O Segredo da Lua escrita por F L Silva


Capítulo 20
Capítulo 20 - Sob o Fogo


Notas iniciais do capítulo

Capítulos finais...



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/682858/chapter/20

Como previsto, Kalleo não voltou a falar com Théo nos dias seguintes. Naquele mesmo dia, na aula de artes, Kalleo agiu indiferente quanto a ele. Nem sequer virou o rosto para olhá-lo. Hoje, na quarta-feira, no último horário, na aula de geografia, foi a mesma coisa. Era como se Théo não existisse mais para Kalleo, e tudo o que eles viveram juntos não tivesse existido. Como se simplesmente tivesse passado uma borracha, apagando os detalhes de sua memória.

Por toda a aula, Théo se encolheu em sua carteira, virando o rosto somente para cruzar o olhar com Zoe, que lhe lançava um de anuência de volta. Ela sentia-se mal pelo amigo, por encontrar-se nessa devida situação com o cara que ela sabia que ele gostava.

Juan compareceu à aula de geografia, mas não ousou falar com Théo. Seu rosto, assim como o de Kalleo, estava marcado por hematomas. Théo sentia a necessidade de falar com ele, desculpar-se, mas numa sala cercada por alunos que fofocavam as escondidas, e com o cara que tinha causado os machucados em seu rosto presente no local, era impossível. Por toda a aula, Juan mantinha uma expressão neutra, e Théo podia ver a careta grotesca que ele fazia ao olhar para as costas de Kalleo.

Depois que as aulas terminaram, Théo foi o último a sair da sala. Não tinha nada em mente quando decidiu arrumar seus materiais lentamente, mas quando viu Kalleo saindo rapidamente pela porta, deu-se conta de que tinha esperanças de poder falar com ele, caso ficassem a sós na sala de aula.

Já no seu quarto, tomou banho e se arrumou para a palestra que começaria às dezenove horas no auditório. Não disseram exatamente como deviam ir vestidos, somente que usassem algo admissível, de acordo com as normas do reformatório. O mais próximo que Théo conseguiu se vestir a São Diego, foi usando sua melhor jeans preta, e uma camisa de botão lisa, também da cor preta. Calçou seu par de tênis gastos e tentou, em vão, por um pouco de ordem no seu cabelo que insistia cair-lhe sobre a testa. Cinco minutos perdidos depois, deu as costas ao espelho e saiu do quarto.

A noite no lado de fora estava escura e abafada, não aparentando que iria chover, mas vez ou outra o céu estrondava com o rebombar de um trovão acompanhado por raios. Andando para o auditório, encontrou-se com Zoe entre os alunos que rumavam a caminho. Assim como as demais garotas, ela também estava vestida numa calça jeans preta e uma blusa de manga longa de cor violeta. O cabelo estava solto, caindo em cascatas pelos ombros. De fato, ela estava linda. Théo pensou quando foi a última vez que vira uma garota tão linda quanto Zoe, mas não conseguiu se lembrar.

― Está linda ― comentou, sorrindo de leve.

― Não seja puxa saco ― ela retrucou com escárnio.

O auditório, assim como da última vez que Théo esteve nele, estava abarrotado de cadeiras redobráveis espalhadas por todo lado em fileiras, deixando apenas um caminho estreito para o centro, onde havia uma mesa com um notebook e um projetor instalado. Sobre o palco, atrás do pedestal e encostado a parede, havia uma enorme lona branca, usada como tela para a projeção do filme que iriam passar naquela noite.

O tema da palestra era sobre a Segunda Guerra Mundial, ministrada pela professora Morelo. De acordo com Zoe, sempre que ela ficava responsável por uma noite de palestra assim, era a mais chata de todas. Os alunos praticamente pediam para morrer.

― Toda vez que entro nesse auditório me lembro de quando fiquei nua na frente de todos ― murmurou Zoe.

Ela puxou Théo para se sentarem entre as últimas fileiras, atribuindo a maior distância possível do palco.

A palestra começou e as palavras da Sra. Morelo foi um borrão na cabeça de Théo. Primeiro, por que ele nem prestou atenção no que a mulher dizia. Segundo, por que seus olhos não pararam quietos, procurando Kalleo por todo o recinto. Ele não parecia estar em lugar algum.

Quando por fim a professora terminou de falar ― finalmente! ―, as luzes foram apagadas e deu início ao filme. A essa altura, Théo já estava entediado, empertigando-se na cadeira a ponto de se levantar e ir para qualquer outro lugar.

O filme começou e a imagem de um grupo de garotos quando criança correndo pelas ruas no período da segunda guerra mundial preencheu o telão. Os minutos foram se passando e Théo se remexia cada vez mais na cadeira, desconfortável. Tentar manter a mente fixa no filme era quase impossível, mas vez ou outra conseguia captar uma cena. Assistiu quando a família do garoto principal se mudou para uma casa no campo, cercado por soldados, e quando ele, infeliz por não ter nenhum amigo para brincar, encontrou outro garoto, infeliz assim como ele, do outro lado da cerca do que ele julgava ser uma fazenda.

