Águas Obscuras escrita por Alph


Capítulo 11
A verdade


Notas iniciais do capítulo

relou
Postei esse mais cedo.
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Senti seus lábios selando minha bochecha lentamente, enquanto sua mão apertava minha nuca. A brisa fria batia contra nossos corpos no meio de toda aquela escuridão iluminada apenas por aquele objeto estranho de Héclyro. Uma neblina densa formava-se nas rochas. 

Meu corpo estava aceitando aqueles toques abertamente. O cheiro de Héclyro era ludibriante, uma mistura de maresia com uma leve doçura. Ele afastou seus lábios de meu rosto e acariciou com os dedos meu pescoço perto das brânquias; por um breve momento senti cócegas fechando minha curva da clavícula em sua mão. Ele deixou um riso nasal escapar depois que percebeu minha recuada.

Posicionei minhas mãos contra seu tórax afastando-o calmamente, mas não havia notado que a força que eu usei quase o jogou contra a rocha. Por um breve segundo Héclyro fez uma expressão de espanto arregalando os olhos, mas depois uma fina linha em seus lábios formava um sorriso fechado de malícia. Eu não havia entendido o motivo, mas olhei para o meu corpo e vi que ele estava todo arrepiado.

— Perdão, Allysa. — Ele engoliu em seco, e notei a breve contração que sua garganta fez. — De alguma forma tu me fizeste ficar hipnotizado. — Ele passou as mãos em seu cabelo e depois em sua roupa molhada descolando-a de seu corpo.

Mesmo que fosse apenas um beijo na bochecha e que depois suas mãos foram descendo para o pescoço, eu achei melhor ter recuado. Era fácil perder a linha quando Héclyro fazia um contato corporal. Meu corpo estava queimando por dentro e talvez por fora. Era essencial colocar minha saúde mental em uma balança para ver se ainda estava equilibrada. Porque, minha Amidh, como estava sendo difícil.

— Costumo causar esse efeito nas pessoas — proferi aquelas palavras ironicamente fazendo Héclyro sorrir. Passei as mãos pelo meu cabelo ajeitando-o.

— Não tem como não causar. — Ele aproximou-se novamente. — Não visei causar-lhe constrangimento. Realmente peço perdão.

— Héclyro, tudo bem. Sério — falei calma. Peguei o livro da pedra e coloquei em meu colo alisando a sua capa sentindo as texturas. — Eu que não estou acostumada com um contato tão forte assim. — Um relâmpago cortou o céu fazendo Elis, animal de Héclyro, olhar ao redor da praia assustado.

As bochechas de Héclyro ficaram avermelhadas, e desci meu olhar me perdendo em pensamentos que me tirassem daquele devaneios e constrangimentos interiores. Olhei para o livro e apertei-o com os dedos, depois fitei Héclyro e mudei de assunto. Notei que ele também me observava e depois virou o rosto após a troca de olhares.

— Héclyro, tem certeza que poderei levar esse livro para o mar? Não corre risco de algo acontecer a ele? Pois talvez a água não seja tão boa assim para esse material — perguntei cortando o assunto anterior tocando as folhas do livro. Olhei de soslaio para o mar. — Fora que eu não tenho onde colocá-lo, pois agora eu estou sendo vigiada em dobro. Acho melhor você guardar ele contigo, mesmo que você tenha me dado de presente.

— Não precisa se preocupar, pedi para que minha avó fizesse algum tipo de proteção para que o livro não se desgaste na água. Não sei explicar o que ela modificou, mas testamos e vimos que ele não se desgastava quando submerso.

— Sua avó te ajudou?

— Sim, ela consegue fazer coisas interessantes com alguns objetos que ela tem em seus aposentos. — Ele me olhava calmo.

— Sou muito agradecida pelo presente, mas mesmo assim, ainda não tenho onde colocar ele sem que passe despercebido. — Entreguei o livro a ele com o coração apertado, apertando a minha própria mandíbula contraindo a angústia.

