Águas Obscuras escrita por Alph


Capítulo 16
Estou Pronta


Notas iniciais do capítulo

Desculpa a demora
Vestibulares e o ultimo ano do E.M me sugou bastante.
Ainda não superei esse ENEM.
Obrigado por ainda estarem acompanhando.
Capítulo sem betagem, então já sabem, né?
Qualquer erro avisa em MP ou ai nos comentários.



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O fim do terceiro mês estava chegando. Comecei a me questionar se eu tinha algum defeito para Hammys, porque antes ele pedia para consumirmos logo a relação, mas com o decorrer dos dias ele parou de dar importância para mim. Percebi que seu estado de espírito havia alterado, ele estava mais reservado e pensativo. Vi-me sem escapatória, sempre que tentava algo ele parecia correr de mim. Então passei a não forçar ele a querer nada, mas tentei provocar até ele querer.

Claro que isso não havia dado certo. Cada vez mais estava me sentindo culpada por não despertar interesse nele. Precisava sentar e conversar com Hammys sobre isso, mas sentia que ele precisava de mais tempo como eu também precisei quando nos conhecemos. A única coisa que estava acontecendo entre a gente era muitas conversas banais sobre nossas vidas pessoais e gostos em comum. Aos poucos ele mais parecia estar virando um amigo do que alguém que seria o progenitor da minha cria.

A temperatura do mar subia aos poucos, diversos peixes apareciam e nossas águas do norte ganhavam outro aspecto de vida. O verão havia chegado com força e o ponto ápice da consumação deveria acontecer. Tinha medo de pensar em apenas falhar e no que iria ocorrer. Também comecei a negar a mim mesma que a falta de interesse de Hammys teria algo a ver com o que fiz com Héclyro, porque de fato não deveria ter, pois se tivesse eu estaria ferrada.

Minha cabeça estava em confusão extrema, o que não era uma novidade, então a única forma de saber se Hammys iria ou não jogar o festival água abaixo seria conversando melhor com ele sem que desviasse do assunto, pois eu estava me sentindo pronta para finalizar essa etapa e partir para a outra.

Depois de ler algumas histórias para as sereias da tribo, que prestavam a atenção veementemente, na praça central como entretenimento, fui até o Santuário de Encubação.  A luz havia diminuído no mar e a escuridão da noite predominou. Aos poucos as luzes da tribo acendiam iluminando os templos. Chegando ao santuário, vi Hammys deitado na cama lendo algumas escritas que ele havia recebido. Presumi que fossem leituras aleatórias para passar o tempo.

— Não imaginei que fosse um leitor ávido — falei calmamente enquanto escorava-me na porta tentando puxar assunto.

— Nem eu imaginava, mas recentemente estou sendo obrigado a ler. — Ele enrolou as escritas e me deu atenção.

— Posso saber do que elas se tratam? — perguntei aproximando-me dele.

— Melhor não, besteira. — Ele segurou com mais força das escritas e percebi que ele não queria que eu as lesse. Um frio percorreu meu estômago e senti que eu, possivelmente, fiz algo errado.

Sai de perto da porta e sentei-me na cama, Hammys me fitava com seus olhos tensos enquanto bolhas fluíam sobre a água. Eu realmente não sabia como iniciar aquela conversa, toquei meu colar e sorri de nervoso.

— Hammys, nunca fui de cobrar nada a ninguém. No entanto, sinto que se eu não conversasse sobre isso contigo, minha mente iria explodir. — Ele balançou a cabeça positivamente, então prossegui. — O terceiro mês está acabando e precisamos consumir logo essa união... Talvez você não me ache tão atraente como as outras sereias, mas precisamos fazer isso logo. Venho notando que você parece fugir de mim e desse assunto...

Não consegui terminar de falar, ele apenas abaixou a cabeça e franziu a testa. Hammys parecia estar agoniado com aquela situação como eu também estava. Seus cabelos loiros se moviam agitados sobre as correntes de água enquanto ele passava a mão na face.

— Ally, não sei o que dizer...

— Eu preciso de você, precisamos fazer isso. — Senti uma pressão forte dentro de mim. Meu corpo contraia com a rejeição dele. — Sei que tenho defeitos e qu...

— Allysa, não é você. — Ele elevou o tom de voz e me encarou. Suas barbatanas e brânquias estavam ouriçadas. — O erro sou eu. Sabe aquele dia em que queria te falar algo?

— Sim... Foi algo que fiz? Marissa contou algo de ruim sobre mim? Depois daquele dia você mudou muito... — Evitei olhar para ele, mexi em uma mecha do meu cabelo tentando aliviar o stress. — Não é de hoje que você parece nada confortável com o que anda acontecendo. 

— Marissa não tem nada a ver com isso. Como já havia dito, não é você, sou eu. — Ele tocou meu ombro. Fiquei aliviada em saber que Marissa nem meus erros com Héclyro estavam em jogo. — Nem eu e você estamos confortáveis com isso. No primeiro dia em que dormimos juntos eu tentei fazer com que você tivesse interesse, mas vejo que você está como eu e isso não vai mudar.

— Como assim eu estou como você? Não entendi.

Hammys pegou as escritas e trouxe-as para perto. Levantou-se da cama com os ombros caídos, maxilar trincado e olhos baixos. Ele deu um soco de leve na parede de mármore tentando manter sua calma.