Metade do filme tinha sido exibido quando, subitamente, todo o auditório escureceu. Todos os alunos calaram-se de imediato, se remexendo, e logo os burburinhos se elevaram sobre o breu. Théo girou a cabeça, tentando enxergar alguma coisa por entre a escuridão, mas nada conseguia ver. Todo o ambiente estava sem luz.

Por entre as vozes dos professores que gritavam para os alunos ficarem em seus lugares, o eco do trovão ribombou no lado de fora, assustando a todos. Em seguida, Théo viu no exato momento em que um raio desceu do céu e caiu sobre uma árvore, do outro lado da janela do auditório. Vários alunos gritaram, se afastando e mantendo a maior distância possível das janelas daquele lado.

― Um raio deve ter atingido o gerador ― comentou Zoe, segurando o braço de Théo entre o alvoroço de alunos que arrastavam suas cadeiras e pisavam em seus pés.

Algo dentro de seu bolso vibrou e Théo demorou alguns segundos para perceber que era seu celular. Retirando-o com cautela, para ninguém a volta perceber a luz emitida dele, tampou os lados do visor com a mão e leu o que estava escrito na tela: UMA NOVA MENSAGEM DE TEXTO DE KALLEO. Com o peito martelando, desbloqueou o celular e clicou na janela para abrir a mensagem. Era curta e objetiva:

 

Me encontre nas arquibancadas

 

Apenas essas palavras, mais nada. Théo fitou a tela do celular por um instante, confuso. Kalleo nunca tinha lhe mandado uma mensagem. Mas ele queria se encontrar com Théo agora, nas arquibancadas da quadra. E ele iria onde quer que fosse.

― Não sabia que você tinha celular. ― Théo pulou, tentando desviar o celular da visão de Zoe, mas era tarde demais. A garota estava com a cabeça entre seu ombro, olhando fixamente para o aparelho e tinha certeza que ela tinha lido a mensagem de Kalleo. ― Não precisa se assustar, não vou contar para ninguém.

Théo enfiou o celular de volta no bolso e encarou a garota.

― Desculpa, depois te conto tudo ― disse, levantando-se da cadeira.

― Você vai atrás dele? Com todo o internato sem luz?

― Não tenho outra opção ― balbuciou, sentindo o peito inflar com a expectativa de encontrar Kalleo.

― Todos os alunos se encaminhem para fora do auditório! ― gritou a voz da Sra. Morelo de cima do palco, agitando freneticamente uma lanterna. ― Vocês serão levados para seus quartos!

― Ah, droga ― xingou Zoe, revirando os olhos.

Todos os alunos seguiram ao mesmo tempo para as portas do auditório, esbarrando uns nos outros. Zoe se segurou a Théo firmemente, com medo de cair na confusão que se alastrava.

― Calma! Devagar! ― gritava o Prof. Austin parado nas portas, também com uma lanterna em mãos, fazendo sinal para os alunos.

O cheiro de suor e perfume barato encheu as narinas de Théo com o amontado de alunos a volta dele, sufocando-o. Com pressa, querendo sair o mais rápido possível, soltou-se da mão de Zoe que o puxava para conseguir sair da multidão e acelerou o passo, entrando por brechas.

Quando atravessou as portas, desviou rapidamente para o lado, saindo do fluxo de alunos que seguia caminho para o prédio dos dormitórios. Tinha que encontrar Kalleo. Com certeza ele já estaria lá, esperando pacientemente por ele, sentado na arquibancada, encarando o céu que clareava repetidamente com os raios que se projetavam.

Théo correu, esgueirando-se pelas paredes, esperando que nenhum professor o notasse saindo de fininho, fugindo para a quadra. O ar abafado na noite soprava conta seu rosto, deixando a ponta do nariz e as maçãs do rosto gélidas.

Usou a fraca lanterna do celular para guiar-se em meio à escuridão, tropeçando em pedras e arbustos no caminho que ladeava a quadra. As arquibancadas ao longe era apenas um grande quadrado de bloco negro e irregular. Quando parou em frente a ela, direcionou a facho de luz por cada fileira de bancos, procurando por Kalleo, esperando que estivesse sentado em algum deles.

― Kalleo? ― chamou, a voz cheia de expectativa ansiando para encontrá-lo novamente e resolver todas as diferenças que havia entre eles.

Enquanto vasculhava as últimas fileiras de bancos, sentiu o couro cabeludo pinicar. Sua boca secou com a percepção de que Kalleo não estava ali. Talvez não tivesse chegado ainda. Quando ele mandou a mensagem, devia estar se encaminhando para o local, pensou.

A noite ficou silenciosa, e o vento soprou com mais força conta seu corpo, ondulando sua camisa ao vergastar. Suas mãos começaram a suar, mesmo com o frio crescente da melancolia da noite de inverno.

Minutos se passaram e Kalleo não apareceu. Havia algo de errado. Théo podia sentir. Algo havia acontecido. Kalleo nunca marcou de vê-lo, e mesmo se marcasse, não daria um bolo como estava fazendo agora.