— Tudo bem, Allysa, entendo. — Héclyro ficou pensativo abaixando os ombros, notei que tentou disfarçar sua expressão de descontentamento, e depois com o livro em mãos, sorriu de lábios comprimidos tentando disfarçar. De fato ele não estava me ajudando a aliviar o peso na consciência por ter recusado seu presente. —  Trarei mais histórias para que possamos ler juntos. — Ele me fitou. — Claro, que se tu estiveres de acordo... — Ele esperou minha resposta. Balancei a cabeça positivamente, e isso fez com que os olhos dele brilhassem.

Continuamos uma breve conversa banal. Às vezes ele conseguia me tirar alguns sorrisos e me perguntava coisas pessoais que eu relutava para responder, mas acabava cedendo.

Toda vez que eu olhava para o seu rosto e seus olhos negros, eu queria interrogá-lo sobre sua mãe que possivelmente seria uma sereia. Minha mente gritava que eu tinha certeza, pois ele tinha traços faciais marcantes que me submetiam à visão de tritões. Aquela curiosidade era árdua e sempre me levava a devaneios indesejados.

— Sua família notou essa marca em seu pescoço? — perguntei fazendo rodeios.

— Acho que não. — Ele coçou os cabelos. — Ou talvez notaram, mas não me interrogaram sobre ela.

— Nem sua mãe? — Tentei usar da estratégia para obter a resposta que iria dar o julgamento final de minhas incertezas.

— Não sei. Ela talvez não tenha visto. Dona Talísya nunca me interrogou sobre a marca. — Ele colocou a mão sobre a marca.  Dona Talísya.

— Sua mãe se chama Talísya? — perguntei arregalando os olhos. Logo liguei os pontos e minhas duvidas estavam respondidas, agora era certeza. A mãe de Héclyro era uma sereia exilada.

— Sim. Qual a surpresa? — Ele arqueou a sobrancelha. — Pensei que havia lhe dito isso.

— Não, não disse — afirmei. Amidh, me exila, pensei ironicamente.

Agora estava tudo respondido. Como pude não ter pensado em perguntar o nome da mãe dele. Tudo seria respondido e eu não iria ficar quebrando minha cabeça para ficar ligando pontos. O nome que estava escrito no pergaminho era da mãe de Héclyro.

Acho que a coisa mais inteligente que eu havia feito foi ter mentido para ele quando falei que o nome da Talísya no pergaminho estava riscado e era ilegível, pois não queria causar problemas em sua vida pessoal, principalmente com sua mãe.

Queria bater minha cabeça naquela rocha por notar quão desprovida de inteligência eu era por não ter questionado apenas o nome da mãe dele. Agora a certeza era absoluta, sua mãe era uma sereia. Coloquei minhas mãos em meu rosto apertando as têmporas com força me culpando por não ter pensado direito.

— O que foi? Allysa, está tudo bem? — Ele acariciou minha mão com seus dedos e depois puxou um assunto qualquer tirando atenção de meus devaneios. — Fiz algo que te desagradou? Conte-me.

— Está tudo bem. Foram apenas alguns pensamentos avulsos que ficam vagando na minha cabeça. — Levantei meu olhar para ele e esbocei um sorriso amarelo.

—--

Algumas horas se passaram, e Héclyro estava com menos frio, pois havia permitido uma proximidade maior entre nossos corpos. Ele bocejava e esfregava os olhos, então voltávamos a conversar. Ele precisava dormir, seus olhos estavam com olheiras profundas e sua face tinha expressões de sonos.

— Acho que eu deveria deixar de vir alguns dias para que você possa dormir mais — falei.

— Não me sinto incomodado, aliás, o sono não faz falta quando estou perto de ti. — Ele esfregou os olhos.

— Héclyro, amanhã não virei. Espero que você durma — pronunciei para ele.

— Mas eu quero estar aqui. — Ele trincou o maxilar. — Eu ordeno que tu estejas aqui amanhã — falou com um tom de voz calmo, baixo e rouco.

— Quem você pensa que é para me ordenar algo? — Não contive uma gargalhada.

— Eu sou o príncipe, o primeiro na linha de sucessão ao trono. — Héclyro engoliu em seco quando notou minha gargalhada e se espantou. — Que maravilhosa — ele sussurrou para si mesmo, porém consegui escutar.

