O Segredo da Lua escrita por F L Silva


Capítulo 3
Capítulo 3 - Parceiros no Crime




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Mais tarde, logo depois de Théo ter saído da detenção, despediu-se de Juan e voltou correndo para o dormitório. Depois de ter tomado banho foi direto para o refeitório, esperando que desse tempo ao menos de colocar alguma coisa para dentro do estômago, caso não fosse tarde demais e o refeitório ainda estivesse aberto.

Por sorte, estava. E ainda tinha alguns internos terminando seu jantar.

Com a bandeja em mãos, Théo se aproximou da mesa mais próxima quando viu uma mão acenando para ele a distância. Era Zoe. Ela estava sozinha numa mesa do outro lado do refeitório.

― Como está indo? ― perguntou ela assim que ele se sentou em frente para ela.

― Ér... Acho que bem ― respondeu, dando de ombros, dando uma garfada no seu bife que estava bem passado, até demais. As cozinheiras nunca acertava o ponto da carne?

― Humm. Esperava outra resposta vinda de você. ― Por trás dos óculos de Zoe, os olhos verdes o olhavam atentamente, como se procurasse por vestígios de fraqueza na resposta que ele lhe deu. ― Vamos lá, conta. Nós dois sabemos que isso aqui não é nenhum hotel cinco estrelas.

Théo tinha que admitir: Zoe era persistente.

― Na verdade tudo aqui é horrível, mas não ao ponto que eu achei que seria.

― E como você achou que seria? Algum louco psicótico te perseguindo para te estripar? ― Zoe riu de sua própria piada.

― Quase isso.

― Dificilmente esse tipo de coisa acontece aqui. A não ser que você arranje inimigos. Daí eles ficam querendo seu sangue.

― Já aconteceram casos assim no instituto?

― Sim. Teve um caso em especial que chama a atenção de todos. Há alguns anos, havia uma garota, uma tal de Molly. Ela era muito linda e com isso acabava por encantar a todos. Porém... ela não queria nada com ninguém. Muitos caras davam em cima dela e ela sempre os dispensava. Até que um dia acharam-na caída no banheiro, chorando incontrolavelmente. Ela tinha sido estuprada.

― Estuprada? ― Théo arregalou os olhos, se esquecendo de comer.

― Isso mesmo ― confirmou Zoe, olhando atentamente para Théo. ― Ela disse que três garotos entraram atrás dela no banheiro e trancaram a porta logo em seguida. Depois, abusaram dela a força. Acharam-na minutos depois que os caras que abusaram dela foram embora. Ela estava chorando desesperadamente no banheiro. Levaram-na para seu quarto no dormitório e ela pediu para ficar sozinha. Horas depois a companheira de quarto dela entrou para ver como ela estava e... ― Zoe engoliu em seco, seu rosto tomando uma aparência sombria. ― Ela estava morta. Tinha usado os lençóis da cama para se enforcar.

Théo olhou para seu jantar. Já tinha perdido a fome e estava pensando em como alguém teria coragem de tirar a sua própria vida.

― E o que aconteceu com os garotos que a estupraram?

― Não sei. Ninguém sabe. ― Zoe deu de ombros. ― Eles estavam com os rostos cobertos. Nem ela mesma viu quem era.

― Mas o internato não fez nada para descobrir quem o fez?

― Sim e não. Tentaram, mas sem que a notícia se espalhasse. A diretora Sabrina não queria causar um escândalo com isso. Por isso notificou apenas as autoridades e a família da garota. Depois disso, câmeras foram instaladas por todo o instituto e grades foram reforçadas.

― Não consigo imaginar uma coisa dessas... ― disse Théo com a cabeça abaixada, olhando para a mesa, mas sem enxergá-la.

― Mas aconteceu.

― Em qual banheiro isso aconteceu?

― No banheiro feminino ao lado do saguão principal.

Théo arregalou os olhos.

― O quê foi? ― questionou Zoe, franzindo o cenho.