Virando-se para ir embora, Théo deu de cara com um rosto borrado de maquiagem. Pó branco se espalhava por toda a face, enquanto os contornos externos dos lábios eram de um vermelho vívido. Os dentes eram afiados como presas caninas e protuberantes para fora da boca. Os contornos dos olhos eram pintados de azul, e havia dois buracos onde seriam os olhos. A volta do rosto, o cabelo era de um laranja desbotado e crespo. E no lugar do que seria o nariz, um inconfundível nariz de palhaço.

Théo gritou assustado, afastando-se do palhaço com expressões diabólicas. Deu dois passos para trás até sentir uma dor lancinante na nuca e ser arremessado para frente, com um sopapo, caindo de cara no chão. O mundo a volta girou, sua visão ficou embaçada, e não conseguia mais distinguir as formas que se moviam sobre ele.

A última coisa que viu antes de apagar foi a máscara de palhaço pairando sobre seu rosto.

* * *

Mãos enlaçavam seus braços e pernas, arrastando-o sobre o piso de madeira.

Quando voltou a si, sua visão ainda estava embaçada. Apenas conseguia enxergar vultos distorcidos andando de lá para cá com algo brilhando em seus pulsos. Lampiões clareavam o local pequeno de teto baixo, presos a ganchos nas paredes. Um em especial estava no centro do piso.

O cheiro úmido de mofo irritava seu nariz a cada vez que inspirava o ar pútrido. Tentou mover suas pernas, de modo que pudesse sentar, mas percebeu que não podia quando sua cabeça girou com a dor que se espalhava por sua nuca. Tinha sido acertado, e tinha certeza que havia um grande calo.

Théo gemeu, cerrando os dentes. O que está acontecendo?

Mãos os agarraram pelos ombros, arrastando-o pelo chão frio. Um calafrio se espalhou por sua espinha quando o puseram sentando contra a parede, encostado a um cano enferrujado que subia por toda a parede, desaparecendo no teto.

― O amarra bem ― disse uma voz, mas Théo não conseguiu reconhecê-la, por mais que soasse familiar.

Cordas prenderam suas mãos juntas atrás do corpo, sendo atadas ao cano. Mãos finas e pequenas agiam rapidamente, dando vários nós na corda de barbante grosso.

Quando a pessoa que amarrou Théo se afastou, ele pôde ver o que brilhava tanto, emitindo luminosidade nos braços das pessoas. Eram lanternas de pulso.

Sua visão tênue se acostumou a pouca luminosidade, e os pontos pretos que formavam em seu campo de visão foram se extinguindo. Três figuras vestidas de preto pairavam diante dele, andando de um lado para o outro na pequena sala coberta por estantes e caixas de papelão. Todas as três estavam mascaradas. Máscaras, Théo tinha certeza, que tinham sido retiradas do estoque de roupa da sala de teatro.

Um dos indivíduos usava uma máscara de gás que cobria toda a extensão do rosto, deixando a vista apenas o cabelo curto na parte de trás da cabeça, com tiras de couro em volta, prendendo a máscara fixamente no rosto. Grandes lentes escuras encobriam seus olhos, e a respiração era pesada e auditiva por todos no recinto.

O que tinha amarrado Théo usava uma máscara branca de porcelana, com um sorriso diabólico no rosto. Os contornos dos olhos e boca sombreados de preto, e as sobrancelhas arqueadas da mesma cor. O capuz preto do moletom cobria seu cabelo, escondendo parte da máscara ao andar cabisbaixo.

O terceiro Théo já o tinha visto. A máscara de palhaço assassino era o mais alto de todos, e tinha algo na maneira como andava que despertava certa lembrança a ele.

Ele parou em frente de Théo, o bastão usado para jogos de beisebol em punho, com a cabeça pendendo para o lado, olhando-o sinistramente.

Théo se contraiu. O que estava acontecendo? Onde ele estava? Tentou proferir palavras, mas não conseguiu articular nenhuma para fora de sua garganta que estava seca e escassa.

― Chegou a hora ― falou o palhaço, a voz sombriamente grossa e encoberta por um aparelho que mudava a frequência de sua voz, preso por trás da máscara.

Ele o rodeou, esfregando a ponta do bastão no rosto de Théo. As farpas solta da madeira arranhando sua pele.

― Quem é você? ― Théo conseguiu balbuciar, a cabeça confusa. Sentia a ânsia de vômito crescendo dentro dele e se apoderando de seu corpo, deixando-o lento e mole.

― Isso é o que pouco importa agora ― respondeu o que estava com máscara de porcelana, abaixando-se de frente para Théo e o pegando pelo queixo, forçando-o a erguer o rosto a altura do seu. ― Sozinho você não é tão ameaçador assim. ― E riu, largando o queixo bruscamente e se afastando.

― Não abuse dele ― foi a vez do que estava com a máscara de gás de falar, andando em círculos a sua frente.

― Não temos a noite toda ― disse o palhaço.

― Não ― concordou, pondo a mão em seu ombro. O cara de porcelana era o mais baixo de todos, e consideravelmente mais magro, comparado aos outros dois. ― Mas tenho certeza que vamos saber aproveitar cada milésimo de segundo que estivermos com ele.