— Você, assim como eu, se sente ligada por outro alguém. — Ele recolheu a mão para perto do corpo e me olhou com tristeza.

— Mentira, eu não estou atraída por ninguém, Hammys. — Meu corpo contraiu e um frio percorreu minha espinha.

— Não sou idiota. Você anda fugindo de noite, sorri em momentos aleatórios do seu dia, anda cantando baixinho quando está só e parece menos fria como de costume quando fica fofocando com Tamara e Damysis.

— Você anda me seguindo? — Franzi a sobrancelha.

— Preferi não fazer isso com medo do que fosse acabar flagrando. — Ele visualizou o chão semicerrando os punhos. — Não ligo se você se atrai por outra pessoa, mas eu precisava dizer que também me sinto ligado a alguém...

Dei tempo a ele para pensar, sei que talvez para ele estivesse sendo difícil, mas eu só conseguia agradecer a Amidh por Hammys não saber de Héclyro. Era como se um peso estivesse esvaído de mim. Ele estava sempre medindo o que falaria como se não confiasse em mim o suficiente, era algo compreensível, pois também eu tinha certa dificuldades de falar de mim mesma para outra pessoa.

Se sentir ligado ou atraído por outra sereia ou tritão era como se sua alma fosse compartilhada e devessem ficar juntos, era o que eu sentia por Héclyro, mas eu não saberia se ele iria me entender se eu explicasse dessa forma.

— Está sendo difícil imaginar ter que consumir essa relação contigo sabendo que me atraio por outra pessoa. — Seu tom de voz ficou mais calmo e ele sentou-se na cama. Ele parecia estar se sentindo como eu me sentia em relação a tudo. Seu corpo estava inquieto.

— Quem? Quem conseguiu mudar você assim? — Meus longos cílios piscavam lentamente enquanto Hammys estava de cabeça baixa. Recolhi as mãos dele ao encontro das minhas e fiz carinho nelas tentando abrandar ele.

— Foi uma pessoa da minha tribo... Eu estou ligado a um tritão, era isso que tinha para te falar e não conseguia.

Ele me entregou as escritas, havia duas, uma era do pai dele e a outra estava com o nome restrito. Abri a de seu pai e li o conteúdo. Todas as palavras estavam desenhadas grosseiramente e seu conteúdo estava exigindo do filho que ele consumisse logo a relação para ele honrar o nome da família. Já a do tritão que ele sentia atração a letra era mais delicada e carinhosa, falava de saudades e do sentimento de falta que Hammys fazia.

Perguntei-me quantas escritas ele não já havia recebido e que talvez fossem elas que tivessem feito sua cabeça ficar confusa em relação ao festival. Fiquei com muita pena de Hammys, porque por baixo daquela carapaça bruta ele era alguém sensível e estava passando pelos mesmos problemas que eu, no entanto os meus eram em escalas terrestres.

— Não precisa ficar triste. — Toquei os antebraços dele carinhosamente e sorri. — Também de início fiquei assim como você, mas percebi que não posso me dar ao luxo de não fazer o que foi me imposto, já que é o futuro da minha tribo depende apenas de mim. — Era um total perigo o futuro depender de mim.

Sabia que naquele momento eu precisava ser mais sensata e deveria tomar as rédeas da situação. Abracei Hammys afagando suas costas. Para um tritão do tamanho dele era até engraçado perceber que eu lidava com meus problemas, que eram muito maiores que os dele, melhor que ele. Talvez porque já estivesse sempre acostumada a estar ferrada. 

Todo conflito interno que ele estava passando era entendível, Hammys estava gostando de outro rapaz assim como eu gostava de Héclyro. Eu iria tentar contornar a situação para que nós dois saíssemos bem nesse festival, pois o dever com a tribo vinha sobre tudo e todos naquele momento, principalmente por já termos ido longe demais.

— Nós vamos fazer essa consumação, mas apenas por dever. Entendeu? — Segurei seu corpo em minha direção. — Quanto mais cedo isso acabar, mais rápido você se sentirá melhor e seu tritão vai entender.

— Eu sei... Sei que tenho que fazer, mas é meio estranho agora com toda essa tensão sobre mim.

— Hammys, nem eu e você queremos fazer isso por livre e espontânea vontade. No entanto, precisamos ser racionais e colocar nossos deveres a cima dos nossos sentimentos. — Parecia até ser ironia eu falando daquela forma, me senti a Tamara.  

— Se você quisesse, talvez tivéssemos feito isso no início do primeiro mês. Eu estava determinado a conseguir, mas depois que eu comecei a receber as escritas da minha tribo eu senti o peso. — Ele apertou o peito.

— Eu sei, mas precisamos fazer isso logo. — A face dele estava avermelhada, então fiz um carinho na maçã de seu rosto. — Vai ser rápido para nós dois e logo nos veremos livre disso. Estamos de acordo?

Ele novamente me abraçou e colocou sua cabeça na curvatura de meu pescoço, triste, depois balançou a cabeça concordando. Ficamos um tempo naquela posição, deixei com que ele se sentisse à vontade, por mais que eu também estivesse me sentindo um pouco ansiosa e nervosa com o que viria acontecer.

— Tudo bem. — Suas brânquias e barbatanas estavam mais calmas levantei sua cabeça com a mão carinhosamente fazendo-o me fitar. Juro que deu vontade de sorrir de nervoso, mas me controlei para fazer ele não se acanhar.

