O Segredo da Lua escrita por F L Silva


Capítulo 16
Capítulo 16 - Sussurros Inócuos


Notas iniciais do capítulo

Nunca escrevi um capítulo tão delicado como este e, sinceramente, não sei se conseguir alcançar o contraste de sentimentos de angustia e amor. Para escrever este capítulo, tive que sentar e refletir sobre ele por horas, sempre ouvindo a mesma música para me inspirar. Creio que tenha conseguido, ou ao menos chegado perto do esperado.
Espero que gostem! :3



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A visão de Kalleo encolhido contra a parede se debatendo lastimavelmente era simplesmente aterrorizante de se presenciar. Théo nunca o tinha visto assim ou sequer imaginava que isso poderia acontecer. O que teria acontecido para causar-lhe isso? Era a primeira vez ou já tinha acontecido outras vezes? Em seu peito, seu coração se quebrava lentamente.

Ajoelhando-se com as pernas bambas em frente de Kalleo, sua cabeça girou tentando colocar o que via em mente. Suas mãos estavam tremendo quando coloco-as nos ombros dele.

― Kalleo... ― chamou ele, a voz vacilante num sussurro preso na garganta.

Automaticamente, ao tocar em seus ombros, Kalleo ergueu o rosto totalmente contorcido e aterrorizando. Seus olhos que costumavam ser cintilantes e intensos estavam vermelhos, vazios e opacos, as pupilas dilatadas e completamente marejadas. Lágrimas escorriam por sua face, molhando o peito nu. Seu cabelo estava grudado na testa, completamente encharcado de suor. Seu queixo e lábios tremiam descontroladamente. Kalleo olhava para Théo totalmente aturdido, mas por mais que seus olhos estivessem fixos em sua direção, ele não conseguia enxergá-lo. Apenas o atravessava com o olhar, como se estivesse perdido num pesadelo com os olhos abertos.

Théo arfou. Meu Deus, não sabia o que fazer.

― K-Kalleo, o-o que a-aconteceu? ― gaguejou.

Ele não respondeu, continuou a chorar e puxou as pernas para mais próximo de si, batendo a cabeça na parede repetidamente. Parecia uma criança com um medo inconfundível. Théo estava agoniado, seu estômago se revirava. Kalleo não parecia reconhecê-lo. Estava absorto em alguma coisa que tomava de conta de seu cérebro, não enxergando nada a sua volta.

Segurando-o novamente pelos ombros, o sacudiu com mais força, tentando trazê-lo de volta a realidade.

― Kalleo, acorda!

Por um milésimo de segundo Théo achou que funcionara. Kalleo parou de chorar e ergueu os olhos diretamente para ele, focalizando-o. As pupilas continuavam dilatadas.

― Não... ― sussurrou ele. ― Você não!

Agindo de maneira completamente desesperada, Kalleo pulou para trás, se arrastando pelo chão, afastando-se de Théo. As lágrimas tinham voltado a descer por sua face e seu rosto se contorcia ainda mais em dor. Não tentava mais olhar para Théo, apenas virava o rosto para todas as direções do quarto, menos para ele.

― D-de novo, n-n-não ― murmurava. ― Eu não quero eu não quero eu não quero!

Théo paralisou sobre o chão. Seu estômago se contorcia tanto que achava que vomitaria a qualquer instante. Não sabia o que estava acontecendo. O que estava realmente acontecendo com Kalleo? Por que ele dissera aquilo?

Théo se aproximou novamente dele e o viu, abominavelmente, se contraindo, encolhendo-se contra a parede, tomando distância de Théo.

― Não me toque, seu desgraçado! ― gritou. ― Não encoste mais em mim. Por favor, por favor, por favor...

O coração de Théo se partiu em migalhas ao vê-lo falar essas palavras. Não, ele não falava diretamente para Théo, mas sim para outra pessoa. Ele estava alucinando. Era a única explicação palpável.

Àquela altura, Théo já estava chorando. Mesmo não sabendo a causa do comportamento repentino de Kalleo, partilhava de sua dor, e vê-lo naquelas circunstâncias era abominável demais. Não sabia o que fazer, só queria que Kalleo voltasse ao normal e ficasse bem. Naquele momento, faria de tudo para vê-lo sorrir novamente como sempre fazia. Desesperado, Théo agarrou ambas as mãos que Kalleo usava para cobrir o rosto, forçando-o a olhá-lo.