Ambos disfarçavam suas vozes, usando algum aparelho para encobri-las. Todas estavam distorcidas. Nenhuma reconhecível. Mas todos os três eram alunos do instituto. Théo sabia disso, e algo no seu subconsciente sussurrava a resposta de quem poderia ser.

― O que querem de mim? ― rosnou Théo, totalmente consciente de toda a situação. Kalleo não tinha marcado nenhum encontro com ele. Tinha sido esses três, se passando por ele. Mas o que mais incomodava Théo era saber como eles conseguiram o celular do Kalleo.

A percepção lhe atingiu como um soco no queixo. Tinham pegado Kalleo. Provavelmente ele estaria em algum lugar por ali, escondido inconscientemente. Tinham pegado seu celular e se passado por ele para atrair Théo. Por isso Kalleo não estava no auditório.

― O que queremos de você? ― repetiu o palhaço. ― Ele perguntou o que queremos dele, pessoal. ― E começou a rir, enquanto esfregava o bastão em suas mãos, girando-o casualmente.

― É bem simples ― interveio o de máscara de gás, dando de ombros. ― Queremos vingança.

Théo engoliu em seco, sentindo um gosto metálico nojento preso na garganta. Mal teve tempo de cuspir quando o palhaço se lançou para frente e acertou o bastão em sua barriga, o dobrando em dois no chão.

Théo tossiu, lutando para respirar. A dor se espalhando por seu corpo, enquanto o sangue se esvaía do rosto, deixando-o pálido como um fantasma.

― Isso é bom ― exultou-se, girando o bastão.

Théo voltou a sentar-se com dificuldade, cerrando os punhos de raiva.

― Por que da próxima vez você não tira a máscara para me bater, Bryan? ― sibilou.

A máscara não ajudava a encobrir a pessoa que estava por trás dela. Théo soube quem era assim quando viu seu físico inconfundível e a arrogância com que pronunciava cada palavra.

O palhaço riu, abaixou-se de frente para ele e retirou a máscara. Bryan olhava fixamente em seus olhos, sorrindo maliciosamente.

― Devo admitir que você é um garoto bem esperto ― desdenhou. ― Mas genuinamente burro a ponto de acreditar na pequena pulga de dúvida que planei em sua cabeça. Kalleo nunca teve nada a ver com o estupro de Molly. Eu estava lá, e sei quem foram os responsáveis. ― O olhar psicopata brincava em seus olhos, brilhando com uma intensidade alarmante. ― Você é bem fácil de ser manipulado. Tinha que ver o quão fácil foi roubar o celular de Kalleo em seu quarto e usar para atraí-lo até a quadra.

Não tinham capturado Kalleo. Somente entraram em seu quarto quando ele estava fora e roubaram seu celular. Mesmo com todo sufoco da situação, Théo conseguiu suspirar por ele estar a salvo, e não amarrado atrás de algumas dessas estantes.

― Por que seus amiguinhos também não tiram as máscaras?

― Por que eles não recebem ordens de você. ― E antes que pudesse perceber, o punho de Bryan o acertou no rosto, atingindo sua bochecha esquerda.

― Para, Bryan! ― exclamou o de máscara de gás. ― Você disse que íamos apenas usá-lo para atrair Kalleo.

Bryan o encarou do chão. Levantou-se e ficou frente a frente com outro, os olhos fuzilando-o.

― Mas isso não irá me impedir de socá-lo o quanto eu quiser! ― rosnou.

O de máscara de gás nada disse, permaneceu encarando Bryan, a respiração pesada por trás do disfarce.

― Esse não era o plano ― falou.

― Que se dane o plano!

Ambos se encararam, como numa competição de quem encarava mais para marcar território. Por fim, Bryan se afastou.

― Onde estamos? ― perguntou Théo, olhando a volta. Nunca tinha estado naquele local antes.

― Estamos no depósito do zelador ― respondeu o de máscara de porcelana. ― Ninguém vem aqui, a não ser o próprio zelador do instituto. O lugar é bem afastado do campus, bem depois da quadra.

― Ninguém poderá nos ouvir daqui. ― Bryan olhou pela janela lateral.

Pela primeira vez, Théo identificou um velho cortador de grama encostado na parede oposta. Tesouras, facas, ancinhos e regadores pendiam das estantes. No piso velho de madeira, folhas secas eram arrastadas pela brisa de vento que adentrava no depósito.

Théo tinha que sair dali. Tinha que dar um jeito de sair das mãos daqueles três antes que Kalleo chegasse ali. Era tudo um plano.

Tentando mexer nas cordas que o prendiam ao cano enferrujado, percebeu que estas estavam presas muito fortes. Só o que conseguia fazer era deslizá-las para cima, e talvez, com um pouco de esforço, conseguir ficar de pé. Mas isso não seria o suficiente. Tentou pensar em algo, mas nada lhe veio à cabeça. Se ao menos conseguisse alcançar uma faca ou uma tesoura da estante ao lado...

― Como pretendem atrair Kalleo até aqui? ― perguntou, decidindo que seria melhor mantê-los entretido, ganhando tempo.