Parecia até ironia persuadi-lo a fazer algo que eu também não queria, mas apenas estabeleci a razão para nós dois. Ficamos parados um de frente ao outro com as testas se tocando e olhos fechados, o silêncio predominou então tomei a atitude de iniciar as caricias no corpo de Hammys.

As luzes do cômodo onde estávamos diminuíram o brilho sobre nós. Segurei os pulsos de Hammys e abri seus braços sobre a extensão da cama. Tentei colocar em prática o que era ensinado as sereias quando chegasse esse dia para a escolhida, seja ela quem fosse. Posicionei meu corpo sobre o dele friccionando-me a ele.

Massageava o pescoço dele e fiz carinho entre suas brânquias. Hammys aos poucos também começou a tomar liberdade de tocar em mim. A cada contato que trocávamos, um passo livre era posto entre nós. Senti as mãos dele passando entre minhas barbatanas e as laterais da minha cauda causando-me leves arrepios, mas tudo estava muito mecânico, sem química.

Minhas escamas estavam ouriçadas e percebi que as de Hammys também. Com minhas unhas arranhei parte da cauda dele e aos poucos o sangue flutuava, notei-o contraindo as sobrancelhas e abrindo um pouco a boca de prazer. Meu cabelo foi puxado fazendo meu rosto ser arqueado gerando uma sensação muito boa.

Aos poucos o tempo foi passando e o afeto agressivo foi ficando mais forte até que senti o membro retrátil de Hammys prontos para dar início à consumação interna. Essa era a hora em que o corpo dele deveria entrar em repouso, então mordi seu ombro cravando os dentes afiados fortemente. Minhas garras penetraram seus pulsos fixando-o na cama.

O prazer foi estabelecido aos poucos entre nós dois. Nossos instintos selvagens vieram à tona, ambos havíamos perdido a racionalidade e nos encontrávamos pálidos com os olhos negros. Apoderei o comando como tradição exigia e entrelacei nossas caudas guiando o membro pela entrada que era escondida entre a divisão frontal da minha cauda. O mais estranho era que minha mente sempre se voltava para Héclyro naquele momento e eu queria chamar seu nome, mas me contive por respeito a Hammys.

Sentia o membro dele entrado por completo. Eu pensava que seria dor que viria, mas era simplesmente prazer. Continuei mordendo o corpo dele arrancando pedaços de sua pele e minhas garras liberavam veneno no sangue de Hammys, que ao contrário dos humanos que os matava, para os tritões e sereias ele servia como calmante dependendo da situação.

Retirei meus dentes do corpo dele e a consumação da união havia chegado a seu ápice. Hammys havia se derramado como um tsunami sobre as praias, nossos corpos cansados foram estabelecendo a racionalidade novamente sobre o instinto selvagem.

Desvinculamos-nos e deitamos separadamente na cama. Fiquei olhando para o teto de mármore enquanto refletia sobre o que havia acontecido. A teoria que era passada para nós não era tão semelhante a prática, mas o que senti com Hammys nunca chegaria a ser o que foi com Héclyro.  

Depois do ato, preferi deitar-me virada de costas para ele, pois estava levemente constrangida e não queria passar isso. O silêncio havia predominado o quarto. Eu visualizava a janela do cômodo, que tinha vista para tribo, com pensamentos bem longe dali, logo fui surpreendida com Hammys colocando sua mão sobre minha cintura. Não me afastei e nem virei o rosto para ele, apenas deixei-o pegar no sono e depois dormi.

 

 

Acordei primeiro que Hammys. Levantei-me para ver o estado em que nos encontrávamos, me olhei no espelho e vi que as marcas de escolhida em minha cauda que ganhei quando fui selecionada haviam sumido. Aquilo me deu certo alívio e meus músculos relaxaram com a finalização dos meus problemas.

Os raios solares invadiram o santuário e alguns cardumes passavam por ali. Escutei movimentações de lençóis, virei para ver o que acontecia me assustei com o estado da cama feita de tecidos e corais. Ela estava praticamente toda acabada e Hammys se espreguiçava. Naquele momento eu queria muito ter um lugar para me esconder, pois estava muito constrangida.

Quando Hammys sentou-se na cama, notei em seu corpo muitos ferimentos provocados por mim. Contudo, ele não parecia abalado, mas sim disposto. Sorriu para mim e passou a mão na testa.

— Prefiro não comentar nada. — Sorri.

— Nem eu — disse ele em algumas gargalhadas.

Virei minha face para a janela e tentei disfarçar meu constrangimento, mas senti minha circulação sanguínea me trapacear.

— Eu... Eu acho que vou me arrumar para comunicar-r Marissa do ocorrido. — Entrei para o segundo quarto do santuário em alta velocidade.

Estava já quase terminando de colocar aqueles tecidos em meu corpo. Enquanto penteava meu cabelo, novamente minhas memórias lotavam minha mente com a noite que passei com Héclyro, o que eu achei estranho, pois tinha ficado com Hammys, mas eu sempre imaginava como se fosse Héclyro ao invés dele naquele momento. De repente escuto Hammys falando atrás da porta quebrando meu raciocínio.

— Allysa, se serve de consolo também estou me sentindo envergonhado. — Escutei um riso nasal — Não precisa ficar assim.

— Só está se sentindo envergonhado? — questionei-o.

— Não, minha consciência está pesada também, mas o alívio é maior. — Ele deu uma pausa. — Me sinto um pouco mais livre.