― K-Kalleo, sou eu, Théo ― choramingava. ― Sou o Théo, lembra-se de mim?

Os olhos do garoto focalizaram Théo e ficaram olhando-o por um longo tempo. Théo esperou, prendendo a respiração. Não conseguia contar quantas vezes ficara nervoso com o estômago embrulhado desde que conheceu Kalleo. Lentamente, as expressões no rosto do garoto se suavizaram, reconhecendo-o.

― Théo? ― sussurrou de volta.

― Sim, sou eu. Théo ― ele suspirou, aliviado.

Inesperadamente, Kalleo jogou-se contra Théo, enlaçando-o com os braços, puxando-o fortemente para junto de si. Encostou a cabeça no seu peito e voltou novamente a chorar e tremer. Théo o abraçou de volta, com uma das mãos afagando seu cabelo enquanto a outra passava ao longo de suas costas.

― Está tudo bem ― consolava. ― Você está bem agora.

― E-eu o vi ― murmurava Kalleo. ― Ele estava aqui. Ele estava aqui...

― Quem estava aqui?

― E-ele e-e-estava querendo f-fazer aquilo d-denovo... ― Kalleo se debateu novamente, balançando a cabeça tentando afastar a lembrança.

Théo sentiu o gosto amargo da bile. Do que ele estava falando? Ele quem? Kalleo mal conseguia falar sem gaguejar, estava muito alterado. Théo o puxou mais para si, sentando-se apoiado na parede, e, como uma criança, Kalleo se aninhou a ele, sua cabeça ainda apoiada na linha de seu pescoço.

Horas pareceram se passar enquanto ambos os garotos permaneciam naquela posição, sentados no chão frio do quarto. Théo acariciando o corpo de Kalleo, tentando tranquilizá-lo. Aos poucos, os tremores no corpo do garoto foram cessando, o choro parou, mas o olhar aterrorizante permanecia. A mente de Kalleo ainda era assombrada e Théo sentia medo em imaginar o que seria a causa.

Nenhum dos dois ousou falar nada. Simplesmente ficaram calados, submersos no silêncio profundo que os alcançavam como a onda do mar batendo na areia da praia. Eles eram apenas dois corpos unidos, um sentindo o acolhimento do outro. Milhares de coisas passavam pela mente de Théo, de palavras que poderiam acalmar Kalleo, mas ele sentiu que naquele momento não presenciava dizer nada. Ele sabia que esse era um dos momentos em que as pessoas só querem sentir que tem alguém com elas, sentir o calor de alguém que se ama, pois apenas o toque de um abraço é capaz de afastar mares de escuridão de uma mente.

Às vezes, as pessoas só querem se sentir amadas.

Quando Kalleo ergueu o rosto para Théo, ele esfregou os olhos marcados de uma vermelhidão profunda, e, numa voz angustiante, murmurou:

― Desculpe...

― Você não tem nada que se desculpar ― cortou Théo. ― Não é culpa sua o que aconteceu...

Kalleo não o respondeu, simplesmente manteve o olhar fixo no chão.

― Kalleo ― chamou Théo, pegando no seu queixo e erguendo-o para olhá-lo. Cada movimento sendo realizado de forma lenta, para não assustá-lo. ― O que aconteceu? Qual foi a causa disso?

Mesmo tendo medo do que pudesse ter causado todo esse transtorno a Kalleo, Théo queria poder ajudá-lo. Era evidente que ele carregava algum trauma dentro de si, e Théo queria que ele pudesse compartilhar com ele.