― Deixamos um bilhete no quarto dele. ― Bryan encostou-se a parede, cruzando os braços. ― Tenho certeza que assim que ele o ver, virá correndo.

― Não sei o que vocês esperam com isso ― cuspiu com asco.

― Você ainda não entendeu? ― Bryan sorriu. ― Você e seu namoradinho fez uma coisa para cada um de nós.

Théo engoliu em seco, vasculhando por sua cabeça algo que teria feito a alguém no reformatório. Sabia o motivo de Bryan, já que ele implicou com Théo desde o momento em que chegara a São Diego.

Olhando para os outros dois mascarados, tentou reconhecê-los. Ambos estavam bem disfarçados, usando roupas por cima de outras a fim de esconder seu físico. Poderia ser qualquer um, mas passou pela mente de Théo que o de máscara de gás pudesse ser Toby. Ele tinha motivos para querer vingança, após ter sido agredido por Kalleo na noite em que tentou agarrar Théo a força no banheiro.

Théo se contorceu bruscamente, o sangue subindo à cabeça.

― Me soltem ― grasnou, puxando as amarras com força.

― Fica quietinho ― falou o de cara de porcelana chutando as costelas do garoto.

Théo gritou e, na mesma hora, a porta do depósito se abriu bruscamente. Kalleo pulou para dentro do recinto, pegando o que estava com máscara de gás de surpresa, pulando por cima dele e o derrubando no chão. Virou-se para Bryan e lançou-se contra ele, agarrando-o pelo pescoço e o prendendo contra a parede. O rosto de Bryan ficou vermelho causado pela privação de oxigênio. Num movimento rápido, ergueu o joelho e atingiu Kalleo entre as pernas, que foi forçado a soltá-lo, se contorcendo.

O de máscara de gás se aproximou pelas costas e o acertou um chute nas costas. Kalleo caiu para frente, grunhindo, mas logo ele girou de lado e deu uma rasteira no mascarado, derrubando-o no chão. Tentou ergue-se por cima dele, mas Bryan foi mais esperto. Acertou-lhe um soco na cabeça, desorientando-o. Aproveitando a situação, o arrastou, jogando-o contra a estante ao lado de Théo. Kalleo escorreu para o chão desorientado, gemendo.

― O nosso convidado especial chegou ― cantarolou Bryan, cuspindo no chão, os lábios vermelhos cortados.

De dentro de uma caixa perto da porta, o de máscara de gás pegou uma corda e se aproximou de Kalleo. Amarrou suas mãos atrás das costas, assim como fizeram com Théo. Mas não o prenderam ao cano.

― Kalleo?! ― chamou Théo, preocupado, as palavras saltando apressadamente para fora de sua boca. Sua respiração irregular o deixava tonto.

Kalleo o olhou diretamente nos olhos, o rosto contorcido numa expressão de dor.

― Olha só o que temos aqui. ― Bryan sorriu, abrindo os braços e olhando de Théo para Kalleo. ― Théo, o arrasador de corações. E Kalleo, o seu fiel protetor.

― Own, que lindinho ― falou o de máscara de porcelana, inclinando a cabeça. ― O casalzinho junto.

― Vai à merda! ― vociferou Kalleo.

O de máscara de gás aproximou seu rosto a centímetros do de Kalleo.

― Você não está em posição de exigir nada. ― Inesperadamente, ergueu o punho e desferiu o golpe no estômago de Kalleo.

Théo se agitou preso nas amarras. Eles eram loucos. Não tinha a menor noção do que estavam fazendo.

― É muita covardia ― murmurou Kalleo enquanto resfolegava ― três contra dois.

― O mundo não é justo ― deu de ombros.

― Tem razão. O mundo não é nada justo. Mas não acha que temos o direito de ver o rosto dos seus amiguinhos, Bryan?

Assim que Bryan olhou para os amigos a suas costas, Kalleo olhou rapidamente alarmado para Théo, olhando freneticamente para o chão entre eles e logo depois nos olhos dele, tentando sinalizar algo.

― Eles não se sentem a vontade para mostrar seus rostos. ― Bryan voltou à atenção para eles.

Olhando para o espaço no chão que Kalleo sinalizou para Théo, percebeu que o que ele queria dizer. Durante sua luta com Bryan, tinha sido jogado contra uma das estantes e derrubado uma caixa que havia sobre ela. No chão, a centímetros de Théo, jazia um pequeno canivete.

Ele tinha que pegar, mas não sabia como. Suas mãos não alcançavam até ele, mas talvez se puxasse com o pé poderia alcançar.

― Então como vai ser? ― indagou Kalleo, sorrindo sarcasticamente. ― Quando Théo e eu sairmos daqui, vamos entregar vocês. Correção: o Bryan. Quando Bryan for pego, vai ser interrogado e será forçado a entregar seus companheiros.

Bryan gargalhou, balançando a cabeça negativamente.

― Aí é que você se engana. ― Ele abriu os braços teatralmente. ― Quem disse que depois de hoje à noite estaremos na São Diego?

