma agente federal. - o alertei, aproveitando seu medo. - Eu sei onde seu pai está. Está com tanta raiva de você. 

— Mentira! - seu grito fez tudo piorar. Tentei não fechar meus olhos por muito tempo e segurei meu vômito. - Você é uma vadia mentirosa, como todas as outras! 

Eu não consegui pensar antes que Smith caísse no chão, morto. O movimento rápido fez com que minha visão piorasse e eu consegui apenas ouvir a voz de Rossi chamando meu nome. 

Eu me permiti respirar e deixar o mal estar tomar conta de mim. 

— Está bem? - ele me perguntou, andando até mim e me segurou. Fiz que sim, tentando não mostrar como estava fraca. 

— Smith? Está morto? - questionou e Rossi fez que sim. 

— Emma... - sua voz ficou extremamente sombria. - Emma, suas... 

— Em! - ele se interrompeu quando ouviu a voz de Spencer. A expressão do gênio ficou mil vezes mais aliviada. Guardou sua arma e andou até mim, me abraçando. - Você me assustou...! 

— Preciso respirar, Reid. - brinquei. Foi quando o sorriso dele se fechou ao nos afastarmos. Ele olhou para Rossi com as sobrancelhas franzidas. - Em... 

Foi quando me atingiu. A tontura passou na hora, tomada pelo pânico.  

Me lembrei o que ele fez com todas as outras vítimas. Me vesti rapidamente e tentei não demonstrar o turbilhão de coisas que se passavam pela minha mente. 

— A equipe está vindo pra cá. - Rossi guardou o celular e olhou para o chão. - O corpo de Smith vai ser retirado, acho melhor sairmos daqui. Katzen... 

— Estou bem. - forcei um sorriso. - Eu só preciso sentar. 

Eles assentiram e Reid me ajudou a subir as escadas. Enquanto eles falavam, cuidadosamente, eu apenas engolia em seco e tentava entender o que havia acontecido. 

Me explicaram tudo, como descobriram o que Smith fez com a filha e as outras garotas. Me culpei por não ter pensado no motivo antes. Poderia ter evitado com que isso acontecesse comigo, mas talvez fosse melhor não pensar. 

 ~*~ 

Hotch se levantou do banco a minha frente, com um pequeno sorriso no rosto. 

Perguntara sobre Luke Hewitch, e questionou o motivo do nome dele aparecer tantas vezes na ficha que ele tinha sobre mim. Ficou curioso para saber porquê nenhum tipo de relacionamento que tínhamos foi especificado. Felizmente aceitou minha resposta curta. 

— Estava em um relacionamento abusivo, Sr.  

Ele sabia que tinha mais coisas, apesar de um relacionamento abusivo ser coisa demais. Sabia que omiti informações que não eram necessárias. 

— Sei que não era um momento apropriado, Katzen, mas era necessário. - Hotchner parou ao meu lado. - E apenas Aaron está bom. 

Sorri agradecida e voltei o olhar para o meu livro, tentando ajeitar uma compressa de gelos no meu ombro. 

— Você está bem? - apenas cinco minutos se passaram antes de Spencer se sentar a minha frente. 

— Estou, obrigada. Tomei alguns remédios para dor. 

— Aqueles que te dão um sono inexplicável? 

— Aqueles. - concordei sorrindo. 

Ele ficou por algum tempo com a boca aberta, sem saber o que falar. Analisava meu rosto, era possível dizer. Eu analisava o dele também, e não era uma visão ruim. 

— Hm, desculpe por... A gente poderia ter chegado antes. 

— Oh, não! - me ajeitei na poltrona e tentei disfarçar o desconforto. - Não, não foi culpa de ninguém. O cara era pirado...! 

Ele riu um pouco, olhando para baixo. 

— Você não demonstrou nada, Emma... - ele murmurou. - Certeza que está bem? 

Encarei o chão por um tempo, mas acabei assentindo, sem conseguir disfarçar o bocejo. 

— Não consegue dormir? 

— A janela é meio dura. - fiz uma careta.  

— Meu ombro pode ser um pouco mais confortável se... Se você quiser...? 

— É uma proposta irrecusável, Dr. - sorri também e deixei a compressa na mesa. Spencer se levantou e sentou ao meu lado, pegando um livro antes que eu me deitasse em seu ombro. 

Ele tinha razão. Era mais confortável que a janela e seu perfume era daqueles que você poderia ficar horas de olhos fechados e respirando fundo, apenas para sentir o máximo possível. 

Em pouco tempo eu já sentia minhas pálpebras pesarem mais que o normal e logo eu sabia que sonhava. 