Engolindo em seco, Kalleo começou:

― Minha mãe morreu logo depois que minha irmã, Lucy, nasceu na sala de parto. A partir daí, meu pai me criou sozinho e Lucy foi criada por minha tia, já que ele não dispunha de muito tempo por causa do trabalho. Quando cheguei aos meus sete anos de idade, ele chegou à conclusão de que eu precisava de uma mãe. Então resolveu casar-se novamente. A nova esposa dele tinha um problema, e por isso não podia ter filhos, então ela me criou como se eu fosse seu filho. Sempre ficava comigo enquanto papai estava trabalhando... Foi quando eu tinha nove anos de idade que chegou a notícia: meu pai tinha morrido atropelado perto do local de trabalho... ― Ele falava lentamente, parando a todo o momento para respirar fundo. ― Com a morte dele, minha madrasta teve que tomar a frente nos negócios de papai. Ficou somente minha madrasta e eu por uns dois anos, até ela conhecer Richard, um cara alguns anos mais velho que ela. Quando eles se casaram, no começo, ele era legal comigo. Dava-me presentes, brincava comigo, conversava... Minha madrasta passava grande parte do dia fora e só voltava à noite, e ele saía constantemente do trabalho e vinha em casa verificar como eu estava...

Sobre seu colo, Kalleo contorcia suas mãos, o pomo de adão subindo e descendo pela garganta.

― À tarde eu ficava sozinho depois que saía do colégio. Houve um dia que eu cheguei em casa e fui até o banheiro e... Eu não sabia que ele estava em casa. Quando abrir a porta, ele estava lá, completamente nu. Automaticamente fechei a porta e pedi desculpas e corri para meu quarto... Mas ele me seguiu. ― Lentamente, as lágrimas voltaram novamente a descer por seu rosto. ― E... E... ele me agarrou. Ficava dizendo coisas feias no meu ouvido enquanto eu gritava e mandava me soltar. Àquela altura eu já estava desesperado. Quanto mais eu gritava, mas ele ria dizendo que ninguém ia me ouvir...

― Minha nossa... ― exclamou Théo, ofegante.

O rosto de Kalleo voltou a se contorcer em dor, recordando-se. Seu corpo estava trêmulo. Théo ficou tonto com o batimento cardíaco acelerado, aflito com o que ouvia e sabia o que estava por vir. Tinha certeza que seu rosto estava branco de tão pálido.

Enquanto Kalleo falava, Théo apenas acariciava seu rosto, instigando-o a continuar.

― Eu sentia o cheiro de álcool emanando da boca dele. Estava totalmente embriagado. Eu... eu não queria, Théo. ― Kalleo olhava diretamente nos olhos de dele, lágrimas escorrendo por suas bochechas. ― Eu não queria... Mas ele era mais forte que eu e... e...

Ele não conseguiu mais falar. Desmoronou-se a chorar incontrolavelmente, voltando a abraçar Théo, encostando a cabeça em seu peito. Silenciosamente, lágrimas começaram a escorrer pelo peito de Théo. Ele sentia um enorme buraco em seu peito, se expandido ao imaginar a situação. Kalleo, uma criança com apenas nove anos de idade abusada em sua própria casa por seu padrasto. Esse era o seu tormento. Seu corpo, como o de Kalleo, estremeceu inteiramente ao imaginar o que uma criança teria em mente nos anos sucessores a isso, vivendo assustada e com medo de se aproximar das pessoas.

― E você contou para alguém? ― perguntou com a voz rouca, tendo medo de continuar.

― Minha madrasta descobriu ― ele continuou, murmurando com os lábios próximos ao peito nu de Théo. ― Ela ficou transtornada e comunicou a polícia, e logo em seguida se separou dele. Depois ficamos só nós dois. Eu cresci, mas frequentemente tenho esses... pesadelos...

Théo apertou Kalleo contra seu corpo, puxando-o para junto de si.

― Já passou ― sussurrou ele, tirando o cabelo da testa suada de Kalleo. ― Está tudo bem agora.

Kalleo suspirou, fechando os olhos. Théo encostou sua testa na dele, sentindo o cheiro familiar e reconfortante de sua pele. Ambos ficaram assim por um tempo, sem falar nada. Depois, Théo se levantou junto com Kalleo e o deitou sobre a cama, cobrindo-o com o lençol. Apagou a luz e deitou-se ao seu lado. Ambos ficaram se olhando por minutos, até Kalleo, com os olhos tristonhos, sussurrar:

― Por favor, não sinta nojo de mim.

― O quê? ― Théo esbugalhou os olhos, como se tivesse levado um soco no estômago. ― Eu nunca sentiria nojo de você.

