O Segredo da Lua escrita por F L Silva


Capítulo 15
Capítulo 15 - Tornando-se Profundo


Notas iniciais do capítulo

Foi um pouco difícil fazer este capítulo.Infelizmente, tive que deletar algumas cenas que acabei julgando imprópria para a história.
Espero que gostem!



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Quando os primeiros raios de sol penetraram através da janela em seu quarto, Théo já estava acordado. Nem sequer chegou a dormir ― novamente. Passou a noite em claro, empertigado, andando de um lado para o outro no pequeno espaço estreito entre sua cama e a cômoda, esperando ansiosamente que Kalleo batesse na porta e entrasse.

Mas isso não aconteceu.

Quanto mais pensava a respeito do que tinha acontecido no pátio do prédio quando as sirenes soaram, mas angustiado ele ficava. Um gosto amargo predominava em sua boca; suas entranhas se contorcendo. O que teria acontecido com Kalleo? Por que Sabrina mudara de uma hora para outra? Onde Kalleo estaria agora? Quanto mais pensava, mais cansado seu cérebro ficava e mais alarmado seu corpo ficava.

Deveria ter se entregado junto com Kalleo. Era isso que ele devia ter feito. Mas então, por que não o fez? Por que tinha sido um tolo!, xingava-se, mordendo fortemente o lábio inferior até sangrar.

Remexendo-se na sobre o colchão, virou-se de frente para a mesinha de cama. Sobre ela estava seu exemplar de Morte Súbita e seu celular, ainda desligado. Não tinha tocado nele desde que chegou ao quarto. Mal se lembrou dele naquele momento. Pegando-o, pressionou o botão de ligar. Não podia negar que sentira falta dele, sempre que queria ouvir música ou falar com seus pais e Will. Mas agora podia. Não exatamente numa ligação, pois eles saberiam que ele estava fazendo algo de errado, quebrando a regra que eles tinham conhecimento de que era proibido o uso de aparelhos tecnológicos. Mas... E se ele mandasse e-mail? Eles não saberiam que foi enviado a partir de um celular. Théo poderia mentir e dizer que estava enviando do computador. Obviamente, no instituto havia o laboratório de informática que os alunos tinham direito a uso a fim de pesquisas acadêmicas.

Desalinhando os nós do fone de ouvido, conectou no celular e rolou a playlist de músicas selecionando “Down”. Num ritmo lento e harmonioso, a voz de Jason Walker preencheu seus ouvidos. Automaticamente Théo foi arrebatado para a lembrança de quando dançou aquela música no baile de fim de ano no colégio. Estava vestido num blazer preto com uma gravata no pescoço, assim como todos os outros garotos. Tinha se arrumado na casa do Will, pois ele iria de carona, já que o pai dele tinha emprestado seu carro especialmente para aquela noite. Quando prontos, passaram na casa de Less, companheira de baile de Théo. Uma garota loura de olhos azuis que muitos caras do colégio babavam por ela. Naquela época, Théo era apaixonado por ela, e mal acreditou quando ela aceitou seu convite de ir ao baile com ele. Foi uma noite excepcional, principalmente quando se beijaram, mas foi de mal a pior quando ele acidentalmente tropeçou na saia do vestido dela, rasgando a saia, deixando-a expostamente seminua. Ela gritara tanto com ele, que Théo quis correr e se enfiar debaixo da mesa, morto de vergonha. Aquela foi a primeira vez que teve seu coração partido.

Desvirtuando-se da lembrança, abriu seu e-mail e começou a digitar uma mensagem para seus pais:

 

Para: jessicaangelo56@outlook.com

De: theo-angelo17@gmail.com

Enviada: Quarta-feira, 15/07 às 7:11

Assunto: Saudades

Queridos papai e mamãe,

Finalmente recebi permissão para usar os computadores no laboratório de informática e vir bem cedo a fim de me comunicar com vocês. Eu estou bem, me adaptando ao estilo de vida na São Diego, o que não é tão fácil.

Amo vocês,                             

Théo

 

Ele releu o e-mail várias vezes antes de pressionar o botão Enviar. Tinha mentido para seus pais, mas sabia que era preciso. Embora tenha sido uma mensagem curta, Théo não achou que deveria acrescentar mais.

A música que estava ouvindo terminou e logo foi substituída por outra, “All I Want” de Kodaline, tão melancólica quanto à primeira.