~*~ 

Eu andava até o metrô, agradecendo mentalmente o fato de não estar completamente escuro. Aquele dia me arrependi de não ter usado o carro. Tinha meus fones com a música no máximo, fazendo de tudo para tentar não pensar no que havia acontecido, segurando as lágrimas por tudo. 

Estava quase virando a quadra quando senti alguém apertando meu ombro. Spencer deu um passo para trás, não querendo me assustar mais. 

— Oi. - falei aliviada e tirei meus fones, conseguindo ouvir Lithium mesmo assim. 

— Quer uma carona? - ele perguntou rapidamente. - Não acho que vai se sentir confortável indo sozinha para casa. Sabe... Depois do que... Do que aconteceu. 

Eu não pensei duas vezes antes de aceitar. 

A viajem foi silenciosa, mas não desconfortável. De vez em quando Spencer soltava alguma informação aleatória sobre o artista que cantava as musicas que tocavam no rádio. 

— Bowie nasceu no mesmo dia que Elvis, sabia? Não no mesmo ano, é claro. 

— Obviamente. - concordei, rindo. 

— 8 de janeiro. 

— Mesmo dia que o meu irmão! - comentei animada. - Como eu não sabia disso? Ele ama Elvis! 

Spencer apenas sorriu, me olhando de relance. 

Ele estacionou na frente do meu prédio e bateu com os dedos nas pernas, um pouco nervoso, talvez ansioso. 

— Quer subir? - perguntei, achando adorável como ele não sabia o que fazer para se despedir. 

— Preciso ir no banheiro. - concordou rapidamente. 

— Ok, então. - sorri e saí do carro, mostrando o caminho para ele da entrada até o elevador, e até a porta de entrada do meu apartamento. - Esse é Plutão. - sorri quando o gato pulou do meu sofá e andou desconfiado até Spencer. - Espero que não tenha alergia, ou nada parecido... Medo, sei lá. 

— Não, eu gosto de gatos. - ele se abaixou e mexeu os dedos, chamando Plutão, que o cheirou rapidamente antes de sair em direção ao meu quarto. - Como consegue ter um animal? Ficamos fora quase o tempo todo.  - eu abri a boca para falar quando Reid continuou. - Hm, desculpe se soou invasivo, eu só... - ele adicionou rapidamente e eu apenas ri quando tirei o celular de dentro da bolsa, agora em cima do sofá. 

— Tudo bem. - maneei a cabeça. - Minha irmã sempre vem pra cá quando fico tempo fora, ou mesmo quando estou em casa, então ela cuida dele quando não consigo. Aqui é mais silencioso que a casa da minha mãe, sabe, ela prefere ficar aqui. 

— Família grande? - percebi que ele lançou um olhar rápido para o fio da cafeteira jogado de qualquer maneira em cima do balcão da cozinha. 

— Mais ou menos. - respondi e sorri minimamente. - O banheiro é no fim do corredor, ao lado do quarto. 

— Ah, sim. - ele pareceu confuso por um tempo e andou rapidamente até o banheiro, com as mãos no bolso.  

Me repreendi por sorrir quando o analisei andando até o fim do corredor. Caminhava rapidamente, como se estivesse com vergonha e eu o entendia. Spencer claramente era um introvertido de natureza. 

Eu terminava de colocar o pote de água de Plutão no chão perto da lavanderia, quando me levantei, e notei Spencer vendo algumas fotos no mural do corredor. 

— Você está igual. - riu. 

— Ah! Obrigada. - respondi com certa ironia. 

— Não é uma coisa ruim, sabe, Em. 

Fiquei em silêncio por alguns poucos segundos, querendo saber se era o que eu tinha entendido. 

É claro que não, Emma. 

Ele tinha uma namorada

— Quer fazer alguma coisa? - perguntei antes de perceber o que tinha falado. - Pedir uma pizza, ou sei lá. Há séculos estou querendo rever os filmes de Star Wars. 

Ele sorriu e colocou as mãos no bolso. 

— Claro! - sua voz ficava um pouco mais fina quando ficava animado. Não pude deixar de notar como aquele sorriso era lindo. No trabalho era possível perceber que não sorria tanto, e mesmo quando Morgan falava algo engraçado, o máximo era uma pequena curva em seus lábios. - Vamos! 

— Ok. - sorri também. 

Passamos o resto da noite sem falar muita coisa, apenas soltando alguns comentários sobre os filmes, comendo pizza e enchendo nossas taças de vinho. 


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Notas finais do capítulo

Eu achei o tema delicado de se tratar, mas espero que tenha deixado de um jeito não tão pesado. Deixei mais sutil, porém se alguém se sentir incomodado, posso fazer algumas modificações.
Espero que tenham gostado
Vou ficar um período sem postar, então queria deixar essa capítulo!
Me digam o que acharam!
Até o próximo, Bjss



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