― Limpei aquele banheiro hoje ― respondeu. ― Detenção.

― Relaxa. Não é como se ela tivesse se transformado na nova Loira do Banheiro e assombrasse a todos que colocam o bumbum na privada.

― Hum.

― Detenção no seu primeiro dia de aula, é? ― Ela arqueou a sobrancelha.

― Sou um cara de muita sorte ― zombou.

― Percebi. Não basta cair de bunda no chão, tem que ser vida louca.

― Há-há. ― Théo revirou os olhos, tentando disfarçar o sorriso.

* * *

Quando abriu a porta de seu quarto no prédio dos dormitórios, Théo deu de cara com Toby, seu companheiro de quarto, parado em frente à cômoda, apenas vestindo uma cueca branca.

Ligeiramente, o rosto de Théo corou.

― Desculpe ― murmurou, já se virando para sair do quarto e deixar seu companheiro de quarto sozinho.

― Oh, é você. Não precisa sair, parceiro ― falou o garoto despreocupadamente, mas ao perceber o rosto corado de Théo, pôs ambas as mãos em frente a virilha, como se ao fizesse isso, de alguma maneira, deixasse Théo mais confortável. ― Não está acostumado a ver homens seminus, não é? ― questionou Toby, erguendo uma sobrancelha.

― Não... ― respondeu engolindo em seco, visivelmente desconfortável.

― Foi o que imaginei. Sendo assim vou me trocar no banheiro. ― E se afastou para o banheiro no canto do quarto.

Respirando fundo, Théo se aproximou de sua cama e se sentou. Não estava acostumado a ver garotos seminus em qualquer que seja o recinto. Quando fazia exercício físico, evitava tomar banho no vestiário junto com os demais garotos.

Minutos depois, Toby estava de volta, dessa vez vestido numa bermuda, camisa e jaqueta.

― Como estou? ― perguntou a Théo.

― Vai sair?

― Sim, vou ficar com uns amigos.

― Achei que não era permitido ficar fora até depois das dez da noite.

― E não é. Mas se você não contar para ninguém, ninguém irá descobrir. Entendeu?

― Não irei contar.

― É assim que se faz. ― E se aproximou de Théo, bagunçando seu cabelo com a mão. ― Eu vou indo; vou chegar tarde.

E saiu pela porta.

Rapidamente, Théo se levantou e trocou de roupa, colocando uma apropriada para dormir. Depois, sentou-se na cama e pegou o seu exemplar de Morte Súbita para reler algumas partes. Enquanto devorava o livro palavra por palavra, as frases em si não faziam sentido algum em sua mente. Ele parecia um analfabeto funcional tentando ler. Não conseguia se concentrar direito. Por fim, abandonou o livro e pegou sua mochila para dar uma estudada no conteúdo das aulas do dia. Ao abrir a mochila, a primeira coisa que viu foi a camisa de botão de Kalleo. Esquecera-se de entregar a ele quando o vira no banheiro com tudo o que se passava no momento.

Retirando a camisa de dentro da mochila, Théo a abriu diante de si e a dobrou novamente. Estava para colocá-la novamente dentro da mochila quando fez um movimento involuntário e ergueu a camisa até seu rosto, sentindo o leve cheiro de baunilha que ali estava impregnado.

O que estou fazendo?!, se perguntou o garoto, confuso. Balançando a cabeça, enfiou a camisa dentro da mochila e retirou de lá seu caderno.

* * *

Théo passou o dia seguinte olhando para todos os cantos a procura de Kalleo. Quando acordou naquela manhã, decidiu que deveria entregar a camisa dele.

Quando foi para os dois últimos tempos daquele dia, encontrou com Kalleo na aula de Artes. E como Théo chegou no meio do semestre, os alunos já estavam na parte da pintura.

A tarefa era pintar, ou tentar, uma obra parecida com a do O Grito do pintor Edvard Munch.