― E qual é seu plano, sabichão? Pular o muro com arame farpado e cerca elétrica?

Pensa, Théo. Pensa! O que fazer para alcançar o canivete sem que ninguém percebesse? A única maneira de conseguir pegá-lo seria quando os três estivessem com a atenção voltada para outro lugar, menos ele.

― Você acha que sou tão burro a ponto de não ter um plano de fuga? ― debochou.

Foi a vez de Kalleo gargalhar.

― Eu não acho você burro ― disse ele. ― Tenho certeza que você é burro.

O rosto de Bryan se contorceu formando uma careta de ódio, vermelha como uma pimenta. Estava para se lançar contra Kalleo, quando este, surpreendendo a todos, se impulsionou para frente, acertando Bryan com a cabeça em sua barriga, arrastando-o até a parede do outro lado. No mesmo momento, os outros dois mascarados correram, puxando Kalleo.

Essa era a hora. Théo esticou sua perna esquerda de encontro ao canivete. Com o pé, o puxou em sua direção. O canivete bateu na parede ao lado de suas mãos.

O cara de máscara de gás desferiu um soco no ombro de Kalleo, enquanto o de porcelana o paralisava no chão. Bryan se levantou, bufando de raiva. Arrastando o pé para trás, chutou as costelas do garoto.

― Não! ― gritou Théo, agoniado em ver Kalleo apanhando.

Bryan virou-se para Théo, as narinas dilatando de fúria.

― Como é? ― perguntou sorrindo. Novamente puxou o pé e voltou a chutar Kalleo nas costelas. Kalleo se encolheu em posição fetal, tentando se proteger.

Théo voltou a gritar, as lágrimas quentes escorrendo pelo rosto.

Tentando fazer com quem ninguém percebesse, pegou o canivete com suas mãos e o abriu desajeitadamente. Sentiu a lamina perfurar superficialmente seu dedo, depois a virou para a corda, e, lentamente, sem demostrar que usava as mãos, começou a cerrar as amarras.

Bryan jogou Kalleo novamente de encontro a parede, que tossiu e cuspiu sangue no chão. Seu rosto estava retorcido de dor.

Théo sentiu seu coração se quebrar em mil pedaços. Suas mãos começaram a tremer, mas ele sabia que aquele não era o momento adequado. Tentou conter seu nervosismo e concentrar-se no canivete nas mãos.

Percebeu que tinha que ganhar tempo. Tinha que distrair os três o máximo possível para que evitassem voltar a machucar Kalleo.

― Qual é a verdadeira intenção de vocês? ― balbuciou ele, sua voz falhando no final da frase. ― Nos matar?

― Matar, não ― falou o de máscara de gás segurando seu rosto entre as mãos. Por trás das lentes escuras, os olhos dele o encaravam, mas Théo não conseguia ver. Quem seria ele? ― Só queremos dar uma lição nele. ― E indicou Kalleo.

― Mas claro que você não fica de fora ― falou o de rosto de porcelana.

― Isso não estava no acordo ― ele se voltou para o outro.

― Agora não é hora para cavalheirismo. ― Bryan se intrometeu.

Com um leve puxão, a corda rompeu e as amarras caíram das mãos de Théo. Estava livre. Mordendo o lábio inferior, pensou em uma maneira de conseguir escapar, levando Kalleo junto consigo, mas nada lhe vinha à mente. Seria três contra dois, e um dele estava amarrado ainda. Théo era pequeno em comparação aos outros, e tinha certeza que no primeiro golpe cairia com tudo no chão e seria novamente amarrado.

Olhou para Kalleo em busca de ajuda, mas ele estava cabisbaixo, respirando profundamente, o peito subindo e descendo pesadamente.

Théo observou cada detalhe na cabana que pudesse lhe ajudar. O ancinho seria de grande ajuda se ele o tivesse em mãos e pudesse usar contra os garotos, mas estava do outro lado, atrás de Bryan. Théo não imaginou no que jarros, regadores e tesouras lhe poderiam ser de tão útil.

Do lado de fora do depósito, a chuva começou a cair pesadamente, se chocando com força sobre o teto baixo. Pela janela na porta, podia ver a escuridão que ainda pairava sobre o campus. A energia não tinha voltado.

O velho depósito era somente iluminado pelas lanternas de pulso e por três lampiões a querosene. Dois deles estavam presos em ganchos nas paredes e o terceiro ainda no chão, não muito afastado de Théo.

Ele poderia usar, mas o que iria fazer? Incendiaria o depósito com Kalleo ainda amarrado? Não. Seria muito perigoso.

― Chega de enrolação ― anunciou Bryan, observando os dois. ― Vamos acabar logo com isso.

― O que vão fazer? ― perguntou Théo, tentando conter o pavor.

O cara de porcelana puxou uma cadeira de madeira do canto do depósito, colocando-a no centro da sala. Com a ajuda do fantasiado de máscara de gás, Bryan arrastou Kalleo para o a cadeira, colocando-o sentando.

― O ato final.

E antes que Théo pudesse dizer alguma coisa, Bryan se debruçou sobre Kalleo, desferindo um soco em seu rosto.

