O Segredo da Lua escrita por F L Silva


Capítulo 7
Capítulo 7 - Coma Alcoólico




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Descendo as escadas para o pátio no prédio dos dormitórios ao lado de Toby, Théo arrependeu-se amargamente de não ter colocado um suéter por cima da camisa polo de cor azul-escuro. No lado de fora do quarto, um frio descomunal se impregnava por toda a sua volta. A cada vez que inspirava o ar, sentia-o entrando por suas narinas, lhe dando um leve arrepio pela friagem úmida.

Era uma noite fria do mês de junho, como todos os outros anos. Théo sempre preferira o frio ao calor, mesmo que seu corpo não reagisse muito bem ao ar gélido. Sempre quando o clima começava a esfriar, os dedos de suas mãos ficavam gelados como gelo, assim como os dedos dos pés, mesmo estando calçado no tênis. A ponta de seu nariz ficava particularmente vermelha.

Quando o tempo estava assim, ele costumava se deitar debaixo do cobertor em sua cama, com um balde de pipoca amanteigada no colo. Ligava a TV e colocava um filme de terror para assistir e passar o tempo. Ele sentia saudades de quando fazia isso. Com um suspiro de desgosto, percebeu que não poderia fazer aquilo. Nem TV disponível ele não tinha no internato.

No pátio, ambos os garotos atravessaram até o outro lado, entrando no corredor à esquerda com pouca iluminação. Enquanto andava, Théo olhava para os lados a procura de alguma câmera que pudessem flagrá-los fora do quarto depois do toque de recolher. Como lendo seus pensamentos, Toby disse ao seu lado:

― Nessa ala não tem câmeras, não se preocupe.

Théo assentiu com a cabeça, um pouco aliviado.

Atravessando os corredores que se seguiam a frente, passaram por portas de quartos de vários tipos diferentes. Alguns com pôsteres, adesivos e rabiscos nas portas. Mas nenhuma dava a impressão de que havia alguém vivo por trás delas.

― É logo ali. ― Toby apontou para uma porta fechada no fim do corredor. Da fresta por baixo da porta, um rastro de luz era visível. A única porta no corredor que dava a entender que tinha alguém ali dentro. Um som abafado de música era audível quando Théo chegou mais perto. ― Nervoso? ― perguntou Toby, parado em frente à porta, sorrindo maliciosamente para Théo.

― Um pouco ― confessou o garoto, suspirando.

― Normal. ― E bateu na porta, que instantes depois foi escancarada por um garoto alto de pele escura, portando uma enorme cabeleira. Em seu rosto, expressava um sorriso de orelha a orelha, e na mão esquerda, um copo de plástico com uma bebida transparente pela metade.

― E aí, Toby ― cumprimentou o garoto, abraçando o garoto e batendo de leve em suas costas. ― Você demorou pra chegar. Comecei a achar que não viria. ― Sua voz estava claramente embargada.

― É que arrumei uma companhia pra vir hoje ― respondeu, indicando Théo ao seu lado.

― E quem é esse? ― perguntou, não reconhecendo o garoto.

― Meu novo colega de quarto. ― E indicou a Théo com o olhar para cumprimentar o garoto parado em frente à porta.

― Sou Théo ― disse erguendo a mão para um cumprimento. O garoto apenas olhou para a mão estendida. Por um momento, Théo achou que ele não fora com sua cara e, no instante seguinte, ele abriu novamente seu sorriso de orelha a orelha e abraçou Théo, assim como fizera com Toby.

― Amigo Toby, é meu amigo também. ― O hálito dele cheirava a vodca. Ligeiramente, Théo torceu o nariz e seu estômago se embrulhou. ― Me chame de Key. ― E se afastando, abriu a porta para deixá-los entrar. ― Mi casa es su casa ― disse dando passagem para ambos os garotos, com um espanhol péssimo.

A visão que Théo viu a sua frente foi totalmente inversa do que achou que encontraria. Pensava que aquilo que Toby chamava de festa seria uma reuniãozinha com uns cinco ou sete amigos sentados numa cama de quanto, enquanto bebiam e contavam piadas sem graça. O que encontrou foi totalmente o oposto.

