Maps escrita por Paulie


Capítulo 3
Capítulo III – Sentir para Pensar.


Notas iniciais do capítulo

Oi gente ♥
Como vão?
Mil desculpas pela demora – cancelamos a internet daqui de casa, e só hoje vieram instalar novamente.
Agradeço imensamente pelo retorno que estão dando, vocês são os melhores.
Aproveitem.



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“Cinco, seis, sete, oito” Lily contou, lembrando-se das aulas de ballet feitas a tantos anos. Cruzava um pequeno riozinho que tinha ali, pisando nas pedras que serviam de apoio ritmicamente, para que o risco de cair fosse minimizado ao máximo.

Não que se importasse de molhar, mas se batesse a cabeça em alguma daquelas pedras os danos seriam graves, principalmente com aquelas pontas proeminentes e considerando que não tinha companhia.

Ainda assim, alguma parte de si torcia para que se molhasse acidentalmente e tivesse de molhar o resto do corpo. Desde a infância a garota sempre fora apaixonada pela sensação que a natureza podia lhe proporcionar: ao se molhar com aquela água congelante sua imaginação já a transportava para outra dimensão. Uma dimensão de cores, de outra galáxia, de outra realidade.

Era como olhar para as nuvens: mesmo que houvesse olhado a um minuto e identificado uma corça, no minuto seguinte o vento havia a transformado a tal modo que agora se assemelhava a uma coruja.

E, assim, olhando para o céu azul com algumas poucas nuvens brancas, sorriu. Ela não conseguia parar de sorrir: era involuntário, como as batidas fortes de seu coração.

Ali, de pé sobre uma pequena pedra já um pouco desgastada pela água, Lily Evans sentiu a natureza. Lily Evans se sentiu parte de um todo, e percebeu que é preciso sentir para verdadeiramente pensar.

***

—Graças a Deus – a voz de Marlene, mesmo alta, quase não foi ouvida ocultada pelo alto estrondo que suas costas fizeram ao ser estalada – Minha bunda está até dormente.

—Então... – Dorcas comentou alongando o braço – Esse é o tal Museu do Star Wars?

—Acho que sim. – Sirius respondeu, apontando ironicamente para a enorme placa com os dizeres “Star Wars” sobre um fundo estrelado.

—E como vamos fazer isso? – Remus perguntou – Quer dizer, não é lá muito normal sair perguntando se viram uma garota ruiva por aí.

—Fotos? – James sugeriu. – Podemos mostrar a foto do Whatsapp dela para os funcionários, não sei.

—Bem, é um começo...

—Na verdade não, mas fazer o quê. – Sirius disse. – Por onde começamos?

—Uma autora disse uma vez uma frase legal – Dorcas disse, animadamente – “Como começar pelo início se as coisas acontecem antes de acontecer?”

—Clarice Lispector? – Lupin chutou.

—Clarice Lispector! – ela respondeu, trocando um high-five com o garoto.

—Hun... Como exatamente isso ajuda? – Marlene franzia a testa, tentando relacionar com o sumiço de Lily a citação.

—Não sei. Só me veio na cabeça – a loira deu de ombros, antes de sair andando.

—Eu juro que um dia ainda vou entender ela – Sirius comentou, baixinho – Mas esse dia não é hoje.

Andando rumo a bilheteria – onde Black tinha certeza que estava sendo assaltado com aquele preço – e depois à entrada do museu, deram de cara com uma grande máscara do Darth Vader em exposição.

—Okaaaay – Marlene comentou – Isso dá medo. Acho que eu podia procurar ela na lanchonete, sabe, Lily esfomeada como sempre.

Saiu andando sendo seguida por um (nada) discreto Sirius Black. James, que queria de tudo menos segurar vela, arranjou um jeito de entrar em uma ala paralela, deixando Remus e Dorcas.

Andando por entre as diversas esculturas e artefatos relacionados à saga, James perguntou-se porque nunca se interessara pela história. Talvez fosse pela pressão e seriedade que seus pais depositavam em Star Wars – fora questão de sorte não ser chamado de Yoda – ou pela falta de paciência por tantos filmes (e em uma ordem nada esclarecedora), mas estava seriamente arrependido vendo tanto conteúdo ali.

E, assim, absorvido pelo universo espacial, atravessou corredores e salões imensos. Em cada guarda que via – ou em cada guia – não hesitava em estender seu celular com a foto da sorridente ruiva em tela cheia.

—Oi – ele disse com o segundo guarda que conversava.

—Boa tarde – respondeu-lhe, sem mudar sua expressão.

—Por acaso essa mulher esteve aqui na última semana? – ele mostrou a foto.

—Realmente quer que eu lembre de uma pessoa no meio deste monte?

—Por favor...

O homem olhou para a foto, suspirando.