― Eu só... ― Kalleo se aproximou mais de Théo, entrelaçando suas pernas nas dele. ― Você foi a melhor coisa que já me aconteceu e eu não quero perder... Eu tenho tanto medo...

Kalleo era sincero a cada palavra que dizia, Théo sabia disso. Podia sentir a intensidade com que falava. Sabia também, que agora, alguma coisa entre eles se fortaleceu. Estavam mais conectados que antes.

Pegando em sua mão, Kalleo acariciou os dedos e entrelaçou junto com os seus.

― Não me abandone... ― sussurrou ele, os olhos tristes implorando.

― Sempre estarei com você ― disse, sentindo seu peito inflar. ― Nunca te abandonarei.

― Promete?

Diante de si, pela primeira vez, Théo via dois lados de Kalleo que jamais imaginara existir juntos. O lado pelo qual conhecia e se apaixonou gradativamente desde que chegou a São Diego, e o garotinho assustado que carregava consigo um trauma.

― Eu prometo.

Kalleo encostou seu rosto junto ao de Théo, testa com testa, nariz com nariz. Sua mão subiu por sua cintura, puxando-o para junto de si. Engolindo em seco e lentamente, sem piscar os olhos, sussurrou:

― Eu te amo.

Théo piscou, tentando entender se tinha ouvido bem. Algo em seu peito vibrou, e sua respiração acelerou. Seu sangue queimava percorrendo freneticamente por suas veias, e em seus ouvidos, eram como se abafadores impedissem de captar os sons à volta.

Ele me ama! Ele me ama!, seu subconsciente gritou, embasbacado.

― Eu também te amo ― ele sussurrou de volta.

Théo nunca tinha confessado para si mesmo, mas sabia que tudo o que sentia por Kalleo era amor. Apaixonou-se por ele desde que o viu, e por mais que tentasse negar para si mesmo ou sequer pensar nele, era completamente inútil. Não podia fugir de seus sentimentos. Nunca se sentiu assim antes por qualquer outra pessoa, e sequer imaginava que poderia sentir por um homem. Mas isso não importava, desde que eles tivessem um ao outro.

Não é um amor proibido se não há razão para ser errado.

Pela primeira vez desde que acordou naquela noite, Kalleo sorriu, seus olhos lhe acompanhando. Com o polegar, rodeou os lábios de Théo, acariciando-os. Inclinou-se para frente e o beijou.

* * *

Quando voltou a acordar, uma leve música preenchia todo o ambiente do quarto, com uma voz masculina cantando lentamente ao som de um violão.

Théo abriu os olhos. Mesmo sabendo que já era dia, queria permanecer do jeito que estava. O braço de Kalleo lhe servia de travesseiro, enquanto seus braços estavam em volta do garoto que estava deitado do seu lado. Seu rosto estava encostado no peito liso dele. Quente e acolhedor.

― Acorda Bela Adormecida ― sussurrou Kalleo, passando a mão por seu cabelo.

Théo suspirou, não querendo sair dali.

― Tenho mesmo que acordar? ― Ele abriu lentamente os olhos. Kalleo estava ali, a centímetros de distância, olhando-o com um sorriso bobo de criança estampado no rosto. Parecia um garotinho quando se ganha um doce.

― Infelizmente, hoje ainda é sexta-feira e temos aula.

Théo se remexeu na cama, enfiando a cabeça embaixo do travesseiro.

― Só mais cinco minutos ― choramingou.

― Nada disso. ― Kalleo puxou o travesseiro. ― O despertador já avisou que falta pouco para as aulas começarem.

― Despertador? ― questionou, não se lembrando de nenhum tilintar irritável tocando.

― Uso a música “Photograph” de Ed Sheeran como despertador ― explicou ele, mostrando o celular que estava sobre a mesinha de cama.

― Você também roubou o seu da sala de pertences confiscados? ― soltou, estalando a língua.

― Ei! Não é roubo se é meu. ― Ele semicerrou os olhos, tentando fingir irritação, apenas conseguindo com que Théo sorrisse.