Abrindo outro e-mail, começou a digitar uma mensagem para Will:

 

Para: willianfons@hotmail.com

De: theo-angelo17@gmail.com

Enviada: Quarta-feira, 15/07 às 7:25

Assunto: Ainda respiro

Will,

Você não faz ideia do quanto sinto sua falta. Faz mais de três semanas que estou aqui, mas a meu ver, parece uma eternidade. Esse local me sufoca, mas por sorte agora posso entrar em contato com você. Ao menos isso para me distrair dessa prisão.

Espero que esteja tudo bem com você, por que ao menos um de nós tem que estar feliz em meio a isso tudo.

Abraço,

Théo

 

Sua mensagem para Will tinha sido mais verdadeira que a que mandara para seus pais. Não precisava falar para eles como se sentia em relação ao instituto. Não queria deixá-los preocupado; pelo contrário. Mas sabia que em Will podia confiar. Era sempre assim: um confiava no outro. Por isso Will sempre ficou do seu lado em sua fase ruim do vício.

Enquanto relia a mensagem, percebeu o quanto explícito deixara sobre ele não estar feliz. E percebeu que aquela parte não tinha sido verdadeiramente verdade. Em parte, agora, ele estava feliz, por estar de bem com Kalleo. Mas por outro lado, sentia-se infeliz pelo ambiente a volta. Sendo assim, a informação não era inteiramente verdadeira e nem totalmente falsa. Cinquenta por cento de cada, no caso.

Ao olhar para o relógio, Théo largou o celular sobre a mesinha de cama e correu para o banheiro. Em poucos minutos as aulas começariam e esperava ver Kalleo no refeitório.

* * *

Já se passava do meio-dia quando Théo saiu do refeitório com o rosto contorcido de raiva e preocupação.

Raiva por que ele não conseguiu ter encontrado Kalleo ainda, pois o garoto tinha o estranhíssimo dom de desaparecer do nada, o que o deixava furioso. E preocupado por não ter a mínima ideia de onde Kalleo estaria, pois ele não chegou a aparecer nem para o café da manhã e nem para o almoço. Tinha medo de que algo tivesse acontecido com ele depois de ter sido apanhado na noite passada. E se tivesse sido transferido para outro reformatório? Instantaneamente Théo bloqueou esse pensamento. Com certeza Kalleo ainda estaria na São Diego, mas onde? Em seu quarto? Ou teria sido levado para uma sala confinada a castigos rigorosos para alunos que se comportam de mau jeito? Tinha ouvido Zoe falar uma vez sobre esse quarto, com paredes escuras e frias sem nenhuma janela. Apenas um colchão fino no chão para se acomodar.

Passando em frente ao banheiro do saguão principal, Théo se lembrou de sua primeira detenção, que foi incumbido de limpar aqueles dois banheiros fedorentos. Juan tinha aparecido para lhe ajudar e quando estavam indo embora, Kalleo entrou inesperadamente dentro do banheiro, pegando ambos os garotos rindo. Lembrou-se de que tinha congelado sobre o piso de ladrilhos do banheiro no instante em que olhou para Kalleo, como se seus pés tivessem virado chumbos e de que sua respiração estava mais profunda. Será que naquele momento ele já gostava de Kalleo como gostava agora? Não sabia a partir do momento em que isso aconteceu, mas de uma coisa tinha certeza: sempre fora atraído por ele.

O banheiro em si não carregava apenas essa lembrança, mas também das palavras de Zoe naquela noite, no refeitório. Uma garota chamada Molly tinha sido abusada sexualmente ali dentro, e os responsáveis pelo ato nunca foram pegos. Seria possível que os causadores do abuso ainda estivessem no reformatório? Ou já teriam ido embora?

Heeeey ― alguém cantarolou a suas costas.

Théo nem precisou se virar para saber quem era: Juan.

Parando ao seu lado, Juan passou o braço esquerdo pelos ombros de Théo, enlaçando-o.

― Oi, Juan ― cumprimentou Théo, tentando disfarçar o tom amargo em sua voz.

― Você está sumido. Por onde tem andando?

― Não estou sumido ― discordou. ― Você me viu ontem na aula.

― Exatamente por isso ― dizia enquanto andava ao lado de Théo em direção ao prédio de aulas, com o braço ainda sobre os ombros dele. ― Só tenho te visto nas aulas e de vez em quando no refeitório. E mesmo assim, durante o almoço.