— Obrigada — comprimi os lábios arqueando-os formando um sorriso fechado. — Mas entenda uma coisa... — Fiz uma pausa, aproximei minha face da dele e senti sua respiração tensa perto de mim. — Você não me dá ordens. E eu sou a escolhida de um festival milenar. — Héclyro tentou segurar minha mão, mas foi tarde demais.

Desci da pedra entrando no mar. Afastei-me calmamente da praia nadando para próximo de onde as ondas se quebravam. Héclyro ficou de pé com o livro em mão me encarando.

— Allysa, venha cá! — berrou, tentando fazer sua voz sobressair o som das ondas. — Eu quero que fique aqui comigo. — Ele deixou os ombros caírem e depois fez um olhar triste de partir o coração, mas ele devia priorizar sua saúde física.

— Querer não é poder. Aliás, vá dormir — falei ironicamente enquanto deixava as ondas cobrirem meus ombros. Ele chutou uma pedra para dentro das águas. Parecia estar nervoso. Realmente eu queria ficar mais, mas no momento ele deveria dormir.

—--

Todas as informações agora se ligavam. Toda essa ligação com Héclyro que eu sentia agora tinha uma resposta.  Talvez o fato de ele ter sangue de sereia nas veias fez com que eu sentisse algo a mais por ele, algo que eu nunca sentiria por um humano comum.

Tudo o que aconteceu nos últimos dias estava embaraçando minha cabeça, eu precisava achar uma resposta para minhas dúvidas. Estava sendo complicado balancear o que estava acontecendo.

Ao nadar pelas águas ainda escurecidas pela noite, decidi voltar à Vala do Exílio para conversar com o monstro. Ele ficou de me explicar o que havia acontecido, pois Tamara havia me puxado para fora do lugar antes que ele me explicasse algo sobre meu cheiro.

Comecei a me aproximar daquele enorme buraco, e as mesmas sensações de andar por ali estavam me voltando à tona. A pressão e o calor predominavam em meus sentidos até eu descer ao fim. Ao chegar lá, os animais que iluminavam o ambiente foram ficando ao meu redor. Uma medusa gigantesca apareceu, e eu toquei a parte superior de sua cabeça e ela se afastou.

— Apareça, precisamos conversar! — berrei abertamente para que o monstro escutasse e logo escutei um barulho de algo se levantando.

O som que era soado pelas movimentações do monstro era bastante audível, todo o seu corpo foi estendido até mim e depois repousou na areia novamente. Recuei um pouco para trás, ainda era inevitável não sentir medo. Ele era enorme, talvez maior do que alguns templos da tribo.

— Gostei que tenha voltado — falou. Ele fez uma pausa e balançou a cabeça como se estivesse espreguiçando-se. — O que lhe traz aqui? Cadê sua amiga?

— Queria que você terminasse de me falar o que havia começado naquela noite. — Ainda falava pausadamente como se estivesse com receio, queria entender isso em mim, pois se aquele bicho quisesse ter me comido viva, já teria feito. — Na hora em que você foi falar, minha amiga me arrastou para fora daqui. E ela não pode vir.

— Entendo.

Ele ergueu as patas dianteiras e nadou me cercando fazendo os animais que brilhavam flutuarem junto a areia.

— Pois bem... Quando aquele maldito ataque dessa sua raça nojenta estava acabando, e eu estava sendo arrastado por algumas de vocês que controlam as águas para dentro dessa vala, fraco e quase morto, eu senti um forte cheiro semelhante ao seu. — Ele ergueu o longo pescoço e depois assentou o corpo ao chão. — Quando olhei na direção desse odor eu vi duas sereias arrastando uma terceira para um local vago. A que estava sendo arrastada tinha o mesmo cheiro que o seu. Uma delas tinha isso aí em cima de sua cabeça igual ao seu, já a outra tinha ele menos liso.

— Isso o quê? — Segurei minha cabeça tocando meus cabelos. Não havia nada em sua superfície.

— Isso que você toca, garota — ele parecia demonstrar estresse em sua voz.

— Cabelo? — Arqueei uma sobrancelha, ainda com as emoções a flor da pele, ainda segurando meu cabelo.

— Acho que sim.