Mais de vinte alunos se espremiam dentro do minúsculo quarto, vários deles dançando no centro. No teto acima de suas cabeças, um globo daqueles de baile estava pendurado, girando, lançando reflexos prateados por todo o quarto. Não havia o menor sinal de cama no recinto. Apenas das cômodas no canto oposto do quarto, com um aparelho de som em cima, e um garoto de dreadlocks manuseando-o. Devia ser o DJ. A outra cômoda estava com varias garrafas de bebidas e copos descartáveis em cima. No chão perto das paredes, garrafas vazias e copos usados estavam jogados. As pessoas dançavam, sem se importar com nada ― mesmo que constantemente tropeçassem umas nas outras. Pareciam que estavam numa balada qualquer das ruas de São Paulo.

A música que estava tocando parou, uma que Théo não conhecia. A seguir reconheceu o toque da música “Talking Body” de Tove Lo pelas caixas de som. Algumas garotas gritaram.

― Bebe aí ― disse Toby gritando ao seu ouvido por sobre o barulho alto da música. Colocou um copo descartável na mão de Théo com um líquido vermelho.

― O que é isso? ― perguntou, gritando para ser ouvido. Théo nunca fora de beber. Não tinha o costume, e por isso não conhecia muitas bebidas.

Toby apenas deu de ombros.

― Sei lá. Bebe.

Experimentando o líquido avermelhado, Théo fez uma careta ao ingerir a bebida doce e amarga ao mesmo tempo. Vodca. Reconhecia o sabor. Devia estar misturada a algum suco de frutas vermelhas.

A sua frente, Toby estava rindo.

― Quê? ― perguntou confuso.

― Você fica fofinho fazendo careta quando bebe.

Théo corou levemente, baixando os olhos para o chão. Desde criança ouvira as pessoas o chamando de fofo e apertando suas bochechas, deixando-as coradas. Com um tempo, passou a sentir-se desconfortável quando as pessoas o chamavam assim. Temia chegar um dia em que levaria um fora, usando esse termo, do tipo “Você é fofo, mas não rola”.

Os minutos foram se passando, uma música tocando atrás da outra, todas sempre agitadas. Théo ficou no canto sozinho perto da parede, já que Toby se afastara para cumprimentar seus amigos. Ele nunca fora de dançar, fazia mais o tipo quieto nas baladas, mas por alguma razão, sentia a necessidade de passar do limite esse noite. Afinal, fora há poucas horas que acordara na cama da enfermaria depois de ter batido a cabeça drasticamente. Ali onde estava, no reformatório, o que lhe garantia que no dia seguinte algo pior lhe acontecesse? De qualquer maneira, seria melhor aproveitar o quanto pudesse.

Virando o restante do líquido do copo, deu um pequeno salto com o gosto amargo na garganta, sentindo sua cara se contorcer numa careta. Atravessando os alunos que dançavam no centro do quarto, foi até o outro lado, em direção a cômoda, que servia de mini bar, e se serviu de um pouco de vinho tinto. De todas as bebidas que já provara, vinho era a sua preferida. Lembrava-se do dia em que conseguira nota máxima num teste ― tinhas apenas catorze anos ― e seu pai lhe parabenizou, perguntando o que ele queria como prêmio. Sem pensar, pediu uma garrafa de vinho, e seu pai, por um momento, ficou desconcertado, com o olhar confuso e ao mesmo tempo inquisidor. Théo teve que repetir mais uma vez para seu pai enfim compreender, e este, logo depois, começou a disparar uma pergunta atrás da outra sobre o uso de bebidas alcoólicas para menor de idade. No final, Théo achou que não ganharia a garrafa, mas no mesmo dia, seu pai comprou uma garrafa e lhe deu, com a condição de que ele não tomaria mais que meio copo por dia. Théo aceitou instintivamente, mas, claro, não seguiu com o acordo. Esperava até seus pais irem dormir, para descer sorrateiramente as escadas e ir até a cozinha para desfrutar do gosto ímpeto e saboroso do vinho.

No Instituto São Diego, não tinha nada disso. Podia tomar sua bebida livremente, num quarto cheio de alunos igual a ele, mesmo sendo contra as regras, e que se fossem pegos, estariam completamente enrascados até o pescoço. Não se dava nem ao luxo de imaginar o que aconteceria caso isso acontecesse. Era melhor viver o agora.

Virando-se de costas para voltar ao seu posto no canto da parede perto da porta, Théo deu de cara com uma garota de sua altura, com cabelos louros puxados num rabo de cavalo desgrenhado.

Megan.

Oooooiii ― ela cantarolou ao seu ouvido, por cima do barulho da música.