Kalleo puxou Théo para mais perto de si, o rosto de ambos a centímetros de se tocarem. Sem que Théo esperasse, Kalleo ergueu o braço acima de seus rostos com o celular na mão e falou:

― Sorria. ― O click da câmera disparou logo em seguida.

― Você tirou foto? ― perguntou Théo, incrédulo, enquanto Kalleo olhava para a tela do celular, examinando a fotografia. Depois virou a tela do celular de modo que Théo pudesse ver.

― Saiu perfeita.

Na imagem, ambos os garotos estavam sem roupa de cima, com o tórax exposto. Théo ria abertamente, um sorriso provocado pela careta que Kalleo fizera há instantes antes, enquanto Kalleo o olhava intensamente, os olhos brilhando, e um sorriso perfeito no rosto.

Théo mal olhou para si na foto, direcionou o olhar fixamente para Kalleo, olhando cada traço de seu rosto. Suas sobrancelhas, boca, olhos, bochechas, o queixo cortado, o nariz pequeno e delineado, o cabelo negro bagunçado. De fato, ele era estonteantemente lindo. Théo nem chegava aos seus pés.

― Queria passar o dia assim ― declarou Kalleo deixando o celular de lado. ― Ficar deitado nessa cama, te abraçando.

― Também queria ― concordou Théo, suspirando. ― Podemos faltar?

― Não ― negou, torcendo a boca. ― Acho melhor não, por mais que eu quisesse.

― Argh!

Kalleo ficou lhe olhando em silêncio, passando o polegar pelo contorno dos lábios de Théo, o olhar pensativo estampado na face.

― O que foi? ― perguntou Théo.

― Estava apenas pensando.

― Em quê?

― Que no fim das contas, Bryan nos fez um favor.

― Que favor ele nos fez? ― indagou Théo, confuso. Bryan nunca fez nada de legal para ele.

― Te derrubou da cadeira, no seu primeiro dia na São Diego ― declarou, passivamente. Théo estava prestes a protestar quando ele prosseguiu: ― Se ele não tivesse feito aquilo, eu não teria ido atrás de você, a fim de lhe ajudar.

Théo arqueou a sobrancelha esquerda, inquisitivo.

― Provavelmente, teríamos nos conhecido de outra maneira ― falou pensativo.

― Provavelmente, mas não seria com a mesma intensidade que foi nosso primeiro contato. ― Kalleo acariciou sua bochecha. ― Acho que o que me fez gostar de você, foi o modo com que reagiu com a humilhação que o Bryan lhe expôs. Você estava infeliz por estar num reformatório, com raiva pelo que Bryan lhe fez, e ferido emocionalmente pela humilhação. Quando cheguei, você tentou se defender, colocando um muro entre nós dois, e, devo admitir, você tem uma língua bastante afiada. ― Ele riu. ― Mas eu gostei de você... Não sei exatamente por que, mas de alguma maneira, me vi pesando em você e até mesmo sonhando. Quando me dei conta, estava apaixonado, e isso me deixou transtornado e com medo. Nunca tinha sentido isso por um homem, ou sequer beijado... E sabe de uma coisa? Eu gostei. Se voltássemos no tempo, iria reconstituir meus passos exatamente como aconteceu, eliminando a parte em que cometi a burrada de te ignorar... ― Ele desviou os olhos, o arrependimento translúcido em seu rosto.

― Ei. ― Théo o segurou pelo rosto, fazendo-o olhá-lo. ― Isso já passou.

― Eu sei, mas mesmo assim me arrependo... ― falou amarguradamente. ― Eu fui um idiota, e me dói pensar no que te causei. Por nada nesse mundo quero te ver triste ou sofrer. Eu... eu amo você.

Théo fechou os olhos, absorvendo a essência das palavras captadas. Novamente a sensação extasiante se apoderou de todo seu corpo. Não conseguiu se conter e sorriu, abraçando Kalleo com força. A corrente elétrica percorreu por seu corpo, a mesma que sentia todas as vezes que tocava Kalleo. E sabia que assim como ele, o garoto a seu lado podia sentir.

― Eu te amo ― falou de volta.

Os olhos de Kalleo brilharam.

― Fala de novo ― pediu.

― Eu te amo... ― repetiu, mordendo o lábio inferior.