Assim que adentrou na sala, pensou em ir até Kalleo para entregar a camisa, como tinha planejado que faria. Mas acabou se retraindo ao vê-lo, e decidiu que entregaria depois, ao fim da aula. Théo apenas se encaminhou para a tela onde a professora lhe indicou, pegou os pincéis e tintas que deveria usar, e começou a pintar desastrosamente sua versão de O Grito. Ele nunca fora bom com desenhos. Não era algo que tinha habilidade para fazer, como algumas outras pessoas.

Toda a sala era clara e iluminada, com várias obras de artes penduradas nas paredes. Os alunos ― cerca de vinte ― estavam com seus cavaletes formando um semicírculo; todos olhando para uma cópia da versão original de O Grito.

Enquanto pintava sua tela, olhou pelo canto do olho direito a sua frente, para o local onde Kalleo estava. Automaticamente, seu corpo congelou, desviando o olhar de volta para a tela, ao ver que os olhos de Kalleo estavam fixos nele.

Por que ele estava me olhando?, perguntou-se, baixando a cabeça. Talvez pelo mesmo motivo que você o estava observando, disse uma voz no seu subconsciente. Esse pensamento foi o suficiente para fazer seu rosto corar.

Théo focou a atenção na tela, tentando dar o melhor de si para fazer o melhor possível no seu desenho, mas logo seu traço falhou, ao levantar novamente o olhar e ver que Kalleo continuava a observá-lo. Puta que pariu, ele está fazendo isso de propósito?! Se estava ou não, Théo o encarou de volta, mantendo os olhos fixo nele, sem piscar. Kalleo fez o mesmo, sustentando o olhar. Parecia um jogo de quem ficava encarando por mais tempo. Então, por fim, Kalleo sorriu, e Théo corou mais ainda. Logo Kalleo voltou o olhar para a sua tela, mordendo de leve o lábio inferior enquanto sorria e balançava de leve a cabeça.

Quando a aula enfim terminou, Théo guardou seus pincéis e tintas na estante no fim da sala, junto com sua tela. Quando se virou, deu de cara com um muro de pele e músculos.

― Nossa... ― arquejou ele, recuperando-se do leve susto.

― Te assustei? ― perguntou Kalleo, sorrindo.

― Você sempre aparece assim do nada?

― Apenas gosto de surpreender. ― Ele deu de ombros. ― Assim como você, ontem no banheiro.

Os olhos de Théo se arregalaram, atônitos.

― Ah, ontem no banheiro, Juan e eu...

― Eu sei ― cortou Kalleo, com uma expressão serena.

― Não, é que... ― Théo sentia necessidade de explicar para ele o que estava fazendo ontem no banheiro, e ainda mais com outro garoto. Idiota, rosnou seu subconsciente. Mas qual a necessidade disso? Ele estava com outro garoto no banheiro masculino. Não era como se estivesse fazendo algo de errado.

― Eu já sei o que estava fazendo lá. Detenção. A Sra. Morelo apareceu logo depois que você saiu, perguntando por você. Eu disse que você já tinha saído. Ela resmungou algo que não entendi, e me disse que você estava cumprindo detenção. Depois eu sair e a deixei soltando fumaça pelas orelhas.

― Isso mesmo ― concordou, puxando a alça de sua mochila para os ombros.

Kalleo o olhou, pendendo a cabeça para o lado.

― E então, está gostando?

Théo engoliu em seco. Do que ele estava falando? Quando compreendeu de que se tratava das aulas, respondeu:

― Está falando sério?

Por que ele sempre ficava desconcertado na presença dele?

Comprimindo os lábios finos, Kalleo respondeu:

― Sim, estou.

― Estou odiando, na verdade. As aulas, os professores, os alunos...

― Era de se esperar. ― Ele deu de ombros.

― Já esperava por essa resposta?

― Claro. Meio que já sabia que seria essa.

― Se já sabia, então por que perguntou? ― Algo na mente de Théo gritou: “Não seja grosseiro!”. Mas era tarde demais. As palavras já tinham saído de sua boca e não tinha mais como puxá-las de volta.