― Talvez seja por que de manhã eu nem sempre tome café e a noite esteja cumprindo detenção.

― Verdade, você tinha falado sobre isso ― assentiu, olhando para seus pés enquanto andava. ― Sendo assim, você não pode se empenhar em nada depois das aulas?

― Não.

― Uma pena. ― Juan torceu a boca. ― Ia te chamar para bebermos algo no meu quarto.

― Como conseguiu bebida alcoólica? ― perguntou estupefato. Era tão fácil assim conseguir contrabandear bebidas para dentro do instituto?

Juan esboçou seu melhor sorriso torto.

― Um colega meu conseguiu uma garrafa de vinho pra mim, e como é ruim beber sozinho, pensei em te chamar para me fazer companhia...

Vinho sempre foi a bebida favorita de Théo. Quando criança costumava beber escondido do estoque que seu pai guardava no escritório. O gosto doce e amargo explodindo em sua boca era simplesmente irresistível. Não podia negar que estava tentado a aceitar a proposta de Juan logo depois que saísse do castigo na cozinha, mas seu subconsciente sussurrou uma pequena palavra: Kalleo.

― Desculpe, mas não posso... ― negou enquanto subia as escadas e se encaminhavam para a sala do Prof. Austin. ― Fica pra uma próxima.

― Tudo bem.

Mesmo com Juan sorrindo para ele, Théo não deixou de notar o tom de melancolia emitida em sua voz.

Juan tinha sido legal e atencioso com ele desde a primeira vez que se viram ― mesmo antes, na verdade, já que ele o ajudou sem o conhecer, convencendo a Sra. Morelo a deixá-lo assistir sua aula pelo seu atraso em não saber o local da sala por ser novo no internato. Ele nunca tratou Théo indiferente ou o olhou desdenhando; pelo contrário. Outro dia, Zoe chegou até supor que Juan gostava dele... Seria por isso? Era difícil para Théo compreender, sendo que nunca teve experiência em identificar quem estava afim dele. Até com as garotas é assim. Lembrava-se de que se não fosse o Will a lhe abrir os olhos, nunca teria beijado uma garota antes.

A sala do Sr. Austin já estava com metade dos alunos acomodados nas carteiras, várias delas, fora de ordem. O mesmo casal de namorados encontrava-se sentado nos fundos, a garota com a cabeça apoiada no ombro do namorado. Desviando o olhar, Théo se jogou em sua carteira enquanto passava os olhos descontrolados por todas as carteiras distribuídas na sala a procura de Kalleo. Ele tinha que aparecer.

Os minutos foram se arrastando lentamente, raspando a pele de Théo junto com seus nervos, deixando-o ansioso. Quando Nico adentrou na sala, ele esperou para ver Kalleo entrando logo em seguida, mas logo percebeu que ele estava sozinho.

Onde diabos ele está?

Sem conseguir se conter, levantou-se e foi até Nico, parando-o antes de deixá-lo chegar a sua carteira.

― Nico ― chamou, engolindo em seco.

― Sim? ― perguntou o garoto juntando as sobrancelhas escuras e grossas, formando uma única e longa sobrancelha.

― Sabe onde o Kalleo está?...

― Não, não sei. Não o vi desde ontem à tarde ― respondeu confuso. ― Por quê?

Nico não sabia. Internamente, Théo se sentiu murchar como um balão de ar.

― Quero falar com ele ― deu de ombros, se afastando.

― Não esquenta, ele está sempre desaparecendo. ― Diferente de Bryan, Nico não parecia querer fazer mal algum a alguém, ou que um dia tenha feito algo de errado para vir parar naquele reformatório. ― Se eu o ver, digo que você o está procurando.

― O.K., obrigado.

E voltou bufando para sua carteira.

* * *

A quinta-feira passou tão lentamente quanto a quarta, cada minuto se alastrando metodicamente no crescimento de uma árvore recém-plantada. Os nervos de Théo estavam à flor da pele. Não aguentava mais ficar sem saber de Kalleo. Logo, ele estava andando por todo o campus a procura dele. Procurou por todos os corredores e salas dos prédios ao qual ele tinha acesso, e até encostava o ouvido nas portas dos quartos no dormitório, esperando que ele estivesse em algum e pudesse ouvir sua voz. Sem sucesso. Tinha perdido a esperança de encontrá-lo, sabia que ele iria aparecer quando bem entendesse.

