Amai Desu Ka? escrita por Mildrith


Capítulo 4
Teimosia.


Notas iniciais do capítulo

DaiSuga pra adoçar nossa vida.



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                                                  Teimosia.

Com uma mochila nas costas, Sugawara correu em direção ao portão da casa dos tios. Uma chuvinha impertinente descia do céu e atingia os fios claros em cheio, molhando-os e fazendo com que grudassem na testa. Quando chegou à porta e foi recepcionado pelo primo, estava brilhando com as gotículas geladas.

— Suga! – o garoto que abriu-lhe a porta, apesar de ser alguns meses mais novo, parecia ter crescido ainda mais desde o tempo que ficaram sem se ver.

Chacoalhou a cabeça para afastar as gotas minúsculas que escorriam pelo pescoço e deu um largo e desajeitado passo, contornando o peito do primo em um abraço apertado.

— Daichi!

Afastaram-se com a mesma rapidez com que iniciaram o gesto. Em seguida, Koushi se virou para o carro de onde descera e acenou para sua mãe. Entraram assim que ela já sumiu pelo asfalto úmido, no mesmo instante em que a chuva aumentou de intensidade.

— Você ‘tá ainda maior, isso é tão injusto!

Anunciou o mais velho, segurando nas alças da mochila enquanto seguiam para o quarto de Sawamura. Este, apenas deixou uma risada escapar, provavelmente muito feliz em passar o primo em tamanho.

— Onde ‘tá a tia? – questionou a voz mais doce assim que se viram dentro do quarto. Pelo jeito, Daichi não era o único a crescer; a bagunça ali dentro fizera o mesmo. Girou os olhos por ali, analisando os cantinhos do cômodo, mas estava repleto de roupas, brinquedos e papel.

— Ah... ela foi no mercado. Mas o papa está ai!

As bochechas do garoto evidenciavam seu constrangimento enquanto falava, os olhos, corriam para longe.

— E-eu ia arrumar, mas...choveu!

Suga riu, pousando a mochila no chão e caminhando até o guarda-roupas grande que tinha ali.

— Vou usar uma toalha sua – anunciou enquanto puxava uma de fato. Era estampada com bichinhos, e sinceramente, achou muito legal. Passou a secar os fios prateados, virando-se para o antigo amigo. Agora, não sabia se ainda podiam se chamar assim. Se viam apenas nas férias, duas vezes ao ano. – O que vamos fazer?

Daichi ergueu os olhos com o questionamento. Finalmente esquecendo da bagunça que era o seu quarto e se permitindo sorrir.

— Eu queria brincar lá fora, mas choveu... – ele amuou de leve, mas logo, voltou a sorrir e continuou. – Mas podemos ver desenho, ou jogar, ou...

— Daichi! Você joga?

— Hã? Tenho alguns jogos, mas...

— Não, não! – o pequeno balançou a cabeça, abaixando a toalha e deixando sobre a cama. – Ali.

Sawamura seguiu o dedo apontado com o olhar, encontrando, então, a bola de vôlei que comprara há algum tempo. Seus olhos se encheram com a vista, e orgulhoso, se virou de volta ao primo e acenou positivamente.

— Me ensina! – o pedido veio decidido, enquanto sem esperar resposta se levantava e ia pegar a bola.

— Mas ‘tá chovendo – se lamentou, observando a animação do mais velho e não podendo deixar de sorrir. – Não sabia que gostava de vôlei!

— A gente pode brincar aqui – argumentou. – Eu vi na TV, mas não sei jogar nada...

Os olhos que mais eram dois caramelos fitaram-no com expectativa, brilhantes e pidões, esperando. Jogar bola ali dentro poderia quebrar algo e sua mãe o mataria, mas não sabia como negar algo para o garoto à sua frente.

— Tudo bem – concordou, receoso, mas o sorriso satisfeito e feliz que recebeu serviu para dispersar a indecisão. Seria divertido! Sempre era, quando se tratava de brincar com seu primo.

E assim, começaram a jogar a bola de um para o outro.

Daichi, que estava aprendendo a jogar junto dos colegas de escola, sabia muitas coisas e tentou ensiná-las para Suga, que apesar de confuso e desajeitado, tinha bons movimentos.

A chuva lá fora continuava cada vez mais forte e as rajadas batiam contra a janela fechada, causando um som tão ensurdecedor que ambos tinham de praticamente gritar para serem ouvidos. Mas a diversão, entretanto, durou pouco. Foi só o mais velho avistar uma sombra peluda – mais necessariamente um gato –, do outro lado da janela, embaixo daquela chuva pesada, que vôlei virou segunda opção.

Suga colocou algo em sua cabeça.

— Daichi, não podemos deixar ele lá!

— Podemos sim!

