O Segredo da Lua escrita por F L Silva


Capítulo 24
Epílogo - O Fruto Proibido


Notas iniciais do capítulo

Carta que Théo deixou no bolso do paletó de Kalleo.



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Às vezes, penso em ligar para seu celular, mesmo sabendo que você nunca irá atender, só para poder ouvir sua dócil e sensual voz mais uma vez anunciando que caiu na caixa postal. Só de ouvir a sua voz dizendo essas palavras, faz com que meu coração se acenda como uma lâmpada que está prestes a queimar, mas isso é ligeiramente aplacado pela triste percepção da realidade de que você se foi, e eu fiquei aqui sozinho, com apenas lembranças para recordar de você.

Não há volta e nunca existirá. Mas mesmo assim não consigo me conformar. Não consigo me conformar que te perdi com a mesma rapidez com que você entrou em minha vida. É como ver a semente que você plantou no jardim morrer depois de um dia de tempestade. Mamãe diz que, com o tempo irei esquecer. Bobagem. Ninguém nunca esquece alguém que amou. E mesmo que pudesse, a verdade é que eu não iria querer. Não posso esquecer. Isso jamais poderia acontecer. É simples e dolorosamente impossível. E pensar em tudo isso faz com que o grande buraco negro no meu peito se abra mais. O buraco vazio de escuridão que você deixou ao ir embora. Um buraco que se alarga e se expande cada vez mais dolorosa e impiedosamente ainda enquanto as horas passam lentamente no relógio. É como se ele estivesse sendo arregaçado por garras afiadas, forçando a destruir tudo dentro de mim, deixando-me apenas em dor.

Quase sempre me pego pensando no que aconteceria daqui a alguns anos se nada disso tivesse acontecido. Provavelmente, como planejamos, moraríamos numa casa próximo à praia, com um imenso quintal, para nossos futuros filhos, que hoje, infelizmente, não existirão mais. Mas querer não é poder. Nem tudo é como queremos, e sim, como o universo deseja.

Que universo mais egoísta e trapaceiro...

Sei que é querer demais nessas circunstâncias, mas eu queria poder beijá-lo todos os dias ao acordar em seus braços quentes e aconchegantes. Queria poder sentir teu cheiro doce e exótico ao ter você em meus braços. Queria fazer guerra de travesseiros contigo todas as noites antes de dormir até as penas voarem ao ar, saindo das fronhas, brincando como duas crianças que um dia fomos, sem nos preocupar com nada. Queria ficar te enchendo o saco quando você fosse tentar, erraticamente, fazer o almoço, mesmo queimando tudo. Queria assistir todos os dias ao crepúsculo dos teus olhos, prateados como a Lua, toda vez em que você me dizia que me amava. Queria brigar com você quando estivesse ensinando coisa errada aos nossos filhos. Queria sentar no balanço do parque ao seu lado, de mãos dadas, enquanto observávamos a campina, onde todos os fins dos dias o sol se deitava. Enfim, tínhamos tantos planos...

E tudo isso me leva a uma linha de raciocínio: eu não teria medo. Não teria medo do preconceito e dos olhares das pessoas para cima de nós, só por que nos assumimos gays. É tolo pensar nisso agora, mas eu não consigo evitar de pensar em toda a sociedade defeituosa pela qual estou cercado. Eu não me importaria em gritar para todos que o amo, Kalleo.

Sei que pensamentos erráticos levam a atitudes drásticas, que por fim, ocasionam em nada mais que consequências injúrias. Esse é o erro da sociedade. As pessoas usam palavras que realmente não foram especuladas para justificar seus erros como humanos. E ainda mais, elas se auto-intitulam corretos, quando na verdade, elas não tem a mínima capacidade de enxergar o tamanho do erro que paira bem diante de seus longos e tortos narizes.

O fato de alguém gostar de outra pessoa do mesmo sexo não significa que ela optou por isso. Eu mesmo não optei, e sei que nem mesmo você. Sei, inclusive, que o sentimento nasceu da forma mais pura, como qualquer outro ser humano tem a capacidade de sentir. Do amor. E sou eternamente grato por esse sentimento ter preenchido o vazio que era meu coração, me ligando diretamente a você. E sei que a cada dia que passa uma pequena e mínima porcentagem de pessoas realmente entendem a causa, enquanto outros simplesmente preferem ignorar.

O fruto proibido não é aquilo que algumas pessoas acham ser errado, e sim aquelas pessoas que destroem umas as outras e não procuram nenhum modo viável de evitar isso, levando a decadência da raça humana para o vasto abismo de escuridão pútrida que hoje existe.

O conhecimento não causa o caos, e sim a ignorância.

E então, de frente para tudo isso eu me pergunto: Por que será que existe guerra? Qual a causa do racismo e de diversas formas de preconceitos? E então meu subconsciente surrara uma única e simples palavra coerente capaz de explicar toda a situação: Incompreensão.

Uma coisa é fato: Bombas explodem, promessas são desfeitas, corações são quebrados, o mundo gira, o tempo passa, a população cresce, sentimentos afloram, o céu chora, estrelas brilham, lágrimas secam, mas um único sentimento ainda é plausível, se elevando acima de tudo: o amor. A forma mais válida e pura de sentimento. E falo entre lágrimas que você, Kalleo, me deu o que várias pessoas não puderam me dar em tão pouco tempo: um pedaço do céu que nunca vou poder esquecer.


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