Em seu rosto, um sorriso de orelha a orelha estava estampado. Théo se perguntou o quão verdadeiro ele seria, e se estava realmente sendo direcionado para ele. Rapidamente, olhou através do quarto. Talvez ele estivesse ali. Um repentino calor se espalhou por seu corpo, como se estivesse sendo transportado pelo sangue que corria por suas veias. Mas logo essa sensação se aplacou, sendo substituída por um frio cortante. Depois de percorrer cada centímetro do quarto, percebeu que Kalleo não estava ali.

― Megan. Oi ― respondeu Théo, recuando o passo ao vê-la se aproximando dele. Subitamente, um calafrio percorreu por sua espinha com a lembrança da imagem de Kalleo e Megan juntos no outro dia. Um gosto amargo se espalhou por sua boca e ele teve que beber um pouco do vinho que tinha no seu copo de plástico para afastá-lo.

― Como você está? Está se divertindo? ― Megan estava dando pulinhos no chão, acompanhando a batida da música. Ficava olhando a volta e rindo sem nenhum motivo específico. ― Acho que bebi um pouco demais ― declarou, pondo a mão no braço de Théo, se apoiando nele.

Por um momento, Théo ficou tentado em perguntar o que ela queria com ele. Megan, uma das garotas mais populares da escola, que já namorara com Kalleo ― e talvez estivesse prestes a voltar seu namoro com ele ―, estava falando com Théo, um zé-ninguém no instituto. Algo ela queria. Ou não?

― Deveria pegar mais leve ― ele respondeu, referindo-se a bebida que estava no copo dela, quase cheio.

― Que nada! ― Megan revirou os olhos castanhos com desdém. ― Eu quero mais é aproveitar. Dificilmente temos festas assim no instituto.

Megan estava bêbada. Théo sabia exatamente pelo modo como ela se comportava, dançando ao seu lado e pulando. Sua voz, um pouco embargada. Ele se imaginou como ficaria se estivesse bêbado. Nunca tinha ficado de porre, mas não conseguia imaginar como seria. Será que ficaria alegre como Megan, ou simplesmente ficaria quieto no canto, de cabeça baixa?

― Anda, Théo. ― Megan chamou sua atenção, balançando a mão na frente de seu rosto. ― Isso é uma festa. Então não fique parado como uma estátua de carne! Mexa-se e beba isso aí. ― Ela apontou para seu copo de vinho.

A música que estava tocando terminou e outra começou a vibrar pelas caixas de som num volume alarmante. Primeiro, um toque rítmico e frenético, depois vozes femininas começaram a cantar estridentemente. As vozes pareceram explodir quando chegaram ao refrão, e o toque instrumental por trás das vozes ficou mais agressivo. Théo conhecia a música das festas que costumava frequentar com Will. Era “I Love It” de Icona Pop feat. Charli XCX.

Olhando alarmado para os lados, viu os demais alunos dançarem ao som da música, balançando a cabeça e pulando enquanto bebiam de seus copos. Théo, ouvindo o que Megan dissera, virou o copo de vinho, bebendo tudo em poucos segundos. Rapidamente, sua cabeça girou, distorcendo o quarto abarrotado a sua volta.

― Aqui ― disse Megan estendendo seu copo. ― Pega o meu.

Sem pensar, Théo aceitou e virou toda a bebida em sua boca. Um gosto doce de maçã com álcool desceu por sua garganta. Champanhe. As espumas causavam cócegas em sua boca ao tocá-lo.

Logo, a visão de Théo estava distorcida e ele sentiu um leve frio na barriga. Era bom. Sentia-se livre de alguma coisa que o estava prendendo. Seus pés, de repente, felizes. Começou a se movimentar, dançando um pouco de maneira despreocupada.

Megan saiu para pegar mais bebida, quando voltou, trazia vodca para os dois. Ela ainda carregava aquele sorriso de orelha a orelha, os olhos cintilando. Ou era impressão sua? Por um momento, ele achou ver uma carranca em seu rosto.

Sorrindo de volta, pegou um dos copos da mão de Megan e começou a beber enquanto dançava ao lado dela.

― Então, Théo ― começou a dizer Megan, se aproximando mais dele. ― Kalleo e você... são amigos. Certo?

Théo parou por um momento, olhando para ela, sem conseguir compreender exatamente o que ela dizia. Depois, dando de ombros, respondeu:

― Acho que somos. ― E era verdade. Embora Théo visse Kalleo de outra maneira, talvez Kalleo o visse apenas assim, como qualquer outro aluno do reformatório.