Ainda bem que não era só eu que me sentia assim. Preferi não falar nada a ele, mas deixei escapar um suspiro de alívio e uma risada.

— Mas você gostou?  — perguntei, pois ainda sabia que ele estava atrás de porta devido as batidas de seu coração que estavam bem audíveis.

— Bem... Foi... Agradável na medida do possível.

— Não se sente machucado?

— Não, foi legal... No entanto, você sabe né...

O clima entre a gente estava uma mistura de constrangimento com humor, não conseguia me concentrar em nada. Terminei de me arrumar, abri a porta e me encontrei face a face com Hammys.

— Entendo perfeitamente do que você gosta. — Ironizei.

— Você tem completa razão. — Ele gargalhou.

Nadei até a porta do santuário e esperei por ele. Olhei para as estátuas ao redor e fiquei pensando quando eu iria ter a minha naquela tribo. 

— Vamos juntos comunicar a Marissa sobre a consumação — falei esperando por ele.

— Sim.

 

 

Chegando ao templo da Marissa, parei em frente da porta e senti uma onda fria percorrendo toda minha espinha. Fitei Hammys e segurei seu pulso. Sempre fico receosa ao entrar no Templo da Anciã, podia contar o número de vezes que entrei nele em todos os meus vinte anos de vida e garanto que eram poucos.

— Você quer começar a dar a notícia? — perguntei a Hammys.

— Melhor você, não é? — Ele coçou a cabeça.

— Discordo, você quem deve contar.

— Fala sério, Allysa, vai lá e conta. Prefiro ficar apenas observando. Até porque a notícia é mais sua do que minha e toda tribo ficará feliz com isso.

— Eu não gosto de me comunicar diretamente com aquele ser repug... — Não consegui terminar a fala, pois a grandiosa porta foi aberta e Marissa saiu plenamente nos olhando de cima a baixo.

— Que barulheira, estou tentando ler. — Ela comprimiu os lábios em desgosto e abriu passagem para a gente adentrar o local. — Vão entrar ou vão ficar conversando aqui fora?

Eu e Hammys entramos naquele salão branco de mármore que seguia a arquitetura da tribo. Meu estômago estava com belo de um nó. Sentamos nas poltronas de frente para a grande mesa esculpida com o desenho do Festival da Colheita de Marrisa. A estátua de Amidh de frente para nós parecia que nos encarava e sabia de todos nossos erros. Tentei desviar minha atenção para o colar de presente que Héclyro tinha me dado.

Até aquele momento eu não entendia o pretexto da minha ansiedade, realmente eu deveria estar mais feliz com tudo que eu já tinha passado e que mais um ciclo eu havia fechado sem fracassar, o que era motivo de vitória. Mas eu sentia que só estava fazendo isso por ser um pedido de Tamara, pois se eu pudesse, eu já teria fugido da tribo quando fui selecionada par ao festival, mesmo que fosse sentir muita falta do local onde nasci.

— Então? O que aconteceu? — questionou Marissa me tirando das minhas confusões psicológicas.

Foquei minha visão em Hammys esperando ele falar, mas simplesmente virou o rosto e o apoiou com uma das mãos.

— Eu e Hammys temos algo de muito importante para comunicar a senhora e a Tribo. — Enfatizei o nome de Hammys.

— E o que é? — Marissa sentou-se em sua bela cadeira que ficava na frente da estátua de Amidh.

— Consumamos nossa relação ontem à noite. — Ainda estava levemente constrangida, mas aliviada.

— Nossa, isso é uma coisa muito boa! Parabéns aos dois por terem concluído essa etapa do festival. — Marissa dessa vez demonstrou uma empolgação verdadeira, que não soasse tão falsa, mas eu não tinha certeza, já que nunca a compreendia. — Vou convocar as últimas sereias escolhidas nesses anos da tribo para te aconselhar sobre sua gestação, Allysa. Hammys, me ajude a pegar algumas gaiolas com peixes-peregrinos para enviar as outras tribos.

Marissa se levantou junto a Hammys e foram para outro cômodo do templo, ela falava coisas do tipo “quase que estouraram o tempo do prazo” para ele. Fiquei parada encarando a estátua de Amidh ignorando o que Marissa falou, depois guiei minha visão para bela iluminação que vinha das janelas e os cardumes de peixes que invadiam o ambiente graciosamente. Toquei meu colar que Héclyro havia me dado no dia do baila e observei-o enquanto esperava Marissa.

Quando os dois chegara, colocaram as gaiolas em cima da mesa, elas pareciam mais confortáveis do que minha cama no Templo do Sono antes de ser a escolhida. Os peixes estavam inquietos esperando para serem soltos. Hammys sentou-se novamente ao meu lado e observou Marissa pegar vários pedaços de escritas feitas de alga e riscá-las loucamente e depois enrolando-as, presumi que ali ela queria comunicar a todos minha consumação.

Marissa pegou cada um dos peixes-peregrinos de suas gaiolas e colocou em suas costas uma escrita. Eles tinham corpos semelhantes aos de humanos, mas eram hidrodinâmicos e minúsculos, as sereias que já haviam morrido a milênios falavam que eles eram espíritos do mar. Marissa chegava perto deles e dizia o destino que eles deveriam ir em uma língua que eu não reconheci.