Por sorte, Kalleo não se incomodou.

― Por falta de assunto melhor.

Com essas palavras, Théo sentiu sua face esquentar lentamente. Por que ele estava com vergonha? Não foi ele quem disse aquilo; foi Kalleo. Quem deveria se envergonhar era ele e não Théo!

― Meninos ― chamou a professora do outro lado da sala, próximo à porta. ― A aula já acabou.

Olhando a volta da sala, ambos os garotos perceberam que a sala estava vazia, senão por eles e a professora.

― Ah, sim. Vamos ― falou Kalleo, guiando Théo para fora da sala, a mão em suas costas. ― Temos que fazer uma coisa antes da hora do jantar.

― O quê? ― perguntou Théo, acelerando o passo para acompanhar Kalleo que quase corria pelos corredores.

― Não quer se vingar?

― De quem? ― indagou enquanto ambos desciam as escadas para o térreo. Atravessaram o saguão principal e se encaminharam para os vestiários ao lado da quadra, parando na porta do masculino. Todo o momento, Théo esperando uma resposta para sua pergunta.

― Do Bryan, por ele ter feito você cair no refeitório no outro dia ― falou como se a resposta fosse óbvia. ― Às vezes ele se junta a outras turmas para treinar.

Théo comprimiu os lábios. O que ele pensa em fazer?

Ele nunca fora uma pessoa vingativa, mas... ele sempre se martirizou por nunca fazer coisas arriscadas que seria divertido para ele. Sempre agira como um bom garoto, seguindo as regras. Talvez estivesse na hora de sair um pouco da linha...

― O que planeja fazer? ― perguntou, decidido que faria o que quer que Kalleo sugerisse. Este, no mesmo momento sorriu, tirando de dentro da mochila um frasco.

― Furtei isso aqui hoje mais cedo do armário do zelador.

Olhando para a embalagem do frasco, Théo viu que era cera de depilação.

― Como você sabia que o zelador tinha isso no armário...?

― Ouvir as garotas da minha turma de matemática outro dia comentando que viram ele se depilando com cera perto do depósito ― respondeu, dando de ombros.

― Certo ― concordou Théo. Era bem estranho o zelador estar se depilando no depósito, mas pensando bem, tudo ali era bastante estranho. ― Mas como vamos nos vingar de Bryan dentro do vestiário?

― Há esse horário, não tem ninguém aí dentro ― disse apontando para a porta ―, estão todos na quadra, treinando. Sempre ficam um pouco mais de tempo depois que a aula acaba.

― O.K.

― Então... você vem ou não...? ― perguntou Kalleo, dessa vez não esboçando sorrindo algum; parecia estar preocupado se Théo aceitaria ou não.

― Vamos nessa.

― É isso, aí. ― E abriu a porta do vestiário.

Como Kalleo dissera, o vestiário estava vazio. Eles seguiram direto para os armários, e Kalleo começou a mexer num deles, colocando a combinação no cadeado e abrindo logo em seguida.

― Esse é o seu? ― perguntou Théo.

― Não. É o do Bryan. ― E tirou uma toalha de linho branco do gancho no fundo do armário. ― Segura aqui, por favor. ― E entrou a Théo.

― Acha que isso vai dar certo?

― Sim. O Bryan é cheio de pelo no peito e nas costas.

― Achei que ele era seu amigo.

― E é ― confirmou Kalleo, espalhando a cera pela toalha. ― Mas também é um idiota. E mexeu com um amigo meu. No caso, esse amigo é você ― completou ao ver o olhar confuso de Théo.

Algo no fundo do peito de Théo se acendeu.

― Mas quando ele me derrubou da cadeira, não éramos amigos ainda.