Ele estava um pouco bêbado. Percebeu pela simples sensação que sentia fluindo por seu corpo, e ouvindo a si mesmo falando, a voz um pouco embargada. Mas a voz de Megan não estava mais oscilante como antes. Estava firme, como era da primeira vez que ele a vira.

Legal ― disse ela, fuzilando-o com os olhos em fendas. ― Sabe, a gente já foi namorados. ― Ela deu de ombros, fazendo um breve biquinho com os lábios finos cheios de gloss.

― Sim, eu sei disso. ― Théo apenas concordou, não sabendo ao certo o que ela queria, mas, surpreendentemente, ele não estava curioso com aquilo. Engraçado. Deve ser o efeito do álcool sobre seu corpo.

― Sabe também que a gente terminou há um tempo?

― Claro que sei.

― Quem lhe contou? ― disparou Megan, fitando-o, agora parada sem dançar. ― Foi o Kalleo?

― Ah, não, não ― negou Théo, instintivamente. ― Ele não me disse nada. Foi Zoe.

― Humm. ― Megan pressionou os lábios e se aproximou mais de Théo, falando quase perto de seu ouvido: ― Eu ainda o amo, e quero voltar com ele.

De todas as coisas que Megan tinha lhe dito até agora, aquelas palavras deixaram Théo em alerta. Uma súbita corrente de frio percorreu por seu corpo, gelando-o, como se tentasse acordá-lo de um devaneio.

― E eu gostaria de sua ajuda ― ela continuo dizendo ao ouvido dele. Depois se afastou, olhando-o nos seus olhos. Théo achou ter visto um sorriso malicioso em seus lábios, mas quando piscou, ele não estava mais lá. Megan bebeu um pouco de sua bebida e o fez beber um pouco mais da sua. ― Poderia me ajudar?

Ela passava o dedo indicador pela borda do seu copo, girando-o enquanto olhava penosamente para Théo.

― Não sei como poderia... ― começou a dizer, absorvendo o choque. Era confuso em sua cabeça ainda, não conseguia compreender o que estava acontecendo. Talvez se dormisse um pouco, quando acordasse, poderia processar tudo com mais calma.

― Você passa muito tempo com Kalleo? ― Megan disparou, mantendo o olhar fixo no dele.

― Não muito... de vez me quando apenas...

― É o suficiente. ― Ela deu de ombros. ― Apenas quero que quando estiver com ele, fale de mim. Na possibilidade de voltarmos. Quero que você me dê uma força. Entende?

Théo apenas assentiu com a cabeça, aturdido, sem saber no que exatamente estava se metendo.

― Ótimo. ― ela deu um sorriso amarelo.

― Megan! ― chamou uma voz ao seu lado. Virando-se para ver quem era, Théo viu Toby cumprimentando a garota.

― Toby ― ela respondeu, secamente, olhando com desprezo para o garoto. Depois deu um tchauzinho para Théo, girou nos calcanhares, e saiu deixando os garotos sozinhos.

― O que ela queria? ― indagou Toby para Théo.

― Nada demais ― deu de ombros, mal se lembrando o que conversara com Megan, e bebendo mais um pouco da vodca. O som alto da música martelava seus tímpanos, como se sentisse cada pulsação do seu coração no ouvido.

― Cuidado com ela. Megan costuma ser uma cobra. ― Toby bebeu mais de sua bebida, depois levantou a outra mão e levou um cigarro pela metade em sua boca, dando uma tragada e soltando a fumaça no ar. Théo se perguntou onde ele arrumara o cigarro, mas certamente viera do mesmo lugar que vieram as bebidas, o globo no teto e o som.

Uma garota de cabelos oxigenados e batom preto subiu em cima da cômoda onde servia de bar, e começou a dançar ao som da música. A garota estava bêbada, pois lentamente começou a tirar a camisa, deixando apenas o sutiã de renda por baixo. Os garotos, assim como diversas outras garotas, começaram a gritar, impulsionando a garota a continuar.

Enquanto Théo bebia, dava um passo ou outro ao som da música, com medo de cair ou esbarrar em alguém por causa da vertigem causada pelo álcool.