― Adoro quando você fala isso ― falou, sorrindo bobamente. ― Vou gravar isso como toque de chamada.

― Seria bastante irritante ouvir minha voz dizendo “eu te amo, eu te amo, eu te amo” repetidamente. ― Théo gargalhou.

― Mas eu quero ouvir isso sempre e sempre. ― Kalleo sustentou uma expressão sonhadora. ― Quero me casar com você, chegar a morar numa casa a beira da praia, com um imenso quintal para brincarmos. Quero acordar do seu lado todos os dias, e saber que você sempre estará do meu lado quando eu precisar.

Théo o olhou, aturdido e abobado. Não tinha parado para pensar num futuro, e quando sempre tentava, se esbarrava com as fronteiras do instituto. Entretanto, ele queria um futuro com Kalleo, não queria? Gostava dele, queria viver com ele quando saísse dali. Poderiam realmente morar juntos e construir uma família como qualquer casal.

― Estou te assustando com esse assunto, não é?

― Não, não ― negou Théo. ― É só que... isso parece estar tão longe...

― Não tanto assim. O tempo é como um filme: Em duas horas conta toda uma vida, desde o nascimento até a morte. ― Ele deu de ombros. ― O que acha de adotarmos uma garotinha?

― Isso não seria mal visto diante da sociedade? ― brincou.

― Que se dane a sociedade ― cuspiu. ― Toda forma de amor é válida.

Ambos sorriram, entreolhando-se. Logo, inclinaram-se para frente, e se beijaram. Um beijo que prometia todo um futuro pela frente.

― Lamento ser estraga prazeres, mas temos que nos arrumar ou chegaremos atrasados para a aula. ― Kalleo levantou-se da cama, puxando as cobertas que cobriam Théo.

― Ah, não! ― grunhiu, virando-se de costas na cama.

― Vou tomar banho ― declarou, se encaminhando para o banheiro, parando na porta. ― Espere por mim, vou te fazer companhia em seu quarto, enquanto você se arruma. A propósito: quer tomar banho comigo?

Théo corou.

― Dessa vez, dispenso ― respondeu rindo.

― É, tem razão. Seria irresistível demais para você tomar banho do meu lado, com meu corpo atraentemente sexy e molhado a centímetros do seu... Pura tentação... que com certeza nos roubaria tempo e faria nos atrasar para as aulas. Porém, seria uma experiência bem excitante que, infelizmente, ficará para uma próxima vez. Mas você não me escapa. ― E piscou o olho, rindo maliciosamente.

­­― Vai logo tomar banho! ­­― Théo riu, e Kalleo entrou no banheiro.

Sentando-se na cama, ele procurando pelo quarto onde estariam suas roupas e seu tênis, enquanto Kalleo tomava banho no banheiro ao lado. Vestiu novamente a calça jeans e a camiseta, depois calçou o tênis sem as meias, enfiando-as no bolso.

Pela primeira vez, viu no canto do quarto, encostado ao guarda-roupa, o violão que Kalleo usou para tocar no show de dublagem no último domingo. Théo tinha achado que a música era para Megan, mas tinha se enganado. Era para ele. Todo o momento era ele quem realmente importava para Kalleo.

Ainda estava sorrindo como um bobo quando Kalleo saiu do banheiro, enrolado numa toalha de linho branco em volta da cintura. O peitoral esculpido salpicado de gotículas de água do banho. Uma visão totalmente espectral dele.

Kalleo fingiu não perceber Théo o observando. Andou até o guarda-roupa, abriu a porta lateral esquerda, depois uma gaveta interna e puxou uma cueca de cor preta. Distraidamente, deixou a toalha cair à volta de seu corpo, ficando completamente despido. Théo engoliu em seco, incapaz de desviar o olhar, a face corando ligeiramente. O corpo atlético de Kalleo era estonteante de costas, exibindo seu físico musculoso. Depois de vestir a cueca, vestiu a calça preta do uniforme, a camisa de botão, a gravata, e deixou o blazer de fora. Depois de vestido, virou-se para Théo, sorrindo despreocupadamente, e disse:

― Como estou?

Théo ainda estava corado quando atirou o travesseiro contra ele, rindo.

― Vamos embora. Ainda tenho que me arrumar.


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