― Não, mas isso não importa. Além do mais, ele bem que anda merecendo isso mesmo. Pronto, acho que já está bom ― disse guardando o pote de cera na mochila e colocando a toalha delicadamente no gancho do armário. No exato momento em que ele trancou o armário, ambos os garotos ouviram vozes no lado de fora do vestiário. ― Chegaram...

― E agora, o que faremos? ― guinchou Théo, apreensível. Essa não, seremos pegos!, pensou.

― Aqui ― chamou ele, puxando-o para os fundos do vestiário e se escondendo atrás de uma estante cheia de toalhas. Ambos se agacharam, e viram pelas brechas das prateleiras os garotos chegando suados da aula de educação física.

De repente, olhando para a estante na qual estava escondido, Théo lembrou-se de algo:

― E se ele pegar uma das toalhas das estantes?

― Ele não usa a das estantes. Tem uma própria ― sussurrou Kalleo, a boca próxima à orelha de Théo. ― Ele costuma ser bem fresco em relação a pertences íntimos.

Théo, ao ouvir aquelas palavras sendo sussurradas no seu ouvido, sentiu um leve calafrio se espalhando por todo seu corpo. Kalleo estava muito próximo dele, um pouco atrás, com a cabeça bem próxima ao seu pescoço. Seu joelho estava encostado na coxa de Théo. Uma corrente elétrica percorria por todo seu corpo, com esse toque.

Théo implorou mentalmente que não corasse, pois se o fizesse, Kalleo perceberia logo de imediato.

― Ali está ele ― sussurrou Kalleo. Théo acompanhou seu olhar e viu Bryan se encaminhando para os chuveiros. Com o que Théo viu a seguir, fez enrubescê-lo até a alma, já que não estava acostumado a frequentar vestiários cheios de homens. Pois, nesse instante, Bryan se despiu e entrou debaixo do chuveiro, assim como vários outros garotos.

Kalleo, por outro lado, parecia não se importar com o que via a sua frente. Claro que não. Era normal para ele ver homens pelados dentro do vestiário. Ele já estava acostumado a isso.

Tentando evitar que Kalleo percebesse, Théo olhou para baixo.

― O que foi? ― perguntou ele. ― Está tudo bem?

― Não foi nada ― falou. ― Só estou preocupado caso nos peguem aqui ― mentiu.

Kalleo riu baixinho.

― Se nos pegarem, me faço de culpado.

― Quê?! ― guinchou Théo.

― Digo que me joguei pra cima de você.

― Do que você está falando?! ― ralhou, corando mais do que achou ser possível.

― Achei que estava preocupado com o que iam pensar nos vendo aqui, escondido atrás da estante no vestiário masculino. Dois homens sozinhos...

Os olhos de Théo saltaram das órbitas. Nunca, em toda sua vida, ficara tão encabulado como agora.

― Relaxa, estou brincando ― confessou Kalleo, dando um sorriso torto e... sexy? ― E se nos pegarem, não vai ter nada. Ninguém sabe que fomos nós que fizemos aquilo.

Théo não respondeu, apenas mordeu o lábio inferior olhando para o chão.

Demoraram-se alguns minutos até que Kalleo falou novamente ao seu ouvido, o calafrio outra vez se espalhando pelo seu corpo, arrepiando seus pelos.

― Ele está saindo...

Agora, Bryan estava parado em frente ao armário, retirando a toalha de linho branco do gancho e esfregando-a despreocupadamente no corpo. Foi então que ele parou com a toalha no peito, esbugalhando os olhos.

― Quê?... ― soltou ele, tentando puxar a toalha, que estava grudada no seu tórax. ― Cacete! ― gritou ele, o rosto vermelho de pânico e dor.

Nesse momento, todos do vestiário se viraram para ele, olhando a cena, e explodiram na gargalhada.

― O que foi Bryan? ― perguntou um garoto se aproximando dele, tentando conter o riso.

― A toalha... tá grudada!

Junto com Bryan, o garoto começou a puxar a toalha. E mais os garotos à volta riram. No momento em que a toalha largou de seu corpo, um grito estridente ― que Théo não sabia definir se era de dor ou raiva ― escapou da boca de Bryan. A toalha, em suas mãos, estava cheia de pelos.