― Esse é por ter colocado cera de depilar em minha toalha ― gritou, a veia na têmpora latejando de raiva. ― E esse é por ter me socado outro dia no corredor, defendendo esse moleque!

― Não! ― gritou Théo, o pavor crescente dentro dele como um animal selvagem. ― Parem, por favor!

Kalleo cuspiu mais sangue no chão, o cabelo suado grudado na testa e os olhos preenchidos de dor.

― Isso, grita! ― rosnou Bryan. ― Pede misericórdia por ele, seu viadinho de merda!

Novamente as lágrimas voltaram a escorrer pela face de Théo, uma pressão latejante no peito o esmagando.

O que estava fantasiado com uma máscara de porcelana se aproximou de Kalleo, passando a mão delicadamente por seu peito. Aproximou seu rosto a centímetros do de Kalleo, fitando-o.

― Quero que você veja nos meus olhos quando eu socar você ― sibilou.

Baixando o capuz, uma cascata de cabelos louros caiu sobre seus ombros. Théo nem precisou esperar que retirasse a máscara para saber quem era.

Sorrindo maliciosamente com o rosto a centímetros do de Kalleo, Megan ultrajava a expressão mais ameaçadora que vira na garota desde que chegara ao instituto.

  ― Vou fazer uma ferida em você ― ela proferiu lentamente ― igual a que você fez em mim.

Bruscamente, Megan se endireitou e rumou até a uma das estantes coladas na parede ao lado da porta. Abriu algumas caixas e depois voltou para junto de Kalleo com uma tesoura de jardinagem em mãos.

― O que pensa fazer, Megan? ― perguntou Bryan.

― Apenas causar uma pequena cicatriz.

― Não pode mutilá-lo só por que ele quebrou seu coração.

― Tem razão ― ela fez biquinho. ― Mas posso deixar uma cicatriz no rosto dele para que ele jamais possa esquecer. ― Repuxando os lábios, abriu um enorme sorriso psicopata.

Ela se virou novamente para Kalleo, apontando a tesoura diretamente no seu rosto enquanto o puxava pelo cabelo com a outra mão. Desnorteado, Kalleo não teve outra opção a não ser agir como uma marionete.

É agora. Tinha que agir antes que aquela lamina o perfurasse.

Agindo por impulso, com a adrenalina fluindo pelo sangue, Théo se lançou para frente, em direção a Bryan, que foi pego de surpresa. Seu corpo se chocou contra a muralha de pedra que era ele, ambos rodando no ar. Como se estivesse esperando por uma distração, Kalleo reagiu contra Megan, caindo no chão e derrubando ela junto, pegando-a de surpresa. A tesoura de jardinagem soltou de sua mão e tilintou ao cair no chão. Ambos rolaram no chão, Megan por cima de Kalleo. O último mascarado do trio partiu para cima de Kalleo, o chutando na lateral do corpo, enquanto Megan tentava imobilizá-lo. Agonizado, tentando escapar das mãos que o prendia, Kalleo chutou o lampião com o pé, que se chocou contra a parede, quebrando-se. O fogo se espalhou e subiu pela parede mais rápido do que podia imaginar.

Bryan acertou dois socos seguidos no rosto de Théo, e ele pôde sentir o gosto amargo e metálico de sangue na boca. Agarrando-o pela nuca, Bryan o jogou no chão, sua cabeça girando ao encontro do piso duro de madeira.

Sua visão tornou-se embaçada, mas conseguiu ver no exato momento em que o fogo cresceu mais ainda pela parede e atraiu a atenção de todos quando um dos lampiões explodiu, e fragmentos chocaram-se contra o rosto de Megan. Ela urrou. Um grito forte e estridente de fazer os pulmões doerem, as mãos cobrindo o rosto enquanto se debatia de dor.

― SOCORRO!

O único mascarado correu para ela, enquanto Bryan olhava confuso, desnorteado a volta, percebendo o fogo pela primeira vez.

Sem que ninguém percebesse, Kalleo conseguiu se livrar das amarras com a tesoura de jardinagem caída no chão, próximo a ele. Aproveitando o momento, pegou o bastão caído que Bryan tinha utilizado para bater neles e correu em sua direção, acertando-o nas pernas, derrubando-o.

Movido pela adrenalina, tentando não fixar-se na dor pulsante na lateral do seu corpo, Théo fez o mesmo. Levantou-se, a visão ainda embaçada, um misto de rostos e a claridade do fogo misturando-se em seu campo de visão.

O de máscara de gás voltou-se para ele. Théo estava muito cansado, sentia seu corpo pesar. Esperou pelo golpe, mas este não veio. Ao invés do golpe, o garoto o pegou pelo braço e o puxou na direção da porta.

Suas pernas se moviam no automático, enquanto olhava para trás, vendo o fogo crescer a volta. O calor penetrando em sua pele; o cabelo na nuca molhado de suor.

Estavam perto da porta quando a estante de madeira soltou-se da parede e caiu diante deles, bloqueando o caminho.

Pegos pelo susto, Théo soltou-se do cara, puxando o braço de volta.