— Cada um deles vai avisar da consumação para todas as tribos. Três deles foram chamar as sereias escolhidas do passado de nossa tribo, Allysa, para guiá-la nessa sua nova experiência como pede a tradição. Hammys seu pai recebeu uma escrita exclusiva também e as sereias também irão te dizer como auxiliar a Allysa.

Os peixes-peregrinos foram soltos e rapidamente eles sumiram de nossas visões. Marissa puxava assunto com Hammys, eu me mantive calada apenas esperando novas ordens começando a ficar entediada.

— Podemos ir, Marissa? — interroguei ela.

— Podem sim, mas não saia do Santuário de Encubação, pois as três sereias antigas vão ir te visitar. Enquanto vocês vão indo, irei comunicar o restante de nossa tribo.

Marissa nos guiou até a porta de saída e senti um intensa corrente marinha que atingiu meu corpo com uma grande força. Sentia minha cauda sendo arrastada para trás junto ao meu pescoço e cabelo. Alguns peixes que passavam no local também foram levados, uma poeira subiu em nossa direção. Hammys e Marissa se agarraram na porta e eu fui levada para o interior do templo novamente batendo minha cabeça na cadeira e depois no chão.

A corrente marinha sessou, consegui levantar-me com meus cabelos bagunçados e meio fora de foco, mas logo me recuperei. Hammys veio ao meu encontro e me segurou perguntando se eu estava me sentindo bem.

— Quando o verão chega, as correntes do mar ficam tão fortes. — Marissa ajeitou seus longos cabelos cacheados e novamente nos levou para a frente do templo não dando muita importância para mim. — Pelo menos eu tenho um pretexto para colocar as sereias para limpar essa areia do meu templo. — Ela deu uma risada nasal.

— É, eu sei, era eu quem limpava — resmunguei em desprezo fazendo Hammys rir.

Marissa me ignorou e fechou a porta do templo após nossa saída. Ela se trancou lá dentro, eu e Hammys voltamos para o Santuário de Encubação.

 

 

Um bom tempo depois, Hammys e eu conversávamos sobre nossas vidas e das pessoas cujo gostávamos, ele me mostrou as escritas mais antigas que havia recebido de seu tritão. Hammys amava descrever o quão importante ele era para sua vida e suas características físicas.

Fomos interrompidos por batidas na porta de nosso templo, mandei entrar quem batia e de repente três sereias com aparências de moças jovens, mas dava para se notar que eram antigas devido ao tom de sua pele ser mais opaco, entraram no salão. Hammys escondeu seus pergaminhos de algas no mesmo instante.

Eu já tinha visto elas de longe, mas nunca parei para conversar. Me cumprimentaram e ofereci lugares para se sentarem. Hammys observava da cama a movimentação delas.

— É um grande prazer em saber que você conseguiu seguir com o festival, Allysa. — Uma delas falou como se fosse algo inimaginável. — Eu me chamo Teyra, essas outras duas são Lanya e Venay. — Enquanto ela conversava eu só conseguia perceber quão bonita era a sua pele pálida contrastando com seus cabelos cinza enquanto dizia.

As outras duas moças pareciam estátuas de tão belas. Teyra conversava bastante sobre sua vida, enquanto Lanya estava parada com seus longos cabelos loiros se movendo com a breve corrente marinha e Venay estava sorrindo para mim com seus perfeitos dentes brancos contrastando com sua pele escura e seus grandiosos fios de cabelo crespo. Todas elas tinham os típicos traços de uma sereia nefericiana: rosto com ângulos extremamente bem marcados e corpo robusto.

— Então Allysa, pode se levantar para vermos como está seu corpo? — pediu Venay. Estranhei o pedido, mas elas sabia o que estavam fazendo, então preferi não questionar.

Levantei-me e dei um rodada breve. As três moças se entreolharam e ficaram surpresas. Venay pegou de sua bolsa feita de algas vários instrumentos diferentes que mais pareciam um tipo de graveto queimado.

— O que foi? Algo de errado? — indaguei com sobrancelhas arqueadas.

— Não. É que nós estávamos caçando suas marcas da escolhida na sua cauda e não achamos — disse Lanya.

— Eu vi elas sumindo hoje de manhã quando acordei depois da consumação.

— Que estranho... É bem raro as marcas sumirem assim tão cedo, demoram no mínimo uns dois dias. Foram poucas as sereias aqui da nossa tribo que conseguiram sumir as marcas nesse prazo, sua mãe quando houve a consumação, só depois de quatro dias elas desapareceram. — Quando ela falou da minha mãe, minha cabeça lotou das poucas memórias que tinha com ela e meus ombros caíram, era algo que ainda me afetava e eu não gostava quando os outros falavam disso. Venay percebeu e retirou uma mecha de seu cabelo crespo da frente de seu rosto e continuou a falar. — Parabéns, Allysa! Mas quando elas somem assim tão cedo é sinal de que sua cria vai ser muito forte, uma sereia poderosa, com fé em Amidh!

Elas vieram acariciar minha barriga, que ainda não parecia nem um pouco com a de uma serreia gestante, e ficavam conversando coisas entre si. Alguns minutos se passaram e notei que Hammys se aproximou mais do que estava acontecendo ali e passou a interagir com as outras sereias.

Venay entregou aqueles objetos que ela havia retirado da sua bolsa para Lanya e Teyra. Elas pediram para eu deitar na cama, pois iriam começar a fazer um desenho que vinha dos meus seios para minha barriga e o início de minha cauda. Obedeci e esperei começarem. Hammys apenas fitava a todas ali no santuário.