Seu rosto esquentou mais do que o imaginável, ficando como um camarão. Então se virou para os demais do vestiário e berrou:

― QUEM FEZ ISSO? QUEM FOIO MALDITO? QUANDO EU DESCOBRIR QUEM FOI VAI ME PAGAR MUITO CARO!

Os garotos, que antes estavam rindo, ficaram sérios e começaram negar entre si.

Extravasando a raiva, Bryan começou a socar as portas dos armários, amassando-os, até que o treinador chegou e o obrigou a parar, mandando-o se vestir e acompanhá-lo, deixando todos os outros para trás, rindo.

Ao lado de Théo, Kalleo riu baixinho.

― E aí, valeu a pena? ― perguntou Kalleo, olhando-o nos olhos enquanto Théo ria.

― Cada momento ― respondeu.

* * *

Momentos depois, quando todos os outros garotos saíram do vestiário, eles enfim puderam sair de detrás da estante. Tiveram que esperar todos saírem para ninguém perceber a presença deles e assimilarem com o que aconteceu com Bryan.

― O caminho está livre ― falou Kalleo, olhando para fora do vestiário.

Quando saíram, já era noite. Ambos começaram a andar pelo gramado indo na direção dos dormitórios.

― Nossa, a cara que o Bryan fez... Nunca irei me esquecer ― comentou Kalleo, gargalhando.

Théo riu também. Era impossível ver Kalleo rindo e não acompanhá-lo. Não era por que a sua risada era engraçada, mas... por que algo nele provocava isso em Théo. Algo que ele não sabia como explicar.

― Kalleo? Achei você! ― chamou uma garota que se aproximava deles. Esta tinha os cabelos compridos e loiros preso num rabo de cavalo apertado. Vestia o uniforme do instituto. Tinha expressões duras e desafiadoras como as líderes de torcida nos colégios americanos ostentavam.

― Aqui estou eu, Megan ― respondeu ele, virando-se para ela.

Théo pôde sentir Kalleo se retrair por um momento, como se não quisesse contato com a garota. Ou simplesmente por ter sido pego em frente ao vestiário logo após o que Théo e ele fizeram com Bryan momentos antes, e ela por algum motivo saísse espalhando isso.

― Procurei você por todo lugar depois que as aulas acabaram. Onde estava? ― disse, pondo as mãos na cintura e arqueando uma de suas sobrancelhas bem delineada. Assim como Zoe, ela também assumia um ar de superioridade. ― Ah, quer saber? Esquece. ― E olhou para Théo, como se percebendo a presença dele pela primeira vez. Ela o olhou de cima a baixo, analisando-o. ― E quem é esse?

― Ele se chama Théo. E é novo aqui ― respondeu Kalleo, secamente.

Não, definitivamente, ele não gostava dela.

― Ah, o que caiu de bunda ― disse, lembrando-se do primeiro dia de Théo, quando Bryan o derrubou da cadeira na frente de todos no refeitório.

Kalleo apenas a fitou, queimando-a com o olhar ao ouvir as palavras dela. Mas Megan, por outro lado, parecia não ligar para o olhar que ele lhe lançava.

― Então, Théo ― ela disse para ele. ― Desculpe-me, mas tenho que roubar o Kalleo por um momento. ― E agarrou o braço de Kalleo, puxando-o na direção do saguão principal, pegando-o de surpresa. ― Ele prometeu que me ajudaria com a lição de biologia e que jantaria comigo essa noite. ― E deu um sorrisinho, piscando o olho para Théo, dizendo sem emitir som algum as palavras “Ele é meu”, ao mesmo tempo em que Kalleo, sendo puxado por ela, murmurou um “Desculpe”.

Eles desapareceram por trás das paredes do saguão, deixando Théo sozinho na noite fria, e confuso com o que acabara de presenciar.


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