― Vou ao banheiro ― disse ao ouvido de Toby, se afastando, indo na direção oposta do quarto onde ficava o banheiro. Abrindo a porta, Théo se deparou com a cena de Key, o cara moreno dono da festa, encostado na parede, com o queixo levantando e olhos fechados numa expressão misturada de dor e prazer. Sua camisa estava levantada até tórax e a calça completamente abaixada. Aos seus pés, ajoelhada a frente dele, uma garota de cabelos pretos estava segurando o pênis dele a centímetros de sua boca. Nenhum dos dois pareceu notar a súbita presença de Théo. Não querendo chamar atenção, fechou ligeiramente a porta e voltou para o quarto, expirando o ar que prendera nos pulmões sem perceber. Balançando a cabeça, tentando esquecer aquela cena, atravessou novamente o quarto e saiu pela porta da frente. Precisava usar o banheiro. Sentia seu estômago se revirando selvagemente.

Fechando a porta atrás de si, sentiu o frio da noite abraçando seu corpo, erriçando os pelos dos seus braços. Do lado de fora conseguia ouvir a música alta dentro do quarto, agora abafada. Enquanto andava até o banheiro no fim do corredor ― como tinha em todos os andares ―, Théo teve que se apoiar nas paredes. Sentia sua cabeça girando, assim como seu estômago. Ele ficara com medo de colocar tudo para fora dentro do quarto, na frente de todos.

Pela primeira vez, acabara bebendo demais, passando do limite. Primeira vez que ele ficava bêbado e a experiência era bastante ruim.

Olhando para o último andar do prédio, Théo parou o olhar em uma porta qualquer, pensando se aquele era o quarto de Kalleo. Será que era? Não sabia, mas ficou por um momento tentado ir até lá e esmurrar a porta, esperando que quando fosse aberta, fosse Kalleo quem iria ver, e não qualquer outro aluno com a cara emburrada querendo socá-lo por está-lo acordando às... que horas eram mesmo? Ele não sabia. Não tinha a menor noção do tempo.

A suas costas, a porta do quarto bateu e alguém o chamou.

― Espera. ― Era Toby correndo para acompanhá-lo. ― Você está bem? ― perguntou examinando o rosto do garoto.

― Estou...

― Não está nada ― disse, repreendendo-o. ― Você é bem fraco para bebida. Você está branco como papel!

― Eu estou bem ― disse Théo, a voz embargada saindo com dificuldade de sua garganta. Estava começando a ficar com sono.

― Você vai acabar vomitando ― concluiu Toby, segurando Théo pelo braço. ― Venha, vou te levar até o banheiro.

Os dois começaram a andar em direção ao banheiro no fim do corredor. Ora Théo esbarrando na parede, ora Toby tropeçando em seus próprios pés. Ambos estavam bêbados. Pela luz do poste perto do pátio, Théo conseguia ver o cabelo espetado de Toby colado em sua testa, os olhos verdes olhando caminho à frente.

Quando chegaram à porta do banheiro, Toby a manteve aberta para Théo passar. Logo depois acendeu a luz fluorescente do banheiro. Théo encostou-se à parede fria, coberta por azulejos brancos, olhando para a lâmpada no alto.

― Está bem? Vai vomitar? ― perguntou Toby, olhando-o da porta, com os olhos preocupados.

Théo negou com a cabeça e se aproximou da pia. Ligou a torneira de água fria e molhou as mãos. Depois em forma de concha, levou a água para seu rosto, lavando-o. Olhou para a parede a sua frente, esperando encontrar um espelho para ver seu reflexo, mas não era possível. Não havia espelho no banheiro. Puxou um pouco de papel toalha e enxugou o rosto, esfregando seus olhos.

Quando se virou para ir em direção a porta, foi surpreendido por Toby, parado bem atrás dele. Muito perto de Théo... Perto até demais para seu gosto.

― O-o que foi? ― balbuciou Théo, se encolhendo, desejando que Toby se afastasse. O que ele estava fazendo?

― Você é tão... ― Toby começou a dizer, os olhos verdes fixos em Théo, a voz baixa num sussurro hipnotizante. ― Lindo...

― Toby, cara ― falou Théo, um medo repentino percorrendo por seu corpo. Queria sair do banheiro. Não estava gostando da situação. ― Para com isso.

― Eu sei que você gosta ― sussurrou ele, arrastando a voz lentamente, enquanto se aproximava para falar ao ouvido de Théo. ― Eu vi a maneira que me olhou quando você me viu de cueca no quarto.

O hálito embriagante dele fazia o enjoo de Théo aumentar. Toby estava se aproximando novamente dele, e Théo, numa tentativa de fuga, afastou Toby, empurrando-o com as mãos. Tão rápido como um cavalo de corrida, Toby avançou para frente, agarrando Théo pelos braços e o jogando contra a parede, batendo sua cabeça contra os azulejos. Um fiapo de dor se espalhou por sua cabeça, seu estômago voltando a se revirar.