—Apesar de muito bonita, não, não me lembro de ter visto ninguém assim. – concluiu – Namorada?

—Quem me dera – ele riu, nervosamente.

—Boa sorte, pequeno gafanhoto.

—Vocês são obrigados a dizer isso? Quer dizer, o primeiro guarda disse exatamente a mesma coisa.

—Pérolas do ofício – ele deu de ombros, logo voltando a ficar na rígida posição que estava antes.

James continuou andando, mas não sabia mais o que fazer. A sensação de erro ainda o perseguia, mas não conseguia entender o porquê. Calmamente, dirigiu-se até a lanchonete, onde esperava que houvesse algo bem deliciosamente gostoso.

***

Enquanto isso, Dorcas caminhava sem se emocionar pelas obras de Star Wars. Sabe-se lá porquê, não sentia curiosidade quanto à saga – ao contrário de Remus, que praticamente babava, junto aos outros fãs, sobre à estátua do Mestre Yoda.

—Não é... Maravilhosa? – ele comentou, a animação visível em seus olhos, com a garota – Tão incrivelmente detalhada, tão... Mestre Yoda.

—Sim, sim, é linda – ela respondeu, com um sorriso encorajador.

—Sabe, Dorcas, esse lugar é um paraíso. – faltou pouco para ele sair cantando e dançando de braços abertos pelo salão, como naqueles filmes da Disney.

—Seu epitáfio será “Que a força esteja com você”?

—Não passo tanto tempo assim pensando na minha morte – ele zombou.

            -Acho que vou sentar ali, sabe, naquele banco, enquanto você e os outros maníacos simplesmente devoram com o olhar esse museu. – ela disse, tirando seu celular da bolsa e seu fone, colocando na sua música preferida do momento (vulgo Sugar).

No momento do refrão – aquele em qual quase ela subiu no banco e gritou bem alto “YES PLEASE” –  Remus a cutucou, despertando-a do transe que entrava sempre que colocava fones.

—Dorcas? – ele chamou – Estou te chamando a tipo meia hora.

—Exagerado, sim ou claro? – ela virou os olhos, lembrando-lhe que havia escutado apenas metade de uma música. – Mas enfim, o que aconteceu?

—A Princesa Leia ali – disse apontado para uma garota que estava vestida exatamente igual a personagem – Disse que tem dois malucos na lanchonete fazendo uma guerra de sabres de luz e...

—Lene e Black – ela suspirou, saindo correndo e gritando sobre o ombro – Eu é que não vou perder essa.

Apressados, cortaram os corredores como se fossem novos Flash, e, assim que chegaram no local, não puderam deixar de cair na gargalhada. No meio de uma rodinha estavam ambos, com sabres de luz em riste e sorrisos no rosto.

—É impressão minha ou o nível de infantilidade deles passou do limite? – Remus comentou, com a mão na testa.

—Realmente é um sonho dela participar de uma briga no meio de uma rodinha, e devo dizer que o fato de ser com sabres de luz deixa tudo muito mais emocionante. – a loira, ao contrário do garoto, estava adorando aquilo.

—Angá! – Sirius disse.

—História errada, Black – ela revirou os olhos, tentando acertar a barriga do rapaz.

—Por que eles estão assim? – Dorcas perguntou baixinho para um rapaz que trabalhava ali.

—Algo sobre a última coxinha de catupiry. – ele deu de ombros.

—E onde eles conseguiram sabres de luz? – foi a vez de Remus perguntar.

—Olhe ao redor, cara. Tem sabres de luz até brotando do chão.

—Faz sentido – foi a vez de Dorcas dar de ombros, voltando a se concentrar na briguinha (super) infantil dos amigos.

—O que está acontecendo aqui? – James, que acabara de surgir atrás dos dois perguntou.

—Meu Vader, vocês são um bando de malucos, lerdos ou o quê? – o funcionário reclamou, saindo para o outro lado do balcão.

—Pad, Marlene, briga, sabre de luz, coxinha de catupiry. – Dorcas resumiu.

—Infantilidade. – Remus completou.

—Amor – a loira concluiu. 

—Quando quiserem se declarar – James disse pondo as mãos nos ombros dos amigos – Por favor, não façam isso desse jeito.

Pedindo desculpas ao empurrar alguém, andou até o centro da roda. Bufou, ao ver os dois, “não sou eu o infantil da história?”

—Pelo amor de Deus, parem com essa infantilidade – ele disse, entrando no meio da luta dos dois e arrancando “oh” da plateia. – Será que dá pra vocês dois simplesmente se beijarem, ou alguma dessas coisas, ou quem sabe simplesmente crescerem?

—Mas Prongs... – Sirius começou a reclamar, realmente como uma criança.

—Eu sei que você se gostam desse jeito diferente e tal, mas já aguentei isso por tempo demais no carro, e uma guerra de sabre de luz? Sinceramente, só faltaram os efeitos especiais de cinema.