Quando saiu da cozinha naquela noite, andou apressadamente para seu quarto pra se jogar na cama e dormir profundamente. Estava exausto de todo esforço físico e mental que tinha feito nesses últimos dias, desde que Kalleo fora surpreendido pelos seguranças e levado para a sala da diretora. Pensou em até mesmo falar com ela, mas sequer a viu. Teria Kalleo realmente sido expulso do instituto?

Ninguém sabia de nada a respeito dele, e sequer parecia se preocupar. De acordo com Zoe, quando ele despejou toda sua preocupação sobre ela, disse que sempre foi normal ele sumir assim, e sempre voltava a aparecer.

Ao abrir a porta do quarto, deparou-se com uma folha de papel dobrada no chão. Apressado em saber de quem era, abriu-a e leu:

 

Siga até o final do corredor.

 

Não tinha assinatura, mas algo por dentro de Théo lhe dizia que aquele bilhete era de Kalleo.  A caligrafia era inclinada e levemente descuidada, com um toque másculo. Tinha que ser dele.

Fechando a porta atrás de si, andou apressadamente pelo corredor. As portas dos quartos estavam todas fechadas, alguns com uma fresta de luz saindo pelas brechas. A luz fluorescente no teto piscava repetidamente, todo o momento emitindo um click.

Chegando ao final do corredor, olhou a volta, esperando que Kalleo estivesse ali lhe esperando. Mas ele não estava. Théo encontrava-se totalmente sozinho. Da sacada, o vento frio da noite lhe arrebatava, causando arrepios pela pele descoberta de seu corpo. Sua respiração estava ofegante, com uma camada de ar formando a frente de seu rosto a cada expiração.

Quando percebeu que Kalleo não estava ali, voltou o olhar para as paredes. Théo não tinha notado antes, mas havia um pequeno mural pregado a parede, com alguns informes do mês anterior. Sua atenção foi totalmente atraída para um pequeno papel preso a uma tachinha.

 

Sob o número 74.

 

Igual ao outro, não dizia nenhuma pista de quem seria aquele bilhete. Andando novamente pelo corredor à direta, Théo procurou pelo quarto 74. Aquele corredor era mais escuro que o seu, com nenhuma fresta de luz acessa por baixo das portas. Os solados de seu tênis grudavam ao chão sob seus pés.

Enquanto andava por toda a extensão do corredor, Théo começou a se perguntar se aqueles bilhetes eram realmente de Kalleo. Poderia ser de outra pessoa tentando lhe enganar, lhe atraindo para uma armadilha? Podia muito ser Bryan e seu companheiro Josh, que tentaram bater nele tentando uma revanche. Esse seria o momento perfeito para isso, levando em conta de que dessa vez Kalleo não apareceria inesperadamente para lhe socorrer.

Parando em frente ao quarto designado no último bilhete, notou que grudado embaixo do número 74 talhado na porta, havia outro papel dobrado. Abrindo-o, leu a única palavra dentro dele:

 

Entre.

 

Novamente, olhou para todos os lados do corredor, mas não conseguia ver ninguém, apenas a escuridão da noite. Já tinha passado do toque de recolher, e, como sempre, Théo ainda não estava em seu quarto. Estava tendo sérios problemas ao obedecer às regras.

Encostando a orelha junto à porta, tentou ouvir algum som de dentro do quarto, mas nada conseguiu captar. Parecia estar vazio.

 Sem saber ao certo o que fazer, ponderando entre entrar ou voltar para seu quarto, girou a maçaneta da porta, impedindo que tivesse tempo para voltar atrás. A porta estava destrancada e as dobradiças rangeram ao serem movimentadas.

A luz do quarto estava acessa, mas não aparentava haver alguém dentro dele. Théo entrou no seu interior, mesmo seus joelhos tremendo de medo e esperança de que aquele fosse o quarto de Kalleo.

Quando fechou a porta, foi surpreendido ao notar que aquele quarto era diferente de todos os outros, inclusive do seu. Apenas uma única cama tomava de conta do quarto, estando esta logo abaixo da janela, que não possuía grades. Tinha um guarda-roupa no local onde costuma ficar a cômoda nos demais quartos. Uma escrivaninha estava no canto de uma parede e ao seu lado, uma estante com livros empoleirados. Duas das paredes do quarto eram tingidas de um azul escuro, enquanto as outras eram brancas como gelo. Na parede à direita de cor azul, uma enorme árvore estava desenhada com contornos totalmente pretos, com suas folhas caindo sobre suas raízes e algumas voando ao vento. De longe, aquele quarto não parecia pertencer ao instituto. Théo olhava embasbacado por todo o cômodo, os olhos arregalados de incredulidade.