A bela tarde de sol começou a dar tchau para o mar bem aos poucos. Lyria e Tamara entraram no Santuário e Encubação e foram recebidas por Hammys, as três sereias ainda estava fazendo o desenho em meu corpo. Logo depois chegou Damysis.

— Viemos te arrumar para uma reunião que terá na praça da tribo com todas as sereias, Marissa e a Santa Bancada das Sereias Antigas — Lyria disse. Amidh me livre, pensei.  Tamara olhava de longe tudo que acontecia enquanto ajudava Lyria a pegar os objetos para me arrumar.

Damysis estava tagarelando e fazendo piadas que me faziam sorrir e borrar o desenho das três sereias. Hammys ficava conversando com ela e ajudando a fazer mais gracinhas que contribuía para mais borrões e consecutivamente minha inconveniência com as moças que pintavam meu corpo.

— Essa consumação deve ter sido ótima. — Damysis olhou para o corpo de Hammys todo arranhado. — Nunca pensei que você fosse desse tipo, allysa.

Mandei Damysis calar a boca, pois eu não queria ser responsável por mais um borrado e atrasar a vida das três sereias. Depois de mais alguns minutos, eu estava finalmente pronta. Me olhei no espelho e vi quão gracioso era o desenho que as três moças, que já foram escolhidas, fizeram em mim, era uma representação de como meu corpo estava ligado a cria e como ela também ela ligada a mim. Os desenhos dos meus seios iam até o ventre como ramas que nutrissem o feto. Tamara e Lyria colocaram uma coroa de flores em mim e joias e depois auxiliaram Hammys a colocar sua ombreira de metal negro.

Foi uma tarde agradável, com as três sereias eu descobri muitas coisas que meu corpo iria passar a sofrer depois da consumação como: enjoos, vontade de comer carne de humanos recém nascidos e peixes venenosos. Também elas falaram que o período de gestação poderia variar com a temperatura da água, mas como estávamos no verão, era provável que a cria nascesse depois de seis a sete meses.

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 Chegando na praça, o local já estava lotado de sereias, mesmo que não fossemos muitas. Todas elas estavam sentadas em um local de arquibancada com um pequeno palco de mármore branco detalhado em ouro.

As três sereias se juntaram na plateia, Hammys acomodou minha mão em seu braço e fomos juntos para o palco enquanto atrás de mim Lyria, Damysis e Tamara sentavam-se em locais na frente. Todas as moças da tribo se curvaram e entrelaçaram suas mãos enquanto indo de um lado ao outro como algo ritualístico.

Eu e Hammys ficamos ao lado de Marissa, enquanto a Santa Bancada das Sereias Antigas estavam mais atrás. Marissa foi um pouco pais para frente e começou a mover suas mãos como se absorvesse toda energia que as sereias da plateia estivessem emitindo.

As correntes marinhas faziam os estandartes da tribo balançares enquanto aos poucos eu via as ranhuras do mármore adquirirem um tom azul brilhante destacando-se no branco. A magia estava presente e forte naquele momento. Agora as veias azuis do mármore pulsavam junto a dança das sereias, comecei a sentir meu corpo estranho aos poucos.

Marissa virou-se para mim e mandou me deitar no chão de barriga para cima. Quando fiz isso uma onda de energia atingiu meu tórax fazendo com que os desenhos feitos em meu corpo adquirissem o mesmo tom azul pulsante das veias do mármore.

Me sentia mais viva e forte com aquela energia magica emanada para mim. Já havia visto isso acontecer em outros festivais, mas sentir isso era incrível. Lentamente eu comecei a ter meu ventre vivo e pulsante. Minha mente recebia o tempo todo memórias alegres entre mim e minha mãe quando eu tinha três anos, memórias que eu jurava até ter esquecido.

Depois de minha mãe veio minhas peripécias com Damysis e nossas brincadeiras nos corais fugindo das aulas, logo em seguida eu relembrava o abraço que dei em Tamara quando conversávamos e do tempo em que éramos crianças.

Minha boca estava com um gosto doce e meu estômago formigava de uma forma boa. Comecei a sorrir involuntariamente, e quando chegou as memórias de Héclyro meu corpo passou a ter as batidas do meu coração descompassadas. Lembrei de quando nossos olhares se cruzavam e eu sentia aquele arrepio frio gostoso como se fosse aquela nossa primeira vez nos vendo. Aos poucos a imagem da Rosa dos Ventos que fiz no pescoço dele também passou a ganhar um sentido mais poderoso me deixando mais viva. Nosso primeiro beijo na bochecha, e depois na boca complementavam todo aquele pensamento.

Nossa primeira vez juntos também não havia sido deixada de lado, todos os mesmos prazeres eu passei a sentir naquele momento de forma mais intensa, mas logo elas se sessaram dando espaço para quando eu fiz a consumação com Hammys voltando à tona, fazendo meus ombros relaxarem junto a minha cintura perto do ventre.

Quando acordei daquele transe, escutei as sereias aplaudindo e grunhindo alegremente. Eu me sentia tão feliz que era estranho notar as mesmas sereias que me rejeitavam, naquele dia me aplaudirem. Hammys estendeu a mão para que eu me levantasse. Ele sorriu para mim e levou-me até próximo da Marissa que estava neutra em suas expressões.