Olhei para o redor e minha mente entrava aos poucos em desespero.

— Santa Amidh. Então quer dizer que duas sereias mataram a minha mãe? — sussurrei aquilo mais para mim do que para o monstro.  

— Depois disso uma das sereias que me escoltava golpeou uma lança contra meu olho, então tudo ficou embaçado e depois eu acordei preso, aqui. — Ele arrastou sua garra pela areia com irritação. — Sinto muito não poder detalhar mais sobre a situação.

Depois dessa informação, só consegui ficar mais confusa ainda. Estava me dando um nervoso em saber que mais uma sereia estava envolvida na morte de minha mãe. Isso não podia estar acontecendo.

— Tudo bem. Fico agradecida com a informação. — Passei minhas mãos grosseiramente sobre meus cabelos que flutuavam na água. — Peço perdão em nome das sereias.

O monstro permaneceu calado por um tempo. Meu corpo estava em chamas, queria entender o motivo dessas sereias de terem matado minha mãe. O que elas ganhariam com isso?

— Espero ter te ajudo como você me ajudou. — Ele mostrou suas brânquias curadas a mim. — Só tenho a te agradecer. Aliás, me chamo Eryus.

— Me chamo Allysa — respondi tentando me acalmar mentalmente.

Minhas brânquias moviam-se rapidamente. Meu maior desejo era vingança naquele momento. As sereias deviam ser irmãs, unidas. Mesmo que com intrigas, ainda sim deveriam se amar. A união era nossa base. Porém, pelo que eu havia vivido, conseguia ver que nada era igual ao que pregavam para a gente.

— Por acaso aquela sereia que foi arrastada era algum parente seu por causa do cheiro? — perguntou ele.

— Era a minha mãe, tenho certeza disso... — Fitei Eryus. — Por tempos me enganaram dizendo que fora você que havia matado minha mãe. Que ódio. — Extravasei minha raiva soltando um grito agudo, depois arranhando com minhas unhas o meu rosto e puxando meu cabelo.

— Sinto muito, Allysa.

— Por dezessete anos fui enganada. — Abaixei a cabeça e sei cerrei os punhos. Comecei a desabafar retoricamente, mesmo que alguém me escutasse. — Pior sensação da minha vida foi sair daquele esconderijo e depois ver todas as sereias se abraçando. Foi terrível não ter quem abraçar. — Meu rosto queimava, meus sentidos estavam abalando e todas as minhas piores lembranças voltaram me fazendo grunhir e chorar baixinho.

Foi horrível saber que minha mãe morreu enquanto eu tinha três anos de idade. E a causa de sua morte ainda foi contada de uma forma totalmente diferente para mim. Uma mentira.

Cacei-a incessantemente depois que o ataque parou, passei dias nadando ao redor da tribo, sozinha, querendo não acreditar que ela estava morta. Queria acordar daquele pesadelo e ter ela me abraçando novamente.

Eryus me observava calado. Tentei controlar meus sentimentos explosivos, mas percebi que nada iria conseguir mudar o que eu estava sentindo. Minhas hipóteses de que Marissa estava envolvida na morte de minha mãe só eram reforçadas.

Por incrível que pareça, eu queria ficar naquela vala e não sair mais. Ir para tribo e ver as sereias só iria reforçar as lembranças negativas, porém eu não poderia me esconder e muito menos decepcionar Tamara. Podia ser muita coisa ruim, mas eu não descumpria promessas.

Não estendi conversa com Eryus, então logo me despedi, sabia que deveria voltar antes que amanhecesse para que Hammys não desconfiasse de mim.

— Espero te ver por aqui novamente, Allysa — disse ele.

— Tentarei — respondi friamente.

Nadei novamente para superfície tentando fugir daqueles malditos devaneios indesejados e logo foquei em lembranças positivas, que eram poucas, mas ainda assim eu as tinha. Senti a pressão da água parando de agir sobre meu corpo. Logo eu já via o escuro da noite passando pela água.


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Notas finais do capítulo

Cap: betado por Reyna Voronova
Cap com enredo revisado por: Reet

Se tiver erros, me avisem por favor.
Obrigado a todos que abriram o capítulo para ler.

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