― Gostou?

Pulando com o susto, virou-se para trás, encarando Kalleo parado ao lado da porta aberta, contemplando Théo com um sorriso convidativo no rosto. Vestia uma camiseta regata preta com gola V, bermuda jeans, exibindo os pelos que desciam pelas pernas e chinelos de borracha. O cabelo negro caindo levemente sobre a testa.

Théo engoliu em seco, uma rajada de pensamentos invadindo sua mente, como um tsunami consumindo toda a praia e adentrando na cidade. Várias perguntas lhe subindo pela garganta, mas não conseguia proferir nenhuma delas. Por fim, um suspiro suave escapou de seus lábios enquanto olhava para a linha do pescoço de Kalleo, sentindo a vontade de encostar seu rosto ali, enquanto passava os braços ao redor de seu corpo, sentido os ombros largos do garoto contra os seus e o calor que deles emanava.

― Eu amei ― conseguiu proferir.

Kalleo se aproximou lentamente, as mãos enfiadas nos bolsos e os olhos fixos em Théo, não piscando por um segundo, como se quebrasse o contato visual, poderia perdê-lo de vista.

― Esse é meu quarto ― disse ao parar em frente a ele a alguns centímetros de distância. ― Eu sei, é bem extravagante e totalmente... diferente. Eu o redecorei como achei melhor.

― Não sabia que tínhamos direito a redecorar os quarto como bem entendêssemos ― disse Théo tentando lembrar-se se Zoe tinha falado algo a respeito disso em seu tour. ― E por que no seu quarto não há grades? E nem outra cama para seu companheiro de quarto?

― Eu não tenho companheiro de quarto. ― Pela primeira vez na noite, Kalleo desviou o olhar, fixando-o na pintura da árvore atrás de Théo, depois voltou a olhar novamente para ele, levando sua mão até o rosto. Quente e macia como da última vez que sentira. ― Senti saudades sua.

― Eu também.

Théo não aguentou a vontade de se inclinar e abraçar Kalleo. Há dois dias vinha desejando sentir novamente o corpo dele contra o seu e agora podia sentir novamente. O ardor novamente se espalhando por seus corpos, encaixados perfeitamente. Théo deixou todos os sentimentos que vinha acumulando vir à tona: medo, ansiedade, inquietação. Logo seus olhos estavam marejados. Chorar sempre fora a maneira mais fácil de livrar de tudo isso que estava dentro dele.

― Não chora. Já estou aqui ― sussurrou Kalleo ao seu ouvido, puxando Théo mais para junto de si. Seus dedos eram como algodão ao percorrem por suas costas, afagando-o enquanto seu corpo tremia.

― Onde você esteve? ― perguntou ele, levando seu rosto para frente do de Kalleo.

― Isso não importa mais ― respondeu, ambas as mãos pressionadas contra a cintura de Théo. ― Já estou aqui.

Quando Kalleo o puxou pela cintura para um beijo, foi como se Théo tivesse esquecido de todo o mundo a sua volta, e apenas se concentrou neles dois ali, juntos naquele profundo beijo, com uma intensidade que fazia todo seu interior queimar. Podia sentir aquela ardência em sua alma. Estava completamente entregue àquele garoto que tanto desejava. O beijo que começou suave e calmo tornou-se bruto e sedento. Logo Théo estava sendo pressionado pelo corpo de Kalleo contra a parede, as mãos do garoto percorrendo por todo seus membros, passando por debaixo de sua camisa e tocando delicadamente em sua pele, lhe arrepiando e fazendo-o arfar.

Num rápido movimento, Kalleo tirou a camiseta de Théo, jogando-a de lado e começou a traçar uma linha de beijos em seu pescoço, chupando-o de leve, descendo até o peito. A sensação dos lábios quentes de Kalleo contra seu corpo era prazerosa e excitante. Théo mantinha os olhos fechados enquanto puxava levemente o cabelo do garoto.