— Que Amidh possa abençoar essa cria. — Marissa tocou minha barriga e depois toda as sereias repetiram o que ela disse três vezes.

As cores azuladas do mármore e do meu corpo voltaram ao normal e as sereias ainda continuavam aplaudindo. Olhei para minha barriga, ainda lisa como sempre, e a toquei carinhosamente e Hammys sobrepôs sua mão em cima.

— Agora todas podem se encaminhar para o Pavilhão de Hidrazy, será servido peixes para comemoramos — falou Marissa após uma sereia ter passado essa mensagem em seu ouvido.

 

 

Naquela noite as sereias comiam peixe, pois já haviam se alimentado de humanos na lua cheia. Eu e Hammys voltamos para o Santuário conversando sobre tudo e ele me perguntava o que eu sentia enquanto estava deitada no chão recebendo toda aquela magia emanada para mim. Obviamente não falei sobre Héclyro, mas deixei que ele soubesse de todo o resto.

A noite caiu, fui para o outro cômodo do santuário para retirar toda a produção que fora feita em meu corpo incluído os desenhos que incrivelmente demoraram muito para sair. Estranhei um vazio em meu colón, toquei a região e percebi que o colar que Héclyro havia me dado não estava mais lá.

Cacei em toda as minhas joias ele, mas lembrei-me de que não havia o retirado de meu corpo. Comecei a tentar lembrar de todos os lugares possíveis que eu pudesse ter deixado ele cair. Voltei para o espaço central do santuário e Hammys perguntou o motivo de eu estar tão atônita.

— Perdi um colar e não sei onde está. — Passei as mãos grosseiramente pelo meu cabelo por causa do estresse e depois passei a retirar as almofadas de lugar tentando a todo custo achar aquela joia.

— Quando você foi se arrumar para aquela reunião das sereias na praça já estava sem ele. — Hammys havia recebido novas escritas e falou enquanto as lia deitado sobre a cama. — Por que você não deixa isso para amanhã? É só um colar.

— Porque eu odeio perder minhas coisas. — Puxei os tecidos da cama incomodando ele.

— Acho que você perdeu no templo da Marissa quando houve aquela corrente forte. — Ele tentava ajeitar os tecidos novamente me pirraçando. — Allysa, dá para parar? Calma! — Senti meu coração se descompassar e minhas brânquias se moverem mais rapidamente. — Ela te devolverá amanhã, fica calma.

— Misericórdia. — Ri de nervoso naquele instante, pois era bem possível que o colar estivesse no templo de Marissa e isso me fez ficar mais desesperada, pois ela iria estranhar aquela joia e perceberia que sua procedência não era aquática, depois mandaria sereias caçadoras descobrirem de onde ele era. — Hammys, fica aqui e pode dormir, vou ir pegar o colar com ela.

— Quer que eu vá contigo? Posso te ajudar se quiser.

— Não, relaxa. Vou sozinha mesmo. — Tentei parecer o mais calma possível para que ele não me achasse estranha.

— Tudo bem.

 

 

Eu iria chamar alguém para me dar cobertura enquanto eu entrava pela janela do templo da Marissa e esse alguém seria Damysis, pois ela topa tudo e não iria me dar sermão diferente de Tamara. Ambas sabiam sobre Héclyro e eu me sentia mais confortável com elas por perto.

Depois de passar no Templo do Sono, acordei Damysis e a trouxe comigo para os fundos do prédio da Marissa. Olhei ao redor para ver se não tinha ninguém, as luzes mágicas da tribo já haviam se apagado e eu só estava esperando o momento certo.

— Você sabe que eu adoro uma aventura, mas eu preferia ficar no Templo do Sono, Allysa, ao invés de correr risco de ser exilada — reclamou Damysis em sussurro coçando os olhos.

— Cala a boca e para de reclamar — resmunguei. — Sobe até a janela do quarto dela e veja se ela está dormindo, Damysis.

— Você me coloca em cada uma. — Damysis subiu até onde eu pedi e fez um sinal negativo e arqueou os ombros junto as mãos em dúvida. Semicerrei meus olhos tentando entendê-la, Damysis revirou a íris de seus olhos azuis e curvou os lábios — Ela não está aqui, Allysa — sussurrou com tédio. — Entra logo lá, vou te esperar aqui.

— Tudo bem. — Entrei pela janela que estava aberta e dei sorte, pois tive medo de todas elas estarem trancadas e eu ter que as arrombar.

O Local estava sendo iluminado apenas pela luz da lua, ou seja, quase sem iluminação nenhuma. Naquele momento minha sorte era poder enxergar bem no escuro. Olhei pelo salão vasculhando o chão. Fitei a janela e vi Damysis olhando as unhas me esperando.

Passei uns bons minutos caçando aquele colar pelo chão branco de mármore. Fui até a cadeira onde havia batido a cabeça e olhei de baixo da mesa. Meu sangue estava se agitando pelas minhas veias, pois a qualquer momento Marissa poderia me pegar ali. As brânquias de meu pescoço estavam atônitas junto minhas barbatanas e aquilo estava me agoniado como se minha respiração estivesse tensa.

Escutei barulhos vindo do templo, olhei para janela e vi que Damysis fez um sinal negativo com a cabeça e mexeu os lábios como se falasse que não foi ela que fez aquele som. Meu estômago embrulhou, a adrenalina corria em minhas veias e comecei a olhar ao redor para ver algum sinal de Marissa.