― Você tem que sair daqui ― falou o garoto mascarado. Ele ergueu a mão e retirou a máscara, revelando seu rosto. Théo afastou-se para trás.

Você ― murmurou, incrédulo.

Mesmo sob as sombras que o fogo lançava sobre seu rosto, Théo reconheceu o inconfundível rosto de Juan.

― Não há tempo para explicar ― falou apressadamente. ― Mas temos que sair daqui.

― Com você eu não vou a lugar algum ― menosprezou Théo, a boca seca e escassa.

No chão ao seu lado, Megan voltou a gritar de dor. Théo pôde ver parte de seu rosto queimado, a carne viva visível na face.

― Me ajudem... ― choramingou.

A fumaça começou a subir e seus pulmões começaram a doer ao respirar. Estava começando a ficar difícil enxergar por entre ela.

Com Bryan caído no chão, Kalleo ficou em pé sobre ele, o bastão a centímetros de sua cabeça, pronto para golpeá-lo.

― Acha que vai acabar assim? ― Bryan riu sarcasticamente, o sangue escorrendo por seus lábios. ― Olha só para nós aqui. O depósito está pegando fogo. Não vai se demorar muito até as vigas virarem cinzas e o teto desabar sobre nossas cabeças.

― Tem razão ― disse Kalleo, endireitando-se. ― Não vai acabar assim. ― Saltando o bastão no chão, se afastou lentamente de Bryan, indo na direção de Théo. ― Nós vamos embora.

Théo expirou profundamente quando Kalleo chegou ao seu lado. A expectativa de ir embora inundando seu peito. Ambos tinham acabado de virar as costas quando ouviram um som metálico a suas costas, acompanhado de um estalo vindo da direção de Bryan.

― Virem-se ― ordenou Bryan.

Com o coração palpitando com a percepção do que estava nas mãos do garoto, ambos se viraram lentamente. Bryan carregava uma pistola pequena de cor preta nas mãos.

O olhar de Théo cruzou rapidamente com o de Juan, notando a surpresa em seu olhar diante da arma.

― O show ainda não acabou ― falou com rispidez, os dentes cerrados de raiva. ― Leve ela daqui ― ordenou para Juan, indicando Megan que continuava a se debater no chão. ― Rápido! ― gritou após ver a relutância dele.

Obedecendo Bryan que apontava a arma diretamente para ele, Juan se abaixou e pegou Megan pelo braço. Lançou um olhar significante para Théo e, rapidamente, deu a volta pela estante caída no chão e saiu pela porta, deixando-a aberta atrás de si.

― Agora somos só nós três ― murmurou Bryan, sinistramente, ambas as mãos tremendo ao segurar a arma.

O fogo continuava a se espalhar e a camada de fumaça ficou mais espessa e escura, desfocando a visão.

Pelo canto do olho, Théo vislumbrou de relance uma figura vermelha esgueirando-se na porta. Engoliu em seco, imaginando estar vendo coisas causadas pela fumaça que inalava.

― Acho que as coisas chegaram um pouco longe de mais. ― Bryan tossiu, abanando a fumaça do nariz.

― Bryan ― falou Kalleo, cautelosamente, o pavor estampado na voz com a arma apontada para Théo e ele. ― Não faça nada de imprudente...

― Obrigado, mas não é você que toma as decisões aqui. ― Ele sorriu.

Lentamente, Kalleo e Théo começaram a andar de lado, tentando sair da mira da arma, enquanto Bryan se aproximava, cortando espaço. Os três começaram a andar em círculo, de maneira cautelosa, cada passo sendo devidamente calculado, até que Bryan ficou próximo à porta e Théo e Kalleo na outra extremidade.

― Levantem as mãos ― ordenou Bryan, a voz falhando.

Devagar, ambos ergueram as mãos na altura do peito.

Théo sentiu o sangue se esvair de seu rosto e ficou tonto. As pernas bambas ameaçando derrubá-lo no chão a qualquer momento. A lateral do seu corpo e sua bochecha doía, mas ele fazia esforço para não se concentrar na dor. Teria tempo depois, caso conseguisse escapar dali com vida.

Achando estar vendo coisas, vislumbrou Zoe entrando no depósito, cautelosamente, bem atrás de Bryan, tentando não ser notada. Théo arregalou os olhos, espantando, pronto para gritar e mandá-la sair dali.

― Chegou a hora. ― Bryan sorriu maliciosamente, abrindo seu sorriso psicopata. Tinha mirado o revólver diretamente no peito de Théo, quando um emaranhado de cabelos vermelhos saltou por sobre ele, pegando-o de surpresa.

Zoe agarrou-se a Bryan, tentando fazê-lo soltar a arma. Percebendo o que estava acontecendo, os garotos fizeram o mesmo que ela, correndo para eles, mas antes de alcançá-los, Bryan se jogou de costas na parede, imprensando a garota, fazendo com que batesse a cabeça na parede. Ela se soltou dele e deslizou para o chão, nocauteada.

Virando-se rapidamente para ela, Bryan mirou a arma e disparou.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Desculpe-me...



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "O Segredo da Lua" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.