Retirando Théo contra a parede, o guiou de costas para a cama, deitando-se por cima dele. A pressão do corpo de Kalleo contra o seu era mais forte como estavam. Kalleo voltou novamente a lhe beijar, entrelaçando suas mãos nas de Théo, deixando-as ao lado de sua cabeça. Théo arfava o entre um beijo e outro, desejando por mais. Sem perceber exatamente o que estava fazendo, puxou a barra da camiseta de Kalleo e arranco-a pela cabeça, deixando seu peitoral visível. Tomando impulso, virou seu corpo sobre o de Kalleo, invertendo as posições, ele dessa vez ficando por cima. E então fez o mesmo que Kalleo fizera com ele: traçou uma linha de beijos de seu pescoço ao peitoral, dessa vez descendo até a barriga.

Nunca tinha ido tão longe assim com Kalleo como agora, mas estava certo de que não queria parar.

Kalleo o puxou novamente para outro beijo e repentinamente girou, ficando novamente por cima de Théo. Suas mãos desceram pela cintura do garoto, chegando até o fecho da calça, abrindo-a e deslizando o zíper para baixo. Théo não mostrou nenhuma resistência quando Kalleo puxou sua calça, deixando-o apenas vestido numa cueca boxer branca. Logo em seguida, puxou sua própria bermuda para fora exibindo sua cueca preta.

Debruçando-se novamente contra Théo e continuou a beijá-lo, passeando com as mãos por seu corpo, enquanto Théo fazia o mesmo, percorrendo o corpo de Kalleo das costas às coxas, apertando sua carne entre os dedos. Ombros eram pressionados contra ombros, cintura contra cintura, e pernas sobre pernas. Ambos os garotos estavam sincronizados entre si, cada um sabendo exatamente o que fazer.

Enquanto Kalleo flexionava seu quadril ao encontro o de Théo, ele sentia a ereção protuberante dele contra a sua sob a cueca. Uma sensação prazerosa e estimulante crescendo por todo corpo, como se espalhada pelo sangue que fluía por suas veias. E então, ele se lembrou: nunca tinha feito isso com outro homem. Automaticamente suas mãos pararam de se movimentar, assim como todo seu corpo. Seu rosto esquentou de vergonha com a percepção.

― O que foi? ― perguntou Kalleo, confuso, ao perceber o súbito comportamento de Théo.

― Eu... nunca fiz isso ― falou, mordendo os lábios.

― Eu também não ― confessou Kalleo, seus olhos partilhando do mesmo sentimento de Théo, cheio de expectativa. ― Você quer?

O coração de Théo bateu mais forte, e sentia o de Kalleo bater na mesma intensidade que o seu. Ambos estavam sincronizados e sempre estariam, percebeu ele. Ele gostava incontrolavelmente de Kalleo, e por ele, faria qualquer coisa. Disso tinha certeza. Sentia-se sempre seguro ao lado dele, como se nada a volta pudesse atingi-lo. E tinha certeza que ambos partilhavam do mesmo sentimento.

― Com você, sim ― respondeu enquanto puxava Kalleo para mais um beijo, enlaçando-o novamente com seus braços.

Kalleo voltou a abraçá-lo, dessa vez, mais forte, descendo por suas costas e chegando até a barra da cueca, passando ambas as mãos por dentro das bordas, seus dedos pressionando os glúteos de Théo, enquanto Théo fazia o mesmo.

* * *

Quando Théo voltou a abrir os olhos, ainda era noite.

Enquanto piscava freneticamente os olhos para enxergar o teto sobre seus olhos, ouviu novamente o que o tinha despertado: um som baixo e rouco saindo entredentes.

Sua mão se esticou a procura do local onde deveria estar Kalleo, apenas encontrando as cobertas frias e ásperas sobre o colchão. Kalleo não estava.

Novamente, voltou a ouvir o som entrecortado e rouco. Rapidamente sentou-se sobre a cama, passando o olhar por toda a extensão do quarto a procura de quem o emitira, já sentindo seu estômago se revirar. Pela posição em que a janela do quarto se encontrava, a luz noturna da lua era impedida de penetrar no seu interior.

Levantando-se, procurou o interruptor de luz ao lado da porta. Quando o quarto se iluminou, Théo ficou instantaneamente paralisado com o que viu a sua frente. Seus pés estavam presos no chão como chumbo, o sangue em suas veias havia congelado, seus pulmões pararam de bombear oxigênio.

Kalleo estava sentado no chão, encostado a parede, com os braços em volta dos joelhos, puxando-os contra o corpo. Sua cabeça estava afundada em seus braços, e todo o seu corpo tremia em espasmos descontroláveis enquanto ele gemia e chorava.


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