Eu não estava com muito tempo, então tive a ideia de recriar minha queda para ver onde o colar foi para junto a corrente marinha. Joguei-me no chão e virei meu corpo de ponta cabeça na água tentando enxergar em que canto a joia foi se ter. Damysis achou estranha minha posição e suprimiu um riso.

Escutei um barulho de portas se abrindo e vozes na parte superior do Templo, uma descarga fria foi liberada em meu corpo deixando-me agoniada. Eu olhei ao redor e não via o colar e as vozes estavam mais perto. Voltei minha visão para o ângulo da minha queda e vi o colar em baixo de uma estante por muita sorte.

Nadei rapidamente até ele abaixando-me para pegá-lo. Ao seu lado havia um baú médio de ouro branco coberto de musgo o que chamou minha atenção já que toda estante estava muito limpa, passei a mão sobre sua tampa e surgiu o nome de Marissa e outro que eu não conseguia ler por estar arranhado.

Coloquei o colar em meu pescoço e peguei o baú também para bisbilhotar o que tinha dentro, pois Marissa notavelmente nunca iria dar falta devido as condições deploráveis em que o encontrei. Nunca é tarde para saber mais obre alguém, pensei. Segurei o objeto para abri-lo e ver o que tinha dentro, mas quando me arrisquei a fazer isso vi as costas de Marissa, nadei tão veloz para de baixo de sua mesa entalhada que nem percebi que quase bati minha cabeça em seu topo.

Olhei para janela e notei que Damysis fazia um sinal no pescoço com o dedo como se fosse uma adaga cortando-o e depois ela se abaixou. Em seguida minha visão foi tampada pela cauda de Marissa que se sentou sobre a mesa. Meu coração estava batendo tão forte que fiquei com medo de que Marissa escutasse, então tratei de acalmá-lo, mesmo que naquele instante parecesse impossível.

Vi a cauda de uma segunda sereia ali e sua voz também, elas conversavam sobre minha consumação. Depois de alguns instantes eu já estava mais calma esperando apenas pela saída delas dali para que eu pudesse fugir. No entanto, Marissa derrubou algo no chão em baixo da mesa, era um diamante que segurava escritas.

Um arrepio percorreu minha espinha e tranquei todo o meu corpo sabendo que minha hora havia chegado. Me arrebata, Amidh, Amidh não me respondeu, acho que ela queria que eu me ferrasse mesmo. Quando vi a mão de Marissa abaixando para pegar o objeto a outra sereia falou algo:

— Me acompanhe até a porta, não tenho muito tempo, está tudo em cima da hora, Marissa. — Seu pedido parecia mais uma ordem, sua voz era grave, bonita e feminina.

— Tudo bem. — Marissa levantou o braço e percebi que ela havia saído de cima da mesa escutando ela abrir a porta.

Não havia me levantado, queria ter a segurança que a porta do salão seria fechada para eu sair. Em vez disso apenas escutei mais conversas delas:

— Vihar, recebi a notícia semana passada no Templo da Magia junto aos outros anciões. Dessa vez não tem mais margens para erros, tudo será executado como a Santa Bancada das Sereias Antigas de todas as tribos querem — dizia Marissa com um tom tenso em sua voz.

— Esperarei o pagamento lá em Divitias — falou a outra sereia. — Espero realmente que tudo saia como o planejado e que as coisas não fujam do controle como aconteceu naquele ano. Não só sua tribo teve prejuízos, sei que você será mais responsável que sua antecessora.

— Sim, então já pode começar a fazer os pedidos. — Marissa ainda parecia estar com a voz tensa. — Te levarei a saída. 

— Tudo bem — concordou a outra sereia.

Depois que eu escutei o barulho da porta do salão sendo fechada nadei até a janela onde encontrei Damysis me esperando. Meu peito subia e descia em uma velocidade alarmante, meu estômago estava totalmente embrulhado, apenas segurava com muita força o baú de ouro branco e sentia a presença de meu colar, minha vontade era de colocar aquele peixe que comi no jantar para fora. A conversa das duas ainda estava latente em minha mente e aquilo estava me preocupando.

— Eu nem estava conseguindo respirar mais de tanta agonia por você. — Damysis suspirou colocando a mão no coração sarcasticamente.

— Jura? — perguntei em deboche ainda tentando manter meu corpo calmo e Damysis sorriu.

— E o que é esse troço contigo? — Ela apontou para o baú. — Entendeu sobre o que elas falavam?

— Verei depois, então te conto e não, também não entendi nada — expliquei e depois ela concordou. Nadamos para locais separados enquanto eu agradecia ela pela ajuda, sabia que não iria me deixar sozinha ali.

Depois que escutei aquela conversa algo no meu interior estava me apontando como uma preocupação. Segurei o colar e o baú com mais força em meu corpo e ao invés de ir para o Santuário de Encubação, resolvi rever Héclyro, pois estava precisando conversar com ele urgentemente.

Pensei em deixar o baú no santuário antes de partir, mas percebi que seria mais seguro abri-lo na superfície junto a Héclyro, então apenas nadei com todas as minhas forças para nosso ponto de encontro nas rochas torcendo para ele ainda estar lá.


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Notas finais do capítulo

Quem gostou bate palmas, quem não gostou paciência.
Se tiver erros, me avisem por favor.
Obrigado a todos que abriram o capítulo para ler.

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Obrigado por estar acompanhando a história. Continue nadando com a nossa tribo!
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