—Sabe, James... – Marlene começou, também sendo interrompida.

—Remus quem devia estar aqui falando essas coisas, porque vocês sabem, ele é o tipo ‘paizão’ e não eu. Então, diante disso, vocês sabem o quanto está sendo difícil pra mim vir aqui e ficar dando sermãozinho? Por Deus, vão logo se resolver. Nem com meu filho eu vou ser tão chato assim (e a briga de vocês estava realmente demais).

Os dois saíram do centro da roda resmungando, mas juntos, e, antes que a multidão se dispersasse, James chamou a atenção novamente.

—Aproveitando a situação – ele sorriu de lado, voltando a ser o James de sempre – Algum de vocês por um acaso viram essa garota aqui por aí?

Ele estendeu o celular sobre a cabeça, girando vagarosamente, recebendo apenas negações com a cabeça – e um assobio de um cara lá do fundo, que foi devidamente ignorado – e se sentiu frustrado.

Andando de cabeça baixa e com as mãos nos bolsos, chutou pedrinhas até o carro, onde esperou pelos amigos.

***

—Então... – Lupin comentou – Nada de Evans aqui.

—Muito perceptivo da sua parte, Moony – Sirius revirou os olhos.

—Não fui eu quem fiquei brincando com sabres de luz.

—Não foi você que fez as pazes em um banheiro – ele sorriu, marotamente.

—“Não fui eu”, “Não foi você”, menos garotos – Marlene disse – Voltando a Lily...

—Nada dela aqui, e nossas buscas retornam a estaca zero – Dorcas dramatizou.

—Acho que nunca saímos da estaca zero – Sirius deu de ombros. – Já disse uma vez e repito: vocês já consideraram que ela não quer ser encontrada?

Os quatro se entreolharam, depois desviando seu olhar para James, que fitava seus tênis.

—Sabe – ele começou – Ela nunca quis sair comigo, nem nada assim, mas muito mais que interessado romanticamente nela, eu a considero uma boa, não, boa não, ótima pessoa. E, mais que isso, uma amiga.

 Olhou para todos ali e viu que ainda o encaravam.

—Ela sempre está lá para ajudar, sabe. Embora eu não precise de ajuda – seu ego disse mais alto –, sei que qualquer situação ela estaria lá para qualquer um (até mesmo para o Pads). E, por isso, temos de acha-la. Mesmo que ela não queira ser achada, nós queremos acha-la e eu disse tantos “achar” nessa frase que estou confuso.

Entrou no carro em seguida, esperando os demais se recuperarem do susto (e interpretarem o monte de “achar” que ele dissera) e se juntarem a ele.

—Vamos para casa? – Remus perguntou, ao colocar a chave na ignição.

—Já está tarde... – Dorcas comentou, ao seu lado – Tenho medo de pegar estrada a noite, seria melhor ficarmos no hotel essa noite, não?

—Concordo. – Marlene acenou positivamente com a cabeça.

—Não é que não confiemos em você na direção, Remus – Dorcas logo apressou em dizer – Não confiamos é nos outros motoristas e...

—Sem problemas – ele disse. – Por mim podemos ficar no hotel mesmo.

Com o aceno em concordância vindo dos outros dois rapazes, deu a partida no carro, procurando um hotel nem caro demais (“Tem aquela viagem do time semana que vem”, dissera Sirius) nem porco demais (“Parece ter ratos saindo das tábuas”, Dorcas comentou, sendo seguida por um “E baratas” de Marlene).

Por fim, descobriram um hotelzinho na beira da estrada que parecia um velho sobrado e foi ali que decidiram passar a noite. As garotas alugaram um quarto para elas, enquanto os três homens dividiram outro (“Sem camas de casal, por favor” imploraram James e Sirius logo ao pegarem a chave).

 Apesar de não ter nenhum luxo, era respeitosamente aconchegante. Tão logo deitaram, planejando sair cedo no dia seguinte, James colocou seus fones de ouvido ligando o Spotify (lendo logo “Music can touch us emocionally when words alone can’t” e concordando que não há verdade maior), a procura de alguma canção com que pudesse sentir e, enfim, pensar.

Ligou alto em Dear God, percebendo que os acordes calmos da música poderiam acalmar seus nervos. E, assim que absorveu a música, lembrou-se como um sonho da tão misteriosa noite de sexta...

E compreendeu. Compreendeu Lily, compreendeu a situação, compreendeu o que havia acontecido. Simplesmente compreendera.


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Notas finais do capítulo

Gostaram?
No próximo capítulo – a tão misteriosa noite de sexta haha.
Aguardo vocês nos comentários para me dizerem o que acham que enfim ocorreu naquela sexta.
Até o próximo e uma abençoada páscoa (aceito chocolates)