E quando Suga coloca algo na cabeça, ninguém consegue tirar.

— Daichi! Então não vou te devolver a bola.

A declaração conseguiu arrancar-lhe um arregalar de olhos. Observou, com horror, enquanto o primo escondia a dita e adorada bola atrás das costas.

— Eu consigo pegar!

E começaram a discutir.

Quem os visse de primeira mão, nunca assumiria que são tão argumentativos quando brigando. Nem mesmo assumiriam que alguém com a aparência de Koushi – um garoto pequeno, magro, de fala doce e delicado -, seria tão bom brigando.

— Eu vou contar pra tia! – anunciou, teimoso e injusto, fugindo das mãos rápidas que tentavam roubar-lhe a bola. Olha!, virou basquete!

Tentou correr por cima daquela bagunça toda, e com muita coragem, bateu a bola na cabeça de Daichi para ganhar espaço. Este, irritado – o que também podia ser uma surpresa considerando o quão gentil era normalmente – desatou a correr atrás do primo, com a mão na testa onde a bola se chocara.

— Suga! Eu vou...

A frase ficou em aberto quando o viu sair pela porta da frente.

Provavelmente indo salvar o gato estúpido!

Tch, teimoso!

— Então vai, Suga idiota! – gritou, irritado, mas logo se lembrou que seu pai lhe daria uma bronca caso acordasse com a bagunça.

Saiu também, atrás da bola que o menor insistia em fazer de refém.

— Onde você...!

Se interrompeu com a surpresa, assim que olhou para os lados e encontrou-o. Estava estatelado sobre a calçada, sustentando um olhar choroso e um joelho ralado.

— Daichi... – o menino choramingou com manha. Os lábios tremiam em previsão ao choro.

Com um suspiro, correu até o primo e se ajoelhou, ambos encharcados pela chuva que os castigava. Iria perguntar o que houve, mas era óbvio. Podia quase rir imaginando o menino correndo com uma bola na calçada molhada. Escorregar devia ter sido fácil.

— Vem aqui – chamou-o, estendendo os braços para ajudá-lo a se levantar. A água entrava nos seus olhos e impedia que enxergasse direito, mas não podia deixar Suga ali! Estavam na metade do caminho quando o menor começou a chorar, um choro estridente e sôfrego, por mais que fosse apenas um joelho ralado. Daichi lutou contra a vontade de manda-lo ficar quieto enquanto abria a porta e desabavam ali mesmo, molhados até o último dedo do pé.

Sem dizer nada, Sawamura correu, pingando pela casa – o que lhe renderia uma bronca -, buscando algumas coisas úteis no banheiro. Quando retornou, o choro ainda não cessara.

— Suga, isso vai doer um pouco – avisou-o antes de começar a limpar o ferimento com um algodão e antisséptico. Os soluços aumentaram no mesmo instante, mas o menino não interrompeu a limpeza por mais que odiasse vê-lo chorar. Era inútil fazer um curativo antes de se secarem, mas precisava fazer algo! E o pequeno Sawamura sempre sabia o que fazer. Por isso, assim que o ferimento já não sangrava, levantou-se e estendeu a mão para o chorão.

Sem questionar, Koushi agarrou a mão firme e se levantou, com um esforço exagerado. Deixou-se ser guiado até o banheiro, mancando, enquanto sentia os leves tremores que ambos corpos emitiam; consequência de ficarem molhados por um longo período.

— Você precisa se secar, antes que fique doente – o moreno deu-lhe a instrução, mesmo que ele próprio estivesse com a roupa toda grudada, molhada, em seu corpo.

Visto toda aquela preocupação da parte do primo, tanto que até mesmo esquecera da bola de vôlei, Suga teve de sorrir, mesmo que ainda chorasse. Confuso, o maior franziu o cenho.

— Daichi, você é tão estranho! – anunciou, e o sorriso de antes se transformou numa gargalhada.

— Cala boca, Suga!

Por mais que tenha soado rude, sabia que seu rosto estava quente.

Naquela tarde chuvosa e cinza, quando a senhora Sawamura chegou, estavam ambos de recém banho tomado, o chão estava seco e a casa silenciosa. Desconfiada, tratou de levar as compras para a cozinha.

— Meu Deus, Suga-chan, o que vocês fizeram? – questionou mais tarde, enquanto viam TV, preocupada quando viu um band-aid sobre o joelho magro.

— Ah, o Daichi estava me ensinando a sacar e eu cai! Né, Daichi?

Este acenou positivamente, de forma exagerada, ganhando uma cotovelada do menino sentado ao seu lado no sofá. A bronca só veio no dia seguinte, quando por descuido de ambos, ela encontrara as roupas molhadas no banheiro e a bola de vôlei perto do portão.


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Notas finais do capítulo

Desculpe se tiver algum erro.



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