― Não tente fugir, Théo ― rosnou Toby, seus olhos demonstrando uma raiva felina que só os predadores exibiam. Tentando desvencilhar-se de suas mãos, ele apenas conseguiu com que Toby o prendesse mais contra a parede. Ele era visivelmente mais forte.

Engolindo em seco, Théo pensou numa maneira de escapar dos braços do outro garoto.

― Desde aquele dia fiquei pensando em você... ― Toby soltou uma das mãos que prendia Théo, e a levou até o rosto do garoto, afastando o cabelo da testa, depois afagando o pescoço. ― Ninguém vai saber, Théo.

― Se afasta de mim ― cuspiu o garoto, cerrando os dentes. Sentia seu corpo mole demais para tentar fazer alguma coisa.

― Ah, vai dizer que não percebeu o modo como eu te olhava só de toalha?

Théo sentiu o corpo de Toby totalmente colado ao seu. Perna com perna, cintura com cintura, ombros com ombros. Toby era apenas alguns centímetros mais alto que ele, seu rosto estava totalmente de frente para o de Théo. Lentamente, Toby passou a língua úmida pela sua bochecha. Théo com sua respiração entrecortada em pânico, apenas pensava numa maneira de escapar dali. Sua cabeça girava e não conseguia pensar em um modo concreto para fugir.

Toby remexeu seu quadril, e Théo sentiu algo enrijecido contra sua virilha, fazendo-o corado. Depois Toby começou a baixar a mão, mexendo no fecho de sua calça.

― Me larga! ― Théo gritou, e, no mesmo momento, sentiu a boca de Toby grudando-se a sua, a língua com gosto de vodca e cigarro penetrando sua boca violentamente. Théo quis afastá-lo, mas não conseguia. O corpo e as mãos de Toby continuavam prendendo-o contra a parede. Foi quando, com um sopapo, Toby foi puxado bruscamente para trás, sendo jogado contra a outra parede. Ele apenas viu quando Kalleo se jogou pra cima de Toby, desferindo um soco no seu queixo, ao mesmo tempo em que Théo se virou para o lado e vomitou no chão, dobrando-se em dois.

― Não é assim que se trata uma pessoa ― ele ouviu Kalleo rosnar para Toby, enquanto socava novamente seu rosto, e Toby caía no chão.

Rapidamente, Kalleo se ajoelhou ao lado de Théo, com expressões assombradas mescladas a raiva no rosto.

― Você está bem? ― perguntou, erguendo o rosto suado de Théo.

Théo, com os olhos difusos, olhava para ele, mas sem enxergá-lo. Kalleo levantou-se novamente e partiu para Toby, que ainda estava caído no chão. Ergue-o pela camisa e o olhou nos olhos, fuzilando-o de raiva. A artéria em seu pescoço pulsava compulsivamente.

― Nunca mais quero ver você perto dele. Entendeu?

Toby, apenas um boneco de cera sem movimento nas mãos de Kalleo, balançou a cabeça. Arrastando-o para fora do banheiro, Kalleo o jogou contra o chão e voltou para o interior do banheiro.

Ajoelhando ao lado de Théo, que já tinha parado de vomitar, o ajudou a se levantar. Abriu a torneira e levou um pouco de água ao rosto de Théo.

― Está melhor? ― perguntou ele, resfolegando, ainda segurando o outro garoto pelo braço esquerdo.

― Acho que sim ― murmurou, olhando para o chão e vendo os ladrilhos distorcidos. Quando tentou andar, suas pernas fraquejaram e ele teria caído no chão se Kalleo não o estivesse segurando.

― Acho melhor levá-lo para seu quarto.

Sem Théo perceber exatamente o que ele estava acontecendo, Kalleo abaixou-se e o levantou pelos braços, como se ele fosse um saco de farinha que não chegava a pesar sequer trinta quilos.

Enquanto Kalleo o carregava para fora do banheiro, Théo tentou fixar o olhar nele. Reconheceu uma ótima oportunidade para observá-lo sem se sentir repreendido. Meu Deus, ele era tão lindo. E estava carregando Théo para seu quarto, com os braços fortes segurando-o firmemente.

Ligeiramente, o coração em seu peito começou a bater fortemente, mas logo deixou de sentir essa sensação que só aparecia quando estava com Kalleo, quando sentiu um véu negro cair por sobre ele, suas pálpebras pensando, e não conseguindo mais manter seus olhos abertos.


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